Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 9
Se encontrássemos um motivo...


Notas iniciais do capítulo

A música de hoje é Cigarette Daydreams - Cage The Elephant
Demorei MUITO, né? Perdão. Espero que curtam este capítulo!
Beijos ♥



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Naquela noite, voltei para casa com apenas algo em mente: eu iria embora.

Não dava mais, eu não aguentava mais. Só não sabia se teria coragem. Pertenço à Corvinal, não à Grifinória, como Scorpius.

Quando bati a porta atrás de mim, pude ver a cena mais chata e rotineira a que tanto me cansei. Papai estava lendo o Profeta Diário de frente para a lareira; mamãe escrevia algo em seus milhares de pergaminhos sobre a mesa. O cheiro do chá vinha da cozinha, como se eles houvessem preparado há pouco tempo.

Eu havia chegado em casa por volta das 9pm, o horário que ambos voltam do trabalho, quando não há nada tão sério a fazer lá. Tentei pigarrear, chamando a atenção deles. Ninguém pareceu se importar. Então subi as escadas cautelosamente.

— Longo dia com o Lovegood, hã? — papai não deixou de alfinetar.

— Põe longo nisso!

Ele virou algumas páginas do jornal, displicentemente, sem olhar para mim um segundo sequer.

— Tem chá na cozinha.

— Desço já, papai. Antes, tenho algo a resolver.

E então entrei no meu quarto. Guardei tudo num malão extensivo, antes que eu mudasse de ideia. Encarei-o por alguns instantes, para então descer as escadas novamente.

— O que é isso, Rose? — foi a vez de mamãe falar. Ela tirou seus óculos de leitura e pude ver a ruga em sua testa.

— É, aonde você pensa que vai? — papai completou-a.

— Passar uns dias fora.

— Como assim passar uns dias fora? — papai já havia se levantado. Suas mãos estavam ameaçadoramente em seu quadril.

— Significa que vocês não irão me ver aqui por um tempo. Está tão difícil entender?

— Rose Granger Weasley! — mamãe correu para me alcançar no vão da porta — Caso tenha esquecido, ainda sou responsável por você enquanto morar conosco. Exijo respeito! Aonde você vai?

— Dar um jeito nisso.

E então, antes que perdesse a coragem, aparatei para bem longe dali.

Estava chovendo, e eu não sabia o que fazer ou para onde ir.  Fui, então, à casa de Nique, sabendo que era a melhor escolha. Encontrei-a bebendo com James na soleira da porta, e ambos sorriram para mim.

— Sua louca! — Nique gritou, chamando-me para se juntar a eles — Chega aqui!

Empurrei meu malão até onde estavam e fiquei em pé.

— Ei! — a compreensão pareceu chegar até ela — O que aconteceu?

James me estudava com o olhar. Parecia no mínimo curioso.

— Só preciso que diga que estou aqui nos próximos dias.

— E Nique faria isso por quê..?

— Porque é pra isso que primos-amigos servem, James — respondi-o sem demora.

— Aonde você vai, afinal? — ele disse.

— Por que todo mundo quer saber?

— É para isso que servem os amigos, certo? — James riu e me estendeu a garrafa — Só preocupação.

— Você não parece bem, Rose — Nique completou-o.

— Eu não preciso de tanta preocupação! — gritei, aborrecida.

— Escuta, Rose... — Nique suspirou — Você aparece aqui, toda molhada na chuva, com um malão e uma cara estranha. Queremos te ajudar. Só isso.

— Preciso de um tempo longe de casa. Espero que entenda.

Nique balançou a cabeça lentamente.

— E como pretende ir para sei lá onde? — James perguntou.

— Aparatando?

— Rose. Até eu sei os riscos de estrinchamento nessas condições climáticas. E sei que está com um malão enorme...

— Eu vim até aqui, não vim?

— Por favor — ele tentou de novo — Deixa alguém te ajudar uma vez na vida!

Então, James procurou algo em seus bolsos. Estendeu-me um molho de chaves. Havia só duas lá.

— Traga-o de volta e intacto. Quando descarregar seu malão aonde quer que você vá. Pode ser amanhã.

James também tinha um carro-voador. No estado em que me encontrava, acabei aceitando sua gentileza. Não era realmente comum James ajudar alguém.

Agradeci, estranhamente tímida para alguém como eu. Então descarreguei a bagagem no maleiro do carro e dirigi mesmo com chuva.

Acontece que eu estava perdida.

Eu não queria atrapalhar o momento romântico de minha melhor amiga.

Não mesmo.

Não havia mais para onde ir.

Estava a ponto de voltar para casa, mas meu emocional me pegou de surpresa. Parei no meio da rua, estacionei o carro e sentei no meio-fio. Comecei a chorar. Chorar para valer.

Havia desistido de minha família, de meus amigos, até mesmo de Scorpius? Para onde iria? E naquele tempo, ainda por cima?!

Eu não poderia desistir.

Sou independente.

Já disse isso antes.

Me viro sozinha, certo?

Errado. Eu precisava de alguém para nortear meus pensamentos. E Scorpius fora embora quando toquei no assunto. Ele não me apoiava, correto? Errado de novo.

— O que está fazendo aqui?

Quando levantei o rosto, encontrei-o me olhando com curiosidade.

Scorpius fumava três cigarros de uma só vez e suas mãos pareciam ligeiramente trêmulas. Mas eu não perguntaria nada.

— Dei um tempo de casa.

— Fez sua escolha, então.

— Obviamente.

Voltei a olhar para o chão, para meus pés.

Scorpius se sentou comigo.

— Sabe, Rose... — ele começou, soprando a fumaça para longe de mim — É muito solitário lá em casa. Acabei me desacostumando esse tempo que passei fora.

— Se veio aqui me dar sermão...

— Estou pensando que... — continuou, ignorando o que eu disse — Você pode ir para lá, se quiser.

— Está me chamando para morar com você? — minha voz saiu incrédula.

— Não é como um pedido de casamento — ele deu uma risadinha gostosa, daquele jeito de sempre. Unindo o lábio superior ao nariz — Somos amigos, certo? Um ajuda ao outro. Você precisa de uma casa. Eu preciso de companhia.

Scorpius tragou uma última vez e jogou o fumo para longe, para o meio da rua.

— E seus pais?

Scorpius havia perdido toda a leveza com uma simples pergunta. Seu tom esfriara:

— Meu pai não se importará.

— E sua mãe?

— Rose, quer ir logo, de uma vez?

— Por que não fazemos algo divertido? Para nos distrair? Podíamos roubar de novo.

— Não é bem assim que funciona, Rose.

Franzi a testa, sem entender.

— Precisamos de um propósito. Aventura sem propósito é um instante perdido, não acha?

— O propósito é nos distrair — disse categoricamente — Sei que não sou a única deprimida aqui.

Scorpius me olhou por alguns segundos, e eu não consegui interpretar sua expressão.

— Tudo bem. Sei algo que podemos fazer.

— Estou de carro — apontei para o Cadillac de James.

Scorpius guardou um sorriso no canto da boca.

— Posso dirigir? — mordeu os lábios, recuperando o espírito divertido de sempre — Quero lhe fazer uma surpresa.

— Só não arranhe o carro do meu primo, pelo amor de Merlin!

— Não garanto nada.

Então, ele pegou as chaves comigo e esperou que eu me sentasse no lado do carona. Fechou os olhos e tirou um lenço do bolso da jaqueta. Nesse momento, pude reparar que ele ainda usava a mesma roupa de antes. Mas eu não perguntaria.

É claro que não.

Deixei-o amarrar o lenço em meus olhos e esperei que ele me levasse para sei lá onde.

Quando ouvi o motor diminuir, perguntei:

— Posso ver agora?

— Não. Ainda não.

Scorpius desafivelou meu cinto e me ajudou a sair do carro, já do lado de fora. Puxou meus dedos e entrelaçou-os aos seus. Quando paramos de andar, eu já estava curiosa demais para não olhar uma frestinha só.

— Tudo bem, tudo bem. Deixa que eu tiro.

Então ele desamarrou o nó.

Estávamos numa biblioteca imensa. Maior ainda que a de Hogwarts. Eu não havia entendido a grande referência.  

— O que é isso aqui?

Scorpius deu uma risadinha.

— Eu gosto muito de ler, sabe... — ele caminhou pelas estantes, passando o dedo nos livros — Passo a madrugada toda aqui, quando não tenho para onde ir.

— Essa é sua grande aventura?

— Quer aventura melhor do que estas histórias? — ele se jogou numa poltrona e tornou a rir — Bem, pelo visto você estava certa. Não é um bom exemplo para a Corvinal.

— Quem vai saber?

Scorpius jogou no chão dois exemplares que havia apanhado antes. Entrelaçou os dedos e olhou para mim, de modo enigmático.

— Aonde gostaria de ir agora? Vamos... Qualquer lugar. Só não me diga. Pense.

Antes que eu pudesse formular um pensamento, a sala se transformou numa danceteria. A mesma onde nós dois nos reencontramos.

— Boa escolha, Rose.

O som de um DJ imaginário preencheu o ambiente. Luzes bruxuleavam em meio à escuridão.

Scorpius havia se levantado para dançar comigo. Ele estendera a mão. Eu aceitei-a, mas não antes de dar voz aos meus questionamentos.

— Estamos em Hogwarts?

— Acho que terá tempo suficiente para descobrir.


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