Abro os olhos e percebo que estou no meu quarto provisório. Só me lembro de estar assistindo um filme com Killian e acordar aqui. Nem sei o que aconteceu.

Levanto devagar e vou para a sala. Está de noite e a lareira está ligada. Killian está de costas para mim, conversando com August que, ao perceber minha presença, levanta o olhar e me lança um sorriso amigável.

– Olha quem acordou... - August se levanta e Killian se vira para mim.

– O que aconteceu? - Pergunto.

– Estávamos, quer dizer, eu estava assistindo um filme e você caiu no sono. Então eu te levei para o quarto. Foi um milagre você se largar de mim. - Killian responde.

– Como assim? - Pergunto, me aproximando mais.

– Você enlaçou seus braços em volta do meu pescoço e não quis largar de jeito nenhum. - Killian completa.

– Não me lembro disso. - Cruzo os braços. Ele pode estar mentindo.

– Claro. Você estava dormindo. - Ele responde.

– Killian tem razão, Emma. Quando cheguei, ele estava tentando te soltar dele. - August defende Killian.

– Estou cercada de traidores. - Digo.

– Estou falando a verdade. - August responde.

– Não vou comentar, nem responder. Vou me vestir e passear um pouco. - Digo.

– Pirou de vez, Swan? Sempre achei que tinha um lado meio louca, mas, esse? Está fazendo um frio danado lá fora. - Killian passa a mão pelo o cabelo, parece nervoso.

– Eu não vou permitir você sair num tempo desse. - August me proíbe. Até parece que tenho 5 anos de idade.

– Tudo bem, super protetores. Eu não saio. - Me rendo.

– Ah, Emma, eu comprei um celular novo para você. Já dei o de Killian e consegui resgatar o número dele. Toma. - August me entrega uma caixa de celular. Incrivelmente, é igual o meu antigo que foi roubado.

– Não posso aceitar, August. - Respondo.

– Você vai, e deve. - August me convence.

– Tudo bem. - Dou um abraço nele.

– Que bom que você aceitou, Emma. - Paro de abraçar ele.

– Obrigada. - August sorri.

– Desculpem, já são... - August olha para o relógio em seu pulso. - Dez e quarenta e oito, tenho que dormir. Se me dão licença, vou dar uma pequena hibernada. - August dá um tapinha amigável em Killian e me dá um beijo na bochecha.

– Boa noite. - Digo. August dá um sorriso e some no corredor.

– E então...? - Killian começa. Dou um sorriso malvado para ele. - Não. Você não vai sair, Swan.

– Mas que saco! - Sento no sofá.

– Eu vou dormir. August trancou a porta e escondeu a chave caso você queira fugir.

– Tudo bem, papai. - Respondo.

– Estou tentando te proteger e... - O celular novo de Killian que August deu, emite um som de mensagem. Mas o estranho é que ele nem pegou o celular para ler a mensagem.

– O que foi? Não vai ver? - Pergunto.

– Não é importante. - Ele dá de ombros.

– Mas você nem viu se é ou não e...

– Emma, eu vou dormir. - Killian simplesmente passa por mim e vai para o seu quarto.

Isso foi bem estranho. Primeiro: Killian nunca me chama de 'Emma', mas pelo meu sobrenome. E ele nunca sai assim, do nada, sem se despedir. Normalmente ele faz uma piadinha ridícula e se despede. Mas hoje não, foi bem estranho...

* * *

Estou no quarto de Killian. Ele dorme que nem um anjo. Quer dizer, que nem pedra. Estou louca para fazer algo diferente. Uma bisbilhotagem não seria errado, seria?

A luz está apagada, mas deixei uma fresta da porta aberta, para uma pequena iluminação. Minha missão é: Descobrir que mensagem é essa e porque Killian ficou estranho de repente.

Caminho na ponta do pé e com cautela para não acordar Killian. Consigo ver o celular dele carregando, ao lado de sua cama. Vou até lá e pego seu celular.

– Desculpa, Killian. - Sussurro. Desbloqueio o celular dele e abro a mensagem.

Desconhecido - Killian, onde você está? Tenho algo para te dizer, é muito importante.

Quem enviou essa mensagem? O que essa pessoa quer falar com meu Killian? Que dizer, com o Killian...?

Bloqueio o celular dele enquanto tento responder minhas perguntas mentais. Me distraí pensando demais e acabo tropeçando. Acho que o universo quer ferrar comigo, porque caio exatamente em cima de Killian.

– Ai... - Ele resmunga enquanto acorda. - Swan? - Ele olha para mim. - O que está fazendo aqui?

Pensa, Emma. Pensa, Emma. Pensa em uma ótima desculpa. Ah, já sei!

– Eu... - Saio de cima dele e deito ao seu lado. - Eu vim... - Me cubro com o edredom dele. - Vim dormir com você.

– Comigo? - Ele olha desconfiado.

– Sim. Eu estava com muito frio e sozinha. Então eu vim aqui para...

– Para...? - Ele me incentiva á continuar.

– ...Para você me aquecer. - Completo.

– Sério? - Ele dá um sorriso esperançoso.

– Sim. Estou com frio, pode me abraçar?

Killian se aproxima de mim e me abraça. Me aconchego em seus braços e coloco a cabeça em seu peito. E é aí que percebo que Killian dorme sem camisa. Mas, tanto faz para mim, o calor de seu corpo me aquece.

– Era só pedir antes, Swan. - Ele sussurra. Abraço ele mais forte e caio no sono.

* * *

O plano tinha tudo para dar certo... Até August vir chamar Killian para uma caminhada. Que tipo de pessoa vai acordar outra para uma caminhada ás 6:00 da manhã? August.

O engraço é que ele não bateu na porta nem nada. Eu só estou abraçado com Killian quando August entra do nada, dizendo:

– Killian, que tal... Wow. - É o que ouço. Abro os olhos devagar, tentando me acostumar com a claridade. - Acho que vim num mal momento. - Me sento na cama.

– Não aconteceu nada entre nós. Eu apenas estava com frio. - Respondo.

– Tem aquecedor no seu quarto, era só você ligar. - August diz com um sorriso no rosto.

– O que está acontecendo aqui? - Ouço Killian falar. Ele se senta ao meu lado e olha para mim, depois para August.

– Eu vim te chamar para uma caminhada. - August responde.

– Mas está fazendo frio. - Killian olha para a janela e vê tudo coberto pela neve.

– Então, um desafio. Podemos apostar uma corridinha matinal no frio. Seria uma grande aventura. - August senta na ponta da cama.

– Tudo bem. Deixa eu me trocar. - Killian se levanta e vai para o banheiro, deixando somente eu e August no quarto.

– Pode me explicar isso, mocinha? - August cruza os braços.

– Não é o que está pensando. - Respondo.

– Então o que é?

– Parece que ele está escondendo algo. - August olha para o banheiro, mas volta á me fitar, como se estivesse querendo ter certeza de que Killian não está ouvindo nem olhando.

– Algo? Como assim? - August sussurra e se aproxima de mim.

– Eu não sei, ele não quis contar. - Sussurro de volta.

– E como sabe disso?

– Ele recebeu uma mensagem de alguém perguntando onde está e dizendo que queria conversar algo de muito importante. Eu não sei que é e quem é.

– Ele deve ter os motivos dele, Emma. Agora, o que isso tem a ver com essa cena de namoradinhos?

– Eu e Killian não somos namoradinhos. - August já ia reclamar quando Killian apareceu.

– Estou pronto. - Diz Killian. Ele está todo agasalhado e totalmente protegido do frio. Parece que nunca se adaptou á temperatura do nosso país. - Onde vai ser?

– No Central Park. - August se levanta.

– Posso assistir vocês congelando? - Pergunto me levantando.

– Sim. Mas saiba que vou ganhar. - August se garante.

– Ha-ha, pare de se iludir. - Killian responde.

Esse é o momento perfeito para eu dar o fora e me trocar o mais rápido possível. E, consigo. Deixo os dois que nem duas crianças brigando por quem fica com a cereja do bolo.

* * *

Impossível não rir dessa cena: Killian e August, ambos lutando para correr na neve. Já caíram mais de dez vezes. E não é exagero, é a realidade. Um tropeça e leva o outro junto. Outro cai em cima de um. Está uma palhaçada.

Estou sentada num banco do Central Park enquanto assisto duas criancinhas de cinco anos de idade correrem feitos loucos. Killian está ganhando, finalmente.

Killian ganhou a famosa corridinha de August e ambos vem correndo em minha direção.

– Eu falei que ia ganhar. - Killian diz quando senta ao meu lado esquerdo e tenta recuperar o fôlego.

– Parabéns, Killian Jones. Nada mal para um iniciante - August diz.

– Nada mal? Eu te dei um fatality! - Killian responde.

– Eu vou... - August dá uma olhada estranha para Killian e depois para mim. - Vou comprar três cafés, ok?

Eu sei o jogo dele. Mas, antes de eu poder protestar, August saiu de lá em direção á um café próximo.

– Ele adora fazer isso. - Reviro os olhos.

– Por que foi ontem de noite para minha cama? - Killian pergunta se aproximando mais.

– Eu estava com frio.

– Eu ouvi August dizer que tinha um aquecedor.

– Eu não sabia.

–Aposto que sim e foi no meu quarto para me agarrar.

– Killian, você acha que eu faria isso?

– Pode ser que sim, eu sou irresistível... - Ele dá um sorriso malicioso.

– Meu Deus, Killian. - Caio na gargalhada.

– Ou vai dizer que não?

– Não posso comentar.

– Eu sei o porquê.

– Diga, então.

– Porque você concorda.

– Começou de novo aquela mesma chantagem de me deixar confusa...

– Que chantagem? Só estou dialogando.

– Nem dialogar, Killian. - Ele ri.

– Agora, falando sério. Você foi para meu quarto porque estava com frio, não foi? - Ele fica sério.

O odeio quando Killian fica sério. Ainda mais me olhando assim.

– Claro que sim. - Respondo.

– Então porque não foi para o quarto de August?

Bom... Então... É...

– Porque eu não sei qual o quarto de August.

Dessa vez foi verdade. Eu realmente não sei qual é o quarto de August.

– E também porque... - Seguro a mão dele. - Você seria a pessoa mais certa para me aquecer. Porque se importa comigo.

– August também se importa com você.

– Eu sei disso. - Percebo Killian se aproximar mais de mim. - Mas, prometo nunca mais fazer isso.

– O quê? Vir para meu quarto para eu te aquecer? - Balanço a cabeça positivamente. Killian pega uma mecha do meu cabelo que está em meu rosto e prende atrás de minha orelha. Ele se aproxima bem mais e encosta os lábios em minha orelha. - Você pode vir quando quiser, Swan. - Ele sussurra em meu ouvido. E eu só consigo sorrir quando Killian afasta seus lábios perfeitos da minha orelha enquanto dá um pequeno sorriso de lado.

Eu poderia mentir, mas não vou. Meu coração está acelerado. Está batendo tão forte, que pode ser capaz de Killian estar ouvindo.

Veja bem:

1 - Killian é muito lindo.
2 - Ele realmente é muito lindo.
3 - Ele quer me conquistar (o que parece estar dando certo).
4 - Ele fica me olhando desse jeito com esses olhos azuis que parecem refletir o mar.
5 - Ele já gosta de sorrir desse jeito para mim.
6 - A voz dele é muito sexy.
7 - Ele é sexy.

Lendo tudo isso, me responda: Como meu coração não vai estar acelerado?

– Obrigada, Killian. - Sorrio.

Os lábios de Killian vem devagar em direção aos meus. Ele não quebra o olhar comigo, até chegar centímetros de distância e eu fechar os olhos.

Bem, eu até quero isso. E não vou deixar nada impedir ou atrapalhar. Exatamente nada.

Ele pegou minha mão e colocou em seu peito. E eu estou sentindo seu coração também acelerado.

Nossos lábios finalmente se encontram e eu retribuo na mesma hora. Coloco minha mão em seus cabelos. Killian coloca a nem meu rosto, e então percebo que ele não está desesperado. Está tão calmo quanto eu. Ambos esperamos por isso com toda paciência do mundo. E finalmente chegou.

Killian para o beijo e encosta sua testa na minha, sua respiração não está tão regular quanto antes. Ainda estou com a mão em seu peito, sentindo seu coração.

– Isso foi um beijo? - Sussurro.

– Primeiro de muitos. - Killian responde. Afasto minha cabeça da sua e tiro minha mão do seu peito. Fico com um sorriso bobo e, ao mesmo tempo, envergonhado. Estou parecendo uma adolescente que acabou de beijar pela primeira vez.

Em menos de cinco minutos de Killian e eu nos encarando e sorrindo, August chega com os cafés.

– Cheguei. - Ele anuncia enquanto se senta do meu outro lado. - O que perdi?

Eu e Killian nos entreolhamos ainda sorrindo.

– Nada. Exatamente nada. - Respondo e pego meu café. August sorri e dá o café de Killian.

Nem sei o que realmente aconteceu. Se estamos namorando ou não. Ou se foi apenas um beijo. Melhor esperar o que vai dar...