Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 6
Era Domingo


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Desculpa a demora, estou estudando muito!!!!
A música de hoje éEra domingo - Zeca Baleiro
Espero que curtam
Beijos



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Quando eu era criança, costumava me divertir horrores na praia que tínhamos no Chalé das Conchas. Passava boa parte das férias ali com Nique e Torie, minhas primas.

Hugo, medroso como sempre fora, passara muitos anos temendo se afogar. Depois, ele cresceu e decidiu enfrentar as ondas, numa tentativa louca de se exibir para Lily Luna, sua paixonite platônica.

Eu, ao contrário, nunca tive medo de nada. Se pudesse, cruzaria todo o Oceano só nadando.

É brincadeira, calma.

De qualquer maneira, assim que pus os olhos em Scorpius, tudo que consegui fazer antes que meu raciocínio fosse extinto foi jogar a bolsa no chão do píer e me atirar para baixo.

— Tem medo de tubarão, cabelo-de-fogo?

— Não há nada nesse mundo que eu tema, garoto-grude.

— Garoto-grude? É assim que você se refere a mim? É sério isso?

Fiz bolhas de água com a minha boca, rindo, deixando apenas metade do meu rosto na superfície, o suficiente para que eu pudesse respirar.

Scorpius gargalhava com gosto, como se há muito tempo não se divertisse assim. Nadava em círculos, e eu o imitava.

— Você é que é a grudenta. Já deu uma olhada nesse seu cabelo molhado?

Apenas mostrei a língua para ele, com uma falsa irritação, quase infantil. De repente, senti-o ainda mais perto de mim. Sua voz era baixa e calma, como sempre.

— Rose, hoje estamos em turma — ele então apontou para um grupo de jovens mais adiante, todos deitados numa construção de madeira no meio do mar — Espero que não se incomode.

— De forma alguma!

Nadamos até lá e eu estava realmente numa boa.

Juro que estava.

Entretanto, logo que os alcançamos, meu estômago começou a embrulhar. Não me recordo de já ter sentido vergonha em qualquer outra situação, mas os amigos de Scorpius tiveram esse efeito em mim.

Pareciam estar todos se divertindo muito, rindo, contando piadas, e alguns se beijavam, ignorando completamente nossa presença.

É preciso reforçar que não se tratava apenas de casais comuns. Algumas vezes, eles trocavam de parceiros, não importando se era garoto ou garota.

Aquilo realmente me deixou desconfortável.

Olhei para Scorpius, que limitou-se a dar de ombros, acostumado com esse tipo de situação.

— Pessoal, vocês se lembram da Rose?

Senti as bochechas esquentares ao ser apresentada àquela turma. Alguns eu já conhecia, outros não. Ou talvez estejam diferentes demais para me lembrar.

Acenei para todos e me sentei ao lado de Scorpius.

Estávamos numa espécie de mini-píer flutuante. Muito provavelmente, a construção havia sido encantada por algum feitiço desconhecido.

— Vocês todos são aurores? — a pergunta escapou dos meus lábios.

— Somente eu, o Brown e a Jorkins não somos — um garoto moreno se aproximou de nós e sentou com as pernas cruzadas — E à propósito, meu nome é Natan MacMillan.

— Rose Weasley — apressei-me em estender a mão para cumprimenta-lo.

— Eu sei. Scorpius já falou sobre você.

Natan deu uma risadinha ao encontrar a carranca do amigo lhe secando. Não desviou um segundo sequer.

— Por gentileza, Nate, não fale como se eu perdesse meu tempo lhe contando minha vida pessoal.

— Você está precisando relaxar, cara — ele riu outra vez e ofereceu a Scorpius um tipo de cigarro estranho — O quê que está pegando?

— Não é como se eu me importasse — começou, soprando a fumaça. Um cheiro forte passou por nós, lembrando-me incenso, ou talvez minhas aulas de Herbologia — Mas não aguento mais ir naquele hospital. Não sei como você consegue.

— É a minha profissão, afinal — Nate sorri de lado e encolhe os ombros — Se não fosse pelos curandeiros, ela nem chances teria.

— Bem... Talvez nem agora ela tenha.

Fiquei trocando o olhar, de um para outro, completamente muda. Naquele momento, entendi que Scorpius havia dado o assunto por encerrado; e Nate pareceu compreender também.

Não quis perguntar do quê se tratava a conversa. Se Scorpius não me colocou a par de nada, não seria eu que iria forçar a barra.

A verdade chegou até a mim no momento certo, como sempre acontecia.

Mas estou me adiantando.

Voltemos ao dia do píer:

Nate se levantou e foi se juntar aos outros. Fez sinal para que nós o imitássemos, mas Scorpius disse que depois a gente ia.

Observei o modo como o vento balançava a barra de seu shorts, e só então notei a tatuagem em sua panturrilha.

Havia muitas coisas que um dia descobriria sobre Scorpius, e outras que temo nunca descobrir.

Esta, em todo caso, tratava-se de uma tatuagem de um leão. Voltei a encarar seu rosto, e fiz a pergunta que me intrigava:

— Por que gosta tanto da Grifinória?

Scorpius pareceu pensar um pouco, antes de responder.

— É a minha identidade. Sem isso, não sou ninguém. Não passo de uma poeira cósmica, Rose.

Ele deitou no chão de madeira, com o rosto muito próximo ao meu. Pude ouvir sua respiração bem disforme.

— Não temos o controle sobre nada nessa vida. Exceto nossa identidade. Gosto de ter sido, ou melhor, gosto de ser um leão. E eu gostaria que você tivesse orgulho da águia que fica aí dentro, olha.

Scorpius tocou minha testa, muito levemente. Sorriu e então estendeu o cigarro estranho para mim.

— Tem um lixo atrás de você.

Encarei-o por alguns segundos antes de dizer:

— Você não me ofereceu. Nem mesmo o de nicotina, quando nos reencontramos. Papai nunca acreditaria nisso.

— Ah, Rose... — ele respirou fundo, parecendo cansado — As pessoas são livres. Não conheço você. Sou uma péssima influência. Não seria certo...

— Não sou uma garotinha — respondi, firmemente — Posso parecer uma, por ser uma Weasley, ruiva... Mas não sou.

— Bom saber essas coisas.

E então, inalei o que sobrara do cigarro de Scorpius. Ele apenas virou de lado, para mim, e começou a rir longamente.

Mais uma vez, notei que o piercing em seu nariz quase encostava na boca, que ria com vontade.

Não demorou muito para o conteúdo terminar. Joguei fora e me juntei aos amigos de Scorpius. Estavam todos em roda, conversando. De repente, Simas apareceu com um violão nas costas.

Scorpius ainda estava deitado no canto, mas não tardou a se levantar quando reconheceu a música que saía das mãos de Simas. Possivelmente, uma de suas preferidas.

É engraçado pensar que Scorpius conhece tanta coisa trouxa, mas não mantém os hábitos deles. Às vezes, duvido de que ele realmente não saiba usar um telefone.

Estava mais do que óbvio que ele queria meu endereço para me visitar quando desejasse.

Em todo caso, Scorpius puxou minha mão, para que eu dançasse com ele ao som de The Cure, uma banda punk-trouxa. Era um som leve e agradável.

O garoto-grude me girou algumas vezes, e outras valsamos. Mas era uma valsa alegre, rápida, informal. Logo, os demais bruxos também fizeram o mesmo.

Quando encostei em seu ombro, senti a quentura de sua pele. Perguntei-me, em seguida, se Scorpius estaria com febre. Mas logo conclui que era apenas o sol incidindo sobre ele.

Ou talvez sua temperatura fosse mesmo aquela.

Como disse antes, havia muitas coisas que eu ainda iria descobrir sobre Scorpius.

E outras, que eu nunca saberia.

Como o truque, ou o feitiço, que ele fez para me manter sempre perto.

 


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