A Culpa - Parte Ii escrita por Mara S


Capítulo 2
Capítulo 2




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- É engraçado como humanos podem ser tão fracos. Muitos passam a vida toda fingindo que demônios não existem, mas outros, por ambição, acabam pedindo por ajuda no final.

- Aonde você quer chegar? – perguntei curiosa.

Por que ele sempre tinha que usar esse tom misterioso?

- Eu conheci um humano que vendeu sua alma em troca de poder, na minha última visita à cidade.

- E?

- Ele me mostrou alguns livros interessantes e possivelmente vai me ajudar no meu plano. Sozinho ele não conseguiria o que quer.

- E por que você acha que ele o ajudaria? Suponho que não tenha dito quem era para um estranho... – falei ainda desconfiada.

- Não ainda. Mas pretendo explicar alguns detalhes.

Vergil ficou calado olhando sua espada, até que perdi a paciência e disse entediada:

- E você não respondeu minha pergunta: como acha que esse estranho vai ajudá-lo? Aliás, ele tem nome?

- Arkham. Ele é inteligente e decidido com eu. Parece a pessoa certa para contar no futuro.

Vergil era tão confiante, que nem parecia ser ainda um jovem como eu. Sacudi a cabeça ainda sem entender como ele aceitaria ajuda de um estranho.

- Não sei... Não parece certo confiar em um estranho agora. Mesmo que não exista um plano... Espere um pouco. Você está pensando em alguma coisa que não me disse ainda.

- Sim – Vergil sorriu. – Eu pensei em algo, mas nada que possa compartilhar no momento.

Ele se levantou se dirigindo até a porta, e eu fiz o mesmo, ainda querendo mais respostas.

- Então por que me disse de Arkham? Não sei como poderia ser útil já que você está me negando informação.

Ele não se virou na minha direção e apenas disse com a frieza de sempre:

- Não faça perguntas demais. Não serviria para nada no momento. Você terá sua parte no plano...

Eu fiquei parada na entrada da sala vendo Vergil se distanciar. Não era possível que ele fosse me deixar curiosa e aflita daquela forma.

- Tenho algo para você – Vergil falou repentinamente, voltando a caminhar até mim.

- Dê um jeito na Alice.

- Jeito? O que quer dizer?

- Mostre seu lugar; porque aparentemente ela se esqueceu qual é ele. Tenho certeza que aquela garota não está irritando somente a mim.

Eu ri de forma zombeteira.

- Eu pensarei em algo.

- Nada muito violento. Eu pretendo usá-la no futuro contra Dante.

- Dante?

Fazia tempo que não ouvia aquele nome.

- Surpresa?

- Um pouco.

Vergil me analisou por alguns segundos – talvez procurando algum sinal de que ainda me preocupava com seu irmão. – antes de encerrar o assunto:

- Pelo menos ela te manterá ocupada até algo maior.

- Como se fosse realmente interessante. Eu espero que ela sirva para algo, mas enfim, eu vou resolver esse pequeno problema de disciplina – falei ironicamente, saindo da sala e subindo as escadas.

 

Alice estava na porta de seu quarto olhando tristemente para mim, mas eu a ignorei fechando a porta ao passar. Só refletiria nesse problema pela manhã. Ainda pensava no humano chamado Arkham e no que Vergil poderia estar planejando, e não gostava muito de admitir, comecei a pensar também em Dante. Eu sabia da existência dos amuletos dados para os gêmeos e não precisava da explicação de Vergil para saber que ele logo clamaria a jóia do irmão. Era preciso para ganhar o poder de Sparda... Afinal, era o que Vergil mais queria; assim como eu também desejava...

Suspirei, tirando a roupa dada por Alice.

Eu preciso procurar Dante... Ver como o outro mestiço anda é uma boa idéia.

Sim, seria o melhor a se fazer no momento. Pelo menos não me sentiria tão excluída do que se passava na mente de Vergil e ainda poderia deixá-lo curioso com a notícia. Não precisava esperar a ordem do mestiço, afinal de contas, eu também tinha meus motivos para estar ali e não seria ele que me impediria de fazer o que desejava.

- Vamos ver o que você anda aprontando, Dante. Ainda sem saber que o irmão está vivo...

 

Mal havia clareado quando me levantei da cama e me troquei sem perder muito tempo. Vesti as minhas usuais calças pretas e coloquei uma jaqueta de couro por cima da blusa branca para me proteger do frio matinal. Desci pela janela do meu quarto para não despertar muita atenção de Vergil ou Alice, que possivelmente sentiriam minha presença.

 Aproveitei que era cedo para caminhar sem pressa pelas ruas desertas daquele bairro afastado e quando cheguei ao centro da cidade já era quase oito da manhã. Ao alcançar a frente da loja Devil May Cry, parei um pouco para pensar em como seria esse encontro depois de tudo que havia passado entre nós dois. Dante era como um irmão para mim, mas infelizmente as coisas haviam caminhado por rumos diferentes do esperado. Mas, no momento, não existia muita coisa a ser feita... Suspirei tentando abrir a porta: estava fechada.

Caminhei para trás e fiquei olhando a loja, fazendo minha presença ser sentida pelo caçador de demônios, e esperando que ele viesse até o lado de fora para encarar a fonte da força. Depois de alguns minutos, como imaginado, escuto o barulho da porta sendo aberta. Abro um sorriso de prazer ao ver Dante aparecer do lado de fora, sua espada Rebellion estava presa nas costas e ele parecia irritado por ter sido trazido até fora. Mas ele ainda não sabia que era eu que estava ali; e foi quando decidi me revelar.

Sai de um dos cantos e falei para Dante, que ao ouvir minha voz virou-se assustado na minha direção.

- Dante, quanto tempo...

Primeiramente ele apenas me olhou, acho que chocado o suficiente com a minha súbita aparição.

- Não pode ser possível. Taria? – ele falou depois de alguns segundos. – Onde você estava todo esse tempo?

- Não muito longe, receio dizer.

- O que está fazendo? Por que não voltou? Pensei que estaria morta.

- Por quê? Por acaso pensou que não daria conta de viver sozinha?

- Não é isso – Dante respondeu me censurando. – Eu fiquei preocupado. Mas tem algo diferente em você... Não vai me dizer o que está fazendo?

- Eu estou passando por várias provas. Aprendendo a viver... – falei rindo zombeteiramente.

- Tem algo estranho. Onde está a Taria que eu conhecia?

- Felizmente, ela está morta para você. Consegui mudar, enfrentar meus medos e, enfim, quase que falo demais.

- Onde você está vivendo? Não é entre os humanos. Isso eu tenho certeza.

- Você é inteligente, Dante. Claro que não poderia estar vivendo com os humanos... Mas não posso falar onde estou.

Dante me encarou pro alguns segundos antes de dizer balançando a cabeça:

- Você está falando de humanos como um demônio.

- Não exagere. Só por que você me decepcionou e agora pareço diferente do que esperava, não quer dizer que me tornei um demônio.

- Certo... Já vi que essa conversa não vai levar há lugar algum. Se não quer falar nada sobre você, porque veio aqui?

Dante parecia realmente irritado. Talvez por perceber que não era mais a Taria que ele esperava.

- Bem, o real motivo será revelado no momento certo. Por enquanto, você só precisa saber que vim aqui para lhe dizer que não está sozinho... Como pensa que está.

Dante franziu a testa e disse:

- Que merda é essa?

Eu ri. Era engraçado ver Dante sem entender alguma coisa. Ele nunca parava pra pensar no que era dito para ele, por isso duvidava que fosse compreender o que havia dito.

- Tudo em seu tempo.

Virei de costas para Dante e comecei a caminhar de volta pela rua, mas parei ao ouvi-lo dizer:

- E você acha que vou deixar isso quieto?

- Não. Mas também não acho que vai ser idiota o suficiente para me seguir. Você sabe o que isso significaria...

- Eu não posso simplesmente deixar você ir embora assim! Sem nem ao menos explicar o que está acontecendo!

- E o que você vai fazer? – me virei em sua direção e o encarei. – Vai lutar comigo?

Dante calou-se ao ouvir aquelas palavras. Como eu imaginava que faria.

Voltei a caminhar e desta vez não foi interrompida novamente por Dante.

 

Não podia deixar de sentir um pouco de pena por Dante. Ele nem ao menos imaginava o que poderia estar ocorrendo e desconhecia também o fato do irmão estar vivo. Uma parte de mim queria fingir que não me importava, mas a verdade era que eu ainda tinha minhas dúvidas; eu não queria somente ver o que Dante poderia estar fazendo... Não, eu queria era saber se o mestiço estava bem. Apenas checar.

Mas esse tipo de coisa precisava desaparecer. Não seria bom para o que poderia ocorrer, precisava forçar-me a aceitar o que estava se passando. Logo, nem mesmo eu reconheceria a Taria que havia sido reinventada.

 

Como imaginado, Dante não havia tentado me seguir e fazendo um caminho maior e mais complicado consegui chegar à mansão sem maiores surpresas. Infelizmente, minha partida pela manhã havia despertado a curiosidade dos outros residentes da casa: Vergil e Alice. Assim que pisei meus pés no hall escutei a voz da criança ressoando distante algo como “ela chegou”.

Ignorei completamente o que ouvi e caminhei até as escadas. Quando cheguei ao primeiro andar, ouvi a voz de Vergil atrás de mim.

- O que será que seria tão importante para você desaparecer ainda pela manhã. Aliás, fugir logo de manhã.

- Não sabia que você queria o papel de pai, Vergil – falei num tom malicioso.

- Por mim seria irrelevante onde você estaria, mas Alice me disse uma história interessante. E eu só queria saber se é verdade.

- Onde está ela? – perguntei irritada. Tinha certeza que ninguém me seguira, mas talvez estivesse enganada.

- Não está aqui. Agora, me diga: por que fugir?

- Eu contaria de qualquer jeito, só não sei por que a pressa. De qualquer forma, o que Alice viu?

Vergil subiu às escadas com um olhar irritado e disse:

- Ela a viu fugir pela janela, mas não seguiu por medo de ser descoberta.

- Garotinha esperta. Pelo menos ela não vai estragar a surpresa – falei ironicamente. – Eu fui ver Dante.

Vergil primeiramente me encarou, talvez sem acreditar no que havia dito. Mas depois de alguns segundos, ele caminhou até minha direção e sem me dar tempo de pensar falou friamente agarrando meu pescoço com violência.

- O que você acabou de dizer?

Tentei me soltar, mas naturalmente não estava preparada para aquilo.

- Seu irmão. Mas se tentar me enforcar, não vai saber o motivo.

- Você tem idéia do que fez? Ele sabe que estou aqui?

- Não... – senti minha cabeça encostando-se à parede e a mão de Vergil pressionando mais meu pescoço. – Vergil, esse não é o jeito certo de se começar uma conversa...

- Não estou brincando, Taria.

- Muito menos eu – perdendo minha paciência, comecei a lutar com Vergil e depois de algumas tentativas, consegui soltar-me de sua mão.

- Você é maluco? Eu só disse que fui falar com Dante. Não disse nada fora do normal! Você acha o que? Que eu seria estúpida ao ponto de citar seu nome?

- Mas mesmo assim, é arriscado.

Eu ri da preocupação de Vergil. Mesmo usando seu usual tom frio e distante, eu sabia que estava preocupado.

- Dante não mudou nada de quando conheci. Ele está exatamente do jeito que eu imaginava que estaria.

- E seria...?

- Fraco. Ele continua sendo o lado fraco da família. Só queria constatar isso.

- O que passou pela sua cabeça ao ver meu irmão?

- Nada. Você não pode ver seu irmão ainda, eu pensei que seria útil saber como ele se encontrava. Quem sabe até usar isso a seu favor... Mas acho que me enganei – conclui sarcasticamente.

- Talvez esteja certa sobre Dante. O que ele lhe disse?

- Agora está interessado? – perguntei sem esperar uma resposta. – Nada de útil. Ele aparentava estar preocupado comigo. Queria saber onde estava e sentiu que havia mudado, mas só isso. Eu, por outro lado, percebi que ele continuava o mesmo mestiço de sempre. Sabe... Sua teoria sobre Dante não ter despertado seu lado demoníaco?

- Ele não o despertou?

- Não. Tenho certeza disso. Você sentia e agora eu provei. Talvez algo em seus planos tenha que ser mudado.

 - Veremos.

- Dante quer se manter o mais distante possível de sua herança. Ele sempre deixou isso claro para mim.

- Duvido que a mantenha longe por muito mais tempo.

Dizendo isso Vergil começou a caminhar na direção da escada, me deixando sozinha a digerir o efeito daquela frase.

- Não se esqueça de Alice – ele falou secamente descendo as escadas.

- Já tenho algo em mente... Não se preocupe.


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Notas finais do capítulo

Tentando cumprir o prometido xDD

Espero que gostem *_*



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