Era uma fria manhã de domingo, e Yon, pensativo, ouvia o suave assobio do vento na sua varanda, solitário, e inegavelmente triste.
Pessoas andavam de um lado para o outro lá em baixo, enquanto Yon observava, e se perguntava se todas aquelas pessoas eram felizes.
O que se pode esperar de um garoto esnobe, "ex-popular", que teve coragem de trair seus próprios amigos?
Yon se arrependia pelo feito, mas não iria ser tão facilmente desculpado pelos amigos, que agora, o ignoravam.
Pegando o celular, ele pensou se seria idiota tentar ligar pra algum dos amigos dele, tentando pela milésima vez, o perdão dos mesmos.
-Não tenho nada a perder! - ele disse para si mesmo, discando o número do amigo.
-Cara, o que você quer? Você ferrou comigo. - A voz no telefone celular soava com certo desprezo.
-Lucas, eu posso explicar o que aconteceu, eu não queria te entregar, você sabe, é como um irmão pra mim... - Yon foi interrompido pelo garoto do outro lado do telefonema.
-Você falou que o livro foi idéia minha, minha mãe acha que eu pratico magia negra, você tem noção do que fez com minha vida?
-Ta, deixa eu dizer o que venho pensando.O livro tem um truque... - outra vez interrompido pelo amigo, que dessa vez soou mais bravo, e nervoso.
-Suma com esse maldito livro, não volta a tentar usá-lo, queime, faça o que quiser, mas suma com essa merda. - Lucas desligou o celular, antes que Yon pudesse responder.
Podia ser loucura, mas Yon escolheu usar o livro, para tentar conseguir o perdão de seus amigos.
Lá estava, jogado em sua estante, com todos aqueles símbolos desconhecidos na capa.Yon havia pesquisado símbolos de várias religiões e culturas, mas nenhum dos achados na internet tinha símbolos semelhantes aos do livro.
Yon abriu o livro, e então começou, com um pedaço de giz, desenhar os símbolos daquela página no chão. Pronunciou as palavras escritas abaixo dos símbolos, mas nada aconteceu.Ele se levantou, decepcionado, com as pernas bambas, e suor escorria pelo seu rosto.
Yon se dirigiu até o banheiro, e lavou o rosto.Com uma toalha de rosto, ele secou a água que escorria pelo queixo, até a nuca.
Ele retornou a sala de estar, para guardar o livro, mas algo estava diferente.O chão, onde ele havia desenhado os símbolos, agora estava um pouco mais fundo que o resto do piso do andar.Os símbolos haviam sido substituídos por círculos variantes de cores cinza e verde.E o livro, que antes estava aberto, agora estava fechado, e jogado no chão, ao lado dos círculos.Ele se abaixou para pegar o livro, muito assustado, quando alguém tocou seu ombro.
Antes que ele pudesse se virar para olhar, uma voz rouca ecoou pela sala.
-Você é o Yon, certo? - seu sangue gelou, e ele podia sentir uma dor aguda percorrendo sua espinha. -Fui criado geneticamente para te eliminar, pois seus objetivos te levaram a quebrar uma regra e se opor a Classe.
Yon se virou, olhou para pessoa que se punha em pé, atrás dele, e seu coração quase parou.Era um garoto, com olhos castanhos, alto, e cabelos ruivos.Era exatamente igual a ele.
-Quem é você? - Yon perguntou, quase paralisado, sem sair do lugar.
-Eu sou Yoff, uma criação artificial da Classe!