Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad escrita por EusouNinguém


Capítulo 13
No escuro - Agatha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/674854/chapter/13

— Vamos, levanta!

Agatha estava de cara no chão do parque Villa Lobos. Seus dedos se fecharam nas folhas secas que haviam caídos das enormes árvores acima. Já seria difícil segurar um chute daqueles quando se podia ver, vendada era praticamente impossível.

— Levanta! – Aramis a puxou com força e a colocou de pé. – Vamos de novo. Use os ouvidos. Se defenda!

Sem nem dar um instante para Agatha se recompor, o cruel instrutor a acertou novamente com um chute lateral que pegou bem nas costelas da garota.

Agatha caiu no chão novamente.

Já havia se passado uma semana desde que ela teve a estranha conversa com sua avó logo depois de ler a carta da mãe. Heloisa havia dito que Agatha e Jade foram deixadas pela própria Atena nas portas da mansão de Santos. Com elas também foi deixada a carta.

Depois de horas conversando sobre o assunto, e de Agatha fazer todas as perguntas possíveis, sua avó havia respondido tudo o melhor que pôde e ainda assim havia uma incógnita nessa história: o pai das meninas.

Incrivelmente, sua identidade não havia sido mencionada na carta e ninguém fazia ideia de quem ele era. Agatha não conseguiu essa resposta. Ainda. Ela sabia que o único que alegou saber tal informação era Aramis, e estava disposta a arrancar dele.

A garota estava em dúvida sobre o fato de seu pai ser um deus ou apenas um mortal. Pelo que diz a carta, parece que é um deus. Ela começou involuntariamente, desse dia em diante, a imaginar qual dos olimpianos seria seu pai. Como não conseguia mais dormir com essa dúvida na cabeça, Agatha decidiu ir atrás de Aramis.

Apesar de não fazer ideia de onde encontra-lo, ela teve um pressentimento de que, quando ela quisesse, ele apareceria. Então, um dia voltando da escola ela decidiu tentar. Parou no meio da rua, colocou as mãos em concha em volta da boca e gritou:

— Aramis!

Todos os passantes levaram um susto e a olharam como se ela fosse louca. Agatha esperou durante alguns segundos até se sentir uma completa idiota. Ia começar a andar quando ouviu uma voz vinda de algum ponto atrás dela.

— Não precisa gritar. Eu não sou surdo, sabia?

Ela girou e se viu cara a cara com o homem loiro e seu sorriso travesso.

Aramis a acompanhou até sua casa. No caminho Agatha contou sobre a carta e sobre a conversa com a avó.

— Agora você entende porque eu preciso treina-las?

— Sim... Só lamento que a Jade tenha morrido antes de tudo isso ser esclarecido. – Ela se lembrou de como todos na mansão se referiam a Jade como princesa - Ela iria adorar saber que era herdeira do Rei dos Ti...

Aramis cobriu a boca de Agatha com uma rapidez impressionante.

— Shiu, criança. Não se deve falar essas coisas em voz alta. Nunca se sabe quem esta por perto ouvindo.

A menina se livrou das mãos dele e olhou para os dois lados da rua.

— Só temos nós aqui.

Aramis balançou negativamente a cabeça e suspirou.

— Você ainda tem muito o que aprender.

— Então me ensina!

— Ah, então agora você quer?

— Não foi para isso que você veio, para nos ensinar? Olha, eu sei que fui uma idiota em não acreditar em você. Se eu tivesse acreditado talvez a Jade ainda estivesse viva...

— Não. As coisas acontecem quando têm que acontecer. Ninguém morre de véspera. Mas uma coisa é certa: eu vim para treina-las. Só resta você, então eu vou te treinar de um modo que você tenha todos seus sentidos aguçados ao máximo e sua capacidade de luta seja tanta que você poderia enfrentar um gladiador se quisesse. Isso vai levar tempo por isso precisamos começar o mais rápido possível.

— Pra que tanta pressa?

— Porque quem fez aquilo com a Jade não vai descansar até fazer o mesmo com você... ou pior.

Já no dia seguinte, quando saia da escola, Agatha viu Aramis parado do lado de fora a esperando. Ela o seguiu ate um Fiesta preto que estava estacionado na esquina da rua da escola.

— Sério?

— Por ser o lacaio de um deus eu não posso ter um carro?

Os dois entraram no carro e Aramis o dirigiu até o parque Villa Lobos da cidade de São Paulo.

— Vamos andar de bicicleta?

— Talvez. Sai do carro.

Agatha saiu e ela e Aramis entraram no parque. Seguiram em direção às árvores. A garota viu que havia uma trilha curta que passava no meio do bosque, mas Aramis a ignorou e entrou no meio das árvores.

Nesse mesmo dia eles começaram o treinamento. O lacaio a mandou tirar os sapatos enquanto ele mesmo ficava descalço. Agatha sentiu as folhas e galhos secos do bosque sob a sola de seus pés. Em seguida, Aramis vendou seus olhos.

— O exercício é bem simples. Você vai tentar me pegar.

— Só isso? Parece fácil.

— E por que?

— Estamos com galhos e folhas secas sob nossos pés. A menos que você possa voar, eu vou ouvir cada passo seu e saberei sua posição.

— Exato, mas eu acho que me esqueci de mencionar um pequeno detalhe...

— E qual seria?

Agatha foi fortemente atingida na barriga. Caiu de costas no chão e sentiu o ar fugir de seus pulmões.

— Você vai tentar me pegar e se defender ao mesmo tempo. Agora fique de pé.

A garota obedeceu. Assim que ficou de pé ela foi novamente derrubada ao chão por outro golpe impiedoso. E assim eles passaram o dia todo: com Agatha sendo jogada ao chão cada vez que se levantava. Suas mãos já estavam sangrando por rasgarem nos galhos pontudos. Suas costelas doíam e suas costas pareciam estar em carne viva, mas Aramis não parou.

Às vezes ele ria, outra eles xingava, mas sempre que Agatha ficava de pé ele repetia a mesma frase:

— Você não precisa da visão para saber onde eu vou atacar. Use seus ouvidos.

Apesar de apurar os ouvidos ao máximo, ela sempre era jogada novamente no chão. E assim se passaram os dias. Ela saía da escola e ia diretamente para a esquina onde sabia que Aramis estava esperando. Os dois iam para o parque, para o bosque. Agatha tirava os sapatos e sempre se impressionava com como seus pés estavam em carne viva, era vendada e recomeçava a seção brutal de aprendizado.

Já havia se passado uma semana e Agatha não conseguiu nenhuma vez segurar (ou ao menos desviar) os ataques de Aramis.

— Levanta! Use seus ouvidos.

Ele parecia estar realmente irritado... E com razão. Já faz uma semana e não saímos disso.

Aramis a agarrou pela camiseta e a colocou de pé com raiva. Arrancou a venda dos olhos de Agatha.

— Qual o seu problema? Você já está toda roxa, com as costas, os pés e as mãos esfolados e ainda assim você não se defende!

— Eu não consigo. É impossível fazer isso sem enxergar!

— Não, não é. Você que é muito mole.

Sem deixar Agatha responder, ele colocou a venda em si próprio e disse:

— Me ataque.

— Ta falando serio?

— Sim, vamos logo com isso.

Agatha mal podia acreditar em sua sorte. Reuniu mentalmente todos os socos e chutes que ele lhe dera. Deixou a raiva fluir e se concentrar em seu pé direito. Nem pensou duas vezes quando mandou um chute certeiro na direção da genital de Aramis.

Teria sido um golpe perfeito se ele não tivesse estendido a mão e segurado a perna de Agatha como se ela não passasse de um bebê.

Aramis jogou a perna da garota para cima, o que fez cair novamente de costas no chão.

— Viu só? É completamente possível.

Agatha levantou massageando a perna.

— Você é louco? Podia ter quebrado a minha perna!

— E eu vou fazer isso se você continuar desse jeito. – ele tirou as vendas e as entregou a Agatha.

A menina vendou a si própria e esperou pelo ataque... mas dessa vez Aramis não atacou.

— Para interceptar um golpe às cegas você deve esquecer completamente da visão. Use seus ouvidos, escute. Se você prestar atenção vai perceber que, assim como você disse no nosso primeiro dia, fazemos barulho sobre esse solo seco. Quando eu for te atacar, terei que deslocar meu corpo mesmo que seja por menos de um segundo. Assim que eu me deslocar, farei barulho. – ele pareceu dar alguns passos – Escutou?

— Sim, mas quando você vai me bater você não anda.

— Não, mas se eu for te socar terei que colocar um pé à frente. Preste atenção, vou fazer bem devagar.

Agatha apurou novamente seu ouvido ao máximo, como já havia feito inúmeras vezes, mas dessa vez ela sabia pelo que tinha que procurar. Ouviu o barulho de folhas sendo pisadas. Era quase imperceptível, mas foi o bastante. Agatha deu um pulo para trás e evitou o soco de Aramis.

— Muito bem. – ouviu ele se aproximando dela novamente – Agora, se eu for te chutar, terei que apoiar meu peso brevemente em uma perna só e isso vai fazer barulho. Use os ouvidos.

Agatha escutou o barulho de um galho se partindo e se jogou de lado no chão, desviando do chute do lacaio.

— Parece que você aprendeu, mas tente não recuar nem se jogar ao chão. Tente interceptar meus golpes. Vamos lá.

Ele colocou Agatha de pé. Um segundo depois a garota ouviu o barulho leve das folhas do chão. Ela teve uma fração de segundo para tentar distinguir o som daquele momento com o som do chute. Percebeu que aquele era mais leve, imperceptível.

Cruzou os braços na frente do rosto para se proteger do soco, mas Aramis a golpeou pela lateral.

— Você quase conseguiu, só precisa saber a direção que o ataque vem.

— E como eu vou saber disso sem enxergar.

— Use seus ouvidos.

Dessa vez o barulho foi um pouco mais alto. Um chute. Agatha tentou segurá-lo, mas novamente errou a direção.

— Ah, use o cérebro também. Não seja tão precipitada e espere até o último instante possível. Todos nós temos reflexos naturais. Relaxe, seu corpo vai saber de onde o ataque vem.

Agatha apurou os ouvidos e esperou, ouviu o som pesado no chão. Chute. Esperou. Como Aramis havia dito, algo em seu interior a disse que o golpe viria da esquerda. Ela colocou o braço esquerdo na frente e interceptou o golpe.

Estava prestes a comemorar quando ouviu mais um barulho de folhas e galhos. Segurou o soco que vinha em direção a sua barriga. Uma seção surpreendente de ataques se seguiu. Agatha não sabia como, mas seu corpo estava funcionando como um radar. Ela sabia exatamente de onde viria os golpes. Se defendeu da melhor maneira que pôde.

Justamente quando percebeu que não conseguiria segurar mais nenhum ataque, Aramis parou. Um silêncio se seguiu e depois o som de palmas.

Agatha arrancou a venda. O lacaio de seu pai estava sorrindo para ela e batendo palmas.

— Muito bem, agora podemos prosseguir com o treinamento. Mas não hoje. Você não se aguenta em pé.

Eles saíram do parque e foram para o estacionamento. Enquanto caminhavam na direção do Fiesta, Aramis disse:

— Vou deixar uma lição de casa para você. Fique o máximo possível vendada em sua casa. Coma vendada, tome banho vendada, vá para a escola vendada. Aguce sua audição e percepção ao máximo. Você só terá o dia de amanhã para treinar.

— Você não vai me pegar na escola amanhã?

Agatha se sentiu desapontada. Gostava do treinamento de Aramis.

— Não, você precisa treinar antes. Não se esqueça: fique vendada o máximo possível. A próxima aula vai ser pra valer.

Eles entraram no carro e foram embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Princesa Sparta: A Herdeira de Cronos - 1 Temporad" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.