Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 20
Memórias desaparecem com o tempo...


Notas iniciais do capítulo

SIM, EU ESTOU VIVA!
Depois de semanas de estudo hard core estou aqui novamente.
Peço desculpas por estar jogando tanta coisa na cara de vocês assim, minha leitora quase beta me falou sobre isso, mas quando terminar de escrever, irei revisar essas "pistas" que aparentemente estão sendo difíceis de serem entendidas no decorrer da história.
A música de hoje é Seize the day - Avenged Sevenfold



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Quando eu era menina, não era assim que imaginava minha noite de Núpcias.

É bem verdade que Scorpius e eu tivemos momentos de amores muito antes dessa confusão toda começar. Mas ainda assim, a Rose de quatorze anos que habitava em mim não deixou de ficar decepcionada. Talvez ela quisesse um quarto cheio de rosas, ou quem sabe um jantar romântico à luz de velas, ou mesmo uma noite para experimentar qualquer coisa nunca antes feita.

Apesar disso, nossa lua de mel em Askaban foi mais interessante do que esta interminável lista que acabei de citar.

Passei as horas mais longas e gostosas deitada, aconchegada no peito de Scorpius Malfoy, enquanto ele me contava muito mais do que o esperado sobre sua vida misteriosa.

Descobri que Scorpius gosta de desenhar, que ele é vegetariano e que torce pelo Harpias de Hollyhead. Sim, o time de Quadribol feminino.

Por outro lado, eu lhe disse que odeio estudar por livros, mas que sou apaixonada por ouvir histórias e teorias dos mais experientes do que eu. Também disse que sou uma jornalista frustrada por nunca ter tido pontos suficientes para a profissão que ele mesmo praticava.

— Espera um pouco — Scorpius levantou a sobrancelha, apertando-me mais contra ele — Você queria ser auror?

— Óbvio que sim! Acha mesmo que nasci para trabalhar para aquele lunático?!

Scorpius soltou uma risadinha.

— Vai saber, não é? Você nunca me mostrou nenhum texto seu. Posso estar do lado da futura substituta da Skeeter sem saber!

— Mas a Skeeter é uma vendida e ridícula!

— Não disse que você seria igual a ela. Mas que tomaria seu lugar. Entenda as entrelinhas, Rose Malfoy, eu lhe imploro.

E aí Scorpius mordeu minha orelha, se acabando de rir.

— Mas ainda tem aquele negócio, você sabe, Scorpius...

— Não, não sei.

— Lovegood é avô do meu ex.

— Você namorou um dos gêmeos? Qual deles? Ou foram os dois?

— Scorpius!

— Desculpe.

— Você não se lembra mesmo? — perguntei, odiando-me por ter começado o assunto. Com sua cabeça balançando em negativa, continuei: — Foi Lysander. Aquele idiota completo. Sempre dono da razão. Machista. Nunca me esqueci de quando ele me empurrou no corredor, por causa de uma saia idiota...

Scorpius apertou a testa, então achei melhor explicar tudo de uma vez:

— Lysander não queria que eu fosse com algo “tão curto quanto uma roupa de baixo”, nas palavras dele. Era dia de passeio em Hogsmeade, quinto ano. Teve um bate-boca da porra...

— Mas que filho-da-mãe! Se eu estivesse lá...

— Você estava — tornei a falar, subitamente intrigada — Você estava lá, Scorpius.

E então, meu marido respirou fundo, desviando o olhar para a praia. As ondas quebravam próximas a nós, e o vento balançava nossas vestes.

— Scorpius — insisti, realmente preocupada — O que é agora?

— Tem mais uma coisa que preciso lhe contar.

— Então conte logo, por favor. Já estou toda despida de segredos, Scorpius. Por favor, você tem que me contar. É o justo, não acha?

— Tudo bem...

Scorpius quase perdeu o ar antes de abrir a boca. Ele encostou a cabeça em meus ombros e sua voz era quase um sussurro:

— Lá na Romênia. Quando estive mais próximo de cometer qualquer loucura... Bem... Eu só queria me livrar do antigo Scorpius. Ser uma nova pessoa, você sabe.

Enquanto ele falava, eu via dor em seus olhos.

Muita dor.

— Arranquei lembranças minhas. Muitas delas, Rose. Aleatoriamente, desesperadamente. Tudo que fosse ligado ao tempo de escola... Simplesmente joguei fora.

Scorpius fez outra pausa, para talvez descobrir minha reação.

Eu estava chocada.

Realmente chocada.

— Há muita coisa que carrego comigo, cabelo-de-fogo — ele continuou, e pude sentir que a porta de seus segredos havia se escancarado — Sou muito impulsivo. Espero que entenda. Se você diz que me ama, terá que entender.

— É claro que entendo.

Scorpius então esboçou um sorrisinho.

— Mas eu nunca me esqueceria de você, Rose. As primeiras memórias, aquelas até mais ou menos o terceiro ou quarto ano. Eu não apaguei quase nenhuma.

Ele fez uma pausa dramática antes de olhar para mim de modo enigmático:

— Você estava em grande parte dessas, eu não seria louco.

E aí Scorpius beijou o topo de minha cabeça antes de ficarmos um longo tempo sem dizer nada.

Eu já havia fechado meus olhos quando ele resolveu fazer um último comentário:

— O que foi que eu fiz? Lá, na sua cena com Lysander?

Apertei os lábios para reprimir uma risadinha.

— Você acabou com ele no murro.

**

Quando falei a Scorpius que ele havia acabado no murro com Lysander, meu marido primeiramente riu. Um riso que interpretei como desespero e nervoso. Depois, quando fingi que já havia dormido, notei os soluços de Scorpius cada segundo mais fortes. Seu peito subia e descia comigo aninhada neles.

Scorpius estava chorando em silêncio. Eu tinha certeza. Mas não interromperia seu momento. Ele precisava chorar.

Sei que sim.

Ele não havia tido seu momento de luto, sei que não. Por isso deixei-o chorar enquanto pensava que eu estivesse dormindo.

Isso durou a madrugada toda.

Observei as estrelas indo embora, até que o som de pés rígidos me assustou o suficiente para que eu saísse de cima de Scorpius e olhasse o guarda, arregalando meus olhos.

O auror abriu as grades com um ruído metálico e incômodo. Ele tinha um olhar duro e deixou que Dulce chegasse até nós com suas botas pesadas.

— Recebemos ordens para levá-los a um lugar.

— Não vamos a lugar algum — Scorpius rebateu, sem paciência — Já posso sofrer o suficiente aqui, acredite. Não preciso de tortura física.

— Malfoy! — Dulce agachou-se para ficar olho a olho com Scorpius. E então, sua voz veio doce — Está maluco? Você tem que me agradecer! Não confia mais em mim?

— Estou atuando — ele esboçou um leve sorriso, em sussurros — Não vê?

E aí Dulce apertou a boca com as mãos para que não gargalhasse na frente do guarda. Ao se recompor, ela disse:

— Vamos logo de uma vez, Malfoy!

O sol já havia nascido àquela altura, e caminhávamos sonolentos para fora da ilha de Askaban.

Dulce nos levou até um compartimento que imagino ser uma espécie de vestiário, para que Scorpius e eu tomássemos um banho e trocássemos de roupas. Até mesmo isso ela havia trazido.

Mas não perguntei nada.

Apenas fiz o que nossa aliada mandou e admito que foi um alívio sentir a água gelada refrescar meus pensamentos.

— Para onde será que nós vamos? — Scorpius disse de repente, encontrando meus olhos por detrás do chuveiro.

— Não sei. Não faço ideia, Scorpius. Mas podemos simplesmente fugir, o que acha? — sugeri, mas arrependi-me no mesmo instante ao vê-lo me censurar mesmo em silêncio — Ah, vai dizer que não pensou nisso? Em fugir daqui.

— Uma hora precisamos crescer, Rose. Não posso mais fazer isso.

Observei-o, então, tirar o xampu do próprio cabelo, para depois fazer o mesmo com o meu.

Fiquei quieta e não disse mais nada.

Ele também não.

E apesar de estarmos debaixo d’água, me pergunto se naquele momento seus olhos estavam úmidos naturalmente ou se era apenas o ardor do xampu.

Algo dentro de mim acha que foi a primeira opção.

Em todo caso, Scorpius não se demorou para puxar a toalha do gancho e ir se aprontar, deixando-me divagar sozinha sobre seu estado mental.

— Anda logo, Rose Weasley, seu namoradinho já está esperando você!

— É Rose Malfoy agora, Dulce — Scorpius respondeu com uma risadinha, puxando-me para perto dele, agora que eu já estava devidamente vestida — Lide com isso.

— Oh! Se me falassem, nunca acreditaria!

— Eu lhe mandei o convite. Você que não foi.

— Aurores são escravos. Não tive folga ao menos para olhar a correspondência.

E aí os dois riram, deixando-me de fora.

Scorpius apressou-se em me explicar:

— Rose, esta garota aqui ouviu meus lamentos dia após dia, os dias inteiros.

— Ele falou de mim? — perguntei, com a sobrancelha levemente arqueada.

— É claro que falou! A cada duas palavras, três eram Rose Weasley.

— Malfoy agora, Dulce, é tão difícil assim?

Dulce voltou a rir e então nos guiou para a saída.

Aparatamos juntos para um campo aberto, que era muito familiar. Ao longe, bem longe mesmo, enxerguei a casa de Scorpius.

— Dulce — ele falou num tom mais sério do que tudo — O que fazemos aqui?

A auror tinha um olhar cheio de incertezas, suas sobrancelhas juntas, como se estivesse envergonhada.

— Achei que gostaria de estar no velório de sua mãe. Você nem pode se despedir, ao menos...

Scorpius apertou os olhos e deu um longo suspiro.

O vento soprava muito forte suas vestes e seu cabelo, que já quase existia.

— Tudo bem.

Então, ele segurou minha mão, apertando-a fortemente.

— Só mais uma coisa — direcionei o olhar para a auror — E quanto a mim? O que disse a todos?

— Você terá o tratamento que Kingsley havia decidido desde antes. Convenci a eles de que você precisava de mais um tempo com Scorpius. Está tudo resolvido já.

Acenei com a cabeça e então segui com Scorpius para a casa dele, com Dulce caminhando calmamente atrás de nós.

E foi uma evidente surpresa termos encontrado também meus pais naquela cerimônia. Eles estavam ao lado de outros bruxos do Ministério. E bem na frente da cova, havia um homem de coração despedaçado, um homem mais pálido que o céu de neblina.

— Scorpius! — Draco gritou, ao nos ver — Scorpius! Eu não acredito!

Draco correu para nós, agarrando-nos num abraço apertado.

E aí ele olhou para nossas roupas.

Dulce havia escolhido cores alegres, nada condizentes com uma ocasião como esta.

— Bem a sua cara casar de preto e vir ao enterro de sua mãe com cores...

— Não fui eu quem escolheu as vestes — Scorpius disse sem emoção, hesitando — Mas se pudesse, teria vindo desse jeito mesmo.

Draco ofereceu-lhe um sorriso triste e deu tapinhas em meus ombros também.

— Rose... Sou muito grato a você ter aparecido. Quando.... Quando tudo isso acabar... Bem... Vocês serão, ou melhor, são um belo casal.

E então, Draco afastou-se de nós, para não o vermos chorar.

Mas eu vi.

Respirei fundo e abracei Scorpius profundamente.

— Ela teria gostado de saber que você veio — assegurei-o com toda certeza do mundo.

— Acho que sim — respondeu simplesmente.

Mas a verdade é que Scorpius estava um pouco distante de tudo aquilo. Como se ao ver tudo tão concreto, a dor não lhe pertencesse mais.

Estávamos os dois sentados na primeira fileira. E enquanto cada um dizia palavras bonitas, eu não o via esboçar reação alguma.

E apesar da dor que eu sei que ele ainda sentia, Scorpius não falava nada. Nem mesmo chorava. Apenas encarava o vazio, como se também ele houvesse deixado este mundo.

Isso me deixava completamente acabada.

Como se infinitas cordas apertassem meu coração.

Então, meio de repente, sem que ninguém pedisse ou lhe desse permissão, Scorpius se levantou, parecendo quase um morto-vivo, e se dirigiu aonde estava Astória Malfoy. Ele agachou e deslizou o polegar por sua pele fria e macia.

Com a voz ligeiramente embargada, Scorpius começou a cantar. Como se mais ninguém existisse, exceto eles dois. Scorpius e sua mamãe.

— Hakuna Matata... É lindo dizer... Hakuna Matata... Sim, vai entender... Os seus problemas. Você deve esquecer... Isso é viver... É aprender...

E aí Scorpius desabou por completo.

Foi uma cena horrorosa.

E ninguém disse nada.

Ninguém se atreveu a dizer nada.

Era só Scorpius e Astória ali.

E eu era apenas um enfeite de uma grande tragédia da qual nós todos fazíamos parte.

Não sei se agradeço a Dulce por nos trazer aqui ou se irei amaldiçoar sua geração inteira. Mas preciso aceitar que Scorpius precisava passar por isso. Ele mesmo sabia que sim.

E quem seria eu de privá-lo de amadurecer, como ele mesmo dissera?


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