InFamous: Sombras do Passado escrita por Stravinsky


Capítulo 11
O Protetor Condutor




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          - Condutora? Condutora de que?

         - Eu sou que nem você. Eu sou diferente e especial. Você absorve os poderes e eu os apago permanentemente.

         - Apaga? - ele se lembra da conversa que teve sobre o condutor de vidro e ex-namorado de Tess, Jonathan. - Então quando você disse que seu namorado tinha perdido os poderes...

         - Exato, fui eu quem tirou os poderes dele. De que outro jeito você acha que aquilo poderia acontecer? Como você acha que seus poderes sumiram aquele dia? Como você acha que meu arranhão sumiu tão rápido? E porque você acha que eu não quis apertar sua mão no dia em que nós nos conhecemos?

As respostas estavam óbvias, óbvias demais. Tess... uma condutora?

         - Eu não... Eu ainda... - enquanto Delsin falava, Tess o encarava com raiva. - Eu ainda não consegui entender.

         - Você é uma esponja de poderes e eu sou uma borracha. Quando eu absorvo os poderes, eles vão para o meu sangue e em seguida, meu organismo os trata como uma doença. Fico de cama por uma semana até que os poderes tenham sumido completamente e então... O condutor volta a ser uma pessoa normal. Como o Jonah acabou sendo.

         - Foi por isso que nós dois passamos mal aquele dia?

         - Por algum motivo, sim. Eu aprendi a controlar meu poder, assim como você. Mas você querendo dançar comigo... E me provocando... Me fizeram perder o controle. Foi por isso que quando você saiu de casa, seus poderes sumiram temporariamente. A absorção não foi completa, por isso seus poderes voltaram. Caso ficássemos de mãos dadas mais tempo... Eu temo que você nem seria mais um condutor.

Delsin continuava confuso. Com as mãos na cabeça, ele caminhava para os dois lados, tentando procurar mais respostas do que já tinha. Mesmo que as coisas tivessem sentido agora, ainda tinha coisas que ele não entendia.

         - E porque... Porque... - o condutor tentava formular uma frase. - Porque os militares estão atrás de você?! Eles deveriam estar lhe ajudando!

         - Diga isso aos Campbell! Eu tinha 15 anos quando isso aconteceu! Você acha que eu iria entender tudo? Eles me estudaram por um ano, fizeram centenas de testes em mim, queriam saber o que eu havia feito com o poder do Jonah! E nada dava resultado! Nunca conseguiram tirar isso de dentro de mim! Eu não pude ver meu namorado e meus amigos por um ano! - a garota suspira e derrama uma lágrima. - Vincent Campbell, o antigo general do meu pai, disse que como os testes não havia dado resultado, ele queria me manter na base e me usar como uma arma para os condutores.

         - Eliminar quantos condutores pudesse e isso iria acalmar o povo raivoso, junto com o estado pressionando para os militares acharem um jeito de acabar com a ameaça.

         - Eles nunca pensam em conversar ou se as pessoas que eles querem acabar possuem sentimentos ou uma vida. Foi a ideia do meu pai de fugir e a Augustine nos ajudou. Ela me deu o número da frequência que o exército usava e assim, eu saberia aonde eles iriam atacar e eu e meu pai poderíamos fugir. Ben nos deu cobertura e eles só deram por nossa falta uma semana depois.

         - E depois disso vocês ficaram se mudando de cidade em cidade.

         - Ficávamos, no máximo, dois anos em cada cidade, nunca passamos disso. Sempre dava tempo de fugir assim que eu ouvia a frequência e avisava meu pai que o exército havia nos encontrado. Foram oito anos indo de cidade para cidade, sempre perdendo as esperanças. As únicas vezes que eles conseguiram nos atacar foram em Las Vegas e... - ela encara Delsin. - E agora aqui, em Seattle. Eu fui uma idiota pensando que poderia ter uma vida aqui! Que poderia viver como uma pessoa normal!

         - Você tem esse direito! Você não pode passar a vida assim! Porque eles continuam te perseguindo mesmo depois de tanto tempo?

         - Eles não vão parar até que eu volte para Washington! Eu sou militar, preciso os servir até o fim da minha vida e sou obrigada a fazer tudo o que eles mandam! Eu virei uma fugitiva e eles nunca vão parar! E eu sei que os Campbell são loucos o suficiente para me perseguir até o fim do mundo se preciso.

Delsin coloca as mãos atrás da cabeça e volta a andar de um lado para o outro, tentando assimilar o que havia acabado de ouvir. Tess olha ao seu redor, imaginando o que teria o que fazer a partir daquele dia e se lembra de algo.

         - O que eu estou fazendo? - Delsin olha para a garota. - Eu deveria estar arrumando minhas coisas agora! Eu e o pai precisamos estar na estrada o mais rápido possível!

         - Como assim? Vocês não vão embora! Não agora!

         - Eu não tenho opção, Delsin! Logo eles podem mandar maiores esquadrões! Maiores, mais fortes e até trazer os tanques! Se não sairmos logo de Seattle, nem mesmo todos os condutores da cidade vão poder me ajudar!

Tess sobe as escadas correndo e volta para seu quarto, enquanto Delsin a segue, desesperado e tentando encontrar alguma desculpa para que a garota não fosse. Vendo a militar puxar uma mochila de debaixo da cama e começando a guardar várias coisas, o condutor resolve enrolar mais um pouco, até que encontrasse uma justificativa. Ele não iria deixar a garota que ele amava ir embora.

         - Então era por isso que seu pai pediu para eu te vigiar? - Delsin se encostou a porta e a observa arrumar a mochila.

         - Depois do que aconteceu em Las Vegas, meu pai queria ter a certeza de que haveria alguém do meu lado caso algo acontecesse, mas Ben estava preso pelo D.U.P. quando estávamos em Portland e quando foi libertado... Era tarde demais.

         - Mas ele foi libertado há três meses e vocês chegaram há duas semanas!

         - Ainda sim, meu pai pensou que isso poderia atrair os militares se ele fosse direito para Portland.

         - Tess, seja razoável por um minuto! Vocês não podem sair de Seattle assim do nada e ainda hoje ou amanhã!

         - Podemos e vamos! Assim que meu pai chegar aqui em casa, ele vai fazer as malas dele e já de madrugada vamos estar na estrada. Tenho que achar algum lugar longe daqui e reservar alguma casa. Talvez no Canadá! O pessoal acabou de voltar de lá...

         - Tess, me escuta...

         - Não! Me escuta você! Não tenho tempo para ficar discutindo, tenho que sair daqui!

         - Tess! Por favor! Me ouve! - o condutor agarra os ombros da garota e a encara seus olhos azuis que tanto o encantava. - Olha, eu entendo que você faz isso há anos e que você acha que isso é a única solução desse problema, mas pense um pouco! Sumir do mapa por, talvez, dois anos não vai adiantar de nada!

         - O que você sugere então? Quer que eu fique aqui como se não tivesse ninguém atrás de mim e do meu pai?

         - Quer a verdade? Eu te falo a verdade! - o condutor suspira. - Isso não adianta, Tess! Eles são militares! Vão encontrar vocês mesmo se estiverem no Japão! Você precisa se defender!

         - E o que eu acabei de fazer? Agora que eles sabem que eu estou aqui, vão atacar a cada semana, mais e mais fortes. Até que em algum momento, eu tenha que ceder e ir com eles, porque eles sempre conseguem o que querem. Vincenzo sempre consegue o que quer.

         - Vincenzo? Vincenzo Campbell?

         - É, Secretário do Exército dos Estados Unidos e irmão do Vincent. Você conhece ele?

         - Era ele que estava no Obelisco ontem! Então ele se referiu a você!

         - A mim? O que ele falou?

         “Senhor Rowe, existem pessoas normais e existem pessoas que possuem algo a mais, como você e os condutores. Essas pessoas que possuem algo a mais estão sendo procuradas e elas tem algo que pode ajudar a todos, inclusive os condutores.”

         - Pessoas que possuem algo a mais... - Delsin se lembrava da conversa. - O que você sabe sobre os Campbell?

         - Praticamente tudo. Vincent e Vincenzo são irmãos gêmeos e já de idade. Os dois são casados, tem netos, Vincent foi o chefe do meu pai e atualmente é o Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais e o Vincenzo é o Secretário do Exército. Eu falava que o Vincent era meu tio, já que eu praticamente cresci do lado dele, mas depois de tudo, ele se tornou um monstro para mim.

         - Eu acho que vou até Downtown falar com eles...

         - Nada disso! Você entrou no jogo e agora o Vincent tem uma desculpa para poder te prender! Não vai arrumar mais briga com o Vincenzo ou qualquer outro militar!

         - Com tudo isso acontecendo e você ainda querendo ir embora? Posso muito bem ir até lá e os tirar de Seattle por tudo isso!

         - Não é seu assunto, Delsin!

         - Agora é sim! Tess, mesmo que você seja condutora, você ainda é uma pessoa normal, alguém que merece ter uma vida! Eles não podem te tratar como uma arma!

Tess suspirou, cruzou os braços, encarando Delsin. Ele tinha razão, mas pelo outro lado, a única coisa que Tess tinha na cabeça era fugir. Fugir de seus problemas nem sempre funcionava, porque eles sempre achavam um jeito de a encontrar. E agora, seu principal problema era os militares, que nunca haviam desistido dela e seu principal objetivo era a capturar e a trazer de volta, custe o que custar.

         - E o que você quer que eu faça, Delsin?

         - Olha, Seattle é a cidade que mais tem condutores do mundo. Você tem o pessoal do Canadá, tem o Ben, tem a Fetch e o Eugene... E a mim agora, queira ou não. - ambos riram. - Eu prometo, por todos os meus poderes, que não vou deixar ninguém te levar, desde que você não fuja de Seattle. E mais, eu sei que você não quer que eu arrume mais briga com os Campbell, mas eu vou expulsar os militares daqui. Eles vão se arrepender de ter vindo te procurar e ter te atacado.

A garota pensa por algum momento e se lembra de tudo o que havia passado. Foram longos oito anos de fugas à noite, amigos perdidos e tudo em uma grande corrida. Era hora de por um fim nisso e ter uma vida. A vida que ela esperava ter com seu pai e alguém que ela amava. E felizmente, esse alguém que ela amava estava disposto a defender de tudo o que viesse no seu caminho.

         - Ok, Delsin. - mesmo relutante, Tess suspira. - Eu vou ficar em Seattle então, desde que você esteja ao meu lado todos os dias e me defenda de mais alguma batida militar que acabe acontecendo. Mas eu aviso, caso algo muito grave aconteça, eu simplesmente vou pegar minha mochila e ir embora com o pai.

         - Tenho certeza de que isso nunca vai acontecer.

 

         - Quem? - perguntou Vincenzo, levantando o olhar do jornal.

         - Um tal de Rowe. - disse o seu assistente. - O tal condutor que destruiu o D.U.P.

         - Delsin Rowe? - perguntou novamente Vincenzo. Ele se levanta e vai caminhando em direção da porta. - O que ele quer agora?

A base militar em Downtown não era grande, mas era o suficientemente grande para trazer alguns dos testes e prisioneiros. Vincenzo já havia se acostumado com a troca rápida de bases durante os oito anos atrás dos Wright, mas a base de Seattle era a melhor até agora. Pelo menos o D.U.P. havia deixado algo para os militares após sua queda. Enquanto andava pelos corredores, ele chega na entrada, onde era o grande pátio e estacionamento para os tanques, caminhões de transporte e veículos aleatórios, e avista um trio não muito longe. Meio irritado pela notícia que havia recebido pela manhã e que estava relacionada com Delsin, Vincenzo decide respirar fundo, arrumar o terno e ir em direção ao trio. Ao chegar perto, Delsin, Fetch e Eugene se viram para o secretário, o encarando.

         - Delsin! É um enorme prazer o ver novamente! - Vincenzo cruzou os braços e os colocou nas costas. - No que posso ajudar?

         - Pode me ajudar talvez saindo de Seattle! - disse Delsin, friamente.

Alguns soldados ouviram a fala de Delsin e o observaram, enquanto Vincenzo continuava em sua mesma pose, apenas ouvindo o condutor.

         - Perdão? - perguntou Vincenzo.

         - Isso mesmo que você ouviu, Campbell. - Delsin cruza os braços. - Você até parecia amigável para mim, mas depois de tudo o que aconteceu nesta manhã...

         - Então você realmente estava na casa dos Wright. - falou Vincenzo, sem trocar o olhar.

         - Sim, eu estava e defendi a Tess de tudo o que vocês mandaram para tentar a sequestrar! - gritou Delsin.

         - E provavelmente, ela já deve ter contado a dramática história dela de que ela é a vítima e nós somos os bandidos, sendo que ela e o Nicholas vivem fugindo de todas as batidas militares que fazemos... - disse Vincenzo. - E que não a deixamos viver como ela quer, sendo que queremos a colocar em uma base e a usar como arma. Foi isso? Ela contou a mesma história de sempre? E você caiu nela?

         - Do que você está falando? - perguntou Fetch.

         - Delsin, você realmente acha que somos os bandidos? - perguntou Vincenzo, mostrando tudo ao seu redor. - Eles são mal-agradecidos e não se preocupam com os outros. Se eu tivesse um poder como a Tess tem, eu não estaria fugindo, apenas pensando em mim mesmo, estaria junto com os militares, ajudando e protegendo quem realmente precisa! Livrando o mundo do terror!

         - Você está se referindo aos condutores como terror? - perguntou Eugene.

         - Me escuta, Campbell... - Vincenzo não parecia ter se sentido ameaçado com as palavras de Delsin. O condutor aponta um dedo na direção do secretário. - Tanto os militares quanto o D.U.P. e nem ninguém nesse mundo pensou que nós, condutores, não somos os vilões!

         - Não são? - perguntou Vincenzo. - Você chegou a conhecer Cole MacGrath? Você viu o que aconteceu em Empire City? Ele foi um dos mais poderosos condutores do mundo, destruiu cidades, matou pessoas e você vem me dizer que vocês não são os vilões?

         - Cole MacGrath foi um herói! - gritou Fetch, chamando a atenção dos soldados ao redor do lugar. - Ele salvou o mundo de alguém que poderia ter acabado com tudo!

         - Ora, por favor! - disse Vincenzo, olhando para o alto. - Querem entrar com o tópico de mocinhos e vilões, sendo que vocês estão defendendo criminosos!

         - Criminosos? Você fala da Tess e do Nicholas como se eles tivessem feito algo terrível, sendo que eles estão tentando apenas ter uma vida! - disse Delsin, irritado.

         - Sim! Eles fizeram! Eles tiraram a chance de os militares acabarem com a praga que chamamos de bio-terroristas! - disse Vincenzo. - Agora o mundo continua infestado deles e não podemos fazer nada, já que essa cidade os protege!

         - Agora chega! - gritou Delsin, completamente alterado.

Assim como Ben, Delsin agarra Vincenzo pela gola do terno, fazendo com que os soldados pegassem suas armas e apontassem para o condutor e Fetch e Eugene, se sentirem ameaçados pelos rifles. Eram muitos contra eles e talvez eles não iriam viver para contar a história. Mesmo estando no ar por Delsin, Vincenzo ria da sua situação.

         - Isso, me machuque... - o secretário ria. - Ou melhor, me mate... E o meu irmão vai ter mais um motivo para te prender ou matar. E então Seattle vai ser dele...

Delsin sentiu a mão de Fetch em seu ombro, lhe puxando fracamente para trás, até que o condutor de fumaça largou o secretário ao chão e foi para trás. Vincenzo arrumava o terno e cabelo, enquanto os soldados abaixavam as armas e os condutores se olharam.

         - Agora quem vai lhe dar um aviso sou eu, Vincenzo... - disse Delsin, apontando um dedo em sua direção. - Se chegar perto da Tess e do Nicholas, ou até mesmo mandar outra equipe ir atrás deles, eu juro que vou fazer o mesmo que eu fiz com o D.U.P., colocar vocês dois na cadeia e nunca irei me arrepender.

O condutor deu alguns passos para trás, olhou para seus colegas e o trio saiu voando da base dos militares. Assim que os condutores estavam fora de vista, o assistente do secretário veio correndo ao encontro do chefe, enquanto Vincenzo continuava a arrumar o terno.

         - Senhor Vincenzo, o senhor está bem? - perguntou o assistente.

         - Louis, ligue para meu irmão e diga que encontramos os Wright. - falou Vincenzo, enquanto limpava o terno. - E também que está na hora de ele vir para Seattle, trazendo o garoto.

         - Garoto, senhor? - perguntou o assistente Louis, estranhando a fala de seu chefe.

         - Só fale isso, ele vai entender! - gritou Vincenzo.

Enquanto o assistente corria de volta para dentro do lugar, Vincenzo observa os soldados pegarem suas armas e voltarem a andar pela base. Parecia que suas chances de trazer Delsin Rowe para seu lado haviam terminado e agora era ele contra os condutores. Não que os militares não tivessem chance, mas porque Rowe estava apaixonado por Tess, dava para ver em seus olhos. E não havia como competir com o amor, disso ele estava certo.

         - Parece que você tinha razão, meu irmão. - Vincenzo falava consigo mesmo. - Condutores são um bando de problemas, não importa qual lado eles estejam.


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