A maneira como Barry curou foi simplesmente impressionante. Ele havia quebrado seu braço quando caiu, e em três horas, não havia mais nenhuma fratura ali. Caitlin não tinha uma explicação para isso, porém depois do que viu mais cedo, impossível não seria uma palavra que voltaria a usar tão cedo.

— O que aconteceu lá? Você estava indo bem, e de repente perdeu o foco. - Dr. Wells perguntou ao recém descoberto velocista, assim que entrou na sala.

 Cait e Cisco que estavam trabalhando ali perto, pararam o que estavam fazendo para ouvir a resposta do homem.

— Eu comecei a me lembrar de algo - Barry iniciou o assunto, e todos na sala puderam perceber que aquele era um algo delicado para ele - Quando eu era pequeno, minha mãe foi assassinada...Era tarde, um som me acordou. Eu desci as escadas e vi o que parecia ser uma bola de raios...E dentro dela tinha um homem. Ele matou minha mãe...A esfaqueou no peito. Meu pai foi preso por isso... E todo mundo dizia que o que eu vi era impossível, e eu agora me pergunto se o homem que a matou não era como eu?

 Naquele momento Caitlin entendeu o que sentiu quando era criança...Entendeu a mais dolorosa sensação transferencial que já teve em toda sua vida. Ele havia perdido a mãe...E de outro modo, também seu pai...E ela sabia o quanto doeu para ele. Agora ela se sentia triste. Não sabia se era por que se lembrou daquela sensação, por saber o que ele passou, por ele estar se sentindo assim naquele instante, ou todas as alternativa juntas.

— Eu posso dizer com 100% de certeza, que você é o único assim - Wells lhe deu como resposta, porém não foi o suficiente para amenizar as perguntas que Barry estava se fazendo.

 Apesar disso, ele assentiu com a cabeça, em um sinal de concordância; e Harrison aceitou isso como um ponto final naquela história.

— Eu acho que eu deveria ir agora... Passar um tempo com Joe e Iris. - O velocista falou como uma desculpa para sair dali o mais rápido possível.

  Ele se sentia bem desconfortável naquele momento. Aquelas eram lembranças dolorosas...E agora ele tinha mais perguntas para força-lo a relembrar aquele momento repetidas vezes. Também tinha o fato dos olhares de pena que ele sabia estar recebendo. E de todo o clima pesado que havia se formado naquela sala. Tudo o que ele queria era sair dali e tomar um pouco de ar fresco.

— Eu acho que essa é uma boa ideia - Cait concordou, assim que percebeu o que ele estava sentindo. - Deixem que eu o acompanho até a saída e aproveito para dar algumas... Recomendações médicas, agora que ele...Vocês sabem...Pode correr.

— Tudo bem... Vejo você amanhã? - Wells pergunta a Barry antes dele poder sair dali.

 O homem apenas assente com a cabeça e se apressa a deixar da sala, sendo seguido logo em seguida pela bioengenheira.

 Por um tempo, os dois apenas caminharam em silêncio. Como se existissem milhares de palavras a serem pronunciadas, mas nenhum deles soubessem como dizê-las.

— Então...Quais são as recomendações? - Barry pergunta, rompendo aquele silêncio constrangedor.

— Você não é como ele! - Ela afirma de repente, ignorando a pergunta do velocista.

— Por que ele não existe? - Ele rebateu, tentando combater toda a frustração que aquelas palavras lhe provocaram assim que saíram de sua boca. - Eu acho que seu chefe deixou isso bem claro lá dentro.

 - Não! - Ela afirmou e parou de andar, fazendo assim com que Barry parasse também e a encarasse confuso.

— Porque ele é mal...E um assassino.... E por mais que vocês dois tenham a velocidade em comum, você não é nem um pouco parecido com ele... Você é um bom homem, Barry Allen. - Declara o deixando sem reação por um instante.

 Ninguém nunca havia acreditado quando ele havia contado o que aconteceu aquela noite. Diziam que tudo o que tinha visto, era apenas um fruto da sua imaginação infantil, tentando não encarar a dura realidade. Barry ouviu isso tantas vezes, que já estava acostumado...Que era tudo o que esperava ouvir. Mas agora...Neste momento, a convicção com que ela falou, o deixou sem palavras. Era quase com se ela...

— Você acredita em mim? - Ele se ouve perguntando em uma voz baixa e quase incrédula.

— Eu acredito...Que nada mais é impossível... Hoje eu vi um homem acordar de um coma de nove meses...E correr a uma velocidade absurda. Eu vi esse mesmo homem se curar de uma lesão em apenas algumas horas. Então sim...Eu acredito em você...Por mais louco que isso possa parecer.

 E lá estava ela. A vontade maluca que Barry sentiu de abraçar a doutora mais cedo voltou com força total naquele momento, apesar de agora, por motivos completamente diferentes. Desta vez ele não pensou, nem tentou resistir, apenas a puxou para os seus braços em um abraço apertado. Caitlin ficou estática por alguns segundos, processando o que estava acontecendo. O abraço a pegou desprevenida, porém não demorou para ela se entregar ao momento. Cait envolveu seus braços na cintura dele e descansou sua cabeça contra o seu peito, não podendo conter o sorriso que insistiu em brotar em seus lábios por causa da sensação que aquela proximidade lhe provocava.

 Barry não saberia explicar o que estava acontecendo. Talvez fosse o calor na boca de seu estomago, a sensação de eletricidade correndo por seu corpo ou as milhares de borboletas dançando sob sua pele, mas naquele momento ele sentia que estava flutuando, como se o peso do mundo fosse tirado de suas costas e tudo fosse ficar bem. Ele inspirou profundamente, sentindo o cheiro de chocolate dos cabelos da doutora invadirem suas narinas. Ele queria memorizar aquele momento, fazê-lo durar pra sempre. Ele não estava pronto para deixa-la se afastar, talvez nunca estivesse, mas mesmo assim teve que fazê-lo. A sensação de falta o consumiu assim que Caitlin deixou seus braços. Ele quase a puxou de volta, tentando trazer de volta tudo aquilo, mas desta vez a lógica interferiu.

 Assim que ele voltou a olhar pra ela, percebeu que ela estava sorrindo, e a única coisa que conseguiu pensar foi: "Caramba...Essa mulher foi feita para sorrir" Com certeza se ele soubesse que a abraçando, conseguiria uma reação assim, já teria feito isso antes.

— Obrigado! - Foi tudo o que conseguiu dizer.

 - Você é sempre bem-vindo - Ela lhe respondeu aumentando seu sorriso - E antes que eu me esqueça...Tenho algo pra você... Se precisar de alguma coisa - Diz lhe entregando um pequeno pedaço de papel.

 Naquele momento Barry se lembrou que estava de saída. Com tudo o que aconteceu, apenas tinha se esquecido desse pequeno detalhe.

— Caitlin? Antes de ir, eu posso te fazer uma pergunta? - Ela e assente, então ele prossegue - Não que você esteja errada...Mas como você sabe que eu sou uma boa pessoa?

 Ela deixa escapar uma pequena risada e pondera um pouco antes de responder.

—  Basta dizer que...Algumas coisas, eu apenas sei - Com essa resposta enigmática ela se vira e volta para dentro da instalação.

 O velocista a acompanha com os olhos até vê-la desaparecer na curva do corredor. Ele nota que ainda não olhou o que tinha no papel que ela lhe deu. Ele sorri ao notar que é o número do telefone dela. Apesar de saber que aquilo é provavelmente para fins emergenciais, algo lhe diz que até o fim do dia ele saberá aquele numero de cor.

Caitlin Snow é realmente uma mulher especial, apesar de tê-la conhecido a tão pouco tempo, ele sabia disso. Mas se alguém lhe perguntasse o  porquê, ele teria que usar a mesma frase que a ouviu pronunciar alguns segundos atrás.

"Algumas coisas...Você apenas sabe"