Senhora Weasley escrita por Eponine


Capítulo 1
Granger




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— Senhora Weasley?

A mulher parou de girar o anel em seu anular e olhou para a mulher a sua frente. Havia mais de quatro fotógrafos atrás dela, e mais de três penas de repetição, para não perder uma palavra sequer dela. Naquele exato momento estava comemorando quarenta anos. Em Washington D.C. Sozinha.

— Como é ser a mulher mais influente do mundo bruxo?

...

Hermione notou após muito esforço que estava fitando o nada por minutos.

Ela sempre se pegava divagando no espaço enquanto acariciava o relevo em seu braço, sua tatuagem nada desejada revelava o tipo de sangue que passava por suas veias. Olhou as pessoas ao seu redor. Christopher Harper estava falando algo, com o colarinho apertando seu pescoço. Todos homens, todos brancos, todos mestiços ou sangue puro. Girou o anel em seu anular e admirou a veia pulsante na testa de John Newton, provavelmente irritado com algum projeto que beneficiasse qualquer pessoa que não tivesse uma renda maior que cinco mil galeões por mês.

— Senhora Weasley, o que acha? — questionou o homem levemente grisalho, virando-se para ela. Sequer sentiu culpa de não ter ouvido nem mesmo uma palavra daquela reunião de quarenta minutos. Passou seus olhos pelos documentos à sua frente.

— Eu veto.

— Como assim você veta? — indagou John Newton, irritado. — Você sequer estava prestando atenção!

— Prestei atenção o suficiente para entender que seu projeto é ridículo.

— Por que estamos com a Ministra de RCAM em uma reunião sobre Educação? — questionou Christopher Harper. Conforme os anos se passavam, Hermione sempre pensava em suas versões mais jovens naquela mesa. A primeira reunião, onde ela leu mais de cinco vezes os documentos e bibliografias, nervosa e gaguejante, querendo provar que ela, mesmo sendo mulher, poderia ter uma opinião relevante diante aquele grupo de treze homens, decidindo o destino de milhares de bruxos na Grã-Bretanha.

Após seu segundo filho, ela passou a leitura para algo mais moderado, e ainda se esforçava para sorrir firmemente quando era ignorada descaradamente nas reuniões.

Mas ali, a Hermione de quarenta anos estava cansada demais até mesmo para olhar para o rosto de seus colegas de trabalho. Sequer se dava o trabalho de sorrir para eles. Seria ignorada mesmo que sorrisse e no fim das contas a única coisa digna de atenção naquela sala seria suas pernas ou qualquer parte de seu corpo, menos suas palavras.

— Porque, senhor Harper, nós temos Trato de Criaturas Mágicas em Hogwarts, caso o senhor tenha se esquecido, o que é provável... — Hermione torceu a boca, tentando não rir. — Não se esqueça dos surtos de Alzheimer no mundo bruxo.

— O que está insinuando Mal...

— Que o senhor está velho. Tenham uma ótima tarde, senhores. Senhora Weasley? — Hermione recolheu seus documentos e saiu da sala, atrás do homem de negro. Ele virou-se dando um longo suspiro e entregou uma pasta nas mãos da mulher. — Suicídio é uma expressão forte demais para explicar o que eu sinto perto desses imbecis?

— Não. — retrucou ela, abrindo a pasta rapidamente.

— Aliás, Rose e Scorpius... Quem diria, hein? — Hermione ergueu seus olhos para Draco, confusa. Ele parecia mais interessado no quadro atrás dela. — Você conhece esse pintor?

— O que tem Rose? O que você quis dizer? — ele mirou seus olhos acinzentados na mulher negra diante dele, divertido.

— Ué, eles estão juntos, Rose não te contou?

— Como assim juntos?

— Hum... Juntos? Namorando talvez não seja a palavra certa... De qualquer jeito, quem me disse isso foi minha sobrinha, Scorpius prefere morrer a me contar algo.

— Rose não me disse nada.

— Você quer que eu pergunte para meu filho se...?

— Deus, isso é terrível!

— Eles não falarem nada para nós? Bem, eu até entend...

— Não, não isso. Eu não quero minha filha envolvida com seu filho! — Draco ergueu as sobrancelhas, assustado. Então gargalhou. Hermione assistiu o homem gargalhando, suando frio, pensando em Rose tocando, beijando e até mesmo flashes terríveis de corpos transando. Ficou até mesmo sem ar.

— Me desculpe, Hermione, mas Scorpius é um ótimo partido...

— Com licença. — Marchou para seu escritório, ignorando os chamados de Draco Malfoy. Trancou-se na sala espaçosa e jogou os documentos em cima de sua mesa, quase surtando. Mal fazia dois anos que teve a terrível e traumática “conversa do sexo” com Rose e agora essa surpresa. Doce ilusão ter pensado que teria uma amizade fraternal e sincera com sua filha... Sabia que deveria dar espaço para ela, mas... Não queria nem mesmo imaginar. Ela sempre gostou mais de Ronald. Abriu sua gaveta e pegou seu frasco de calmante. Estava acabando, mas seu tratamento estava apenas no começo.

Seu Transtorno de Ansiedade era quase um ser vivo em seus ombros.

...

Ronald abriu a porta do quarto já tirando a gravata. Hermione olhou o relógio.

00:52.

Aquilo estava se tornando frequente desde sua viagem para a França. Seis meses atrás.

Sabia o que aquilo significava. Já havia visto em filmes, romances, até mesmo nos mais baratos romances de revistas em consultórios médicos. Seu casamento estava caindo em ruínas e ela mal conseguia pegar os farelos. Observou seu marido entrar no banheiro e abriu os olhos, pulando da cama. Correu para seu terno jogado na poltrona e o cheirou, fuçando os bolsos.

Roeu as unhas, rodando o quarto, querendo fuçar a calça dele, mas estava no banheiro. Desceu as escadas da casa quase voando, abrindo o lixo da cozinha, para ver se ele não havia se livrado de nenhuma pista. Agarrou sua pasta na sala e fuçou seus documentos sem nenhum pudor. Não fazia a menor ideia do que queria encontrar, talvez uma foto, um cartão amoroso, até mesmo um bilhete, qualquer coisa que fizesse sua paranoia morrer e finalmente poder sofrer em paz.

Ouviu o chuveiro ser desligado e correu para seu quarto, pulando na cama e voltando a fingir seu sono. Conseguia saber cada passo dele dentro do banheiro. Se secando, balançando o cabelo feito um cachorro peludo. Abre o box. Seca seu rosto, admirando-se no espelho. Enrola a toalha na cintura. Escova os dentes. Enxagua. Escova mais uma vez. Enxagua. Alguns segundos acariciando a barba, decidindo se vai ou não fazê-la amanhã, mas ele sabe que não vai. Finalmente sai do banheiro.

Hermione parece estar quase tendo um AVC, contando os segundos para que ele adormeça e ela possa fuçar os bolsos de sua calça. Ronald não é mais inteligente que ela, com certeza ela irá achar uma pista, sabe que sim.

Sentiu vontade de chorar.

...

— Eu pensei que ia morrer. — O homem riu enquanto abria a garrafa de vinho, servindo a taça de Hermione. Ele mexeu a panela mais uma vez, o macarrão soltava um aroma que fazia Hermione acalmar-se um pouco. — E eu acho que morri. Draco sabe e eu não... Quando é que eu ia saber disso?

— Bem... Quando ela te contasse.

— Ele sabe mais da vida sexual da minha filha do que eu sei! Eu... Eu me sinto falhando como mãe.

— Mione, é um boato. Você mesma disse que Draco ficou sabendo por outra pessoa, não sabemos se é verdade.

— Claro que é verdade! Minha filha tem uma vida que eu não conheço!

— Olha, você não quer que Ginny fale com ela ou...?

— Ginevra? Por que sempre que algum adolescente tem algum problema vocês colocam Ginny ou George para falar com eles? Eu sou capaz de conversar com minha própria filha! — Harry experimentou o macarrão, desviando a bronca de Hermione, rezando para que Ron chegasse logo. — O que eu faço? Eu pergunto para ela?

— Você realmente quer saber se...?

— Não! Jesus, não!

— Eu também não iria querer saber se fosse Lily...

— Mas você é diferente. — Harry observou Hermione terminar sua terceira taça até ela se tocar do que tinha dito. Cobriu a boca, arregalando os olhos. — Me desculpe...

— Por?

Hermione deu graças a Deus quando Ron Weasley abriu a porta da casa. Não queria de jeito nenhum abrir uma discussão sobre a sexualidade da filha de seu melhor amigo. Seu marido pareceu surpreso ao ver o melhor amigo cozinhando.

— Harry? O que faz aqui?

— Eu disse hoje de manhã que ele viria para o jantar. — repetiu Hermione, impressionada com a habilidade que Ron havia desenvolvido em ignorá-la mesmo estando no mesmo ambiente. Sentiu-se com quatorze anos novamente. Harry sentiu-se tão desconfortável no jantar que se sentiu com dezesseis, tendo que dividir sua atenção entre seus dois amigos. Ele sabia o que estava acontecendo, há meses, assistia em encontros familiares e datas especiais a comunicação entre os dois chegar em uma escassez quase angustiante.

...

— Por que você ainda está aqui? — a nova secretária de Hermione deu um tropeço antes de quase correr para fora de seu escritório. Suspirou, exausta. Odiava descontar suas frustrações em quem não tem nada com isso.

Releu a carta de seu detetive particular, não acreditando em nenhuma palavra. Ron pode ter descoberto que estava sendo seguido e o pagou para que mentisse para ela. Ou ele mesmo pode ter pago alguém para escrever aquilo. Ou o detetive esteja com pena dela e tenha mentido. Não conseguia aceitar o fato de que seu casamento estava destruído sem o menor motivo. Mas havia motivos.

Hermione sentia uma frustração que quase a dopava por vezes. Era como se ela se dividisse em dois: A Hermione bem-sucedida, e a Hermione mãe. E a duas estão brigando diariamente. Ela não queria filhos, ela cedeu. Uma vez. Duas vezes. Quantos anos de projeto ela perdeu trocando fraldas e cuidando de febres? Deus, como ela pode dizer isso? Ela não perdeu anos... Ela ama seus filhos. Ela os ama tanto que chega a doer.

Mas ela tem um romance com sua profissão que chega a ser latente. Ainda se lembra do colapso nervoso que teve após perder uma premiação. Tomou mais um calmante, tentando respirar normalmente. Pegou sua bolsa, pronta para almoçar com Rose. Sentia-se culpada em não passar as férias com seus filhos, na verdade, ela sentia culpa por muitas coisas:

O TOC de Rose.

A miopia de Hugo.

As mudanças radicais de humor de sua filha.

O fato de seu filho ser absurdamente introspectivo.

Ela sabia que nada daquilo era sua culpa, sua psicóloga sempre deixava aquilo bem claro. Mas não há feitiço que tire a culpa dela. A garota a sua frente comia em silêncio, olhando para qualquer lugar que não fosse sua mãe a frente dela. Gostou do penteado dela, tentou tocar, mas Rose deu um tapa em sua mão.

— Rose!

— Se está bonito, mãe, é porque está arrumado. — sibilou ela, irritada. Quinze anos, idade dos hormônios. Mas parecia tão pior em Rose, ela parecia odiá-la. E não odiava? Rose nunca perdia a chance de fazer um comentário sarcástico sobre a ausência de Hermione, sempre do lado do pai, independente do motivo da discussão.

Almoçaram em silêncio.

...

Katie Herzig - Holding Us Back

 

Hermione já havia investigado metade das roupas de Ronald.

Agachou-se para fuçar a gaveta de moletons quando o closet foi aberto. O homem ruivo olhou a mulher ajoelhada, curioso. Ela olhou o moletom em suas mãos sentindo como se estivesse afogando-se. Segurou o choro e respirou fundo, guardando o moletom em seu devido lugar. Levantou-se e fitou o marido.

— Onde você dormiu?

— Na casa de George.

— Por que?

— Nós saímos para beber e... Eu acabei ficando por lá.

Hermione e Ron se fitaram, ela queria achar nem que fosse um pequeno sinal de que seu marido era tão apaixonado por ela quanto ela por ele. Mas ela não podia se enganar.

— Hermione, nós precisamos conversar. — Eles não conversaram, eles brigaram. Ela o acusou, dizendo que ele não pode aguentar uma mulher bem sucedida, ele quer alguém que viva para servi-lo, uma segunda mãe. Ele a acusou, dizendo que não há casamento que sobreviva por cartas, que ela não sabe ceder, é egoísta.

— Quem é ela? — indagou Hermione, cansada de chorar.

— Ela quem? — questionou Ron, exausto.

— Por quem você vai me trocar? Era com ela que estava todos esses meses? Por isso chega tão tarde?

Ron parecia chocado. Ela estava pronta para receber a verdade. Ela imaginava uma mulher sem rosto, alta, loura e bonita. Branca. Sua mente parecia já ter criado toda uma história romântica entre seu marido e sua possível amante. Só precisava do nome dela. Mas Ronald não tinha nenhum nome para dar.

— Hermione eu não estava te traindo. Eu nunca te trai. — Ron parecia triste em dizer. — Eu não suportava voltar para essa casa... Porque você estava aqui. Você e todos os nossos problemas.

A Senhora Weasley sentou-se na cama, trêmula. Ron tirou o anel em seu anelar delicadamente e deixou em cima da cômoda, saindo do quarto. Ela ouviu a lareira sendo utilizada e respirou fundo, divagando. Havia um silêncio em sua mente que nunca a deixava surtar. Era tão controlada... Ginny sempre invejou seu controle. Sua mão firme. Sua voz autoritária.

Olhou seu anel de casamento.

...

— Como é ser a mulher mais influente do mundo bruxo?

Hermione sorriu lentamente, observando a paisagem ao seu lado. Quantas pessoas no mundo estavam lendo seus livros naquele exato momento? Quantas universidades estavam lutando com seus assessores para conseguir uma palestra nem que fosse de vinte minutos? Para quantas premiações ela foi indicada? São questões pertinentes, mas nenhuma dela se passava pela mente dela. Nada se passava pela mente dela. Nada além de silencio. Voltou a olhar os olhos azuis da jornalista e sorriu, mecânica.

— É incrível.


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Notas finais do capítulo

Sempre vejo minha Mione alguém grande demais para o Ron, ou o Ron pequeno demais para ela.

O que vocês acharam?


Beijos!


Rupert Grint praticamente comentou minha fanfic 05/02/16: http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/harry-potter-rupert-grint-diz-que-rony-e-hermione-devem-estar-divorciados/