Molly Juliette Weasley II

“O dia em que me senti uma intrusa.”

17 de novembro de 2016.

Olá, Castiel!

Desculpe-me se hoje eu não contar muuuitas coisas, é que eu estou muito cansada. Tipo, cansada mesmo. Céus, Lily resolveu que nesse aniversário dela, eu seria a sua melhor amiga, mas verdade seja dita: eu sou a melhor amiga dela. Pelo menos, até ela ir para Hogwarts. Entretanto, não conte para Arabella, ela morreria de ciúmes!

Bem, hoje foi o aniversário de 08 anos da Lily e Tia Ally disse: "Você vai passar um tempo com a sua família, por causa do aniversário da sua prima. Não se preocupe: já falei com o diretor da sua escola e ele deu permissão para você faltar essa semana, pois até então, suas notas estão ótimas!"

Então, na quarta-feira de manhã, Tia Ally usou a rede de flu para me levar até a minha casa.

" ㇐ Você está com tudo o que precisa? ㇐ Tia Ally perguntou.

㇐ Estou. ㇐ Respondi pegando a mala. Tia Ally cismou que eu deveria levar uma  mala com as roupas novas (trouxas), pois as que eu tinha em "casa", provavelmente não serviriam mais e porque "são feias, você não sabia como se vestir. Tinha algumas roupas bonitinhas, mas as outras... A questão é: agora você tem roupas bonitas, que ficam perfeitas em você e que eu escolhi. Um dia, escute bem: um dia você poderá comprar as suas roupas, porque seu gosto vai ter mudado e para melhor!"

㇐ Certeza?

㇐ Uhum.

㇐ Absoluta?

㇐ Aham!

㇐ Meu Deus, eu não quero que você vá!

㇐ Mas tia, foi você mesma que disse que eu tenho que passar um tempo com eles.

㇐ Sim, entretanto eu tenho o direito de querer você só para mim, né?

Sorri.

Tia Ally é como uma segunda mãe para mim.

㇐ Bem, a despedida é triste, porém tem que acontecer. Se eu ficar enrolando muito, sua mãe vai ficar louca! Então, eu amo muito você.

Tia Ally é dramática, do jeito que ela fala, até parece que eu estou indo morar em... Sei lá, na China!

㇐ Também te amo. ㇐ Nos abraçamos e depois eu peguei um pouco de pó de flu. Joguei na lareira e falei ㇐ Godric's Hollow!

Quando saí, encontrei minha mãe* sentada no sofá. Ela me viu e correu para me abraçar.

"Merlin do céu! Você está tão grande!"

Após um interrogatório, eu fui para meu quarto. Papai estava no trabalho e Lucy estava na escola.

Lembro que sentei em minha cama e olhei meu quarto. Ele estava do mesmo jeito que deixei, era como se ninguém entrasse ali desde o dia em que fui morar com Tia Ally.

Olhei para uma foto que tinha perto da minha cama.

Mamãe, Papai, Lucy e eu. Nós estávamos abraçados e riamos, era a foto que tínhamos tirado no meu aniversário de 11 anos. Papai sorria e nem parecia o mesmo homem que na manhã seguinte, entraria em meu quarto e diria que tinha vergonha de ser meu pai. Ele estava tão feliz, nem imaginava que a filha era um aborto.

De certo modo, voltar ali me dava... medo. Talvez, não sei direito. É uma sensação estranha, como se eu não pertencesse àquela casa, como se a minha casa de verdade, meu lar, fosse lá em Nova York, com a Tia Ally. Isso é estranho, porque ali deveria ser o meu refúgio, para onde eu iria sempre que algo acontecesse, mas parece que depois do que aconteceu no meu aniversário, tudo mudou. E de fato, mudou. Entretanto, a sensação de segurança que aquele local passava, simplesmente sumiu. É como se eu estivesse na casa do inimigo, talvez, seja como se eu fosse diferente e logo começassem a me julgar. Não que isso vá fazer eu me trancar neste quarto, pois eu já aceitei o fato de ser um aborto. Eu sou um e não tenho vergonha de dizer isso.

Mais tarde, chegou a hora de encarar o papai. Lucy já havia passado em meu quarto, já havia chorado, feito uma bagunça e eu acompanhei ela, é claro. Quando desci para o jantar, ele estava lá, sorrindo e conversando com mamãe, entretanto, quando me viu, aquele sorriso murchou. Ele ficou sério e nem sequer disse: "O que essa aberração está fazendo aqui?" creio que seria melhor se ele tivesse dito isso, do que ter ficado naquela maldito silêncio. Aquilo me deixou desconfortável e mais uma vez, me senti uma intrusa.

Os três ㇐ mamãe, papai e Lucy ㇐ eram uma família perfeita. Porém havia eu ali, para estragar com toda perfeição. Eu era o Tio Harry no meio dos Dursley.

Papai conversava com mamãe e Lucy, mas não conversava comigo. Era como se eu não existisse e, sinceramente, eu desejei sumir, seria melhor: eu não passaria por aquela situação.

Quinta-feira chegou e eu ajudei a mamãe com as coisas, antes dela ir trabalhar e me deixar na casa da vovó. Vovó Molly, quando me viu, sorriu.

"㇐ Molly, querida, nos desculpe por aquela reação. Percebemos o quão errados fomos, fomos preconceituosos e isso foi horrível! Quando percebemos o que fizemos, céus, o aperto no meu coração foi tão grande. Juro que iria lhe mandar uma carta, entretanto, achei que não quisesse mais falar conosco."

Naquela quinta-feira, eu conversei com todos os meus tios e percebi que aos poucos, eles estavam aceitando o fato de eu não ser uma bruxa. Mas demoraria um pouco para voltarem a conversar normalmente comigo.

Hoje, sexta-feira, dia 17, aconteceu a festa da Lily. O tema era Frozen*

Brincamos de pega-pega, esconde-esconde, roubamos alguns doces, dançamos e no final do dia, cada um foi para sua casa.

E agora, eu estou aqui, cansada, mas contando como foi meu dia.

Bem, eu não tenho muito o que dizer, entretanto o que senti nestes dias foi: felicidade e tristeza.

Felicidade por estar com meus primos, meus amigos e minha família.

Tristeza por perceber que de todos, papai ainda continua sentindo vergonha de mim.

Entretanto, um dia, isso pode passar. Um dia ele pode me olhar e dizer: "Eu fui um idiota, me desculpe", mas por enquanto, o que resta é esperar.

Está tarde e eu devo dormir,

Boa noite, Castiel!

*Mãe: O fato da mãe da Molly ser morena é simples: Ela além de ser a irmã mais velha, puxou a cor do cabelo do pai, enquanto Ally puxou a mãe.