Capitulo dezessete - Fogo e gelo

Quione sorria, mostrando os dentes brancos feito neve. Seu vestido azul era enfeitado com pedrinhas e seu cabelo estava preso em um coque clássico impecável. Sua beleza era notável, mas seu sorriso era maldoso e seus olhos, vazios.

–- É bom que estejam despertos - ela disse. - Temos assuntos para tratar.

Leo soltou uma risada anasalada.

–- Não, nós não temos - e, novamente, chamas engoliram o rapaz, que tentava soltar-se das fortes amarras que o prendiam.

–- Seus esforços são inúteis, semideus - Quione sorriu. - Tenho que agradecer à essa jovem semideusa, que criou um tecido que não é afetado pelo fogo. Claro, eu o adaptei e criei essas amarras - seu sorriso se alargou. - Não são boas?

Calipso deitou a cabeça, que estivera levantada para observar a deusa, na mesa fria que estava presa. Como era idiota. Por que diabos havia criado aquele tecido?

–- Por que está fazendo isso? - Calipso ouviu a voz rouca de Leo perguntar.

O sorriso da deusa se alargou.

–- Ora, é a armadilha perfeita! Logo, logo, seus amiguinhos semideuses virão resgatá-los e eu estarei pronta quando esse momento chegar! E enfim, eu terei minha vingança, principalmente daquela filha de Afrodite maltrapilha! - a expressão de Quione endureceu. - Nenhuma cria de Afrodite jamais me derrubará!

Leo pigarreou.

–- Você quer dizer “não de novo”, não é? - perguntou o garoto.

Surpreendendo ele e Calipso, a deusa sorriu.

–- Sabe, Valdez, seu humor idiota não faria nenhum mal por aqui.

Calipso estreitou os olhos.

–- O que quer dizer?

A deusa ignorou a garota e se aproximou de Leo.

–- Na primeira vez que nos vimos, não gostei do fogo que consigo sentir dentro de você. Agora vejo como eu estava errada. Junte-se a mim, Leo Valdez, e então seremos invencíveis.

–- O quê? - indagou o garoto.

–- Fogo e gelo, juntos. Nada nos deterá. Farei de você um imortal, semideus, e então dominaremos o mundo juntos e para sempre.

–- Dominar o mundo? Mas você não queria apenas se vingar de Piper? - Leo perguntou.

–- Desde o início, sempre foi meu plano dominar o mundo. E logo após aquele constrangimento todo com a cria de Afrodite, achei que seria o momento perfeito para pôr em prática meus planos - Leo e Calipso ficaram em silêncio, absorvendo as palavras da deusa. - Mas o que me diz, filho de Hefesto? Gostaria de unir-se a mim?

Leo olhou de Quione para Calipso e, enfim, para Quione.

–- Seria uma honra - disse, sorrindo maldoso.

[...]

Annabeth deu um tapa em seu próprio braço, na tentativa de matar aquele maldito mosquito, mesmo sabendo que seria em vão. Seus pés doíam de tanto andar e suas pernas e braços coçavam (por causa dos mosquitos) e ardiam (por causa dos gravetos que os arranhavam). Ela estava ofegante.

Quando saíram da caverna na qual estavam presos (não que tivessem tido alguma dificuldade na hora de se soltar das cordas), deram de cara com uma floresta fechada. Agora, estavam caminhando sabia-se lá há quanto tempo, tentando achar qualquer saída (embora parecesse que quanto mais andavam, mais se perdiam).

Ao seu lado, Piper parou de caminhar. A garota pôs as mãos nos joelhos e respirou com certa dificuldade. Suor escorria pela bela face da garota.

–- Eu… não… aguento mais - a garota Cherokee disse.

–- Temos que continuar andando - disse Percy. - Consigo sentir um pequeno riacho não muito longe daqui.

–- Por que você simplesmente não traz a água até nós? - Jason perguntou. O rosto branco do garoto estava vermelho de suor e seus óculos escorregavam em seu nariz.

–- Por que você não faz chover? Eu estou cansado, cara.

–- Acho melhor descansarmos um pouco - disse Piper.

Annabeth torceu o nariz.

–- Com certeza algum monstro espera que façamos exatamente isso.

–- Se tivesse algum monstro nos seguindo, com certeza ele já teria nos atacado - disse Piper. - E teria vencido. Que ameaça nós somos? Quatro semideuses cansados e machucados que não conseguem dar sequer um passo sem cair duros no chão.

–- Eu não acho que… - Mas o que Annabeth ia dizer nenhum deles nunca soube, pois sua voz foi cortada pelo som de um motor de uma moto, se aproximando cada vez mais.

E ficando mais próximo, tão alto que os semideuses tiveram que tapar seus ouvidos.

–- Abaixem-se! - gritou Jason.

Uma moto veio, então, do lado direito e cortou o ar acima deles, onde suas cabeças estiveram momentos antes.

Quem quer que fosse que dirigia a moto estacionou e o barulho cessou. Logo Annabeth notou que se tratava de um homem que não deveria ter mais de vinte anos.

Ele tirou o capacete revelando seus cabelos curtos cobertos por uma bandana e seus olhos que pareciam arder em chamas. Suas roupas eram estilo punk. Annabeth não pôde deixar de compará-lo com um daqueles delinquentes juvenis que havia em toda escola.

–- Ah, droga - disse Percy, ao seu lado.

–- Por favor, me diga que é um deus que lhe deve um favor ou algo do tipo - implorou Annabeth.

–- Este é Phobos, filho de Ares. Tivemos hã… um desentendimento há alguns anos.

O deus sorriu, maldoso.

–- Estava ansioso para lhe reencontrar, Jackson.

[...]

Sabe quando você já derrotou monstros suficientes para uma vida toda, ajudou a derrubar um deus com sede de vingança por seus filhos deuses, já foi atingido por uma espada bem no estômago e matou uma deusa da terra louca, além de perder sua memória e desmaiar incontáveis vezes para uma missão, e a vida achar que ainda não é suficiente?

Pois é, Jason sentia-se assim.

Não que fosse recusar ajudar a salvar o mundo e tudo mais, mas parecia que ele realmente não podia ter um momento de paz.

Finalmente ele e Piper poderiam ficar juntos, trocar uns amassos, ver o pôr do sol e assistir novamente O Diário de uma Paixão. Mesmo com a dor da perda de seu melhor amigo, tudo parecia estar indo bem. Até Nico tinha encontrado alguém, mesmo que custasse a admitir.

Mas sua vida de semideus sempre dava um jeito de estragar tudo. Não que estivesse reclamando, afinal, seu melhor amigo estava vivo. Mas Jason bem que queria que ele estivesse vivo no Acampamento Meio-Sangue, e não em sabe-se lá onde da Itália com uma garota imortal e possivelmente em apuros.

Jason pensou tudo isso enquanto observava o deus da motocicleta maneira e das roupas de couro e jeans rasgados encarar Percy com um sorriso desafiador.

–- Phobos… não me lembro de você na mitologia - disse Piper, encarando o deus enquanto segurava Katoptris na mão direita.

–- Ele é o deus do medo - sussurrou Annabeth. Depois, acrescentou mais alto: - Mas por que não vejo seu irmão, Deimos?

O sorriso do deus vacilou.

–- Deimos ainda não conseguiu se recuperar da guerra de Gaia - ele disse, mas deu de ombros, sorrindo. - Mas não é como se eu precisasse dele para derrotar vocês.

Percy deu passo a frente, transformando sua caneta esferográfica em Contracorrente, sua espada.

–- Pelo que eu me lembre - disse ele, os olhos verde-mar brilhando em desafio. - foram necessários você e seu irmão, e mesmo assim, eu venci.

O deus rosnou e avançou.