Ainda olhava pela janela, vendo aos poucos morte e destruição serem tomadas pela natureza, como se nada tivesse acontecido. A única forma de lembrança eram os rastros do meu próprio pensamento que faziam questão de me perseguir. Não que eu esperava bloquear tudo tão rápido, pelo contrário, tinha certeza que aquilo ficaria cravado na minha memória pelo resto de tempo de vida que eu tenho.  

Sinto uma mão pegar na minha, porém, não qualquer mão. A Chloe do meu lado, com um simples toque conseguiu fazer toda a tensão sair de mim aos poucos. Incrível como mesmo depois de tanto tempo separadas, basta um olhar para ela saber como estou me sentindo e assim, de forma tão rápida, resolver o problema.  

Viro meu rosto para poder a olhar, fazendo com que os sentimentos que eu estava tentando reprimir voltassem com toda a força. Eu sabia que por trás daquela fachada, a Chloe se sentia destruída por dentro, assim como eu. A culpa me consumia, enquanto a garota do meu lado nem se quer associa meu nome ao destino de Arcadia Bay. Pelo menos, é o que eu espero, mesmo que seja errado. Não sei se conseguiria lidar com o fato de que ela tem algo para sentir rancor desse tamanho contra mim.

A boca dela se abre, entretanto após longos e curtos segundos, volta a fechar. Eu podia ouvir na minha mente o que ela queria ter me dito. “Está tudo bem?”. Eu e ela sabemos que essa pergunta nesse momento, é idiota. De ambas as partes. Eu não teria coragem de perguntar isso, não por medo da resposta e sim, por já saber ela.

Durante toda essa viagem torturante de carro, eu fiquei me perguntando o que eu estava sentindo. No começo parecia que eu estava dormente, tanto meu corpo, quanto minha mente e principalmente sentimentos. Até que eu percebi que na realidade, eu estava, e estou, sentindo muitas coisas para poder nomear.

Minha garganta se fecha. Meus olhos não demoram para fazer a mesma coisa segundos depois. Tão irônico. Um dia lindo e ensolarado do lado de fora, o sol esquentando meu rosto além da vergonha, mas só coisas ruins dentro de mim. Apertei com certa força a mão da Chloe, involuntariamente, e me arrependi no mesmo momento de ter feito isso, pois a atenção dela se voltou para mim. Como ela conseguia estar do meu lado depois do que eu fiz?  

Não consegui processar o que veio primeiro, se as lágrimas ou os soluços. Patética. Eu que faço a merda e a minha melhor amiga que perdeu tanto por minha causa é quem vai ser a primeira a consolar. A realidade realmente bateu, e a felicidade momentânea que eu tinha sentido foi embora em milésimos. No final, não teria escolha correta, eu me daria mal de qualquer jeito.  

— Max, você... – Ouço a voz da Chloe preocupada e sinto o carro começar a parar. Estava tudo errado, quase tudo. Pelo menos eu ainda tinha ela, porém não é agora que eu posso ser covarde, tenho que ter a coragem de enfrentar as consequências das minhas ações.

— Precisamos voltar – Corto a fala dela com a minha. Abrindo meus olhos imediatamente. Ela parecia um tanto surpresa, não sei se por minhas palavras, ou por minha súbita mudança de atitude. Foram momentos torturantes até eu perceber o consentimento na expressão da punk ao lado. Ela parecia mais determinada do que eu. As lágrimas dela que também faziam medo de cair e trazer consigo a realidade foram trocadas por uma força de vontade que só como alguém como a Chloe podia trazer à tona. Um pé no acelerador valeu mais que muitas palavras.