Capítulo quinze - Se for preciso

Will olhou incrédulo para o deus do tempo. Já Nico, o fitou com tanta fúria que Darth Vader teria se encolhido e gritado pela mamãe se estivesse no lugar de Kairós.

–- Não - disse ele, elevando a voz, que ecoava pelo lugar abandonado. - NÃO! - Ele andou em direção ao deus a passos rápidos e colocou a espada negra no pescoço do deus. - Eu NÃO vou perder minha irmã. Não de novo.

O deus, no entanto, não perdeu a linha. Sua calma era aparente.

–- Você não tem escolha - disse ele. - Sua irmã morre de qualquer jeito. Em todas as linhas do tempo, ela não sobrevive - ele disse. Então olhou para Will sugestivamente e acrescentou, lentamente: - Bianca di ngelo não pode viver com seu irmão enquanto uma guerra acontece.

Alguns segundos se passaram e o silêncio prevaleceu. Nico ainda estava com a espada no pescoço de Kairós, que não parecia ter pressa.

–- Se não podemos salvar ela - começou Nico. - Quem é, então?

O deus sorriu, travesso.

–- Você descobrirá, filho de Hades - Nico tirou a espada do pescoço dele. - Vou dar um tempo para pensarem antes de reverterem o que fizeram.

E estalando os dedos, o deus desapareceu, junto com seu trono e qualquer vestígio de que estivera ali alguma vez.

Nico estava tão distraído fulminando com o olhar o lugar em que o deus estava que não notou Will se aproximando, até que o garoto o puxou para um abraço apertado.

Depois de soltar uma exclamação surpresa e arregalar os olhos, Nico, timidamente, colocou seus braços nas laterais do corpo do loiro e afundou a cabeça em seu pescoço. Se alguém lhe perguntasse depois, ele diria que fora apenas um momento de fraqueza do qual o loiro havia se aproveitado, mas ali, nos braços de Solace, Nico se sentia protegido como há muito não se sentia.

Devagar, Will se afastou depois de terem ficado um tempo abraçados. Ele sorriu reconfortante para Nico, que provavelmente estava com a maior cara de bobo.

–- Então, tem alguma ideia de quem seja a pessoa que temos que salvar? - Solace perguntou, como se nada tivesse acontecido, sentando-se no chão empoeirado.

Ainda embasbacado, Nico sentou-se no chão também, de frente para Will, mas não muito próximo, como se o garoto estivesse com alguma doença altamente contagiosa.

–- Hã… - ele pigarreou. - Podem ser muitas pessoas. Zöe, Luke, Beckendorf…

–- Eu não entendo uma coisa - disse Solace. Nico permaneceu em silêncio, esperando ele falar. - Por que Bianca não ressuscitou quando Tânatos foi sequestrado?

Nico mexia no cadarço de seu tênis, como uma forma de não olhar para Will.

–- Eu tentei, ok? - disse, finalmente. - Mas ela tinha reencarnado. Então eu encontrei Hazel.

O loiro assentiu lentamente, e parecia querer dizer alguma coisa, mas foi interrompido pelo deus que surgiu sentado repentinamente, em seu trono, mastigando um Oreo.

–- Já pensaram no que fizeram, crianças? Vocês têm que consertar o que fizeram logo, antes que aconteça algum tipo de paradoxo, afinal vocês nunca estiveram aqui.

Di Angelo franziu as sobrancelhas, esquecendo-se por um momento de que estava com raiva do deus.

–- Espera, se houve mesmo uma guerra e tal, como estamos aqui? Essa fábrica não deveria estar, você sabe, destruída? - perguntou.

O deus fez um gesto com a mão como se afastasse uma mosca.

–- Ah, que nada. Essa fábrica é muito especial. Ela está parada no tempo e no espaço. Nada pode atingi-la.

Nico arqueou uma sobrancelha, mas calou-se. O deus abanou seu manto e acabou espalhando migalhas de Oreo por todo o chão. Ele olhou para os garotos e revirou os olhos.

–- O que ainda estão fazendo aqui? - Então ele estalou os dedos e eles estavam de volta ao ferro-velho.

Observaram de longe suas versões do passado conversarem com Bianca. Aproximaram-se da garota lentamente quando ela estava sozinha novamente. Nico chamou-a baixinho.

Bianca olhou para onde estavam e franziu as sobrancelhas, confusa.

–- Espera, vocês não estavam ali há pouco? - perguntou, apontando para uma fileira próxima a eles.

–- Sim, mas nós voltamos no tempo de novo - explicou Nico.

–- Tipo Doctor Who - tentou Will.

–- Doctor o quê?

–- Quase isso - disse Solace.

Nico revirou os olhos, impaciente.

–- Nosso tempo está acabando!

Will levantou as mãos em sinal de rendição e Nico respirou fundo, olhando para a irmã.

–- Bianca… não podemos salvar você - ele disse.

A garota franziu o cenho.

–- Por que não?

O moreno suspirou.

–- Se você vive, o resto do mundo morre - ele repetiu o que Kairós dissera para ele antes: - Você não pode viver comigo enquanto uma guerra acontece.

Eles permaneceram silêncio por um tempo

–- Ok, então - ela disse, surpreendendo o irmão. - Se for preciso.

Bianca di ngelo assumia uma expressão determinada. Ela não parecia temer a morte.

–- Você aceita… assim? - perguntou Nico. - Não vai questionar, ver se há outra maneira… nem nada?

Bianca olhou piedosamente para o irmão.

–- Sinto muito, Nico - ela disse. -, mas eu não posso… eu não vou deixar o mundo todo morrer por minha causa.

Nico assentiu. Will podia ver em seus olhos o quão desesperado ele estava, procurando uma solução para o que estava acontecendo.

–- E-eu entendo - disse o moreno sorrindo fraco. - Eu… eu tenho uma coisa para você.

Devagar, Nico abriu sua mochila e tirou de lá um ursinho esfarrapado e mofado que tinha um botão no lugar do olho esquerdo. Bianca sorriu, radiante, como se não estivesse prestes a morrer.

–- Enzo! - disse ela. - Oh, céus, como conseguiu ele de volta?

–- Ah, um cara vendendo coisas antigas de uma família antiga.

Bianca puxou Nico para um abraço apertado. Quando o soltou, pôs uma mão em cada lado de seu rosto.

–- Oh, você cresceu tanto… - ela disse. - Há alguns dias você era só um menininho saltitante e feliz…

–- Tecnicamente eu ainda sou… agora mesmo eu estou no Acampamento Meio-Sangue… esperando você.

Bianca acariciou a bochecha de Nico com seu polegar. Will nunca tinha visto dois irmãos se darem tão bem.

–- Bianca - ouviram uma voz chamar.

–- Eu tenho que ir - disse ela. - Estátuetas não se roubam sozinhas.

–- Bianca? - chamou a voz de novo.

–- Já vou, Percy - ela disse.

Bianca se pôs nas pontas dos pés e beijou a testa do irmão. Nico fechou os olhos e permitiu que uma lágrima caísse. Quando os abriu, Bianca já tinha ido.

Então um a mente de Will deu um estalo.

–- Ei - chamou o moreno. - Acho que derrubei minha garrafa d’água. Pode procurar pra mim?

Nico franziu o cenho, mas assentiu. Solace se certificou de que ele estivesse bem longe antes de chamar Bianca mais uma vez.

A garota caminhou até ele, preocupada.

–- O que houve? Onde está Nico?

–- Eu o distraí. Preciso te contar uma coisa.

E sussurrou algo no ouvido de Bianca, apressadamente.

Ela levantou as sobrancelhas, surpresa e assentiu, um mínimo sorriso brotando de seu rosto.

–- Eu o farei - disse, confiante, e saiu, indo pegar finalmente a estatueta.

Nico voltou um tempo depois, um pouco impaciente.

–- Não encontrei sua garrafa.

–- Ah, que pena - disse Will, fingindo estar triste.

Nico apertou os olhos quando um estrondo alto se ouviu, indicando que Bianca di ngelo já não estava mais com eles.

Porque Bianca di ngelo não poderia viver com seu irmão enquanto uma guerra acontecia.