Porto-Seguro - Corações Incompletos I escrita por Bia Zaccharo


Capítulo 7
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Booa Leitura...



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Acordo ouvindo uma gritaria, e isso me deixa assustada.

De novo...

Levanto-me meia desnorteada e vou para o banheiro, tomo um banho e ainda posso ouvir Ray e Carla discutindo um com o outro. Saio do banheiro e ouço baterem na porta, mas quando abro vejo Cacau entrar correndo no quarto e se esconder de baixo da cama.

—Nem você aguenta mais essas brigas, não é mesmo?

Começo a me arrumar para o colégio e a briga não para.

Oh inferno.

Assim que termino de me arrumar pego minha mochila e meu celular.

—Cacau... —Chamo e a cachorra coloca apenas a cabeça para fora. —Nada de bagunça. Mais tarde eu te levo para passar.

Ela dá um latido e acho que me entendeu.

—Eu te amo babê.

Cacau late mais uma vez e eu sorrio.

Saio do quarto e desço as escadas tranquilamente.

Meus pais estão na ponta da escadas discutindo, Ray levantan a mão e bate no rosto de Carla.

Meu coração congela e eu paraliso.

—Pai? —Digo confusa e sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

—Não me venha com essa história de pai! —Ray grita e sai batendo a porta.

Carla começa a chorar e isso parte meu coração... Se é que eu tenho um.

Caminho até ela e a ajuda a se levantar.

—Me desculpa. —Ela diz em meio à soluços.

—Ok. —Digo levantando as mãos, ela acaricia meu rosto. —Eu tenho que ir para a escola.

—Tudo bem... Eu te vejo mais tarde, ou melhor, amanhã. Hoje eu fico até mais tarde no serviço.

—Está bem...

Solto a mão de Carla e saio, decido ir caminhando até o colégio, eu não conseguiria dirigir depois de tudo isso.

Começo a andar pela rua e envolvo meus braços ao redor do meu corpo. Está um pouco frio e eu esqueci de pegar blusa.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto e é seguida por outras, mas eu nem sei ao certo porquê estou chorando. Isso é loucura. Quando eu fui morar com Ray e Carla eu pensei que as coisas mudariam, mas não parecem ter mudado muito.

É claro... Eles me amam, mas não amam um ao outro, sempre estão brigando e, definitivamente, eu não suporto presenciá-los brigando.

O pior é que as pessoas acham que eles são ótimos pais, pois bem, eles são bons pais, mas não tanto quando as pessoas pensam.

Eu queria poder amá-los e ser menos fria, mas eu não aguentaria. Toda vez que eu tento me aproximar vem uma nova briga e estraga tudo, ou talvez eu seja o problema, e não notei.

Continuo caminhando e logo avisto o colégio. Fico indecisa se entro ou vou para outro lugar. Definitivamente hoje não é um bom dia.

Sinto algo se chocar contra mim e me viro vendo Kate.

—Desculpa. —Ela diz sorrindo, mas seu sorriso se desfaz ao me ver.

—Tudo bem. —Digo e me viro continuando a andar.

—Espera. —Kate segura meu braço e eu apenas encolho os ombros com medo.

—Kate... —Digo chorando e o olho para a sua mão no meu braços. —Me solta, por favor.

—Ana? —Ela diz confusa e me solta. —O que aconteceu?

—Nada. —Digo respirando fundo. —Posso te pedir algo?

—O que?

—Mer perdoa?

—Hã? —Kate diz incrédula.

—Eu sei que eu sou uma filha da puta com você, e eu não deveria descontar tudo em você. Isso é horrível, você é minha melhor amiga e sempre esteve ao meu lado, e eu sempre fui muito ingrata com você. Com certeza eu não mereço que alguém com você, mas por favor, me perdoa.

Kate me olha confusa e faz algo que me surpreende, ela me puxa e me abraça. No começo eu sinto um pouco de medo, mas esse abraço é tudo o que eu sempre precisei.

Começo a chorar e soluçar em sue ombro e ela não me solta, apenas acaricia meus cabelos e me aperta mais.

—Amigas servem para essas coisas. —Kate diz quando me solta. —Mesmo que você seja um filha da puta, desgraçada, fodida em ciquenta tons, eu ainda vou estar ao seu lado.

—Me desculpa? Por tudo? Eu prometo ser mais grata À você.

—Claro que eu te perdoo, sem contar que você bateu em uma garota por mim, isso não tem preço.

Abro um sorriso para Kate.

—O que houve?

—Nada...

—Ninguém chora por nada.

—Eu posso te contar depois? No momento eu só preciso de você ao meu lado.

—Ok, mas eu vou cobrar.

—Pode cobrar.

Kate sorri e segura minha mão, nós começamos a caminhar em direção à escola e só o fato dela estar ao meu lado me deixa muito melhor.

A primeira coisa que vejo quando chego parte meu coração completamente... Só não sei porque.

Christian está abraço com uma garota, mas não é isso que me dói, é o fato dos dois estarem se beijando que me destrói. Ele empurra a garota e eu vejo que é Leila.

Uau...

Sinto um leve aperto na minha mão e olho para Kate, ela também está olhando para Christian e Leila.

—Ana. —Mia grita e Christian me olha.

Christian me olha perdido e vem em minha direção, mas Kate entra na minha frente.

—Se você não quiser perder seu brinquedinho fique longe dela. —Rosna Kate.

—Ana... —Ele sussurra, mas eu não o olho.

—Vamos sair daqui amiga. —Kate diz me puxando.

Nós entramos escola e Mia nos segue, ela e Kate começam a xingar Leila, mas eu não dou muita atenção, eu só quero ficar quieta.

Entramos na sala e eu me sento, abaixo a cabeça na mesa e começo a chorar.

—Ana... —Kate diz passando a mãos nos meus cabelos. —Não chora, por favor.

Olho para ela, mas não consigo parar de chorar.

—Você é durona, lembra? É estranho te ver chorando assim.

—Me deixa ser fraca? —Peço e Kate se espanta.

—Vamos sair daqui? —Mia sugere.

—Cabular? —Kate diz arqueando uma sobrancelha.

—Sim. —Mia diz.

—Vamos Ana?

—Ok... —Digo sem nem pensar.

Assim que saímos da sala damos de cara com Ethan e um garoto de cabelos loiros que faz Kate ruborizar.

—Onde as mocinhas vão? —Pergunta o garoto loiro.

—Ali. —Diz Mia.

—Mia Grey, você está pensando em cabular? —Ele pergunta.

—Não enche Lelliot.

—Lelliot? —Pergunto.

—Ana, esse é o Elliot. —Diz Mia. —Elliot, Ana.

—E ai. —Elliot diz.

—Não enrolem. —É a vez de Ethan falar. —Onde vocês pensam que vão?

—Tirar a Ana daqui. —Diz Kate. —Ela não está bem.

—O que houve Ana? —Ele pergunta preocupado.

—Olha só, vamos deixar para bater um papo depois? —Mia diz. —Vamos logo sair.

—Ok.

Saímos da escola pelo estacionamento dos professores para não sermos vistos.

—Espera. —Mia diz e todos param. —É melhor avisarmos o Christian.

—Por que? —Elliot pergunta.

—Ele pode ficar preocupado, e ligar para a mamãe e o papai.

—Você tem razão. —Diz Elliot e pega o celular para ligar para Christian.

Prefiro ficar em silêncio, caso contrário pessoas seriam decaptadas.

Alguns minutos se passam e Christian chega no estacionamento.

—Para onde vamos? —Ele pergunta.

—Nós não planejamos nada. —Diz Ethan.

Sinto mais frio, mas como estou abraçada com Kate isso conforta um pouco.

Eu ainda acho diferente ficar assim com ela, mas me sinto tão bem.

—Vamos ficar na rua então? —Kate pergunta indignada. —Está frio, A Ana está sem blusa, e alguém pode nos ver.

Christian tira sua blusa e me estende, mas eu apenas encaro-o.

—Pega logo. —Ele diz e eu o fuzilo-o.

—Vai Ana, está frio. —Diz Mia.

—Ana pega a blusa. —Pede Kate e eu continuo parada.

—Há pelo amor de Deus! —Exclama Ethan. —Pega a blusa.

—Ana pega a merda da blusa, por favor. —Diz Elliot.

—Oh menina marrenta. —Christian diz. —Prefere ficar com frio?

Puxo a blusa de sua mão e a visto, o que faz todos baterem palma.

—Engraçadinhos. —Digo.

—Então? —Ethan pede. —Para onde nós vamos?

—Para a minha casa. —Digo. —Meus pais foram trabalhar e só a Cacau está lá.

—Cacau? —Mia e Elliot pergutam juntos.

—A cachorra. —Ethan e Kate dizem juntos.

—Beleza, quem está com carro? —Christian pergutan e todos ficam em silêncio.

—Vocês não vieram de carro? —Pergunto.

—Não. —Diz Mia. —Nossos pais deram uma moto de presente para cada um de nós.

—E vocês vieram de moto? —Kate pergunta.

—Sim. —Os Grey's respodem juntos.

—Então vamos de moto. —Diz Ethan. —Mas quem vai com quem?

Todos ficam em silêncio e eu reviro os olhos.

—Nós não temos o dia todo! —Exclamo.

—A Kate vem comigo. —Diz Elliot e Kate ruboriza.

—O Ethan pode vir comigo, e pilotar, se quiser. —Diz Mia e Ethan abre um sorriso.

Filhos da puta!

—Vamos. —Digo secamente.

Caminhamos para pegar as motos e temos sorte já que o sinal já tocou e os alunos entraram.

Ethan sobe na moto com Mia e os dois saem na frente, logo depois Kate e Elliot, e me sobrou Christian. Ele sobe na moto e eu fico olhando-o.

—Quer um convite para subir?

—Vai se ferrar. —Digo subindo na moto.

Nós seguimos para a minha casa e quando chegamos os outros já estão lá.

Desço da moto e toco o interfone, o segurança leve dois minutos para reconhecer minha voz e nesse momento eu já o xinguei de tudo quanto é coisa, e é só então que ele abre.

Entramos com as motos e depois de estacioná-las entramos em casa.

Ouço um latido e me viro vendo Cacau descer as escadas correndo, ela dá um pulo em cima de Christian e quase o derruba.

—Essa é sua cachorra? —Mia pergunta.

—Sim. —Sorrio. —Vem.

Subo as escadas correndo e os outros me seguem, nós entramos no meu quarto e eu jogo a minha mochila no chão, depois me jogo na cama, Cacau sobe na cama e deita ao meu lado, deito a cabeça em sua barriga e todos nos olham.

Kate e Mia se jogam na casam e os meninos sentam nos pufes no chão.

—Por que nós viemos para cá mesmo? —Elliot pergunta.

—Porque a Ana não estava bem. —Diz Kate com calma.

Eles começam a conversar e eu fico apenas observando-os.

É tão estranho ter tantas pessoas nesse quarto.

—Ana, seus pais brigaram com você por causa da briga? —Mia pergunta.

—Não... Bem, minha mãe até que sim. —Digo. —Mas meu pai nem deve saber. Ele nunca sabe de nada sobre mim, passa mais tempo na delegacia do que aqui.

—Como assim? —Elliot pergunta. —Ele é um tipo de fora da lei?

—Claro que não! —Exclama Kate. —Ele é delegado.

—Faz sentindo. —Elliot diz e eu reviro os olhos.

—Seus pais são legais com você? —Mia pergunta e eu fico em silêncio.

—Vamos mudar de assunto? —Kate sugere.

—Eles são tão ruins assim? —Mia pergunta.

—Mia, vamos mudar de assunto. —Diz Christian.

—Tudo bem... —Digo calmamente. —Eu quero falar sobre isso.

—Quer? —Kate pergunta incrédula.

—Sim. —Sorrio. —Meus pais são bons sim, na medida do possível. Contando que eu destruí o casamento deles, os dois são bons até demais.

—Como assim? —Elliot pergunta.

—Quando eu tinha dois meses eu fui sequestrada.

—O que? —Kate pergunta incrédula. Nem ela sabia disso.

—Eu vive quatro anos com a mulher e o homem que me sequestraram. —Uma lágrima rola pelo meu rosto com a lembrança. —Eles me torturavam de todas as formas possíveis. —Sento-me na cama e abaixo um pouco a gola da blusa mostrando um das cicatrizes. —Eu tenho mais dessa. Meu pai... Digo, o homem que se passava por meu pai, ele apagava cigarros em mim, e eu não podia chorar, se não ele me batia.

—E a mulher? —Pergunto Kate.

—Ela era pior... —Dou um sorriso amargo. —Ela não suportava ouvir minha voz, então eu não tinha permissão para falar. Nunca. Mas eu acabava falando alguma palavra, e então ela me prendia dentro de um armário. Era escuro lá, e tinha cheiro de nafitalina.

—Ah meu Deus. —Kate diz incrédula.

—Por isso você não gosta de ser tocada? —Mia pergunta e eu concordo com a cabeça.

—Mas e seus pais? —Elliot pergunta.

—Eles levaram quatro anos para me encontrar, e desde então eu estou com ele.

—Mas porque você fala que destruíu o casamento deles? —Ethan pergunta.

—Porque desde que eu cheguei eles começaram com brigas... Infelizmente eu não sei como lídar com o amor, e mesmo doze anos de muito carinho e amor não curam quatro anos de trauma, desprezo, ódio, tortura. —Seco uma lágrima e respiro fundo. —Eu fui crescendo e ficando com uma personalidade mais difícil, e meus pais não sabem lidar com isso na maioria das vezes, eles perdem a cabeça e gritam comigo, ou me batem...

—É o que? —Kate grita. —Eles te batem?

—O Ray sim... —Sussurro. —Mas a Carla só me bateu ontem... E agora eles agridem um ao outro.

—O que? —Christian pergunta.

—O meu pai bateu na minha mãe hoje... Por essas coisas que me sinto culpada, se eles tivessem me deixado com meus suspotos "pais" as coisas estariam melhor.

—E você provavelmente morta. —Diz Elliot.

—Mas ao menos o Ray e a Carla estariam bem. Você sabe como é difícil ver o casamento deles se acabar e saber que a culpa é minha?

—É assim que você pensa? —Viramos todos para a porta e vemos minha mãe parada.

—Mamãe?Es


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, eu ia fazer essas revelações mais tarde, mas como você estavam com ódio da Ana, tive que fazer agora.... O que acharam?