Primaveras escrita por Melli


Capítulo 20
Capítulo 20




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Meu oitavo aniversário trazia consigo algumas mudanças em minha vida. A primeira delas que considero mais importante, era que perto do meu aniversário, eu havia largado a chupeta e a mamadeira. Tarde, não? Mamãe também achava o mesmo. Ela sempre tentava me convencer de que com sete anos já não se deveria mais chupar chupeta e usar mamadeira, então inventava histórias como a do pé de chupeta ( que você enterrava a chupeta e dali nasceria um pé de chupeta) e a da fada da mamadeira (que você deixava a mamadeira  em baixo da cama e no outro dia a fada trocaria por uma coisa bem legal!), mas nenhuma delas funcionavam comigo. Eu estava determinada a ficar com minha chupeta e minha mamadeira a todo custo. Foi então que um belo dia me virei pra minha mãe e disse: “Não quero mais usar porque já sou moça!” e entreguei nas mãos da minha mãe, a chupeta e a mamadeira. A princípio ela ficou pasma, pois não acreditara que eu fosse capaz de fazer aquilo, já que as adorava tanto.  Já que eu tinha feito uma coisa que a deixou muito feliz, no mesmo dia compramos um copinho das super poderosas para que eu pudesse tomar água, leite e tudo mais que quisesse. A segunda mudança, não foi na minha vida, mas em minha aparência. Eu já não usava mais aquele corte de cabelo que me deixava com aparência de menino. Eu queria muito poder fazer rabinhos no meu cabelo, deixar um pouco de usar só tiara e enfeita-lo com presilhas coloridas, assim como minhas amiguinhas, por isso, deixei-o crescer até o final do pescoço. Agora também havia aparecido umas manchinhas no meu nariz que eu não sei de onde vieram, mas eu não achava aquilo muito legal.

Bem, dias depois desse episódio da mamadeira, chupeta e das manchinhas, mamãe e eu estávamos prontas para comemorar o meu aniversário de oito anos na casa da vovó Savannah. Embora minha mãe dissesse para mim convidar todos os meus colegas da sala, não fiz isso e acabei chamando só os que eu mais conversava mesmo, ou seja, a Sagi, o Sage, a Roxy e a Alessa. Convidei também a turminha lá do apartamento: A Bany e o Aoi, a Grazi e a Gabi. Como a casa da vovó era um pouco longe lá de casa, mamãe resolveu que para que todo mundo fosse, a melhor coisa a fazer era que alugássemos uma van. E assim fizemos! Á uma da tarde, estavam todos reunidos no parquinho do apartamento, ou melhor, quase todos.

— Onde está o Aoi? – Perguntei pra Bany.

— Ele foi buscar uns livros lá em cima e já vem. – Respondeu.

— Mas não vamos precisar de livros...

— É, nós vamos brincar tanto que ele nem vai querer ler! – Completou Grazi.

— Ah... AOI, NÃO PRECISA DE LIVROS! – Ela saiu correndo atras do irmão.

— E aí filha, falta mais alguém? – Mamãe apareceu.

— Só a Bany e o irmão dela...

Esperamos uns cinco minutos quando, notamos os dois vindo saltitando rumo ao parquinho.

— Se estão todos prontos já podemos ir! – Dizia mamãe.

— Obaaa! Vamos gente!

— Todo mundo para van!

— ÊÊÊ, eu quero ir no fundão!

Foi inevitável não corrermos para a van e disputar lugares. Quando todo mundo entrou, era uma falação só! E gente pulando no banco,  gente colocando a cabeça para fora do vidro, era uma coisa de louco!

— CRIANÇAS, SE ACALMEM POR FAVOR! – Mamãe tentava chamar a atenção do pessoal.

Foi tiro e queda! Todo mundo ficou quietinho.

— Enquanto vocês não pararem com isso, não poderemos sair! – Minha mãe olhava pelo retrovisor enquanto falava.

— Xi, sua mãe ficou brava Melli... - Sagi falou.

— É verdade. As vezes tenho medo dela, mas ela é uma mamãe legal.

Quando todo mundo ficou quietinho, ou melhor, conversando em um tom de voz que não atrapalhasse minha mãe, pudemos partir, e quando chegamos na fazenda da vovó, todo mundo começou a gritar enquanto descia da van, e depois disso, comecei a receber uma chuva de presentes.

— Parabéns Melli! Espero que você goste do presente. – Dizia Roxy entregando uma embalagem vermelha.

— Mãe, posso abrir agora?

— Combinamos que você só poderia abrir em casa, se lembra? Ah,  agradeça sua colega pelo presente.

— Obrigada Roxy! – Abracei ela.

— Olha Melli! Eu comprei aquela Barbie que você queria muito muito muito! Ah, e parabéns! – Alessa me entregou o presente embrulhado com um papel da Barbie.

— Que legal! Obrigada. – Abracei ela também.

— AEEE MELLI, PARABÉNS! – Eu estava de costas, mas reconhecia de longe aquelas vozes.

— Obrigada Sagi, obrigada Sage!

— Advinha o que é o nosso presente?

— É, advinha! – Sagi me entregou uma caixa enorme, enfeitada com muitos laços de fita e encapada com desenhos que os próprios haviam feito.

— Hmm... É um bolo de chocolate grandão?

— Não! Eu comeria tudo se fosse isso.

— Sage, seu besta!

— Hmm, é um foguete pra mim viajar pra lua?

— Não! A Sagi disse que você gosta muito de casas de boneca, então foi isso que compramos!

— Sage, você falou pra ela o que era... – Sagi olhava para o irmão desapontada.

— Hm? Eu disse alguma coisa?

— Falou!

— Ah, não da nada.

— Esperamos que você goste! – Disseram os dois.

— Obrigada! – Abracei os dois de uma só vez.

— Oi Melli! Olha, tá aqui seu presente. – Bany me entregou um pacote cor de rosa.

— E um feliz aniversário pra você, Mel de abelha! – Aoi me abraçou.

— Obrigada! Eu adorei a embalagem!

— Vai gostar mais ainda do que tem dentro.

— Sim, você vai amar!

— Será que são gelatinas de estrelinha igual daquelas que vendem na esquina?

— Hahaha não é!

Depois que todos entregaram seus presentes, começaram a correr para todos os lados, menos a Alessa, que quis ficar sentada comigo em baixo de uma árvore.

— Você lembra quando cantaram com quem será pra mim no meu aniversário? – Ela ria.

— Eu lembro! Foi com o Paul, e ele começou a chorar, hahaha.

— Foi muito legal o meu aniversário! Eu comi um mooooontão de brigadeiro! E... Vai ter brigadeiro aqui na sua festa?

— Vai sim! Tem tanto brigadeiro, mais tanto brigadeiro, que a gente poderia fazer uma montanha e morar dentro dela.

— Imagina se a gente morasse em uma montanha de brigadeiro...

— A gente iria comer tudo hahahaha

— É verdade! Hahaha

Ali adiante, perto do corre corre, os dois casais de gêmeos se conheciam.

— Eu sou Sagi, e esse é o meu irmão Sage.

— E eu sou Aoi e ela é Bany, nós somos gêmeos!

— Que legal! Nós também somos, só que eu sou a mais velha e a mais legal!

— O que? – Sage ameaçava a puxar o cabelo dela.

— Hahaha Nós não brigamos muito, não é Aoi?

— Só de vez em quando, nas vezes que ela pega meus livros sem pedir.

— CRIANÇAS, VENHAM COMER!  - Mamãe gritava de lá de perto da casa da vovó.

E o resultado disso não poderia ser outro. Mais uma vez todos saíram correndo, e isso também me incluía. Enquanto mamãe e vovó acabavam de colocar algumas coisas na mesa, o pessoal tentava se ajeitar por ali. A mesa era de madeira, bem grande, típica de piqueniques daqueles que aconteciam em parques. Era grande para poder acomodar as primas, tias, tios, e todos aqueles que faziam parte da nossa família!

— Acabamos mãe? – Mamãe acabava de colocar um refrigerante em cima da mesa.

— Sim, não está faltando mais nada! – Vovó se sentou ao meu lado.

— Então podem co... – Quando ela iria dizer que já podíamos comer, já estávamos todos comendo.

— Hahaha, eles foram mais rápidos que você, Elizabeth.

— Se foram!

Todos estavam se esbaldando de tanto comer, mas eu comecei a me sentir triste. Todo mundo estava ali, mas e o meu papai? Me lembrei do ultimo aniversário em que passei ali na casa da vovó Savannah e o quanto foi bom ter a presença do meu pai em um dia tão especial.

~Melli’s flashback~

— Upa! E lá vaii o cavalo velooooz!

— Mais rápido papai, mais rápido! – Eu estava em cima de  suas costas brincando de cavalinho.

— Tudo bem, e lá vaaaai!

— Weeee

— Opaaaa! – Ele caiu, e assim também caí.

— Hahahaha papai, você é atrapalhado!

— Sinal de que você não está me adestrando direito, pequenina! – Ele encostou o dedo no meu nariz.

— Hahaha Seu cavalo esperto!

— Aiaiai, você é que é esperta... Pelo jeito você está se divertindo muito em seu aniversário! – Ele me abraçou.

~fim do flashback~

— Vó... – A cutuquei.

— Oi filha, pode dizer.

— O meu papai não vai vir no meu aniversário? – Inocentemente olhei para ela.

— É... Ele te disse que viria?

Balancei a cabeça que sim.

— Então ele virá!

— Mesmo?

— Claro que sim! Se ele prometeu, ele irá cumprir.

— Então eu vou esperar ele.

— Hm... Você ama bolinha de queijo não é? Tem um monte ali, ó! – Ela tentava me fazer esquecer aquele assunto.

— Obaaa, eu quero bolinha!

“Ataquei” as bolinhas, e enquanto isso, vovó se levantava da mesa e fora conversar com a minha mãe. O que será que estava acontecendo ali? Não sei porque, mas aquilo não me parecia bom sinal.

— Coitadinha, está sentindo falta do pai... Ele prometeu mesmo á ela que viria?

— Ele só disse isso a ela para que parasse de chorar...

— Ela vai ficar esperando o Max chegar, filha... – Vovó fazia cara de preocupada.

— Daqui a pouco ela esquece de tudo isso. Olha como está rindo com os amiguinhos!

— Você está certa.

— Mas sabe mãe... Não está sendo nada fácil criar essa menina sem o Max em casa. Ela chora muito por causa dele e anda fazendo muita manha pra dormir, pra comer, pra ir a escola... Parece que ela voltou a ser um bebê de novo.

— Ela sente muita falta dele, não é? Ele não poderia reduzir o tempo de serviço?

— Sim, ela gosta muito dele. Nunca pensei nessa possibilidade. Talvez ele possa...

De longe as duas nos observavam e mamãe cada vez mais se preocupava com a minha situação. O coração dela sentia uma pena enorme de mim, e a todo momento pensava que eu não iria crescer sendo uma criança feliz.

— Hahahaha tem cocô de pomba no cabelo da Roxy! – Aoi apontava para a cabeça dela, enquanto todos riam.

— Onde? – Ela colocou a mão bem em cima.

— Hahaha É verdade! Entra lá dentro e lava a mão. – Apontei para a casa da minha avó.

— Tá... – Ela estava tristonha.

— Hahahahahaha cocôôôô na cabeçaaaaa! - Os meninos impiedosamente riam.

Depois de um tempo, cantamos o parabéns. Já estava entardecendo, por isso, mamãe teria de levar meus amiguinhos para casa, como tinha prometido aos pais deles. Cantamos o parabéns, comemos muitos doces, brincamos mais um pouco e voltamos para casa. Quando abrimos a porta do nosso apartamento, encontramos papai lá dentro desarrumando as malas. Eu não pensava em mais nada a não ser  abrir meus presentes. Corri para o quarto e peguei uns três pacotes na mão e comecei a rasga-los. Meus olhos brilhavam a cada presente aberto, e a ânsia em abrir outro só aumentava. Quando terminei de abrir todos, eu comecei a jogar as embalagens todas para cima e rodopiar em baixo delas, porém barulhos vindos da sala me chamaram a atenção.  Eram berros e pareciam ser dos meus pais.

— A menina está bem, você é quem tem problemas, Elizabeth!

— Ah é? Eu que estou ficando com problemas! Você sequer fica em casa. Quem mais convive com ela sou eu! – Ela batia no peito. – Ela chama você na janela todos os dias, não sente pena disso?

— Agora que meu salário está estável você quer que eu diminua o tempo que fico fora? QUER VOLTAR A MORAR NA CASA DA SUA MÃE? QUER VOLTAR A PASSAR FOME, HEIN??? RESPONDE! – Ele a pegou pelos braços e a agitava.

— Não. Você só pensa no dinheiro! VOCÊ É UM EGOÍSTA, ISSO QUE VOCÊ É!

— SE NÃO FOSSE POR MIM VOCÊ ESTARIA MORANDO NA CASA DA SUA MÃE ATÉ HOJE! Então pare de reclamar.

— Não estou querendo dinheiro. O que eu quero é atenção. Eu me casei com um homem que prometeu me amar pro resto da minha vida! E sinceramente, eu sinto que já não sou mais amada como antes... – Ela chorava -   E a sua filha, onde fica? Com todo esse trabalho, você não nota que ela chora todos os dias por sua causa. Ela não dorme de noite porque fica te esperando... Ela anda grudada em mim, não quer nem ficar na escola!Em todas as festinhas da escola da escola, todos os pais estão lá, e o pai da Melli nunca está...  Pois sempre está trabalhando! É isso que você quer pra sua filha? QUE ELA CRESÇA DEPRESSIVA?

Eu estava presenciando aquela briga há um bom tempo, mas os dois nem notaram a minha presença ali. Nem notaram que eu estava chorando.

— Se você acha que não está bom assim, então que peça o divórcio. Pra mim não vai fazer diferença.

— Deixa de ser idiota, Max! Isso só vai piorar as coisas! O que eu te peço é simples...

— Você mesma foi quem...

— Chega de briga, por favor... - Resolvi me intrometer na discussão dos dois.

— VIU O QUE VOCÊ FEZ?? ELA VIU TUDO! – Mamãe foi em minha direção.

— Ah, mas agora a culpa é minha... EU que comecei a briga, não é? – Papai ironizava.

Aquela briga foi a mais tensa que presenciei entre os meus pais... E nunca vou conseguir esquecê-la. Eu só espero que nunca mais isso possa se repetir, porque era muito ruim para mim assistir a tudo aquilo sem entender o que estava se passando.


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