Benjamim

Era só o que faltava, ficar preso no mercado a essa hora da noite. E além do mais com essa louca.

— Meu Deus o que a gente vai fazer Ben? Eu tenho uma vida, não posso ficar aqui para sempre. Se bem que não seria tão ruim assim. Olha o tanto de doces. Mas em compensação tem você. Não, não nenhuma comida do mundo vale passar o resto da minha vida com você.

— Dá para você calar a boca, estou tentando pensar.

— E você pensa? - ignorei ela e tentava achar uma solução para sair dali. Mas é logico, meu celular. Procurei meu celular no bolso mas lembrei que tinha deixado com a Claire.

— Claire você está com o meu celular?  Claire? - quando olhei pra frente ela não estava mais lá - Ótimo.

Sai andando pelo mercado procurando por aquela louca.

— Bruxinha? Cadê você? Você está brava comigo? A qual é, a gente precisa sair daqui. E eu preciso do meu celular para isso. - não ouvia nem mesmo minha respiração. Essa garota sabe se esconder - Claire, eu estou falando sério - vi uma silhueta encostada perto de uma prateleira e me aproximei devagar, quando fui pegar ela de surpresa era um boneco, e logo senti uma mão gelada em meu ombro e gritei o mais alto e gay que minha voz permitiu.

Me virei e vi a Claire rolar no chão de tanto rir.

— Não sabia que acreditava em fantasmas Susie - ela disse comendo um pacote de salgadinhos como se fosse um mendigo.

— Onde você arranjou isso?

— Se você não percebeu estamos em um mercado e está cheio disso. - ela comia e o que não cabia em sua boca caia de volta no pacote de salgadinhos. - Voxe qué? - ela ofereceu de boca cheia.

— Não mesmo.

— Preciso de algo para beber. Isso é muito seco. - ela ia saindo quando segurei seu braço fino.

— Antes me empresta meu celular.

— Para que você quer seu celular?

— Para ligar para o meu pai. Pra ele buscar a gente - ela começou a vasculhar os bolsos e nada.

— Acho que deixei ele em algum lugar dessa mercado. Ops.

— Eu não acredito Claire. Pode ir procurar agora - estava pensando seriamente em arrancar seus olhos. Pois era a única coisa que conseguia ver dela naquele escuro.

— Eu não vou andar por esse mercado sozinha. Está muito escuro.

— Pra procura comida você foi né. Você pelo menos lembra por onde você passou ?

— Pelo sessão de salgadinhos... E na de balas, ai eu peguei umas. Depois nas bebidas, mas não estava com sede ai eu não peguei nenhuma. Depois nas revista... E VOCÊ NÃO SABE, saiu nude do Justin Bieber. A coisa mais linda...

— Claire foco. Onde você deixou seu celular? - acho que vou arrancar os meus ouvidos, será menos doloroso.

— Depois disso eu estava sentindo calor ai eu fui pra parte de congelados e entrei na geladeira e ai eu percebi que estava com as mãos sujas ai procurei um banheiro e achei um, ai... - ela parou de falar e ficou com cara de pensativa.

— E ai?

— Acho que já sei onde ele está.

...

Vi meu bebê boiando naquela água preta do vaso sem descarga daquela budéga.

— Você vai pegar - falei.

— Não mesmo.

— Foi você quem colocou meu bebe aí - ela me olhou estranho e quase riu. Como pode alguém num momento desses rir dessa tragédia?

— Não vai adiantar eu pegar ele - comecei a lembrar dos momentos que tive com ele e senti uma lagrima escorrer.

— Ele era meu melhor amigo, várias fotos, varias conversas, eu contava tudo pra ele, eu adorava desabafar para ele - ela segurava o riso evidentemente, mas não me importei. Estava triste demais para ligar para isso.

— Olha, está tudo bem. Você fala com o seu pai gostosão e ele vai te dar outro igual a esse ou até melhor, tá bom?! Agora é hora de se despedir.

— Nenhum outro vai superar ele. Adeus guerreiro. Nunca vou me esquecer de você.

Saímos do banheiro e ouvi um toque de celular.

— O que é isso?

— Não sei. Esta vindo de você Claire.

— De mim? Como assim de mim?

— Seu bolso. Seu celular.

— A meu celular. - ela pegou o celular dela e atendeu. - Alô?... Oi, quem é?... Minha mãe? Olha aqui você tenha respeito, eu fui muito educada perguntando quem é, e você vem falar da minha mãe?!... A, oi mãe, porque não falou logo que era você? - revirei os olhos com aquela conversa - Estou ocupada não, pode falar... Sei... Não - eu tentava falar para Claire avisar a mãe dela que estávamos presos mas ela não entendia minha mimica - Sério?... Eu posso mesmo voltar?... Ta bom mãe... Tá beijos tchau.

— Porque você não falou? - eu estava a ponto de jogar seu celular junto com o meu lá na privada de raiva.

— Falou o que?

— Que por um acaso estamos PRESOS NO MERCADO?

— Nossa que estresse. Eu esqueci Susie.

— Esqueceu? Você ficou duas horas falando com ela e eu estava tentando te avisar para falar pra ela e você deu risada.

— A era isso, achei que você estava imitando um bicho. Mas eu tenho uma notícia boa.

— Duvido.

— Deixe eu falar depois você da palpite. Minha mãe disse que brigou com o meu pai e eles se separaram e eu posso voltar pra casa porque ele não está mais lá.

— Nossa que legal - falei com ironia. Não conseguia ver seu rosto direito por causa do escuro. Mas vi que seus olhos estavam arregalados olhando além de mim.

— Be-ben, acho q-que tem um fantasma vindo. Bem atrás de você - já estava cheio das brincadeirinhas dela.

— Não estou afim de brincar agora Claire. Liga de volta para sua mãe e...

— BEEN - ela gritou e eu decidir virar pra ela parar de palhaçada. Mas vi que ela estava falando a verdade. Um ser bem magro e com uma capa branca flutuava vindo em nossa direção.

— Corra Claire! Corra e salve sua vida - corri como se minha vida dependesse disso. E parece que depende.

...

Eu sentia meu coração na garganta de tanto que corria. Seguia a silhueta da Claire que corria pra não sei onde. Até ver ela se esborrachar no chão tropeçando nos próprios pés. Mereço uma coisa dessas. Passei direto por ela como se fosse uma corrida e ergui os braços como se tivesse vencido. Só então me toquei que o fantasma ainda estava atrás de nós. Voltei a correr e vi a Claire me alcançar mancando.

— Acho que não vou conseguir. Estou ferida. Sinto que é o meu fim. Vá sem mim. Vá e salve a sua vida. - ela falava dramaticamente.

— Ta bom. - falei e acelerei os passos.

— Ei essa é a hora em que você fala que nunca me abandonaria - parei.

— Até parece que vou ariscar minha vida - estávamos parados discutindo quando senti uma respiração quente em meu pescoço.

— Quem são vocês? - uma voz rouca de fantasma falou atrás de mim e gritei e pulei no colo da Claire. Que mesmo machucada me segurou firme. Nem tanto porque ela tava tremendo de medo.

— O que você quer da gente seu fantasma? - a Claire falava quase chorando. - Você quer nossa alma pode levar. Se bem que a do Ben não vale lá essas coisas. Mas você pode levar o corpo dele pra você e seus amigos fantasma se divertirem. Mas por favor me deixe ir pra casa.

— O que você esta falando garota? - o tal fantasma tirou sua capa e vi que o fantasma era um homem.

— Quem é você? - perguntei confuso quando vi patins nos seus pés.

— O fantasma seu burro. Não liga não meu amigo aqui é meio lento - Claire me soltou no chão me fazendo bater a bunda no chão com toda força.

— Eu não sou fantasma crianças. Eu trabalho e moro aqui.

— Trabalha assustando os clientes é? - perguntei me levantando a passando a mão onde doía.

— Não, eu sou repositor de dia e de noite eu fico aqui. Eu não vim assustar vocês. Eu estava dormindo ai comecei a ouvir vozes e vim ver o que era já que o mercado fechou e como está frio eu vim de lençol.

— E porque o senhor estava flutuando? - a Claire só falava coisa estupida.

— Porque causa dos patins inteligente - falei e ela só notou agora os patins.

— E porque os senhores estão aqui?

— Acabamos ficando presos. Será que o senhor poderia abrir pra gente?

— Posso sim.

— Mas Ben, e as compras?

— Esquece as compras. Depois meu pai compra.

— Mas e minhas balas?

— Mais balas do que você já comeu?

— Vocês comeram aqui? - o fantasma... Digo o homem do mercado perguntou com aquela voz de morto.

— Eu não, ela - apontei pra Claire sem pensar duas vezes.

— Então vocês terão que pagar. Se não vocês não saem.

— Susie, não tenho dinheiro não.

— Eu te odeio Claire - falei pegando a carteira do bolso.

— Eu te espero na saída - saiu rebolando e pegando alguns pacotes da biscoito que o homem olhou bem pra poder cobrar certinho de mim.