A Morte Também Salva escrita por TiaSebastiana


Capítulo 2
A calma depois da tempestade é só o começo.


Notas iniciais do capítulo

Pra quem estiver lendo, oi.



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O sol batia no meu rosto.

— Você tem que trocar! Troque comigo agora Ikki!

Era o mesmo sonho. Dessa vez estava tudo claro, mas, eu não podia ver seu rosto. Ela se debatia cada vez mais, fazendo sangrar seus pulsos e tornozelos. Eu não conseguia ver o que a prendia no lugar, ela gritava, gemia e se debatia.

— Troque Ikki! Troque e se salve!

Alguém estava atrás dela, abaixando seu rosto com as mãos, a forçando a se ajoelhar com a cabeça para frente... Uma velha entrou na cena, ela segurava um facão nas mãos, e estava colocando sobre o pescoço da garota. Ambos riam. Quem a segurava e aquela maldita velha. A primeira gota de sangue caiu no chão, foi a minha vez de gritar.

— Lunna! Lunna! Eu troco! Troque comigo! Lunna!!

Eu acordei. Estava no meu quarto, a luz passava pelas frestas da janela.

Me sentei colocando a mão no rosto, ainda doía. Olhei em volta, como eu tinha chegado ali? Ainda estava com as mesmas roupas... Me levantei e segui para o banheiro para ver meu rosto. Alguém tinha saído do banho, o espelho estava todo embasado, passei a mão no vidro úmido, observando cuidadosamente minhas feições. Tinha o olhar cansado. Olheiras profundas davam contraste aos meus olhos verdes e eu sempre tive a pele pálida. Evitava à todo custo a luz do sol. A marca vermelha continuava ali, repuxada do pescoço até um pouco abaixo do olho direito. Estava horrível.

Repuxei as roupas, essa era a única marca.
Pelo menos em mim. Desci as escadas apreensivo, não sabia o que esperar do dia depois da tempestade. Para minha surpresa, estávamos sozinhos em casa.
Encontrei mamãe na cozinha, ela estava encarando sua xícara de café.

— Mamãe? Está tudo bem?

— S-sim, sim meu anjo. Está tudo bem...

— Eu... O que aconteceu...?

— Bem, logo depois de... Você desmaiar... Os vizinhos entraram em casa. Eles levaram seu pai pra fora... E te carregaram de volta para seu quarto... Seu pai... Ele... Fugiu.
Ela não olhou em meus olhos nenhuma vez. Mas, não conseguiria dizer se ela estava mentindo ou não.

— Você esta bem?
Ela levantou seu rosto, tirando uma mecha de cabelo dos olhos. Eu dei um passo para traz enquanto serrava os punhos. Um olho roxo. O maldito tinha deixado um olho roxo na minha mãe! Apoiei-me na parede. Tirando seus cabelos castanhos, eu era idêntico à minha mãe, e agora... Seus olhos verdes estavam manchados de vermelho e roxo. Ela também tinha passado a noite chorando.

— Até quando?! Até quando você vai aguentar isso?! - Soquei a parede - Até quando vamos esconder isso? Até quando vai pedir aos vizinhos para manter segredo?! Hein?!

— Filho você está sangrando! - Ela se levantou pegando um pano de prato e assim tentando estancar o sangue. - Você sabe que não temos para onde ir.
Ela tinha recomeçado a chorar. Deixei que ela me guiasse até a mesa da cozinha para fazer alguns curativos.

— Eu posso trabalhar. Você sabe disso, podemos ficar com alguém até...

— Querido... - Ela sorria entristecida acariciando meu rosto - Ele não iria permitir isso... Você sabe.

— Ele não tem que deixar...
Ela deu alguns tapinhas na minha mão enfaixada, sorriu para mim e saiu para o jardim. Ela amava suas flores tanto quanto amava a mim. Sorri em silêncio enquanto pegava um cachecol, não estava tão frio, mas cobriria a marca do meu rosto.

Acenei para mamãe enquanto saia para rua. Virei para olhar a casa, minúscula e com as mesmas janelas azul claro, a mesma pintura branca desbotada- chata e o jardim mais maravilhoso do mundo. Essa era a única coisa que tinha mudado. Já se faziam seis anos que estávamos morando ali... E cinco que nossa vida se transformou. Quanto mais dedicada ao jardim minha mãe ficava, mais nossa vida ia para o buraco. Essa era sua rota de fuga, e eu tinha a minha... A ponte Wilder.


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Notas finais do capítulo

Ninguém escreve pra si mesmo



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