Saint Seiya: O Vazio do Submundo / Parte 1 escrita por Masei


Capítulo 5
A Batalha do Bronze Contra o Ouro




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— Perséfone!

Chamou Atena pela terceira vez, e foi justamente quando um cosmo poderoso manifestou-se no Inferno, tomando a Giudeca por completo. Atena notou como esse cosmo também restaurava uma certa integridade de sua construção; se uma ilusão ou não, observou como uma das pilastras levantou-se de sua ruína para novamente suspender o teto que restaurava-se de seus rombos. O cosmo era magnânimo, profundamente diferente daquele que Hades emanava e diametralmente oposto ao próprio cosmo de Atena ou de qualquer Deus que ela já enfrentara nessa sua nova vida.

Com respeito, Atena aguardou a figura entrar em Giudeca, apenas para notar que ela jamais viria, seu cosmo irradiado no templo era a visita final de que ela precisava.

 

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Marchavam os cinco Cavaleiros de Bronze. E de todos eles, Ban era o mais inteiro, posto que fora o único a repousar depois de sua gravíssima batalha contra os Tenentes Marinas. Ele mesmo ajudava Jabu quando este cambaleava, resultado dos choques terríveis de Andros; Geki, por sua vez, ajudava Nachi, que sofreu mais durante o breve encontro contra o Cavaleiro de Gêmeos.

Estavam em Hierápolis, ou em sua versão moderna, justamente para lidarem com o que achavam se tratar do último Portão do Inferno, que ficava no Plutônio em ruínas antigas.

— É o último. Segura firme, Jabu.

— He, isso aqui? Isso não é nada, Ban. — respondeu ele, ainda falando ligeiramente torto pelo tanto que os choques endureceram seus músculos.

Ichi andava mais adiante dos quatro e comentou debochado com Nachi:

— Você pode dizer que venceu o Cavaleiro de Gêmeos, ninguém pode dizer que não.

— Tem razão, Ichi. — comentou o Lobo, mostrando sinais de cansaço, mas sorrindo para o amigo.

Chegaram até as ruínas turcas de um antiquíssimo templo ao Hades e dois guardiões assomaram-se diante deles: um gigantesco homem de pernas arqueadas e porte muito gordo, bastante distante do que se imaginaria de um guerreiro ou de um santo; e um outro pouco mais distante, completamente coberto. Embora aquela figura gorda fosse curiosa, não era o que mais chamava a atenção dos Cavaleiros de Bronze naquelas duas figuras. Pois tanto nesse gigantesco homem como na figura menor, embora perceptível mais ao longe, lhes chamava a atenção o traje que usavam: absolutamente de um metal brilhante, refletindo a luz do sol com força em um tom que era muito familiar a eles: o Ouro. Debaixo de tecidos finos e leves que usavam no peitoral pendendo na altura da cintura, escapava o metal de suas Armaduras: trajavam Armaduras de Ouro!

 

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Uma voz cacofônica invadiu a Giudeca:

— Atena.

— Perséfone. — devolveu ela a educação. — O Submundo está em perigo.

— Porque me invocou, Atena? — respondeu a voz cacófona que, não soubesse Atena se tratar de Perséfone, poderia ser confundida com qualquer outra coisa.

— O Submundo precisa de sua proteção, há alguém interferindo no seu equilíbrio e trazendo de volta aqueles que deveriam estar no Mundo dos Mortos.

Houve uma espera maior, até que o cosmo de Perséfone pareceu tremer, refletindo seu próprio estado de dúvida.

— Onde está Hades?

Saori sente um frio na espinha. Cerra os olhos e responde com sinceridade:

— Hades não está mais presente no Submundo.

O cosmo de Perséfone torna-se inquieto.

— O que aconteceu com Hades, Atena?

Mas Atena cala-se por um momento, pesando sua resposta.

 

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— O quê!? São Cavaleiros de Ouro, mas… — Jabu ficou confuso, pois não reconhecia aquelas armaduras.

O homem maior e que chamava mais atenção tinha um tecido fino branco que lhe cobria metade do peitoral e lhe caia do outro lado pela cintura; todo o resto do corpo era coberto por uma armadura cravejada por chifres de vários tamanhos, um elmo com duas pinças para cima servindo de cornos. Das costas despregava o que se assemelhava a duas pernas peludas de um inseto muito grande. Sua armadura ainda contemplava um gorjal de ouro na altura do peito por cima do tecido; fosse o que fosse, o todo lembrava muito a figura de um inseto. Um inseto muito grande, dado o porte daquele homem.

Ele soltou uma risada leve e grave. Atrás dele, destacou-se próximo ao Portão do Inferno uma figura completamente protegida por uma armadura de Ouro, seu rosto escondido em uma máscara e faixas brancas pendendo de toda extensão de sua armadura; não havia dúvidas de que chamava à mente a figura de uma múmia. Também pendia de seu peitoral um gorjal de ouro.

— Eu fico pensando por que demônios esses desencarnados ficam aqui no Portão, se voltaram à vida por que simplesmente não saem pelo Mundo? — questionou o burro Cavaleiro de Hidra.

— Não se preocupem, já há mortos o suficiente andando por essa Terra. — respondeu o gigante com sua voz grave.

— Eles guardam o Portão, permitindo que saiam os mortos. — comentou Jabu, mais apto.

— Nós iremos destruir este Portão assim como destruímos os outros. — ameaçou Nachi. — Vocês podem abrir, entrarem e não serem mortos como fizemos com os outros.

O grandão riu dos Cavaleiros de Bronze, mas quem falou por debaixo da máscara foi o misterioso homem-múmia.

— O modo que seus olhos amedrontaram-se com o tom de nossas Peles de Ouro me faz crer que sua ameaça é infundada, garoto. — comentou ele, em tom de provocação.

Os Cinco Cavaleiros de Bronze finalmente puseram-se em posição de combate. Ele tinha razão: o tom dourado daquelas armaduras os colocava em alerta.

 

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Atena finalmente respondeu.

— Hades levantou-se nessa época para jogar o Mundo dos Vivos na escuridão eterna. E por isso foi vencido.

— O Submundo deveria manter-se íntegro, ainda que Hades tenha sido selado. Tem sido assim desde os Tempos Mitológicos.

 

Saori engoliu em seco novamente.

— Hades não foi selado. Hades foi vencido.

Uma pedra caiu do teto da Giudeca, como se Perséfone houvesse vacilado por um momento e sua proteção tivesse balançado no templo. Seguiu-se um silêncio sepulcral e Atena pôde apenas aguardar.

 

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Geki saltou na direção do gigantesco inseto e travou uma queda de mãos com o homem; a força combinada quebrou inclusive a terra que pisavam, levemente levantando pedras pela força do cosmo dos dois. Aproveitando o momento em que o grande homem estava ocupado com Geki, Nachi e Ichi saltaram lépidos por sobre ele para juntarem forças contra aquele guerreiro mumificado de ouro. Seus cosmos brilharam juntos e os punhos da Hidra e do Lobo uniram-se para atingi-lo.

Mas, então, ascendeu um cosmo obscuro daquela figura e, comandado pelos braços dele, duas faixas brancas levantaram-se e imobilizaram Nachi e Ichi, que caíram amarrados. Geki estava sendo empurrado pelo homem, que era muito maior até mesmo que ele; ao mesmo tempo que Jabu e Ban tentavam, em vão, atingi-lo: o Unicórnio tentava rasteiras na perna troncuda do homem, enquanto Ban tentava socá-lo no rosto, no peito, em todos os lados, causando apenas leves muxoxos do gigante. E, mesmo assim, ele encurralava Geki contra uma das paredes do local, e sua força era tamanha que ele lentamente foi fazendo o corpo de Geki abrir um buraco na pedra, enterrando ele mais e mais para o fundo da pedra.

— Geki! — chamaram em uníssono as vozes de Ban e Jabu.

Do outro lado, a figura mumificada pisou no rosto de Ichi, ao que ele reagiu rapidamente fincando suas garras na perna do guerreiro, que recuou com a dor da picada da Hidra. As garras da Hidra vararam o ouro. Ele silvou debaixo de sua máscara e seus olhos, única coisa que podia ser vista, incendiaram de raiva. Ichi tinha dificuldades para levantar-se.

— O veneno da Hidra vai percorrer o seu corpo e…

E voou, pois a múmia atingiu-o com um soco poderoso no rosto, arremessando-o contra o chão do planalto que levantava-se adiante do templo.

 

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O cosmo de Perséfone pareceu ter estabilizado, e sua voz cacófona retornou à Giudeca com um tom profético.

— Atena. Você sabe que isso terá consequências.

— As consequências já se fazem sentir; o Submundo está desguarnecido e há quem procure comandá-lo e ordenar o destino dos mortos. Andam pela terra dos Vivos aqueles que deveriam estar aqui; Portões do Inferno levantaram-se na Terra e a integridade do Submundo decai pouco a pouco, Perséfone.

Mas Perséfone disse novamente de maneira pausada, lenta e oráclica.

— Atena. Você sabe de quais consequências estou falando.

Pausadamente, para que Atena tivesse certeza do que ela dizia; e ela tinha. Saori fechou os olhos, respirando fundo e tentando tirar as dúvidas de sua mente. O futuro não permitia que ela vacilasse.

 

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Jabu e Ban pularam nas costas do gigante e cada um segurou numa das grandes pernas de inseto fazendo impulso contra a parede do templo na qual o homem enterrava Geki; os dois saltaram para trás, finalmente interrompendo a força contundente dele que cambaleou vacilante, libertando Geki de seu atacante.

Os três reuniram-se arfando, pois a luta não parecia mais tão simples.

Nachi corria em direção do homem-múmia que, mais uma vez, ia atrás de Ichi rolando colina acima; ele percebeu que o oponente estava mais lento que da primeira vez e conseguiu atacá-lo com sua melhor técnica:

— Uivo Mortal!

O uivo profundo do lobo fez-se ouvir na Hieropolis, e do punho de Nachi luzes precipitaram-se, manipulando o ar de forma cortante e atingindo as costas da figura que simplesmente estacou sua corrida; teve também grande parte do tecido branco de suas faixas rasgado pela técnica, mas nada além disso. Tudo que Nachi fez foi expor de vez a armadura de ouro que recobria o corpo daquele homem, sem deixar qualquer espaço.

— Meu golpe… não surtiu qualquer efeito. — lamentou-se ele, apenas momentos antes de ter a mão daquele guerreiro no seu pescoço, arrastando-o de volta ao Plutônio. E então seguiu-se uma surra dele em cima de Nachi, que o socava sem largá-lo pelo pescoço. Apenas soltava-o quando, trôpego mas certeiro, precisava girar em seu próprio eixo para acertá-lo apenas para retomar o controle de seu oponente indefeso.

— Façam isso de novo. — disse Geki para os dois. E, sem pensar muito, lá foi Geki para sua chave de mãos contra o gigante. Dessa vez Jabu e Ban não demoraram-se e saltaram nas pernas de inseto das costas do oponente e puxaram-no para fora de seu eixo de gravidade. Geki foi ao chão e agarrou as duas pernas troncudas do homenzarrão, aproveitando o desequilíbrio dele. De imediato, levou um balaço do gigante nas costas, que quebrou parte de sua Armadura de Urso; ele cuspiu sangue e fez ainda mais força para segurar as duas pernas do guerreiro de ouro e levantá-lo no ar.

Jabu saltou, compreendendo a ideia, e sua cosmo-energia preencheu o local; a figura do Unicórnio levantou-se no infinito e relinchou no universo em que a voz de Jabu ecoou:

— Unicórnio Galopa!!!

Atingiu em cheio o elmo de ouro daquele gigante, repartindo-o no meio e arremessando-o para mais adiante, onde o corpo que se quedava do grande guerreiro encontrou-se com a investida furiosa e flamejante de Ban.

— Bombardeio do Leão Menor! — sua voz também ecoou no local e carregou o corpo daquele homem em chamas para explodir justamente para onde Ichi havia sido arremessado.

Ichi havia já se recuperado com esforço e, rápido, tentou intervir na surra que Nachi tomava, mas tornou-se apenas um aborrecimento a mais para aquele guerreiro, que conseguiu esquivar-se das investidas de Ichi e ainda continuar surrando Nachi normalmente (embora tentasse atingir o Hidra e não conseguisse, devido à sua enorme agilidade). Ichi percebeu, com orgulho, que a perna direita da figura era mais lenta; e a culpa era sua.

Às custas de Nachi, que ainda apanhava, Ichi surpreendeu o guerreiro bloqueando um chute de sua perna direita.

— Rá, lento demais! — e rapidamente atropelou a perna de apoio com uma rasteira, levando o homem finalmente ao chão. Ichi aplicou sua garra na outra perna, tirando um grito arrepiante do que quer que estivesse por debaixo daquelas faixas douradas.

— Quantas picadas mais da Hidra você vai aguentar?!

 

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Atena mudou de assunto habilmente.

— O Submundo precisa de você, Perséfone. Como eu disse, há outras entidades interessadas em tomar o Submundo e intervir no destino daqueles que morrem. O Hades não pode ficar vazio.

— Ele não deixaria isso acontecer.

Saori estremeceu como nunca; chegou a vacilar e precisou apoiar-se no próprio trono de Hades, como se o seu labirinto perdesse controle por um instante. Apoiou-se também em seu báculo Nike.

— Atena, você é uma Deusa. — afirmou Perséfone em sua cacofonia sombria.

— Não podemos esperar o tempo Dele. O Submundo não pode ficar vazio, Perséfone.

Houve um silêncio, até que a resposta de Giudeca viesse novamente.

— Você caminha por um caminho perigoso, Atena. Desobedecer aos Deuses dessa maneira.

— As  consequências serão minhas, Perséfone. — afirmou Atena com uma voz pesada e decidida.

 

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Do outro lado, o gigante inseto caiu, mas tampouco os Cavaleiros de Bronze estavam em melhor estado: os braços de Geki estavam quebrados e ele sofria dores terríveis por causa disso, Jabu já não estava em bom estado desde que chegara e apenas Ban sobrara de pé. O Leão Menor correu para ter com seus amigos, que já não tinham mais condições nenhumas de batalha, e, para seu desespero, o corpanzil do gigante de ouro que enfrentavam foi aos poucos, e com bastante dificuldade, levantando-se.

— Sua garra pôde varar a armadura dele, essa não é uma Armadura de Ouro de verdade. Está preparado pra derrotá-lo, Ichi?

— Eu estou sempre pronto, Nachi!

— Então vamos! Uivo Mortal!

Os cosmos do Lobo e da Hidra uniram-se no firmamento, mas apenas Nachi disparou sua técnica aérea cortando a terra, levantando blocos de pedra e comendo de fatiada aquela esquisita armadura da Múmia Dourada, que ainda tentou contra-atacar com suas faixas de defesa; todas retalhadas pelo uivo de Nachi. A agilidade de Ichi permitiu que chegasse perto o suficiente para que ele pudesse atingir os espaços em branco que Nachi abriu naquela armadura completa; destilando seu veneno por vários pontos do corpo humano por baixo daquelas faixas douradas.

Não sem sofrer consequências terríveis, pois o oponente simplesmente fez toda sua armadura de faixas douradas deixarem seu corpo para envolver Ichi por completo, como se o sufocasse por mumificação. O homem que usava aquele traje terrível caiu, sofrendo as dores do veneno da Hidra, e Nachi finalizou o homem atravessando seu cosmo com um poderoso punho que finalmente o derrubou, vencido, mas Ichi foi pego numa armadilha terrível.

— Ichi!!! — desesperou-se Nachi.

E Ban, vendo aquele gigantesco inseto levantando-se, não teve dúvidas:

— Vai queimar no meu fogo, seu verme! — o punho de Ban foi envolto por um fogo em redemoinho, seu cosmo alaranjado elevou-se e seu grito soou no local com fúria: — Chama Flamejante do Leão Menor!

Um turbilhão de fogo desprendeu-se de seu punho e queimou em chamas o gigantesco inseto, que finalmente definhou, calcinado pelo golpe de Ban, que de muito cansado ajoelhou-se em súplica para que Nachi libertasse Ichi. E ele o fez: cortou o ar com sua técnica controlada e libertou a respiração de Ichi ao tirar seu rosto daquelas faixas douradas.

— Vamos, Ichi. Liberte-se!

O Cavaleiro de Hidra fez um esforço monstruoso e com a ajuda de Nachi, que enterrou os dedos entre algumas faixas para arrancá-las no braço, ele finalmente se viu liberto daquela constrição.

Haviam vencido.

Mas estavam absolutamente sem forças.

 

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A cacofonia voltou.

— Não poderei voltar até o próximo Outono, Atena.

— Até lá, eu farei com que a Terra não sofra os males do Submundo.

— E quem garantirá que o Submundo não sofrerá os males do Mundo dos Vivos? — perguntou a voz cacófona.

 

Saori silenciou, aceitando a responsabilidade. Deu as costas para o trono e fez que se retiraria.

— Vejo você no Outono, Perséfone.

— Até, Atena.

O cosmo de Perséfone abandonou a Giudeca e a construção voltou a se derrubar, pedras caindo do teto, pilastras tombando, o estado de decaimento de antes voltando a lentamente corroer o Submundo.

Atena pisou na terra do Mundo dos Mortos e olhou para o firmamento escuro do local antes de abandonar e voltar ao Mundo dos Vivos. Saori sentiu um calafrio gigantesco ao perceber que havia realmente alguém no Submundo; Perséfone precisava logo estar ali, mas ela sabia que não poderia contar com aquilo até o Outono, de fato.

Precisaria esperar.

Uma espera que, enquanto Deusa, pouca diferença faria. Mas Saori ainda tinha sua parte humana que sofreria por todo aquele tempo.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 6 — O Retorno de Atena



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