— Você precisa ir, não faça manha. 

Monique se jogou sob a cama, debruçada. Seus lábios rosáceos se prensaram em forma de 'biquinho', sua mãe revirou os grandes olhos azulados cheio de fagulhas de brilho. A própria soltou um suspiro, tão imperceptível que a mais nova nem percebeu, estava preocupada demais pensando que teria que escolher um noivo sem saber quem são concorrentes. 

— Você é malvada com a sua filha — disse rapidamente rolando na cama logo em seguida. — Você não precisou de uma seleção para escolher o papai. 

— Os meus tempos eram diferentes — retrucou já impaciente. — Além do mais, se eu tivesse uma seleção aposto que eu acharia um homem bem mais útil do que seu pai, um homem que não teria nos abandonado — falou por fim fazendo Monique arquear uma das sobrancelhas.

— Você nem sabe se ele nos abandonou de verdade — resmungou abraçando um travesseiro que estava do seu lado. — Ele pode estar perdido em algum lugar por aí, vivendo em uma cidade pacata batalhando para conseguir nos ver novamente. 

— Nessa altura ele já estaria morto — disse com um nó na garganta e logo balançou a cabeça negativamente. — Combinamos que não iríamos mais falar no assunto. Anda, Thompson já fez as suas malas, está esperando o que? 

— Já vou, já vou — murmurou em uníssono esticando os braços se espreguiçando. 

A senhora D' Connor se retirou do ambiente fazendo a loira se levantar em um salto, andou com passos rápidos até um grande armário, abriu uma gaveta e vasculhou no meio das meias uma foto do seu pai, guardava essa foto como se fosse a sua vida. As outras fotos do próprio sua mãe havia mandado as empregadas queimarem. 

— Senhorita? Vossa Majestade está aos nervos lá embaixo, aconselho a senhorita se apressar — um mordomo com seus últimos fios de cabelo esbranquiçados chamou a atenção da Monique, fazendo ela colocar as mãos nas costas escondendo a foto. 

— A-Ah, certo Thompson. Eu já estou descendo, não se preocupe — iniciou um sorriso amarelo e o mais velho saiu de sua visão. 

Guardou a foto rapidamente na sua pequena bolsa. A loira pôs-se a andar com passos vagarosos até o hall da entrada, não estava tão cansada quanto aparentava porém era algo cômico ver sua mãe batendo o pé, parecia que quanto mais cedo se livrasse da menina melhor. 

Sua mãe era o oposto de uma rainha, ela não se comportava como uma e muito menos fazia o seu papel direito, mas apesar de tudo Monique tinha um apego demasiado com sua mãe. 

— Até que enfim, mocinha! — exclamou erguendo os braços. 

— Menos, mãe — deu de ombros. Monique ficou encarando aquela enorme limousine espantada, não precisa de tanto afinal era só até o aeroporto, mas se dependesse de sua mãe ela chamaria até um helicóptero.  — Você quer se livrar tanto assim de mim? — comentou soltando uma risada enquanto entrava no carro. 

— Livrar? Do que você está falando? — arregalou as pálpebras entrando juntamente com a filha no carro. — Monique, os reis e rainhas também vão ir para a seleção.

— Como assim? — arqueou as duas sobrancelhas, perplexa. — Vai ter homens concorrendo por você?! 

— Obviamente que não, filha — bufou a mãe revirando os olhos, ela parecia claramente uma versão adulta de Monique, talvez um pouco mais cabeça quente. — Vai ter uma parte para os príncipes e princesas, vai ter uma parte para os selecionados que é quase do lado e vai ter uma parte para os reis e rainhas que é um pouco longe, mas terá — gesticulou com a mão enquanto explicava. 

— Ah, entendi. Mesmo não sendo necessário... E como vai funcionar a seleção? — perguntou demostrando curiosidade, visto que ninguém sequer tinha explicado direito para ela. 

— Vão ser vinte selecionados ao total, dez homens e dez mulheres. Vão saindo de acordo com uma votação, no final irá ficar seis selecionados, então não terá mais como ser desclassificado. Por votação, novamente, os dois primeiros a terem mais votos escolhem quem quer se casar, os que ficarão em segundo lugar escolhe quem quer se casar logo após do primeiro e assim vai. 

— Então quer dizer que não somos nós que vamos escolher quem queremos se casar? Como se não bastasse a seleção ainda na final são eles que irão escolher? — exclamava incrédula. — Argh, mereço mesmo... Então, de quanto e quanto tempo expulsam um selecionado do castelo? 

— Eu não sou nenhuma enciclopédia, certo? — disse nitidamente irritada. — Só sei que deve demorar demasiadamente, não é algo 'vapt-vupt' não — concluiu a fala ajeitando as madeixas que estavam ficando brancas. 

— E como funciona o sistema de voto? — perguntou encarando a janela.

— De princípio apenas os selecionados irão votar, tanto os homens quanto as mulheres, no final quem irá votar são os plebeus e os antigos selecionados — explicou Thompson que estava do lado, o fiel escudeiro de sua mãe, também o mordomo mais antigo deles. 

— Bem, nós iremos ficar 'presos' como um reality show ou poderemos sair? — perguntou com receio de que a resposta era que eles não poderiam sair de jeito nenhum.

— Vocês irão ficar lá dentro — respondeu calmo —, não é motivo de se preocupar. Lá vai ter inúmeros festejos, é um lugar imensamente grande, tem tudo o que a senhora quiser encontrar, se duvidar até mais — garantiu o mordomo.

— E como você sabe tudo isto, Thompson? — indagou a mãe que até então estava em silêncio.

— No jornal de lá explica tudo, tem várias cópias espalhadas por Londres. Explica também as regras. 

— Lá vai ter regras?!

— Sim, senhorita. Mas, serão a maioria apenas para os selecionados então novamente, não há o que se preocupar — concluiu a fala com um sorriso de lábios selados.

Monique ficou mergulhada em seus devaneios  ainda encarando a janela. 

Era o começo de uma grande jornada.