— Oi. – falei enquanto entrava no carro dele.

— Boa tarde Ariel, vou te levar até a livraria. – começou a dirigir.

Inicialmente ficamos calados, mas Bento logo começou um diálogo.

— Ele está na sua casa, não é?

— Sim, e, como sabia que eu pegava ônibus aqui?

— Não se incomode, mas, eu seguia Benjamin de vez em quando. Não fui para sua casa para que ele não me visse.

— Estranho… – falei.

— Sim eu sei. Sempre quis protege-lo do meu jeito.

— Hum... Vai dizer ao seu tio?

— Não.... Ele te falou sobre isso?

— Você vive dedurando ele.

Bento suspira.

— Eu apenas queria que ele ficasse quieto, como eu. Como poderíamos fugir quando éramos crianças, e nem se quer sabíamos sobre a vida? Benjamin é inconsequente, eu apenas queria protege-lo, achei que se meu tio soubesse de algumas coisas, ele mudaria o comportamento.

Fazia sentido.

— Então, seria como se ele fosse um garoto precisando de atenção? – perguntei.

— Não, mas ansioso.

— Soube que.... Você está noivo daquela garota por causa deles.

— Sim, ela é filha de um grande cirurgião. No começo foi difícil, mas eu já não consigo me imaginar sem ela.

Chegamos a livraria ele estaciona.

— Desculpe Ariel. Não sabia que tinham um relacionamento, te chamei para o aniversário porque assim tentaria convencê-lo de vir conosco. Benjamin não queria ir para casa, tive que procura-lo.

— Ele sabia que aquela mulher ia jogá-lo para cima daquela garota, por isso não quis ir.

— É.... – ele suspira – espero que um dia ele me perdoe por isso, eu apenas queria que ele esperasse para quando fossemos independentes, iriamos embora sem problemas....

— Hum....

Silêncio breve.

— Entregue isto a ele. – me mostra uma chave.

— O que abre?

— É da casa dos nossos pais. Está na nossa herança, pensei em procura-lo para entregar isto, já que foi expulso...

Me entrega a chave junto com um bilhete.

— Aí tem o endereço. Apenas não quero que ele fique desamparado, leve isto também.

No banco de trás tinha uma mala.

— O resto das coisas dele estão aí.

— Obrigado Bento. – sorri, ele retribui.

— Fico contente em saber que você o faz feliz, Ariel.

Sorri novamente. Peguei a mala e saí do carro. Fui trabalhar com aquilo na cabeça, Bento não era tão ruim quanto pensei que fosse, ao contrário disso. Depois do expediente, falei tudo ao Benjamin.

Ele segurava a chave carinhosamente.

— Então ele resolveu me devolver isto….

 Estávamos na sala, Ítalo jogava vídeo game e nós dois ficamos no sofá.

— Sim, ele é um bom menino Benjamin.

— É.... Talvez seja.... – sorriu.

— O que acha de ter uma conversa com ele? – perguntei.

Benjamin olha para mim.

— Conversar…. Pode ser....

— Tem o número dele?

Me entregou o celular. A minha ideia, era que eles fizessem as pazes, no final, só brigaram por causa daquele pessoal louco. Bento também era parte da família dele, isso não podíamos negar.

Liguei, e pedi que viesse a noite. Ficamos no portão esperando, eram sete e meia.

— Será que ele ainda vem? – perguntei, olhando a hora pelo celular.

— Não seja tão ansioso Ariel. – Ben estava encostado na parede, ao meu lado.

— Sabe, eu sempre fiquei confuso com esse seu nome. – Bento já tinha estacionado na esquina, nós é que não tínhamos visto. Se aproximava.

— O meu? – perguntei.

— Sim, não sei se é nome de mulher, de homem, de sabão ou da sereia.

— QUE?! – coloque isso na lista de coisas que você não deve dizer a uma pessoa chamada Ariel, POR FAVOR.

— Talvez ele seja a sereia. – disse Benjamin.

— E você fique quieto! – exigi.

Eles ficam de frente um para o outro.

— Obrigado.... – ele levanta a chave – pensei que fosse ficar com ela....

— Benjamin, nunca quis que nada disso acontecesse... Mas você foi impaciente.

— Eu não gosto que me exijam fazer mais do que posso dar. – ele vira o rosto.

— Mas fugir para essa casa, que fica do outro lado da cidade, quando se é criança não é uma boa ideia.

É, até mesmo Benjamin concordou.

— Desculpe por ter te entregado tantas vezes.... Eu queria.... Apenas te proteger... Veja, agora irei me casar e me livrar do nosso tio e a esposa idiota dele.

— Consegui sair de lá sem precisar passar por isso.

— Mas por coisa pior. – Bento cruza os braços – eu me sinto feliz em saber que Ariel esteja te acolhendo, e se quer saber, não me importo se ele não é uma garota, ao contrário, fico contente já que agora ele faz parte da nossa família.

Ah, eu me senti lisonjeado com aquilo....

— Nossa família? – Benjamin olha para o irmão.

— Sim, você é a única que tenho, então por favor me perdoe.... Não me abandone Benjamin.... – ele abre os braços, era óbvio que queria um abraço.

Ben parou pra pensar um pouco, mas acabou se jogando sem medo. O abraçou de maneira prolongada, era algo que parecia ter sido finalmente resolvido.

— Eu te amo, Benjamin. – falou ele.

— Eu também…. Te amo, Bento.... 

Eles se largam lentamente.

— Quando eu me casar, irei morar perto da casa dos nossos pais, espero te encontrar lá. – disse Bento.

— Claro....

— AEEE! – falei abraçando os dois – agora nossa família está aumentando!

Sorriram.

— Só não dou um beijo em cada um porque não sei quem é quem, e não quero beijar na boca errada.

— Ótima ideia Ariel, ótima! – já descobri quem era o Benjamin.

Silêncio breve.

— O que nossos pais diriam, Bento?

— Sobre o que?

— Eu e Ariel....

— Talvez eles ficassem surpresos no começo, mas eles continuariam te amando.

— Por que?

— Porque pais de verdade, amam os filhos independente da sua opção sexual, e isso eu tenho certeza que eles fariam, assim como eu.

O sorriso que nasceu da boca de Benjamin tinha sido encantador, os olhos esverdeados transpareceram a emoção de ter ouvido aquilo do gêmeo. Se abraçaram mais uma vez.

Silêncio breve.

— E... O meu tio? – perguntou Benjamin após se afastar.

— Ah.... – Bento coça a cabeça – ele ainda está furioso... Os pais da Elisabeth acabaram desistindo de você.

Benjamin suspira.

— Acredito que eles não irão mais te perturbar, Ben.

— Assim espero.

Eu concordava com Benjamin. Tecnicamente, o tio tinha se livrado de custear o garoto problemático, mas para eles, a imagem de família exemplar deve ter caído. Quem se importa?