InFamous: Sombras do Passado escrita por Stravinsky


Capítulo 4
Feridas do passado




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O Centro de Seattle. Manhã, por volta das nove horas. De acordo com a mensagem recebida por Ben, o horário de trabalho do doutor Nicholas era entre as noves e as dez, então Delsin apenas esperava que o cientista saísse de casa para poder tomar conta de Tess. Ao avistar Nicholas saindo de casa em seu jaleco branco e levando uma grande maleta cinza, o condutor pula do topo do Obelisco Espacial e se segura em um galho de árvore antes que atingisse o chão. Nicholas tira as chaves do carro do bolso e percebe Delsin chegando, com folhas nas roupas.

         - Bom dia, doutor.

         - Delsin! Fico feliz em ver que você apareceu!

         - Eu prometi cuidar da Tess, não é? Só espero que ela não atire em mim.

         - Atirar? Não se preocupe, garoto! Ela só usa a arma em situações de emergência.

         - Esse é meu medo.

         - Ah! Você enfrentou coisa pior, rapaz! - ele liga o carro. - Preciso ir, não posso me atrasar no primeiro dia de trabalho.

         - Ben disse que você foi fuzileiro e depois se tornou cientista.

         - Sim, ouviu certo. - ele entra no carro, abaixa a janela e continua a conversar com o condutor. - Tenho mestrado e doutorado em física teórica.

         - Mas a Tess não tem nenhum gosto pela ciência?

         - Um pouco, mas não muito. Ela puxou a mãe, que era engenheira militar. Prefere construir e reparar coisas do que fazer experimentos, como eu.

         - Bom... É melhor você ir indo. Não quero o atrasar.

         - Se precisar de ajuda, me ligue. E boa sorte. Tess não é muito querida com pessoas que ela tem algo contra.

         - É, eu percebi isso ontem. Boa sorte no trabalho, doutor.

O carro vai saindo do estacionamento, indo para a rua, onde Delsin apenas espera o perder de vista para suspirar. Ok, a primeira coisa era manter a calma. Verdade que Tess não era uma pessoa fácil, mas ele só precisava ser calmo e tentar fazer amizade com a garota... E talvez descobrir o que ela havia contra ele. A última coisa que ele esperava era que recebesse uma chamada de alguém. E ele estava recebendo um telefonema de Fetch agora mesmo. O condutor tira o celular do bolso e atende, rapidamente, querendo se livrar disso o mais rápido possível.

         - Fetch, o que é? Eu estou com pressa.

         — Pressa? Eu estou com pressa! Cadê você? - perguntou a condutora, pelo telefone.

         - Como assim “cadê você”?

         — Nós tínhamos combinado de ajudar o pessoal no Obelisco Espacial!

         - Quando? - ele olha ao seu redor, esperando não encontrar seus amigos.

         — Como quando? - ela parecia irritada. - Semana passada! Antes de você ter aquele crise louca sobre quem tinha bagunçado o seu apartamento!

         - Ah! Aquela crise! Hã... Sabe Fetch, acho que você e o Eugene podem se virar sem mim, porque... Porque eu tenho outro compromisso agora.

         — Delsin, isso está marcado desde a semana passada!

         - Eu sei! Me desculpe, mas é que esse outro compromisso surgiu ontem! Eu prometo que na próxima vez eu vou!

         — Você promete?

         - Prometo! Por todos os meus poderes, eu prometo!

         - Ok, eu vou deixar você se safar só dessa vez.

         - Obrigado! Depois a gente conversa mais tarde lá em casa.

         - E cadê o Delsin?

Fetch desligou o celular e olhou para Eugene, que havia feito a pergunta. Sentado em cima da cerca que ficava em envolta do ponto turístico de Seattle, o condutor apenas encarava Fetch, esperando que ela lhe desse uma resposta.

         - Ele não vem. - ela disse, colocando o celular no bolso. - Disse que teve um outro compromisso imprevisto.

         - Outro? Isso é raro do Delsin. Ele nunca falta nenhum compromisso com a gente!

         - Pensando bem, é verdade.

         - Tem duas opções para isso. Ou ele está escondendo algo de nós ou ele realmente não está afim de vir nos ajudar.

         - Conheço o D. Ele não ficaria dormindo enquanto nós estamos aqui, limpando e arrumando a bagunça que o D.U.P. deixou.

Eugene deu de ombros e deu um pulo, descendo da cerca.

         - Te vejo no topo, Fetch.

Se transformando em um anjo, Eugene começa a subir a torre, deixando Fetch refletir sobre a conversa com Delsin. Ela ainda sentia que isso tinha algo a haver com o fato de Ben ter conversado com o condutor aquele dia. Mas a dúvida era, será que isso era tão importante para Delsin a ponto de ele “abandonar” seus amigos? Ainda com essa dúvida na cabeça, a garota começa a subir a torre, deixando seu rastro de neon.

O condutor iria bater na porta, mas parou ao pensar que talvez Tess não a abrisse, já que ela ainda tinha ódio dele. Ele percebe a lareira que ainda estava em pedaços e se transformando em fumaça, Delsin entra no lugar, percebendo que a tinta cinza já estava por toda a sala. A cozinha tinha azulejos por toda a parede, sendo dividida por alguns balcões e várias caixas de mudanças, enquanto havia um sofá coberto por um pano branco no lugar, junto com uma luminária quebrada e as várias latas de tinta. O condutor caminha pelo resto do lugar, vendo as escadas para o segundo andar e ao seu lado, uma porta de correr que dava para o jardim arruinado. A família teria muito tempo para arrumar tudo aquilo. Subindo as escadas pela primeira vez, encontra um andar de tamanho médio, com quatro portas, sendo que de trás de uma delas, podia se ouvir alguém cantando alguma música que ele não reconhecia. Caminhando devagar até a porta entreaberta que vinha o som, ele vê Tess pintando o quarto de vermelho, faltando ainda um canto do lugar. Delsin entra no quarto e admira tudo, vendo uma cama de casal, uma bancada com um notebook ao lado, a porta para o banheiro e outra para o closet e uma prateleira cheia de livros.

         - Nossa. - disse o condutor. - Belo trabalho.

Se virando de costas rapidamente, ela olha para Delsin, vendo que seu cabelo continuava preso em um rabo de cavalo, mas ela havia tirado o jaleco e colocado de volta o fino casaco roxo, podendo se ver que ela tinha duas placas de identificação penduradas no pescoço. Deveriam ser lembranças da época militar.

         - Como você entrou aqui? Meu pai tranca a porta e só temos duas chaves.

         - Sua lareira está em pedaços, eu apenas usei meu truque de fumaça para passar.

Ela riu sarcasticamente.

         - Isso me lembra que o pai precisa consertar aquilo.

         - Bom, eu vim cuidar de você e enquanto ele não conserta, eu vou passar por ali todos os dias.

         - Eu não sou criança como você, Delsin. Não preciso ser vigiada.

         - Então culpe seu pai, porque ele me pediu isso e eu sempre cumpro uma promessa.

Bufando negativamente, ela larga o pincel perto da lata de tinta e cruza os braços, se virando para a parede recém pintada. Enquanto isso, o condutor olha o quarto da garota, vendo os porta-retratos que haviam pelo lugar, tendo dois ao lado do notebook e outro na mesa de cabeceira, onde havia uma mulher bem parecida com Tess, junto com um possível vaso de flor vazio. Apenas os cabelos pretos a diferenciava da garota.

         - Ei. - Tess olhou para o condutor. - Quem é essa? Parece com você.

         - É minha mãe. Normalmente as filhas se parecem com as mães.

         - E... E o que aconteceu com ela? Ela é separada do seu pai?

         - Ela morreu no meu parto.

         - Sinto muito.

         - Fazer o que? É a vida.

Ela voltou a olhar para a parede e o condutor percebeu que ela havia ficado estranha. Talvez porque ela havia lembrado de sua mãe que morreu. Delsin respirou fundo e decidiu abrir o jogo.

         - Eu posso perguntar algo? - ela se virou e balançou a cabeça positivamente. - Você tem algo contra os condutores?

         - Não é contra os condutores que eu tenho algo contra. - ela apontou um dos porta-retratos ao lado do notebook. - Vê aquele cara comigo na foto? - o condutor olha a foto que Tess estava abraçada a um militar. - Ele é condutor e meu melhor amigo.

         - Então porque me demonstra que você odeia os condutores?

         - É o que você presume. - Tess afirmou. - Eu tenho algo contra você.

         - Eu? Mas nós recém nos conhecemos! O que eu fiz para você?

         - Você prendeu a Augustine e acabou com o D.U.P.!

         - E o que isso tem a haver com você?

         - Eu conheci ela! Ela foi minha colega no exército! Ela era uma boa pessoa e você a fez passar como uma criminosa!

         - E você sabe o que ela fez com os condutores? Ela os prendeu por sete anos em uma prisão contra a vontade deles!

         - E se eles ficassem livres no mundo, os militares iriam os capturar, os matar e até aplicar testes! Delsin, eu vi como os cientistas aplicavam os testes nos condutores e acredite em mim, você não vai querer saber o quão doloroso é.

Ele ficou em silêncio, a encarando, enquanto ela fazia o mesmo.

         - Ela matou meu irmão. - a garota acabou dando um passo para trás, estando um pouco assustada. - Ainda acha que ela é tão boa assim?

Dessa vez, foi Tess que desviou o olhar, colocando ambas as mãos nos bolsos da calça. Delsin cruza os braços e se vira de costas, vendo que a morte de seu irmão Reggie ainda o assombrava depois desses meses. A garota tira as mãos do bolso, as junta e observa Delsin, vendo que isso havia mexido com ele. Parecia que ambos haviam tocado em feridas do passado, que agora tentavam esquecer, mas por algum motivo, isso ainda os assombrava.

         - Me desculpa. - o condutor se dá conta do que ela havia falado e se vira para Tess. - Eu sei que não começamos bem isso, mas... Mas é que... É que...

         - É que?

Ela suspira e senta na cama, esfregando a testa.

         - Eu estou cansada de ficar parecendo forte na frente de todos. Já fazem oito anos que eu preciso ficar assim.

Delsin senta ao lado da garota na cama e coloca a mão em seu ombro, tentando a acalmar.

         - Você não precisa parecer forte na minha frente. Foram os militares que sempre te obrigaram a ser assim?

         - Não, eu acabei sendo assim com o tempo. A Brooke ajudou muito eu e o meu pai em Washington, você não faz ideia. Mas ela... Ela... Como ela matou seu irmão?

         - A filha da mãe criou concreto nos pés dele e destruiu a ponte onde eu e ele estávamos. - a garota parecia chocada. - Eu tentei salvar ele, mas... Na verdade foi ele quem me salvou. Se o concreto tivesse me alcançado, talvez o D.U.P. ainda estaria em Seattle.

Tess cruza os braços e fica pensando, talvez analisando o que o condutor havia acabado de falar. Delsin retira sua mão do ombro da garota e a observa, vendo as boas semelhanças que havia entre ela e o pai, começando pelos longos cabelos ruivos. Até que ele nota as placas de identificação que estavam penduradas em seu pescoço e tenta as ler.

         - “Tess Evans Wright”? Você tem Evans no nome?

         - É por parte de mãe. - ela riu. - E você? É só Rowe mesmo?

         - É sim e até que eu prefiro assim mesmo. Já não basta meu nome ter sido tirado de um filme faroeste.

Ambos riram e ficaram se encarando, até que Tess se levanta, pega o celular ao lado do notebook e se vira para o condutor.

         - Está com fome? Pai deixou algo na geladeira antes de sair.

Ele ri e se levanta da cama em um salto.

         - Por acaso você tem cerveja?

         - Cerveja? Não acha que está abusando da minha hospitalidade?

         - Ei! Foi você que ofereceu e eu perguntei. E perguntar não machuca.

Eles riram novamente e Tess abriu a porta do lugar, sinalizando para que o condutor fosse para o corredor. Assim que Delsin já havia descido as escadas para a sala, Tess observa o quarto e olha para o retrato de sua mãe.

         - Nova vida, mãe. E espero que agora seja melhor.


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