Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 7
Outro estranho encontro - Jade




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Jade podia ouvir o barulho da surra que seu tio estava dando em Agatha do seu quarto. Por algum motivo sentiu uma sensação estranha no seu corpo. Uma sensação que chegava a causar um desconforto e uma pequena dor física. Ignorou pensando que era pena. Eu não deveria estar com pena, ela mereceu. Onde ela estava com a cabeça ao montar naquele cavalo e perseguir os empregados? Ela estava tentando convencer a si mesma de que Agatha merecia aquilo, mas não conseguiu.

Quando se deu conta já havia saído do quarto e marchava decidida em direção ao quarto da prima. Mas antes que chegasse a porta, esta se abriu e Eduardo saiu. Olhando a menina nos olhos disse:

— Ela sempre faz isso! Sempre me desafia.

Como Jade não disse nada, ele simplesmente passou por ela e desceu as escadas. Jade encostou a orelha na porta para ver se escutava o som de choro, mas a única coisa que ouviu foi uma tosse seca e depois mais nada. Ficou um tempo escutando até criar coragem de abrir a porta, só um pouquinho.

Espiou com um olho através da fresta. A cama estava vazia. Abriu mais um pouquinho e olhou na direção do banheiro. A porta do banheiro estava aberta e ela pôde ver Agatha com a blusa erguida olhando as marcas na sua barriga. A respiração ficou presa em sua garganta, fechou a porta sem fazer barulho e se afastou.

Estava sentada nos degraus que levavam a enorme porta de sua mansão do lado de fora. Refletia sobre tudo que tinha acontecido. Apesar da marca que Jade conseguiu ver quando espiou pela fresta, sua prima não chorou. Não gritou, não pediu que ele parasse. Aquilo só podia significar que não fora a primeira vez e muito menos a segunda.

Ao erguer os olhos viu seu pai dando instruções para uns homens sobre como queria a trave dos estábulos. Estava decidido a descartar o simples trinco atual e substituí-lo por uma fechadura elaborada. Jade sorriu, tinha que admitir que o episódio foi bem engraçado apesar do infeliz desfecho. O modo como Agatha havia se jogado entre as pernas de Tom, o jardineiro, foi genial. Sem que percebesse, se pegou pensando em como a prima vivia em São Paulo.

Estava na cara que ela não era uma garota sossegada como Jade. Isso deveria render muitos castigos como os que Jade havia visto há pouco. Olhou em volta, para a mansão, o pátio, os muros. Como se só então se desse conta de onde morava. Só então visse o quanto deveria ser horrivel a situação para Agatha e sua família. Eles eram cinco e eram sustentados só por dois salários. Dois salários pequenos. Esther era secretária e Eduardo era só um segurança. Temos o mesmo sobrenome, mas duas realidades bem diferentes. A família Albuquerque se divide em vários ramos.

Ouviu a porta se abrir atrás de si e se virou. Agatha desceu os degraus e passou por Jade sem nem sequer lançar um olhar em sua direção. Parou no ultimo degrau e olhou para os homens que reformavam as portas do estábulo.

— O Zorro gostou de você.

Agatha se virou para encara-la.

— Quem diabos é Zorro?

Jade apontou para o cavalo preto que relinchava feliz ao ver Agatha.

— A confusão que você arrumou foi tão grande que meu pai não esperou nem até amanhã para trocar as travas.

— É uma pena. Gostei de cavalgar.

— Nunca tinha feito isso antes?

— O que você acha? Pode ser novidade para você, mas em São Paulo não temos cavalos dentro das nossas casas.

— Tecnicamente ele esta fora da casa.

Agatha ergueu uma sobrancelha e Jade sorriu. Não pôde ter certeza, mas pareceu por um milissegundo que Agatha iria retribuir o gesto, mas ela se virou para os estábulos novamente. Jade quebrou o silencio.

— Sabe, ele vai ter que guardar a chave em algum lugar depois que colocarem a fechadura.

— O que quer dizer?

— Quero dizer que eu poderia muito bem deixar escapar o local e, Deus me livre, você poderia ouvir.

— Ei patricinha, se eu quiser entrar lá não vai ser uma maldita chave que vai me impedir.

Dizendo isso Agatha virou as costas e se afastou indo na direção dos portões. Jade suspirou Pelo menos eu tentei. Não queria a amizade da prima, mas percebeu que por tudo que ela já deveria ter passado que o mínimo que Jade poderia fazer era ser gentil.

— Como eu vou ser gentil se ela age como um cão raivoso que depois de só levar pauladas quer morder até a mão que vem lhe alimentar?

Viu que a prima havia se encostado-se ao portão. Provavelmente eu vou me arrepender disso. Levantou-se e foi na direção de Agatha. Cruzou o pátio e encostou-se ao portão do lado da prima.

— O que acha da gente sair?

Agatha soltou um risinho de deboche.

— Vai levar alguma empregada para poder limpar a sua bunda caso não voltemos antes de você querer ir ao banheiro?

— Por quê?

— Não entendeu? Eu explico: se você quiser ir ao banheiro e não tivermos voltado...

— Eu entendi isso – Jade interrompeu – O que eu quero saber é: por que você esta sendo rude? Não percebeu que eu estou querendo me aproximar de você?

— Não percebeu que eu talvez, só por um pequeno acaso, não queira que você se aproxime?

Jade afastou-se do portão.

— Eu desisto! Por isso que ele te bate, você é impossível!

Virou-se e começou a voltar em direção à mansão. Pelo menos eu tentei. Ela que se vire. Estava quase na metade do caminho quando ouviu Agatha chamando.

— Jade!

Ela se virou nervosa.

— O que é? Não foi grossa o bastan...?

Calou-se depois de ver para quem a prima estava olhando. Parado ali, do outro lado do portão na sombra das arvores, estava uma figura mortalmente branca vestida de preto.

Jade voltou correndo e parou ao lado da prima.

— O que ele quer aqui?

— Eu não sei. Até agora ele só sorriu e acenou.

Assim que Agatha terminou a frase, o homem ergueu a mão e fez um gesto para elas. Um gesto que dizia “venham aqui”. Bom, provavelmente eu vou me arrepender disso também.

Apesar desse pensamento, Jade bateu na janela da guarita do porteiro e o mandou abrir os portões.

— Você enlouqueceu? Não podemos ir até ele. Jade, nós nem sabemos quem esse homem é!

Jade sabia que Agatha tinha razão, mas alguma coisa dentro dela lhe dizia para não ter medo.

— Vai ficar tudo bem. Vamos ficar perto de casa e o porteiro vai nos ver saindo. Se demorarmos a voltar, com certeza ele vai mandar os seguranças atrás de nós. Qual é, Agatha? Montou no Zorro sem sela e agora esta com medo de ir até o homem? Além do mais, ele pode nos explicar aquela briga.

Agatha respirou fundo.

— Tudo bem.

Jade saiu pelo portão com Agatha atrás e juntas foram em direção ao homem. Porém, quando estavam chegando perto, o homem virou as costas e entrou no meio das árvores.

— Jade, você não pode estar pensando em seguir esse cara.

A garota não respondeu. Seguiu os passos do estranho e entrou na mata. Segundos depois ouviu passos atrás dela, não precisou se virar para saber que era Agatha.

Agatha caminhou ao lado dela. Alguns metros à frente ia o homem, parando algumas vezes para olhar para trás e dar-lhes um sorriso encorajador.

— Eu não estou gostando nada disso...

— Pare de resmungar! Se esta tão apavorada assim, por que não volta?

— Eu não estou apavorada e mesmo se estivesse não iria deixar você fazer isso sozinha.

Jade olhou para a prima de lado e de repente sentiu uma pontada de compaixão por ela. Continuaram seguindo o homem em meio às árvores até que finalmente ele parou em um espaço sem muitas árvores. Virou-se para encara-las.

— Passaram no teste da coragem.

— Como assim? – Jade fitava o homem sem entender.

— Não seria qualquer garota que seguiria um estranho pela floresta e também não seria qualquer uma que aceitAgatha isso para não deixar a parceira sozinha.

— Não somos parceiras. – Agatha estava com uma mão no bolso da blusa de frio. – Eu só não iria deixa-la sozinha. Se acontecesse alguma coisa iriam arrumar um jeito de me culpar.

— Mesmo assim foi preciso muita coragem.

— Você quis dizer burrice.

O homem riu. Era um riso frio, sem alegria. Jade sentiu que não poderia deixar Agatha conduzir aquela conversa se quisesse algumas respostas.

— Ta, tudo bem. O que você quer de nós? O que foi aquilo na minha casa?

— O que eu quero de vocês? Nada. Mas vocês vão querer alguma coisa de mim.

— Você esta louco cara?

— Agatha, deixa comigo. – Jade se virou para o homem novamente – Você ainda não respondeu a minha segunda pergunta.

— Porque ainda não é a hora. Mas eu tenho uma proposta para fazer a vocês.

— Diga então.

O homem olhou de relance para Agatha e depois voltou seus olhos negros e frios para Jade.

— Vocês ainda estão muito indefesas. Isso tem que mudar se quiserem sobreviver ao que estar por vir. Vocês precisam ser treinadas. Eu pessoalmente não sou bom em luta mas...

— Calma ai. – Agatha deu um passo na direção do homem – Esta me chamando de indefesa? Cara, você não sabe mesmo nada sobre mim.

— Eu sei mais sobre você do que você mesma... Sei mais sobre vocês duas do que alguma vez pudessem sequer imaginar.

Jade agora estava começando a ficar assustada.

— O que você quer dizer com “o que estar por vir”? Por que precisamos saber lutar?

— Aprendizado primeiro. Respostas depois. São muito jovens ainda.

— Você acha mesmo que vamos cair nessa? – Agatha soltou um risinho de escárnio – Cara, olha para nós. Podemos ser novas ainda, mas não tem a menor chance da gente acreditar em você. Tudo que você disse até agora... Não faz sentido nenhum. Não te conhecemos, não sabemos quem você é. Não sabemos por que estava na mansão aquele dia ou por que chamaram a sua irmã de vagabunda. A única coisa que sabemos é que não vamos fazer nenhum pacto com o diabo.

Dessa vez o homem riu de verdade.

— Ei Agatha, gostei de você.

— Como você sabe o nome dela?

— Eu sei de tudo, Jade.

Jade deu um passo para trás de bateu as costas na árvore.

— Pensem no que eu falei. Mesmo que não acreditem, pensem. Que mal poderia fazer vocês aprenderem a se defender? – Ele deu um passo na direção de Agatha – Nunca mais você iria ter que se submeter aos castigos do seu tio.

Foi a vez de Agatha recuar. Dava para ver nos olhos da garota que ela não fazia ideia de como o homem sabia disso e não gostava nada daquilo. Ela olhou para os pés durante um tempo, depois se virou para Jade.

— Eu estou dentro.

— O que? Agatha, você acabou de dizer que isso é loucura!

— E é, mas eu não tenho nada a perder.

Jade se afastou da árvore.

— Certo. Não vou te deixar sozinha. Entramos nessa floresta juntas.

— Isso. A única coisa que vocês terão em breve será uma a outra.

— Olha, não vai rolar. Jade e eu... A gente não se suporta.

— Não se suportam, mas mesmo assim já vi dois atos de companheirismo das duas desde que entraram aqui.

Aparentemente Agatha não tinha uma resposta para aquilo e ficou quieta.

— Você estava dizendo que não sabe lutar. Como pretende nos ensinar uma coisa que você não sabe?

— Eu nunca disse que vou lhes ensinar. Estejam aqui amanha, à meia noite. Vou trazer o instrutor de vocês.

O homem virou as costas dando um fim a conversa e começou a se afastar, mas Jade gritou.

— Ei! Pode pelo menos nos dizer o seu nome.

O homem parou e se virou.

— Um dia vocês saberão.

— E sobre quem vai nos treinar? Também não pode nos dizer nada? – Agatha ainda estava com a mão no bolso da blusa.

— Posso: seu pai o escolheu a dedo especialmente para essa tarefa.

Dizendo isso ele se virou de novo e entrou no meio das árvores.

Jade observou Agatha de longe durante todo o caminho de volta. Só naquele momento a garota percebeu que Esther estava em sua casa, tal como os tios e a avó de Agatha. Mas ela não havia percebido até aquele momento que não houve nenhuma menção ao pai da prima.

Agatha andava alguns passos à frente com o olhar fixo. Parecia estar perdida em pensamentos. Jade sentia um grande impulso de puxar assunto com a prima, perguntar se ela estava bem... Mas tinha medo da reação de Agatha. Ela já havia percebido que a garota tinha um temperamento difícil. O jeito como ela havia enfrentado o homem ainda estava em sua cabeça.

Alguns metros a frente Agatha chutou uma pequena pedra e foi chutando-a até chegarem aos portões. Assim que as viu, o porteiro abriu o portão e colocou a cabeça para fora da guarita.

— Seu pai sabe que você estava na floresta?

— Não e estou contando com você para que ele continue sem saber.

— Jade, é perigoso sair por ai, sozinha.

— Eu não estava sozinha, Jorge. Por favor, não conte para os meus pais.

Jorge sorriu e prometeu não contar nada. Só quando olhou em volta foi que Jade percebeu que Agatha não estava mais ao seu lado. Olhou em direção a mansão e viu a prima quase chegando as escadas onde parou e se sentou. Jade correu na direção dela e se sentou ao seu lado.

— O que eu preciso fazer para você parar de me seguir?

Jade ignorou.

— O que ele quis dizer sobre o seu pai ter escolhido quem vai, supostamente, nos treinar?

Agatha olhou para o outro lado e não respondeu. Jade decidiu tentar mais uma vez.

— Agatha, o que o seu pai tem a ver com isso?

— Eu não sei! Me deixa em paz.

Agatha se levantou, mas Jade foi mais rápida. Agarrou o braço da outra e a puxou de volta.

— Você não vai fugir de mim. Só agora eu estou percebendo isso. Sua mãe esta aqui junto com seus tios e avó. Cadê o seu pai, Agatha? Quem ele pode ter escolhido?

— Eu já disse que não sei, inferno! – Agatha puxou o braço, libertando-o da mão de Jade e empurrou a prima. Jade caiu de bunda no chão. – Pela última vez: me deixa em paz.

Dizendo isso, virou as costas e subiu as escadas.


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