Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 18
O relâmpago e a escuridão - Felipe




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Felipe estava olhando pela janela de seu quarto quando viu quatro pégasus passarem voando em alta velocidade.

Ele deu um pulo, se pondo de pé e abriu as janelas. Colocou a cabeça para fora e espiou a rua. Os pégasus já haviam sumido e tudo na pobre rua da favela do bairro do Santo Elias estava parado e quieto.

— Que porra foi aquela?

Era realmente raro se ver coisas desse tipo em cidades grandes. Os mortais poderiam estar no lugar errado e na hora errada e ver algo que não deveriam.

Ainda estava olhando incrédulo para os dois lados da rua quando a porta do quarto se abriu.

— Felipe, estão te chamando lá em cima.

O rapaz pôs a cabeça para dentro e se virou para encarar Vitor, seu melhor amigo.

— O que querem? São quase três da manha.

Vitor coçou desconfortavelmente seus cabelos loiros deixando-os ainda mais desarrumados.

— Eu não sei cara. Você sabe que eles não mandam recado.

Felipe suspirou.

— Diga que já estou indo.

Vitor assentiu e saiu, fechando a porta atrás de si. Ser o líder de uma gang tinha lá suas vantagens, mas as vezes podia acontecer essas coisas: ele estar em seu quarto tentando ter alguns momentos de paz e então acontece algum imprevisto e ele é chamado.

Felipe lançou outro olhar para o céu estrelado tentando adivinhar o que aqueles pégasus significavam. Eles pareciam estar carregando pessoas... Bem, isso era sério. Só quem tinha permissão para montar nos pégasus eram os deuses, seus filhos ou seus servos.

Foi a vez dele coçar a cabeça. Alisou seus cabelos castanhos fazendo-os se arrepiarem. Jogou-os de lado. Foi até o espelho que ficava atrás da porta e se olhou.

Ele era forte para um jovem de apenas dezoito anos. Forçou os músculos de seus braços até eles saltarem. Seus olhos castanhos entravam em contraste com a sua pele branca como mármore. Ele pegou o boné que estava pendurado em um gancho e o colocou na cabeça, virado para trás. Saiu do quarto.

Era bom morar sozinho na sede da gang. Assim ele podia ir e vir sem ser interrogado por ninguém. Mas também era ruim. Ficar sozinho o forçava a pensar. Pensar sempre estimulava sua mente e trazia à tona memórias que ele preferia deixar bem no fundo de seu cérebro.

Memórias como a primeira vez em que ele matou, a primeira vez que esteve sob a mira de uma arma, a primeira vez em que dormiu na cadeia...ou quando viu o corpo morto de sua mãe estendido na cozinha da sua antiga casa.

Ele balançou a cabeça e esfregou os olhos. Não queria se lembrar daquilo.

Ao sair para a rua, Felipe sentiu o ar frio da madrugada passar cortando em seu rosto. Olhou para os dois lados da rua e realmente nada se movia. O que quer que tenha atiçado os pégasus estava bem longe. Virou-se para a esquerda e começou a subir a ladeira em direção ao galpão de audiência.

Não era longe da sede. O galpão de audiência era onde seus comparsas ou moradores da favela vinham para trazer-lhe noticias ou pedir alguma coisa, mas era também onde vinham representantes de outras gangs para marcar encontros, reuniões ou até mesmo guerras.

Ele parou em frente ao grande portão de ferro do galpão. O portão era pesado, mas Felipe era forte o bastante para desliza-lo para o lado e entrar.

Ele olhou para os dois lados do grande galpão. Por isso que estava tudo tão quieto. Quanta gente. De fato praticamente todos do quarteirão estavam ali, amontoados no nos dois lados do galpão esperando por ele.

Dois de seus empregados deslizaram o portão atrás dele, fechando-o. Felipe começou a andar em direção à sua cadeira que ficava do outro lado do galpão. Vitor estava parado do lado da cadeira, na posição de seu vice.

Felipe se sentou e só então se dirigiu à multidão.

— Então, o que tá pegando?

Julia, a sua representante deu um passo a frente.

— Hoje eu estava sondando a favela do Jaraguá e ouvi um membro do Círculo Mortal falando que um ataque surpresa seria direcionado à nós ainda essa semana.

— Já não será mais surpresa. Vamos nos preparar.

Julia pareceu desconfortável.

— O problema é que um deles me reconheceu. Eu quase não consegui correr para o carro à tempo antes que eles chamassem reforços. Eles sabem que agora sabemos.

— É, eles podem atacar a qualquer momento.

Era raro Vitor se preocupar e ele aparentemente estava preocupado. Felipe achou que era melhor levar em consideração essa ameaça.

— Muito bem. – Ele se levantou – Peguem todas as peruas que conseguirem e façam barreiras em todas as entradas para a favela. Se eles quiserem entrar vai ter que ser a pé e terão que escalar as peruas ou vir pelos telhados. – Ele se virou para Vitor – Reúna os melhores de mira e fiquem nos telhados próximos as peruas. Atirem em qualquer um do Circulo Mortal que vocês virem. Quero atiradores em todas as entradas. Ninguém entra e ninguém sai até eliminarmos essa ameaça. Eles vão aprender que ninguém mexe com os Calibres.

Assim que ele parou de falar e se sentou. Todos correram para fora para atender às suas ordens o mais rápido possível. Ele gostava quando o obedeciam assim, tão rápido. Felipe nem ao menos precisava usar o seu poder de persuasão.

Julia se prostrou à sua frente.

— Belo plano.

Ele ergueu os olhos para encará-la. Julia sem duvida era a menina mais bonita da gang. Seus cabelos incrivelmente pretos e seus olhos mais pretos ainda davam a impressão de que ela era mais branca do que o normal.

— Seu pai ficaria orgulhoso.

Felipe se mexeu desconfortavelmente na cadeira.

— Podemos trocar de assunto?

Ele odiava quando Julia mencionava Zeus. Ela era a única que sabia quem ele era. E não era pra menos já que ela também era uma semideusa... apesar de seu pai não ser olimpiano.

— Tudo bem. Acha que eles vêm ainda hoje?

— Talvez sim ou talvez eles cancelem o ataque e esperem até estarmos de guarda abaixada. Eles sabem que vamos montar defesas fodas.

— Ora, você não devia falar palavrões, príncipe.

Ao ouvir aquela voz, os pêlos de sua nuca se eriçaram. Ele cerrou os punhos.

— O que você quer Hades?

Julia se virou.

— Se o senhor veio aqui para me dar sermão pode poupar seu...

Hades fez um gesto indolente com a mão, como se estivesse espantando uma mosca chata e Julia se calou como se alguém estivesse apertando sua garganta.

— Cale a boca. Eu não vim falar com você.

O deus dos mortos atravessou o galpão na direção da cadeira de Felipe. Conforme ele passava, as luzes pareciam enfraquecer. O ambiente pareceu ficar mais frio e dentro do filho de Zeus crescia a já conhecida sensação de medo.

— Tenho uma proposta para você, Felipe.

— Desculpe, mas eu não costumo fazer pactos com o demônio.

A risada fria de Hades fez com que ele se encolhesse.

— Ah, mas esse você deveria fazer. Com certeza você deve ter ouvido falar da herdeira de...

Antes que ele pudesse terminar a frase a janela mais próxima estourou com o som de um trovão. Uma ventania forte varreu o salão e o portão de ferro bateu com força, se fechando. Uma voz retumbante disse:

— Cale-se.

Hades se virou na direção da voz e fez uma reverencia zombeteira.

— Zeus, senhor do Olimpo. Você nunca foi de dispensar uma entrada triunfal, não é mesmo? Como posso servi-lo?

Zeus tinha se materializado no meio do galpão e um circulo de fuligem preta estava em volta de onde ele tinha aparecido. Julia disfarçadamente se aproximou de seu pai. Ela odiava Zeus tanto quanto Felipe odiava Hades.

— Comece voltando para o inferno aonde vive e não saia de lá se não for chamado.

Hades fingiu tremer de medo.

— Ora, mas pra que esse mal humor todo? Imagino que a intromissão de sua filha...digamos...favorita em seu plano de assassinato tenha te deixado realmente frustrado.

Uma nuvem pareceu passar pelo rosto de Zeus e sua barba faiscou com minúsculos relâmpagos.

— Como você...

— Hermes – Hades o interrompeu – não consegue segurar a língua. É só algo dar errado para você que ele já sai espalhando para todos os deuses possíveis.

— Imagino que você tenha sido o primeiro que ele avisou já que tem um interesse pessoal na bastarda.

Felipe estava totalmente perplexo. Primeiro pégasus passam voando por sua janela, depois Hades aparece do nada pedindo para fazer um acordo e depois seu pai aparece.

— Do que vocês estão falando?

O deus dos mortos se virou e seus olhos como dois buracos sem fundo cravaram-se nele.

— Seu paizinho não te contou sobre a bastarda de Cronos?

— Cronos?...

Zeus ergueu a mão e uma rajada de vento fez Hades e Julia baterem na parede do lado esquerdo do galpão.

— Eu mandei se calar!

Felipe ergueu-se da cadeira com um pulo e se colocou entre seu pai e Hades. Não porque estivesse defendendo Hades, mas porque ele sabia que seu pai iria machucar Julia e não o deus do submundo.

— Para. O que significa tudo isso? Agora a pouco um bando de pégasus passou voando pela minha...

Hades apareceu de repente ao lado de Zeus, os dois estavam perigosamente próximos.

— O QUE? Zeus eu não acredito que você foi capaz de fazer uma coisa dessas?

Julia veio para o lado de Felipe.

— Do que eles estão falando?

— Eu não faço ideia. – Julia colocou uma não nas costels, onde havia batido na parede.

— O que eu faço ou deixo de fazer com meus filhos não lhe dizem respeito, Hades!

— Mas devo certamente supor que, com mínimo de honra que lhe reste, você conte ao seu querido filhinho – ele gesticulou na direção de Felipe – o que esta acontecendo.

Com gesto de sua mão, uma sombra se ergueu do chão e se envolveu em Zeus como um casulo. Felipe viu seu pai disparar raios tentando se libertar, mas tudo foi em vão. Hades prosseguiu.

— Muito tempo atrás, logo depois de seu querido e adorado pai despedaçar Cronos e injustamente me negar um lugar no Olimpo, ele foi avisado de que não era o legitimo herdeiro do trono. E eu pessoalmente concordo com isso, o trono deveria ser de nosso querido irmão Poseidon já que ele é o mais velho. Porém seu paizinho se autotitulou Rei e todos tivemos que aceitar isso. Mas Cronos, por algum motivo, não aceitou e disse que faria nascer entre os olimpianos duas meninas que seriam suas legitimas herdeiras, tomariam o Olimpo ao meio e assim dividiriam o trono em dois.

Um grito de raiva veio de dentro do casulo de sombras, mas Hades não parou.

— Ninguém “botou fé” nesse aviso. Todos pensaram que não passava de uma ameaça até que à quatorze anos atrás nasceram duas menininhas, gêmeas. Filhas de Atena Apolo, já da pra imaginar que futuro promissor elas poderiam ter. Mas veja bem, por uma incrível força do destino e dádiva de meu querido irmão mais novo – ele se virou para Zeus e fez uma segunda reverencia – as Parcas que preveem o futuro estão no submundo. Veja só que coisa interessante.

Felipe e Julia trocaram um olhar confuso. Felipe não fazia ideia de onde aquela conversa ia parar, mas não estava gostando nada daquilo.

— Assim eu fiquei logo sabendo, antes mesmo dos pais dos bebês, que elas eram as tais herdeiras. Rapidamente fui ao Olimpo falar com Atena. Ela é uma mulher esperta e eu não precisei explicar muita coisa. Logo ela viu que tinha que dar um sumiço nas meninas antes que alguém (vulgo Zeus e Hera) descobrissem quem elas eram. E assim elas vieram parar no mundo mortal.

— Tá, mas o que temos a ver com isso?

— O que você tem a ver com isso, pequeno príncipe, é que segundo a profecia de Cronos, seu pai será destronado pela herdeira dele.

— Herdeira? – Julia parecia ainda mais confusa – No singular? Mas elas não são duas?

— Eram duas. Zeus fez o favor de mandar um de seus empregados mata-las e um deles teve êxito e chegou a estuprar uma delas até a morte. – ele viu o olhar de repulsa que Felipe lançou na direção de Zeus e acrescentou – Ah, mas você não deve culpa-lo. Seu pai só estava com medo de perdeu seu precioso posto de Rei dos Deuses. – ironia pingava das palavras de Hades – Só que ele não contava que, matando só uma, o poder dela iria para a outra e agora temos uma herdeira de Cronos que tem o dom dos doze olimpianos juntos. Antes que diga que isso é impossível, saiba que é possível sim já que a menina não é mortal. Ela é uma titã.

Os joelhos Felipe fraquejaram.

— Mas... porque ela foi tão facilmente morta se é uma titã?

As batidas no casulo aumentaram ainda mais e apareceram rachaduras. Zeus estava quase se libertando.

— O poder dos titãs e de nós, os deuses, vem do tempo. Nosso poder vem dos séculos e milênios vividos. Você não achou que nós já nascemos desse jeito não é? Elas ainda eram fracas e não sabiam quem eram. Na verdade eram alvos tão fáceis quanto mortais.

— Então meu pai não deveria se preocupar. A garota iria precisar de séculos para ter força suficiente de desafiar Zeus.

Hades sorriu ironicamente e aproximou seu rosto do de Felipe.

— Você sabe me dizer qual era o maior poder de Cronos?

— Ele controlava o tempo, não é.

— Exatamente – ele se afastou, gesticulando – Logo, a bastarda também poderá controlar o tempo. Logo, pode muito bem avançar o tempo para si mesma e adquirir, em cerca de alguns dias, os poderes que só teria em séculos.

— E-ela pode fazer isso?

— Ah, claro que pode. Ela só não sabe ainda. – Hades riu – Mas logo ela saberá. A gêmea restante esta sendo treinada pelo próprio Apolo disfarçado.

As batidas cessaram. Caiu um silencio repentino.

— Eu esqueci de mencionar isso para você, Zeus? Pois é, não existe nenhum Aramis. Era nosso querido Apolo o tempo todo. – ele voltou sua atenção para Felipe – Mas ela precisa de algum lugar para desenvolver suas habilidades já que Apolo só ficará com ela durante pouco tempo. É ai que você entra.

— Eu?

— Sim, idiota. Você. Traga ela para sua gang.

— Nunca! Eu não vou acolher a herdeira de Cronos. Que ela morra!

De repente o casulo explodiu em um clarão roxo. Zeus encarou Hades com uma fúria palpável. Porém este rodopiou no ar e sumiu deixando para trás apenas uma fumaça preta. As luzes ficaram mais fortes e o frio se foi.

Zeus encarou Felipe com raiva.

— Acho bom mesmo que você não a aceite aqui. Eu já fui traído por uma filha e não serei traído de novo.

Dizendo isso ele começou a brilhar. Julia e Felipe se viraram, protegendo os olhos. Quando voltaram a olhar Zeus já havia ido. Os dois semideuses estavam novamente sozinhos no galpão.


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