Primaveras escrita por Melli


Capítulo 21
Capítulo 21




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Em uma daquelas tardes chuvosas, onde todo mundo acha  que não se tem nada pra fazer, a vovó mais legal do mundo vem fazer uma visita. Há pouco tempo, mamãe havia arrumado um emprego de secretária em um consultório médico, porque ainda estavamos passando um pouco de sufoco com as ultimas prestações do apartamento e dos móveis, e ela achava que o papai sozinho não daria conta de colocar o dinheiro em casa. Naquele dia eu não tinha aula na escola, por este motivo vovó  Savannah estava ali para que eu não ficasse sozinha em casa.  Mamãe trabalhava no período da tarde, no horário em que eu estava na escola e isso a fez ficar mais tranquila, porque ela não gostava que eu ficasse sozinha no apartamento. Estava quase dando a hora da mamãe chegar em casa, quando vovó serviu a janta. Mas o que seria aquilo no prato?

— Vamos, você tem que comer! – Ela me entregava uma tigela cheia de um caldo vermelho.

— O que é isso? – Perguntei.

— É sopa de tomate, cenoura e carne. Olha, a vó até colocou macarrão de letrinhas.

— Mas eu não gosto de tomate... Nem de cenoura. – Fiz uma cara de nojo.

— Como pode dizer isso se nunca comeu? É só experimentar! Eu garanto que você irá gostar.

— Mas vó... Eu quero outra coisa. Outro dia quando eu não comi aquela negócio de batata, você fez um pratão de bife com batata frita pra mim.

— Hoje vai ser diferente. Sua mãe disse que você está precisando se alimentar melhor, porque está começando a ficar doente. Vai, coma! – Ela Colocou a tigela em minhas mãos.

— Mas eu não quero isso...

— Tudo bem, quando a sua amiguinha ligar querendo brincar com você, digo que está de castigo porque não comeu.

— Mas vó...

— Mas vó nada! vamos, Amellie... – Com ar furioso, sentou-se no sofá e terminava o tricô.

Eu olhava para aquele caldo vermelho em que boiavam macarrõezinhos com as letras do alfabeto e ficava com um certo arrepio. Aproximei a tigela do nariz para sentir o cheiro, e até que não era dos piores.  Coloquei bem pouco na colher e a aproximava pouco a pouco de minha boca até sentir o vapor quente que saía dali.

— Ai!

— Cuidado, está quente. Tem que assoprar. – Vovó dizia sem desgrudar os olhos do tricô.

— Tá.

Assoprei a sopa como se assopra uma velinha de aniversário que não quer apagar. E o resultado? Acabei sujando a pequena mesa de centro que ficava na sala, a qual eu estava fazendo minha refeição.

— Vó...

— Sim? – Desgrudou os olhos de sua produção.

— Sujou aqui...

— Tudo bem, já volto com um pano. – Foi para cozinha.

Após limpar a minha baguncinha, vovó voltou ao seu tricô, e eu a luta incansável de tentar tomar pelo menos uma colherada daquela sopa estranha. Assoprei delicadamente e levei uma pequena quantidade á boca. O gosto não era tão ruim, mas para mim era estranho, porque não conseguia sentir gosto de carne e porque nunca tinha tomado algo como aquilo.

— Sua mãe era igualzinha a você... – Vovó sentou-se ao meu lado.

— Porque?

— Porque também não gostava de comer certas coisas, mas com o tempo ela aprendeu. E aí, gostou da sopa?

— Não muito...

— Coma tudo, sua mãe me ligou hoje de tarde e disse que trará uma surpresa quando chegar!

— Uma surpresa?

— Sim! Ela disse que você vai gostar muito!

— Então eu vou comer!

 A surpresa me deu uma motivação pra comer, e mesmo não gostando muito da sopa, tomei metade da tigela. Ao ver a quantidade de sopa que tomei, vovó me deu um pedaço de pudim, que comi feliz da vida, não me aguentando de felicidade ao saber que eu teria uma surpresa. Fizemos pintura em tela, dobraduras de papel e casinhas de palito de sorvete até a hora em que mamãe chegou.

— Oie, boa noite! – Mamãe abriu a porta.

— Mããããe! – Corri para abraça-la.

— Boa noite filha, como foi seu dia no trabalho? – Quis saber vovó.

— Hoje foi tranquilo, não tive tanto o que fazer. E aqui? Está tudo bem?

— Está sim. Melli tomou sopa de tomate e cenoura hoje!

— Olha, mas que legal! A comida da sua avó você come, não é sua malandrinha?

— Sim! A comida da vovó é gostosa! Mas a sua também!

— Fizemos bastante coisa hoje, e depois da janta ela até pintou um quadro para você.

— Pelo jeito se divertiu com a sua avó, não? Pode levar ela pra morar com você, tá, mãe? Hahaha – Brincou.

— Nããão... Quero ficar aqui. – Abracei minha mãe.

— Mas porque? Não disse que queria voltar pra fazenda? – Vovó estendia os braços para que eu fosse com ela.

— Meus amigos vão ficar sem eu aqui, eles ficariam tristes se eu fosse embora...

— E eu? Acha que não ficaria triste sem você aqui em casa? – Mamãe me olhava de forma carinhosa e acarinhava minha cabeça.

— Ficaria... – Olhei para baixo e vi uma enorme sacola rosa claro enfeitada com laços de cetim de cor branca. – O que é isso mãe?

— Isso é pra você! – Ela me entregou.

— É uma boneca?

— Não. Pode abrir!

Tirei de lá de dentro um collant de cor rosa bebê, seguido de sapatilhas e meia calça da mesma cor. Tinha também uma pequena saia branca e um lacinho de cabelo repleto de pequenas borboletas.

— Oba, agora tenho fantasia de princesaa!

— Não filha, isso é roupa de bailarina!

— Aaah sim. Eu gostei mãe, obrigada!

— O que você acha de fazer aulas de ballet?

— Não quero! – Emburrei.

— Mas porque não? É tão lindo...

— Eu não gosto daquelas músicas paradas que dão sono.

— A suas primas fazem, e a sua colega de sala, a Karen também faz.

— Karen é uma boba, não é minha amiga.

— Mas filha, comprei essa roupa pensando que você iria adorar a ideia...

— Não gostei da ideia. Só da roupa.

— Vou vender para outra menina então...

— Não! Eu gostei dela. Eu quero fazer artes marciais com os gêmeos!

— O QUE? – Quase caiu para tras.

— Artes marciais, luta!

— Não filha... Você pode se machucar.

— Porqueeee?

— Eles são maiores que você, podem te derrubar ...

— Não é verdade, eu posso fazer sim!

Uma hora depois e eu ainda insistia para que ela aceitasse a minha ideia.

— TÁÁÁ, você vai. Mas se eu souber que você se machucou, você vai se ver comigo!

— Obaaaaaaaaaaa!


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