Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 5
O espelho - Jade




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Jade seguiu o conselho de Harry Potter e, quando ouviu os portões de entrada da mansão se abrindo, ficou no seu quarto sem fazer barulho, fingindo que não existia.

Sabia que sua paz não iria durar para sempre, na melhor das hipóteses, a deixariam em paz até pelo menos a hora do almoço. Então ia ser obrigada a descer e socializar com seus familiares.

Quando viu pela janela do seu quarto o carro de baixa renda entrar pelos seus portões, fechou as cortinas e se jogou na cama. Não queria ter nem um sequer vislumbre daquele povo antes do necessário.

Olhou para o teto e pensou no que havia lhe acontecido mais cedo no supermercado. Se soubesse quem é... O que será que aquele misterioso homem quis dizer com aquilo? E quem diabos era ele? Jade achou estranho seu pai tê-la visto conversando com um estranho e não se aproximar para ver do que se tratava. Supondo que ele o tenha visto.

Que pensamento idiota, Jade. Claro que seu pai o viu. O homem era pálido, mas não chegava a ser invisível. Afastou aquele pensamento da cabeça. Talvez Arnaldo só estivesse ocupado em alguma prateleira e ela nem falou muito tempo com o estranho. Talvez quando seu pai se virou o homem já tivesse ido embora.

Jade se virou de bruços e fechou os olhos. Em questão me minutos já estava dormindo.

Corria de novo no meio do mato, estava sendo perseguida. Olhava para trás, mas não conseguia ver quem era, só sentia sua presença fria atrás de si. Correu mais rápido olhando de um lado para o outro... Procurando. Pulou por cima de um tronco e gritou alguma coisa. A voz não saiu. Continuou gritando, chamando, mas ninguém respondia.

Jade não sabia do que se tratava, mas sabia que precisava acha-la e rápido, antes que fosse tarde demais. Parou de correr, pôs as mãos em concha em volta da boca e gritou com toda a força. Mesmo assim a voz não saiu. Ouviu um galho se partindo as suas costas e tornou a correr. Não podia ser pega.

As árvores começaram a rarear deixando entrar a luz da lua através dos galhos finos. Via a sua frente a claridade de um espaço aberto e sem árvores. Correu naquela direção sem se preocupar com o fato de que a falta de árvores tornaria mais fácil ao seu perseguidor encontra-la.

Ao sair das árvores, se deparou com uma mulher. Ela estava agachada e de costas para Jade. A garota correu na direção dela para pedir ajuda, mas antes que pudesse se aproximar a mulher levantou e se virou.

Seus cabelos loiros e cacheados caiam sobre seus ombros e seu lindo vestido azul com a barra feita de penas de pavão pareceu brilhar em um milhão de cores à luz da lua. Quando os olhos verdes claros da mulher se encontraram com os verde escuros de Jade, a garota sentiu um choque frio percorrer todo o seu corpo. Então veio o trovão.

Jade acordou gritando. Alguém a agarrava pelo ombro.

— Vamos, Jade. O almoço já esta pronto.

Era Carmem, uma das empregadas. Ela tinha um sorriso bondoso e o exibia para a garota.

— Será que... Eu poderia... Comer aqui em cima?

Jade estava extremamente cansada, como se realmente tivesse corrido por uma floresta no escuro.

— Temo que não. Sua mãe faz questão de que você se sente a mesa com seus primos.

Com um suspiro a menina se levantou e foi jogar uma água no rosto para parecer mais desperta e menos apavorada. Ao erguer os olhos para o espelho, seus olhos verdes escuros estavam muito realçados. Suas pupilas não passavam de dois pinguinhos pretos no mar verde. A pele clara e levemente sardenta não ajudava em nada a cortar o efeito do verde.

Afastou-se do espelho, secou o rosto e se preparou para descer.

Desceu os degraus da grande escada curva com um único pensamento em sua cabeça: É só isso... Não tem mais jeito... Acabou. Boa sorte. Sorte. Realmente, ela iria precisar disso.

Atravessou o enorme e luxuoso saguão de entrada e se virou na direção da sala de jantar. Foi até lá e parou à porta a fim de observa-los antes de deixar que eles a observassem.

Seu pai estava sentado à cabeceira da mesa, como de costume. Sua mãe estava ao seu lado direito e do lado esquerdo de Arnaldo estava uma senhora com cabelos pretos e compridos que Jade deduziu ser a irmã de seu pai. Do lado esquerdo da tia...Heloisa, Jade achava que era esse o nome, estava um homem meio parecido com seu pai embora não tivesse os olhos bondosos deste. De frente ao homem e ao lado de Sara, estava uma mulher aparentemente mais nova que sua mãe. A garota adivinhou ser Esther e ao lado direito dela estava sentado um rapaz mais novo que Jade não fazia ideia de quem era.

E de frente à ele, Jade viu uma garota com a estatura igual à dela. A garota estava de costas para a porta. Agatha. Antes que pudesse criar coragem para dar mais um passo e entrar na sala de jantar, Arnaldo ergueu os olhos e a viu ali, parada.

— E ai esta a minha princesa. Entre, Jade.

Seu pai sorria, mas ela percebeu alguma coisa estranha em sua voz. As palavras dele fizeram os convidados se virarem para olha-la. A cena que se seguiu foi ao mesmo tempo cômica e extremamente assustadora.

Eduardo se engasgou com o vinho que estava bebendo e precisou que a mãe, depois de derrubar no chão os talhares ao olhar para Jade, desce tapas em suas costas. Esther cobriu a boca com as mãos e o jovem ao seu lado arregalou tanto os olhos que a garota pensou que iam saltar para fora das órbitas. Tudo isso aconteceu no intervalo de um segundo até Agatha se virar para a porta.

Os olhos das duas se encontraram e foi a vez de Jade tossir, se engasgar e cobrir a boca com as mãos de olhos arregalados. Agatha parecia igualmente surpresa. Um silêncio enorme tomou conta do local.

— Bem... A comida vai esfriar se não a comermos, não é mesmo? – Sara tentava fazer todos voltarem a atenção para o almoço – Venha, Jade. Sente-se.

Jade caminhou devagar, um passo após o outro sem tirar os olhos da prima que também a encarava, ainda de boca aberta. Infelizmente o único lugar vago era ao lado de Agatha. Depois de ter se sentado ainda não tinha conseguido tirar os olhos da outra garota.

— Nossa, quando disseram que a filha de vocês se parecia com a minha sobrinha eu não pensei que seria tão ao pé da letra assim.

— Caio você já provou essas batatas? Estão maravilhosas.

Heloisa empurrou as batatas na direção do jovem que agora Jade sabia se chamar Caio. Ele obviamente achou as batatas mais interessantes que o fato das duas serem parecidas e ficou quieto enquanto comia.

Esther olhava inquieta de uma para a outra e finalmente se dirigiu à filha.

— Agatha você não deve encarar as pessoas desse jeito. Olhe para o seu prato.

Dirigindo mais um olhar para a prima, Agatha abaixou os olhos para seu prato, mas não fez nenhuma menção de continuar comendo.

As empregadas entraram na sala com as bandejas e serviram Jade, mas a garota tinha perdido completamente o apetite. E, ao olhar ao longo da mesa, pode ver que todos haviam perdido o interesse no almoço, exceto Caio que ainda comia como se estivesse amarrado há sete dias.

— Espero que vocês fiquem muito tempo aqui conosco. Na semana que vem vamos atravessar o mar de balsa até Ilha Bela e eu adoraria que vocês se juntassem a nós.

— Sabe Arnaldo, havíamos realmente planejado passar algum tempo com vocês como o combinado, mas devido às circunstancias atuais, creio que não será a melhor opção.

— Como assim? Heloisa, você não pode estar falando sério! Planejamos essa visita há tanto tempo e quando finalmente vocês veem até minha casa você diz que não vão ficar!

— Certos pontos foram esquecidos de serem mencionados em nossos telefonemas.

— Certos pontos foram esquecidos porque certas perguntas não foram feitas.

— Acho melhor discutirmos isso mais tarde – Sara tentava apaziguar os ânimos – Vamos só curtir o almoço, depois vocês vão ter muito tempo para decidirem quanto tempo vão ficar.

Isso colocou um fim à discussão deles. Jade não estava prestando atenção no que diziam. Olhava de lado para Agatha e, na maioria das vezes, pegava a prima a olhando também.

— Agatha! Pare de brincar com a comida e termine logo com isso.

— Não estou com fome, mãe. – ela largou o garfo e ergueu os olhos para encarar Esther.

A voz dela era parecida com a de Jade, mas de alguma forma conseguia ser diferente. Agatha tinha a voz baixa e suave como o sussurro de alguma princesa élfica. Jade jurou nunca dizer aquilo em voz alta.

— Eu também não. – afastou o prato com a mão e apoiou o queixo na mão direita.

— Já que não querem comer, vão para o pátio. Aposto que ambas tem muito que conversar.

— Ta bom, pai.

Levantou-se e saiu da sala de jantar. Alguns segundos depois ouviu passos atrás de si e se virou no meio do saguão de entrada.

— Certo isso é muito estranho. Ta bom que primas se parecem, mas não tanto assim e muito menos primas de segundo grau!

Agatha caminhou até ela. Conforme a prima fixava o olhar em Jade, a garota se sentia esvaziar por dentro. Os olhos de Agatha eram duros e frios. Suas sobrancelhas eram franzidas, como se estivesse tentando finalizar algum plano. Eu definitivamente não tenho esse olhar de psicopata. Apesar das feições duras, Agatha andava com a leveza de uma corça, quase sem fazer barulho ao tocar o chão.

— Não fale como se eu tivesse culpa. Desculpe por não ter adivinhado antes, poderia ter jogado acido no meu rosto.

— Até que não seria má ideia. Só certifique-se de jogar o suficiente.

— Oh, não se preocupe. Qualquer quantidade é melhor do que ter a cara igual à sua.

Jade respirou fundo.

— Cuidado com a língua. Pode não parecer, mas eu me irrito facilmente.

A prima deu um passo em sua direção, desafiadora. Cravou ainda mais o olhar em Jade

— Ah é? Então somos duas!

Jade se encolheu e decidiu que não queria comprar briga com a prima. Agatha a enquadrilhava com o olhar com a mesma intensidade com a qual um lobo analisa sua presa momento antes de dar o bote. Jade recuou um passo.

Ficaram se encarando durante alguns instantes, examinando com cuidado o rosto uma da outra a procura de algo que não fosse familiar. Jade desistiu depois de quase um minuto deixando a cabeça pender lentamente para o lado.

A prima que estava olhando bem dentro de seus olhos, virou a cabeça para o lado também.

Nenhuma das duas estava entendendo o que acontecia, mas não estavam dispostas a se tornarem amigas. Ao mesmo tempo, viraram as costas. Agatha subiu as escadas e Jade irrompeu, cheia de raiva, porta a fora e correu pelo pátio gritando.

Já havia escurecido quando Jade decidiu voltar para casa. Levantou-se do meio do feno. Ótimo. Agora estou cheirando a cavalo. Pulou a cerca do estábulo e percorreu o caminho de volta à mansão passando pelo chafariz.

Precisou usar as duas mãos para abrir as pesadas portas de entrada. Ouviu vozes vindas da sala de estar. Falavam rápido e baixo, Jade não conseguia entender. Atravessou o salão na direção da sala e entrou. As vozes pararam abruptamente.

Seus pais e a família de Agatha aparentemente não queriam que ela ouvisse o que quer que eles estivessem falando.

— Jade, o que faz aqui?

— Acho que acabei dormindo nos estábulos. Eu estava indo para o meu quarto, mas ouvi vozes...

— Tudo bem. Suba e fique lá em cima.

— Okay.

Jade voltou para o saguão e subiu os degraus apurando os ouvidos, mas infelizmente eles não voltaram a conversar até ouvirem a porta do quarto de Jade bater.

A garota se jogou na cama. Alem de ter que ficar aqui na companhia de gente que eu não gosto, terei que conviver com minha cópia... uma copia muito mal feita por sinal. Eu não tenho aquele olhar frio.

Jade estava tão frustrada com o fato que nem sequer parou para pensar sobre ele. Assim como as duas famílias não haviam pensado treze anos atrás. As vozes na sala agora conversavam mais baixo ainda. Pena que a garota entrou na sala. Se ela tivesse ficado escondida entre as colunas da entrada ou ouvindo atrás da porta ela teria escutado uma conversa que explicaria tudo aquilo. Ou quase tudo.

— Nós fomos realmente muito burros! – Arnaldo parecia à beira de um ataque de nervos – Elas foram largadas na minha porta juntas, como eu não adivinhei.

— A culpa não foi nossa. A carta dizia que eram irmãs, mas não especificavam que eram gêmeas.

— Mesmo assim Esther, devíamos ter percebido. Eram quase do mesmo tamanho. Eu me lembro bem de quando eu as trouxe para dentro de casa. Eu teria de bom grado ficado com as duas, mas a carta advertia que...

—... se ficassem juntas seriam mais fáceis de serem descobertas – quem falou foi Caio, e ao notar os olhares indagadores de Arnaldo e Sara, acrescentou – Que foi? Mamãe me contou tudo sobre a carta. Eu cheguei até a lê-la porque não acreditei no que ela disse.

— O que? Você ainda tem a carta Heloisa?

— O que você esperava que eu fizesse? Jogasse fora ou destruísse? Se eu fizesse isso como iríamos explicar para elas tudo quando chegasse a hora?

— Bobagem! – Eduardo estava vermelho como um tomate – Torno a dizer a vocês que essas coisas não existem! Se eu fosse você Arnaldo, teria metido as duas no primeiro orfanato que encontrasse. Quais são as chances de isso tudo ser verdade? Com certeza são filhas de alguma vagabunda que não tinha meios de sustentá-las e inventou essa historia sem nenhum fundamento para enganar os primeiros trouxas que encontrassem!

Assim que ele terminou de pronunciar a ultima frase, um relâmpago cortou o céu fazendo as luzes da casa piscar e dois segundos depois veio o trovão, forte o bastante para fazer todos se encolherem.

— Cuidado com o que fala. Já ouviu a frase: acredite em Deus, pois se ele existir você será recompensado e se não existir tudo bem. Mas se você duvidar e Ele existir... Terá sérios problemas.

— Não estamos falando de um deus, Arnaldo. Estamos falando de doze. Isso é ridículo! Repito: não passa de uma historia para que vocês não largassem essas crianças na primeira lata de lixo.

— Não interessa o que devêssemos ou não ter feito – Sara ainda tremia por causa do trovão – O que importa é que decidimos cria-las da maneira que nos foi advertida na carta. Devo confessar que eu escolhi a maior e aparentemente mais saudável por motivos óbvios.

— Ah claro – Esther se levantou do sofá e começou a andar de um lado para o outro – Uma delas vai ter um papel super importante como todos sabemos...

— supostamente.

—...sim Eduardo, supostamente. Eu também me recusei terminantemente a acreditar nessa historia. Eu nem teria me dado ao trabalho de vir aqui buscar uma delas se não fosse pela insistência de mamãe.

Heloisa finalmente falou e em seu olhar havia um brilho distante, como se pensasse em algo a muito perdido.

— Eu insisti porque é verdade. Podem me achar uma velha louca, mas eu acredito em tudo isso e tenho boas razoes para tanto. Arnaldo e eu viemos de uma família antiga da Bahia. La eles prezam muito os antigos ensinamentos. Escutem o que eu lhes digo: eu apostaria a minha vida na veracidade dessa historia, mas não posso obriga-los a fazer o mesmo. Agora não resta mais nada a fazer. Para o bem ou para o mal, ficamos com as meninas e agora resta esperar.


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