Algo estranho pairava no ar.

Era impossível não sentir. Logo algo muito ruim iria ocorrer, seu coração lhe avisava.

Talvez fosse uma premonição, talvez só não visse quem não queria. A segunda opção era mais cabível. E mesmo, numa tentativa em vão, tentasse se convencer que estava enganada, sabia que não. Pensar que tudo estava bem, quando não era verdade.

Uma rajada forte e assombrosa de vento soprou do lado de fora. Tão devastador quanto os anteriores.

Já havia se habituado com o barulho, mas seu medo não. Com o passar dos segundos fôra ficando ainda mais forte. Rezava internamente para o vidro da porta agüentasse.

Nada iria ocorrer. Nada. Não adiantava pensar positivo, a verdade é que já tinha se convencido, e só esperava um sinal, um aviso.

Mas ele não vinha, causando ainda mais sua angustia.

Na companhia da solidão, se mantinha agachada com as pernas encolhidas contra o peito. Às mãos tapavam os ouvidos, abafando os sons que lhe causava tremores.

Quando sentia que não poderia mais aguentar, contava até três. Isso lhe ajudava a manter o controle, a não desabar e desatar em lágrimas.

Não poderia chorar, nem ser fraca. Não deixaria o medo conduzir suas ações. Não novamente.

Vinha sendo forte, algo parecido com isso, pelo menos.

Há manhã, igualava a noite. O céu cinza, quase negro, confundia.

Quando acordara, já estava só. Hiashi, provavelmente, tinha ido numa das muitas reuniões de negócios, que ao longo do verão, frequentara.

Nunca desejou tanto a companhia dele. Sabia que logo iria chegar. Mas esse logo, demorava muito.

1... 2... 3.

Fungou, tentando bloquear o som da ventania. Uma tentativa inútil. Tão inútil como tentar se manter calma, como tentar se convencer que tudo iria dar certo. Nada daria certo.

Soube disso ao ouvir o som, talvez tão assombroso quanto as inúmeras rajadas de vento, que lhe deu a certeza do que vinha pela frente. Do que teria de enfrentar.

O alarme era um aviso. Todos deveriam sumir do local se não quisesse lidar com a fúria da natureza.

Em Konoha, uma vez por ano, o país era obrigado a parar para treinar a melhor maneira de lidar com ocasiões como aquela. Os vulcões lá, poderia a qualquer momento entrar em atividade. Ou os terremotos, não muito habituais, poderia levar tudo à baixo.

Ambas ocasiões eram totalmente diferentes. Treinar e vivenciar algo do tipo.

No treino, não tem o medo que tinha naquele momento.

Não poderia ficar parada, esperar pelo pai, ou alguma ajuda. Tendo isso em mente, jogou de lado tudo de ruim que bloqueava seu movimentos: o medo, a insegurança, a fragilidade. Mesmo trêmula, ergueu-se, sem importar em deixar tudo para trás, levou à mão até a fechadura da porta.

Seu olhar tornou-se fixo no braço. Um pequeno desenho, feito há alguns dias, no formato de um coração cravado na pele.

O estômago revirou, as lágrimas que tanto segurava, rolou pela pele alva.

Por mais que, Hiashi, houvesse proibido ela de se aproximar deles, e até aquele certo momento havia obedecido, era diferente naquela ocasião.

Se fosse para morrer naquela ilha, aceitaria seu destino se fosse ao lado deles.

+++

Eram amores diferentes. Não havia como escolher.

Era uma decisão cruel, que lhe queimava os olhos. E ao olhá-los, os três, saberia que deveria decidir.

Não tinha tempo. Seu ato seria irreversível.

Iria apostar no coração.

Olhou ambos os lados, a garganta queimou e a necessidade de gritar cresceu...

Não havia como voltar atrás.