Lealdade sem Fronteiras #1 escrita por Nath Schnee


Capítulo 8
Capítulo 8 - vs Aiden (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

"Minha mãe sempre achou as Batalhas Pokémon violentas, ao que parece, esse pensamento veio da minha avó, que evitava ao máximo as batalhas e sempre preferia apenas conviver com os Pokémon. Eu fico imaginando. O que minha avó pensaria de uma batalha como esta, onde até mesmo os Treinadores correm risco de se ferir?"



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Dan Young

Quando se diz a palavra rival, a maioria das pessoas vai pensar naquele que se compete contra, eu já posso dizer que tenho três tipos de rivais, desde agora até alguém vencer a Liga Índigo. Meiko, uma rival amiga, que pode estar ao meu lado sabendo minhas estratégias e eu sabendo as dela, mas que iríamos torcer um para o outro caso um perdesse. Tinha o segundo tipo, Aiden, o rival inimigo, que estava bem na minha frente, do outro lado do campo, e que podíamos sair na porrada a qualquer instante, e por último também havia menina ruiva, ao lado de Aiden, rindo de mim, a rival desconhecida, pois eu não tinha noção de onde tinha surgido.

Eu realmente estava acreditando que ela estava rindo de mim, até ouvir o que ela disse, só então percebendo que seu deboche não era de mim. Era da garota ao meu lado.

— Meiko, Meiko, Meiko... — ela balançou a cabeça como se estivesse decepcionada, mas sua voz soava debochada. — Achei que teria evoluído seu Growlithe inútil, mas ele continua inútil, não é mesmo?

A voz de Mei sempre fora baixa e firme, mas, naquele momento, pude notar que seu tom era mais alto e receoso, como se incerta do que deveria falar.

— Rex é tão inútil quase levou os seus três últimos Pokémon na nossa última batalha, estando sob o efeito de Paralisia, Mayra. — Mei cruzou os braços, um gesto um tanto defensivo.

A menina, fosse quem fosse, não desistiu tão fácil.

— Mas fui eu quem venceu as batalhas. Todas até aqui. — disse e voltou a sorrir.

— Já chega. — ecoou uma voz masculina, que não era nem minha nem de Aiden.

Quando olhei para a direção que o som veio, finalmente descobri quem era o Líder de Ginásio daquela cidade. Eu sabia que ele era novo, aparentemente veio de Alola, mas ainda me perguntava quem era. Eu sabia apenas que era do tipo Lutador, pois o ginásio deixava aquilo bem a mostra, mas um tipo específico de Pokémon não define alguém.

Ao vê-lo, percebi que minhas chances numa batalha só seriam boas se não precisasse eu mesmo batalhar. Ele era baixo, a pele mulata em contraste com o kimono com faixa preta. Com leves sinais de calvície, aparentava uma idade na casa dos trinta anos. Seus olhos eram negros como piche, com leves riscos arroxeados, mas se prestasse bem atenção, era possível ver um tipo de fanatismo louco por trás da rigidez das sobrancelhas e rosto austero.

O homem parou ao lado do Juiz Eletrônico, os pés na distância dos ombros e as mãos cerradas apoiadas no quadril, numa posição de superioridade, nos observando da mesma forma.

 Avaliou-nos severamente. Seus olhos foram desde Aiden, no qual o Líder quase pareceu satisfeito, à Mayra, que apenas pareceu ignorar a presença, a mim, que reagiu com desdém, e Mei, que fitou por bem mais tempo que foi conosco, apesar de ela nem mesmo olhar para ele ou retirar a touca.

— Vocês parecem se conhecer. — declarou ele.

— Infelizmente. — disseram, em uníssono, Mei e Mayra.

Elas se encararam, muito incomodadas em falar juntas. O homem não pareceu se importar.

— Como?

Mei apenas permaneceu com seu capuz baixo e observou a outra menina conversando com o líder.

— Nós duas nos conhecemos na escola. As melhores da escola. — ela estufou o peito de um jeito orgulhoso, mas logo após voltou com seu tom de deboche. — Aquelazinha dizia que eu a perseguia, mas devo admitir, não resisto a mostrar a perdedores o quão rebaixados eles são.

Com o final daquela frase, percebi qual era o motivo de tanto ela quanto Aiden estarem juntos. Ambos pensavam da mesma maneira, porque assim como Mayra olhou com para Mei com uma expressão sarcástica, Aiden sorriu para a antiga colega de Meiko e me fitou com desprezo.

Mas a sua nova amiga ainda não tinha parado.

— E você deve imaginar, Sr. Fist, que criancinhas não resistem a certas brincadeiras. Então comecei a brincar com Meiko Ketchum, a garota que ali está, — indicou Mei ao meu lado. — só que ela se vitimizava quando tudo não passava de um meio de descontrair o clima tenso de uma escola particular. Meu amigo aqui, Aiden Birch, me ajudou, na época. Infelizmente ele foi transferido para este poucos meses depois, nas férias de inverno.

— Enquanto eu — começou Aiden — acabei por ter o infortúnio de encontrar Dan Young na Nova Rota 1. Além de acabar por ser atrapalhado por ele, pois eu estava no meio de uma captura, ainda fui obrigado a explicar a diferença regional de alguns Poliwag.

Ela olhou para mim. Eu podia ver que ela se controlava com dificuldades. Suas mãos estavam avermelhadas e com as articulações dos dedos brancas de tanta força que colocava, talvez propositalmente machucando, para controlar a raiva, seu corpo retesado parecia prestes a entrar numa luta. Mas nada era tão significativo quanto seu rosto. Coberto em sua maioria pela costumeira sombra da vestimenta, Meiko tinha a boca cerrada de maneira visível e o pouco que vi de seus olhos, brilhando em vermelho fogo, me fez estremecer. Eu podia quase literalmente sentir ela irradiando a raiva que guardava. Sua voz, quase como num rosnar entre dentes, chegou a mim num murmuro raivoso.

— Você não me disse que ele era o Birch. — ainda me encarando nos olhos, ela parecia avaliar meu interior. Minha alma.

Senti meu coração acelerar, apesar de o medo me paralisar quase por completo, me permitindo apenas respondê-la gaguejando e inseguro.

— E-Eu não sabia que-que você conhecia ele.

Mei revirou os olhos e voltou a encarar os três, eu fiquei pouco atrás dela, observando a conversa que se passava do outro lado ainda sem terminar.

Sr. Fist, o Líder de Ginásio, encarava Mayra com certa indignação.

— Você disse o nome daquela garota. Eu não posso ter ouvido direito. Repita.

Mayra, que parecia se divertir com tudo aquilo, olhou novamente na nossa direção, dessa vez com uma forçada expressão inocente.

— Você ouviu bem, meu senhor. Aquela ali é Meiko Ketchum, procurada em várias regiões do Mundo Pokémon por uma acusação verídica de terrorismo e genocídio com uso de um lendário.

Senti meu coração perder o compasso. É claro que eu já sabia de tudo aquilo, mas ouvir novamente que eu estava ao lado de alguém que fez aquilo, e o modo que Mayra dizia...

Mas ela está dizendo isso sobre Mei!, gritava uma parte de mim, A mesma garota que disse que você merece ganhar a Liga Pokémon!

Mei estava tão imóvel que parecia uma estátua, encarando o chão, no entanto, eu sabia que eu sentia que era apenas questão de tempo até ela não aguentar mais. Mei era uma bomba, naquele momento. Eu só não sabia quando ou o que ela faria se explodisse.

Eu achei que nada poderia a irritar mais, porém, quando mais se quer paz, menos se tem. O Líder de Ginásio se virou para nós ao engolir aquelas palavras e, se eu achei que seu desprezo de antes fora considerável, aquele superava tudo.

— Eu, Tytos Fist, nunca achei que receberia um membro da família Ketchum no meu ginásio. — o Líder não parecia satisfeito. — Entretanto, alguém degradante como ela? — fez um gesto de desdém, ainda assim, nada se comparava à frase seguinte, que atingiu Mei de um jeito que achei impossível. — Seria como receber aquele homem que se perdeu na Floresta de Viridian. Apenas mais uma desonra para uma família tão importante. Nem deveriam ter o nome que tem.

Eu estava tentando me recuperar do que ele dissera, de como tratara o pai de Mei, até que vi ela soltando quase um rosnado e pegando impulso para correr. Consegui reagir e a impedir segurando seu braço e ficando a sua frente.

— Meiko!

Ela ainda tentava passar por mim, mas eu segurei seus ombros, a obrigando a olhar em meus olhos. Quando ela o fez, eu vi que todo aquele ódio, toda aquela fúria... Não passava de uma armadura. Não passava de um meio de ela evitar deixar escapar as lágrimas que invadiam seus olhos. Ela me fitou em silêncio, uma das lágrimas descendo com certa discrição. De repente, eu percebi que nunca estivera tão próximo a ela. Não só fisicamente. Era a primeira vez que eu finalmente via através dos seus olhos, através das cortinas que me impediam de ver sua alma, e agora, tudo o que eu via, era uma garota com impulso de proteger a família, por mais que a mesma nunca mais fosse aparecer.

Eu nunca me sentira tão próximo a alguém tão parecido comigo.

Usei a manga da minha jaqueta para limpar a lágrima que lhe escapara.

— Não vale a pena, Mei... — murmurei.

Tudo o que eu fazia, tudo o que eu sentia, tudo o que eu falava… parecia ser no instinto. Um instinto protetor.

Nós nos viramos juntos para eles novamente. Levei um tempo para perceber que, em vez de, como sempre, colocar a mão no bolso, eu coloquei minha mão sobre a de Meiko. Dessa vez, não a vi corar e ela não recuou, pegando minha mão de volta como se ela sempre tivesse sido bem vinda.

Encarei a nossa frente, tentando não pensar no que Mei e eu estávamos fazendo, e me peguei vagando em pensamentos distantes. Quatro crianças. Dois pares de amigos. Dois pares de inimigos. O que o destino tinha reservado para algo como aquilo?

O Líder, ao provavelmente ter o mesmo pensamento que eu, sorriu. Demonstrava ansiedade.

— Todos os quatro vieram batalhar, eu suponho. — Nós assentimos juntos. Tytos continuou. — Então que tal algo novo? Não posso deixar uma oportunidade dessas escapar e não teria os Pokémon suficiente para uma batalha com todos, de qualquer maneira.

Eu sentia Mei hesitante ao meu lado, mas tudo o que eu queria era aquela insígnia. Antes de Aiden, se possível. Por que o Líder estava enrolando tanto para falar?

— Eu quero duas batalhas. Primeiro os meninos, depois as meninas. O vencedor de cada lado diz se o adversário merece ou não uma insígnia. Infelizmente, eu tenho que dar a insígnia para ao menos alguns de vocês, porque se fosse por mim, eu os deixaria se matando e desapareceria daqui. — Ele cruzou os braços, o que só pareceu revelar mais seus braços robustos. Depois, quando soltou os braços, começou a caminhar pela arena de batalha com as mãos nas costas, falando de forma mais firme e ainda também mais agitada, ansiosa. Quando ele deu outra volta e olhou para nós, pude ver que a loucura escondida por trás do rosto firme finalmente estava se transpusendo.

— Porém, como amante das verdadeiras batalhas, como praticante das lutas arcaicas, não quero um Desafio de Ginásio ou uma Batalha de Treinadores. Não quero apenas uma luta de Pokémon. Quero uma luta de Treinadores! — seu tom ecoava por todo o ginásio de um jeito assustador. Suas palavras pareceram deixar o ginásio vazio de silêncio, nos fazendo engasgar com as palavras. A única coisa que se ouvia, além de uma ocasional respiração nervosa, era um bater de asas acima de nós. Para lá eu olhei, curioso, mas nada vi além de um pequenino vulto amarronzado atravessando algumas vigas. Voltei a olhar para frente, voltando a ver o louco que ditava as regras da nossa luta.

— Claro que não sou insano ao ponto de mandar criancinhas se matarem. Na verdade, as regras são outras. Seu objetivo é batalhar normalmente, mas vocês podem se atacar. "Ah, mas como faço isso, meu lorde senhor grandioso mestre Tytos Fist?" — Ele imitou uma voz fina que, na verdade, só foi ridícula no seu tom grave de sempre. — Ataquem, seus tolos. Um Ventania não pode fazer muita coisa, mas um Corte Aéreo complicará seus adversários. Vocês podem se mover ao redor do campo, mas sem entrar no campo nem sair das bordas. Acaba quando todos os Pokémon de um lado ou o treinador estiverem esgotados.

Ele continuou, dizendo para as meninas sentarem e para nós já escolhermos nossos Pokémon. Eu encarei o campo de batalha antes de seguir até minha posição. Não por muito tempo, pois sabia que se eu pensasse em tudo o que faria a seguir, sairia correndo daquele ginásio imediatamente.

Caminhei determinado, a perder, talvez, até minha área e encarei Aiden do outro lado do campo, que me olhava do mesmo modo. Tudo o que fiz foi arrumar meu boné, baixando um pouco e tentando imaginá-lo como algo que me mantinha firme, como um elmo escondendo minha expressão hesitante, e já pegar a Ball de Bulbasaur.

Nós lançamos de nossos Pokémon as esferas ao mesmo tempo. Elas colidiram no ar, abrindo e liberando nossas escolhas. Senti meu coração perder o compasso e hesitei.

Croconaw. Aquele Pokémon era monstruoso, apesar de pequeno. Eu não conseguia afastar a imagem do sangrento Poliwag da minha mente, o que aquele Pokémon faria comigo se me alcançasse?

Ouvi o apito do Líder de Ginásio, iniciando a batalha, e pude já sentir a agitação de uma batalha, a adrenalina, correr em minhas veias, me deixando mais impulsivo. Qualquer batalha, mesmo aquela, me empolgava. Apontei determinado para o Pokémon Mandíbula Grande.

— Bulbasaur, Semente Sanguessuga!

Meu Pokémon se curvou, lançando contra nossos adversários uma semente pequena que se expandiu em várias vinhas ainda no ar em direção ao Croconaw. Novamente demonstrando falta de emoções, Aiden apenas fez um gesto breve.

— Jato de Água.

Croconaw se preparou e quando a semente quase estava o envolvendo, liberou um fluxo de água de sua boca, porém não mirava no meu Pokémon. Ele acertou a Semente Sanguessuga em cheio e esta voltou na nossa direção com ainda mais velocidade.

— Evasiva! — gritei para Bulbasaur desviar e ele o fez, mas foi quase tarde demais que vi que a força que Croconaw usara não era intencional contra ele.

Era contra mim.

Por um instinto desesperado, eu me joguei num pulo contra o chão, desviando da semente que bateu contra a parede e caiu no chão ainda aberta ao não conseguir envolvê-la. Levantei lentamente, sentindo meus joelhos e mãos um pouco doloridos, pois os batera com certo impacto. Olhei para lá, apenas a tempo de ver seu primeiro verdadeiro movimento.

— Croconaw, Tumba de Rochas. — ordenou Aiden.

Foi então que eu percebi que aquela batalha já estava perdida. Croconaw ergueu suas patas e fechou os olhos, o mesmo sorriso sádico preenchia seu focinho e ao mesmo tempo o rosto de Aiden. O corpo do Pokémon azulado brilhou ligeiramente marrom. Acima do campo, brilhos com essa mesma luz surgiram e foram aumentando de forma até virarem enormes pedras, a maioria com um cumprimento avantajado, e elas miraram na nossa direção. Foi o tempo apenas de uma respiração até as rochas caírem em alta velocidade em nós.

Eu tentei desviar de uma pedra menor, mas outra maior veio na minha direção e eu soube que estava acabado. Não só aquela batalha, mas também, dependendo do modo que aquilo cairia, a minha vida.

Fechei os olhos e me encolhi, esperando pela dor e o fim. Esperei pelo que viria, mas tudo o que senti foi um impressionante, impactante e estranho nada.

Abri os olhos lentamente, sentindo um pouco de terra cair sobre mim, sujando-me por completo e olhei para cima. A pedra estava bem ali em cima de mim, centímetros do meu rosto, deixando cair mais pedacinhos sobre mim. Observei toda aquela rocha e vi o motivo de estar no ar. Estava envolvida por vinhas.

Dei alguns passos para trás, mas acabei esbarrando numa outra, fincada ao chão, assim que desviei da direção da rocha. Os cipós, que já não suportavam mais seu peso, deixaram a pedra cair.

Olhei ao redor, tossindo por conta da poeira que nos cercara, assimilando tudo o que via. Estávamos cercados não só pela poeira, mas também por aquelas rochas, que estavam fincadas ao chão e nos impediam de ver algo além daqueles poucos metros que havia naquela "tumba de rocha".

Olhei para Bulbasaur, que aparentava exaustão e estava agora tão sujo quanto eu, mas voltava com suas vinhas para o bulbo nas costas. O Pokémon Planta/Venenoso me fitou, esperando que eu dissesse algo, eu acho, mas eu apenas sorri e fechei o punho animado.

— Ótimo! Você me salvou, e obrigado, mas agora vamos acabar com essa batalha! — senti a adrenalina voltar a correr em minhas veias e com alguns saltos me posicionei acima de uma das rochas que atrapalhavam nossa movimentação. Eu sabia que aquele movimento abaixava nossa velocidade. Precisava saber o quanto.

Levei a mão ao bolso e só então percebi que, mesmo checando minha mochila no hospital, eu esquecera completamente de algo essencial.

Minha Poké-Agenda.

— Merda...

Minhas esperanças novamente sumiam, eu não sabia mais o que fazer. Vi Croconaw e Aiden do outro lado do campo, que não demoraram a perceber que eu estava visível e acessível a ataques. Ele ordenou um movimento, pelo visto o mesmo Jato de Água de antes.

 Pulei de volta ao centro do local que as rochas nos cercavam, caindo abaixado e já encarando Bulbasaur. O jato passou por cima das rochas e tudo o que nos acertou foram pequeninas gotículas de água.

— Eu tive uma ideia, Bulbasaur, mas você vai ter que confiar em mim. — eu disse, olhando para cima, sentindo a água espirrar no meu rosto sujo até que esta sumisse e eu fitasse-o.

Ele me lançou um olhar que eu podia dizer ser cético. Mas Pokémon não tem sentimentos tão complexos, tão humanos, quanto ceticismo, certo? Eu balancei a cabeça.

— Vou explicar. Estas rochas diminuem nossa velocidade em questão de ataques mirados nele, porque não podemos ser rápidos o bastante ao ponto de sair daqui sem levar nenhum golpe até lá. Mas nós podemos acertar outras coisas.

Eu tentava falar lento, mas ele apenas me encarava. Como Meiko fazia aquilo? Eu me sentia falando com um dos meus brinquedos. Tentei continuar.

— Ele tem um bom ataque de distância, mas não parece ter uma boa velocidade, considerando seu tempo que seu reação contra a Semente Sanguessuga não foi dos melhores... — olhei na direção dos adversários. — Se Aiden conhece isso, ele não vai arriscar se mover muito. Precisamos atacá-lo de maneira ampla...

Olhei para o teto e indiquei ele a Bulbasaur.

— Vamos derrubá-lo?

Achei que meu Pokémon responderia com algum assentir como ou algo do tipo, mas algo nos interrompeu. A voz era a do Sr. Fist.

— Se o desafiante cercado não conseguir fazer um movimento em três minutos, declararei a vitória do outro!

Bulbasaur me encarou como se esperasse uma ordem minha. Eu resolvi parar de pensar e agir. Eu era sempre bem melhor nisso. Peguei Bulbasaur com as mãos, mesmo que ele se contorcesse achando que eu fosse fazer algo com ele, e com uma mão, mostrei alguns pontos específicos do teto e algumas vigas.

— Folha Navalha lá!

Dessa vez, meu Pokémon obedeceu. Observei ele atingir os lugares indicados por mim, conforme eu falava, com toda a minha atenção. O teto era separado em duas partes acima da arena, ambas com formas de cúpulas. Como um bom aprendiz de minerador, eu sabia ao menos um pouco da estabilidade de um terreno, caverna ou qualquer estrutura prejudicada. Os lugares que eu indiquei ao Bulbasaur, quando atingidos, formaram rachaduras que seguiam até um certo ponto no centro do arco que deveria ser exatamente acima de Aiden. Olhei para as colunas. Não era à toa que aquele lugar estava sob reforma. Não haviam feito estruturas fortes para aguentar um designe tão pesado e complexo.

Olhei para o ponto onde as rachaduras emanavam e indiquei a Bulbasaur. Se eu estivesse certo, um único golpe ali derrubaria toda a cúpula do lado da arena de Aiden sem nem um pouco afetar a nossa.

Se eu estivesse certo.

Já falei que odeio a palavra "se"?

Um Jato D'água atingiu a parede depois de atacarmos. mas não fez nada além de uma chuvinha em nós. Respirei fundo e novamente pedi ao meu Pokémon.

— Consegue usar apenas uma Folha Navalha? Naquele pontinho ali, cercado por aquelas rachaduras.

Bulbasaur me encarou por um longo momento, aparentemente tentando me entender. Depois seguiu seu olhar até nosso alvo, se inclinou e lançou uma folha navalha tão rápida que eu mal pude acompanhar. Talvez, quanto mais folhas, mais lento e mais forte, mas quanto menos, mais rápido e com mais mira.

Ela acertou bem no lugar que eu queria e pude ver um pouquinho de poeira cair sobre a arena adversária. Com Bulbasaur ainda no colo, eu subi nas rochas que nos cercavam e vi que todos me encaravam confusos, como se não soubessem o que eu estava fazendo.

Exceto uma pessoa.

Por trás do capuz, Mei tinha um sorriso, aquele sorriso que tanto mexia comigo. Porém, dessa vez, não era um sorriso de gratidão, alívio, felicidade como vira das outras vezes. Era um sorriso de orgulho.

Ela estava orgulhosa de mim. Senti meu peito se aquecer.

Croconaw e seu treinador, assim que voltaram a si para a batalha, tentaram se concentrar.

— Croconaw, Pulso de Água, aproveite que ele saiu! — Aiden parecia impaciente.

Vi o Pokémon Mandíbula Grande se preparar, juntar as patas à frente do corpo, mas nada além daquilo, pois assim que ele estava prestes a jogar a torrente de água pela boca, o teto acima deles estremeceu, assim como as colunas, e cedeu, desabando sobre ambos.

A batalha foi temporariamente pausada enquanto não soubéssemos se ambos estavam bem. Provavelmente tinham feito o mesmo comigo. Vimos algumas pedras se mexer e uma pequena saiu do topo do monte, revelando um muito machucado, fraco e sujo Aiden, arrastando de qualquer jeito, pela cauda, atrás de si e jogando à sua frente o quase desmaiado Croconaw.

Ambos tinham dificuldade em se manter de pé, ainda assim, Tytos deu o sinal para que a batalha recomeçasse. Agora estávamos na mesma situação. Ambos com a velocidade diminuída por conta do cansaço, a única diferença foi que Croconaw levara um belo dano das rochas.

Ele começou atacando.

— Croconaw, vamos acabar com isso! Pulso de Água e Jato D'água!

O crocodilo juntou as patas na frente do corpo, que brilhava por completo azulado. Uma esfera começou a ser formada com aquela energia que o envolvia e conforme ele abria os braços, ela crescia, chegando ao tamanho máximo de uma bola de futebol. Com um empurrão, ele a lançou na direção de Bulbasaur e ainda, para aumentar seu poder, usou Jato D'água diretamente na esfera, aumentando não só a sua força como também sua velocidade.

Meu Pokémon não conseguiu evadir, sendo jogado para longe após ser atingido e envolvido por toda a água que era acumulada naquela esfera. Eu, assustado ao ver aquele poder, não pude fazer muita coisa até ver o outro Pulso de Água vir na minha direção.

Ele acertou na altura do estômago, impulsionando-me para trás com força e fez o mesmo que com Bulbasaur, quase me afogando. Caí no chão tossindo e encharcado, a respiração parecia impossível de se recuperar e a água que eu cuspia não parecia tirar a sensação de afogamento. Mesmo assim, levantei lentamente, agora irritado com aquele modo de batalha, e olhei para Bulbasaur em busca do meu Pokémon firme e forte também.

Não foi o caso.

Bulbasaur permanecia de pé, água não era tão efetivo, mas... Piscava com força e encarava os arredores como se pudesse ver coisas que eu não via. Olhei para o telão, que mal se aguentava com metade do campo desabado.


Croconaw
em 52% de saúde
Movimentos usados: Jato de Água e Pulso De Água
Status: Normal


Bulbasaur
em 60% de saúde
Último movimento: Folha Navalha
Status: Confuso

Soltei um grunhido de raiva e comecei a me sentir sem esperanças de vencer aquela batalha. Se os Pokémon mal nos entendem, como Bulbasaur me obedeceria com aquela confusão?

Ainda assim, eu precisava tentar. Não tinha escolha.

— Bulbasaur! — gritei a plenos pulmões, esperando que ele me ouvisse naquele tom. — Folha Navalha!

— Croconaw, Raiva!

Meu Pokémon tentou encontrar um alvo em todas as suas possíveis alucinações, porém, atirou as folhas para o teto. Elas dessa vez giravam mais que o normal e agora havia uma rajada de vento invadindo o ginásio a cada alguns intervalos de tempo, então o resultado foi o próprio ataque do meu Pokémon voltar em alta velocidade.

Àquela altura, Croconaw já alcançara Bulbasaur e estava prestes a tocá-lo quando ambos receberam os golpes das "navalhas" que voltavam com maior poder. Bulbasaur cambaleou para trás e uma de suas patas não aguentou o peso do seu corpo, pois ele estava cheio de cortes e arranhões nos membros e cabeça. Já o Croconaw caiu no chão, sem conseguir levantar direito. Sangrava em alguns pontos, machucado pelo impacto e pela efetividade do movimento. Lutava para levantar, eu tinha que aproveitar aquele momento. Mas o que eu poderia fazer? Bulbasaur não aguentaria muitas outras folhas e seus chicotes tinham grande probabilidade de pegar a si mesmo. Lutar com uma confusão na mente do Pokémon não era uma experiência minha. Eu queria muito minha Poké-Dex ali comigo, não tinha certeza sobre o último movimento do meu Pokémon, então, como todas as outras vezes que venci por desespero, guiei-me pelo instinto e gritei um movimento que não afetaria a ele, mas não deixaria de afetar nosso adversário.

— PÓ VENENOSO!

Mesmo que parecendo mirar mais no chão do que no Croconaw, o Monstro de Bolso com bulbo nas costas começou a emanar de sua planta alguns esporos que se espalharam lentamente ao seu redor. Logo, alguns deles chegaram ao nariz que respirava com dificuldades e à boca ameaçadora do Pokémon Aquático e adentrou seu corpo através de seus canais respiratórios. Algumas linhas, de cor lilás, quase que imperceptíveis, começaram surgir no corpo de Croconaw.

Não o envolveram por completo, mas era possível ver que algumas de suas veias agora mantinham o veneno em si. Ele fez uma careta, sentindo o efeito da peçonha, porém finalmente conseguiu levantar. Aiden agora parecia irritado com a situação, assim como seu Pokémon, e ordenava os movimentos quase demonstrando algum tipo de emoção em sua voz.

— Croconaw! Raiva!

Não foi muito difícil entender aquele movimento, agora que eu prestava mais atenção. Croconaw já estava furioso em estar perdendo para um Pokémon confuso e em desvantagem de nível e também por não ter conseguido atacar antes, Bulbasaur não precisava o atacar mais para o Croconaw permanecer raivoso, pois o veneno já o lembrava constantemente de sua fraqueza.

O Pokémon Réptil começou a atingir Bulbasaur de todas as maneiras físicas possíveis. Mordidas, arranhões, investidas... Bulbasaur suportava como conseguia, ainda confuso, mas eu podia ver que não aguentaria muito mais. Ele tentou atacar, mas as Folhas Navalhas novamente apenas atingiram o ar acima dos dois. Dessa vez, não houve vento para as empurrar para baixo e elas atingiram o teto, em vários lugares diferentes, resultando em uma parte do mesmo cair na nossa direção.

Tudo aconteceu muito rápido. Eu me vi correndo e pulando para a lateral da arena, oposta à arquibancada, caindo e me encolhendo com a dor da pancada. Olhei para trás, para onde estavam os Pokémon. Ouvi uma voz feminina me chamando com certo desespero, Meiko estava preocupada comigo, mas eu apenas me levantei e acenei por trás da poeira, mostrando estar bem. Ela estava na beirada do banco da arquibancada, o mais longe possível de Mayra. Seu Growlithe estava ao seu lado, agitado, frequentemente rosnando para a garota do outro lado.

Tentei não me distrair com a preocupação que Mei tinha comigo e corri até as pedras onde os Pokémon estavam. Mas eles não tinham sido atingidos. Na verdade, ambos tinham escapado por pouco, as pedras caindo em lugares sem os acertar. Eu me aproximei. Com os dois desmaiados, era difícil dizer quem tinha aguentado até o final.

Até que percebi.

Croconaw tinha seu focinho e parte do corpo envoltos em pequenas e finas vinhas, que lentamente paravam de brilhar. Todas levavam até um único ponto. Uma semente.

Semente Sanguessuga.

Olhei para Bulbasaur. Ele estava desmaiado, mas eu sabia que ele tinha sido o último a cair. Evitei um sorriso, não era normal sentir orgulho de um Pokémon, afinal. Retornei ele e esperei que Aiden fizesse o mesmo com seu Pokémon.

Para o início da nova batalha, tivemos que nos posicionar não nas pontas como o normal e anteriormente, mas nas laterais. Novamente mandamos nossos Pokémon ao mesmo tempo e dessa vez não tive tanta sorte. Ao mandar meu Charmander, percebi que minha sorte havia mudado de rumo. Meu Pokémon saiu de sua Poké-Ball empolgado até ver nosso adversário.

Poliwhirl.

O mesmo Pokémon que vimos quase morto nas presas do Croconaw.

Mesmo eu estava temeroso a continuar com aquilo.

Principalmente quando percebi o estado de Poliwhirl. Apesar de firme e forte, seu corpo continha várias cicatrizes profundas, muitas realmente mostravam o formato de uma mordida. Um de seus olhos estava envolto em uma mancha escura e tentei não compará-lo a um humano que levou um soco.

Apenas afastei tudo aquilo da minha mente. Cada um tem seu meio de treinamento. E eu não ligava para nada relacionado a Aiden.

Eu fui quem começou atacando.

— Charmander, Arranhar!

— Poliwhirl, Dança da Chuva! Em seguida, Rajada de Bolhas!

Quando meu Pokémon chegou no adversário, o mesmo deu um pulo por cima da sua cabeça e começou a andar de forma aparentemente aleatória, com as patas para o alto e dando esporádicos saltos. Logo que parou, seu corpo ganhou uma energia azulada e ele estendeu as patas novamente. As nuvens no céu já estavam completamente obscurecidas. A chuva começou a cair, não muito forte. Ainda assim, pude ver a chama da cauda de Charmander diminuir a potência. Ele estava enfraquecendo.

Poliwhirl aproveitou que meu Pokémon ainda se adaptava ao clima estabelecido e atacou com centenas de bolhas, demonstrando certa velocidade. Charmander aguentou por pouco, conseguindo apoiar a pata no chão e não cair, mas eu ainda podia ver seu esforço.

Aiden não hesitou.

— Jato D'água!

— Lança-Chamas!

Fora uma ideia desesperada da minha parte, mas consegui superar a fraqueza e a desvantagem de Charmander usando um movimento mais poderoso. A colisão dos movimentos persistiu por um tempo, a água evaporando e o fogo apagando, até Poliwhirl fazer uma pausa, cansado junto com meu Pokémon, e nós termos uma fraca chance de contra-ataque.

— De novo!

O Lança-Chamas, mesmo que ligeiramente mais fraco depois da insistência de antes, não atingiu apenas Poliwhirl como também seguiu além dele, até Aiden. Ele caiu no chão ao tentar desviar, mas pude vê-lo fazer uma careta, olhando para o braço. Agora eram Pokémon e Treinador sem conseguir continuar um tempo. Eu tinha que continuar.

— Investida! — mandei.

Charmander rapidamente se jogou contra Poliwhirl e permaneci aproveitando a situação temporária de lentidão de Poliwhirl.

— Arranhão! — ordenei.

Meu Pokémon, que mesmo fraco estava irritado, começou a atacar nosso adversário várias e várias vezes. Achei que estávamos conseguindo uma vantagem, quando percebi o sorriso frio que preenchia a expressão de Aiden. Com um movimento súbito da mão, ele ordenou o ataque e eu só vim entender seu plano tarde demais.

Esperar uma aproximação prolongada.

— Bolhas!

Atingido à queima roupa (ou molha pele?), Charmander levou um dano mais forte e, ao tentar se afastar, caiu no chão enlameado. Pude ver que ficava mais fraco a cada segundo. Poliwhirl levantou, arranhado e machucado.

Meu Pokémon lutou para levantar, mas era tarde.

— Rajada de Bolhas!

Aquele movimento seguinte foi o necessário para uma vitória. Charmander foi atingido no meio da barriga e jogado para trás com força, jogado contra mim. Eu caí no chão sentado com uma careta e meio sem fôlego. Segurava Charmander no meu colo, assim como no Monte Lua. Ele novamente olhou nos meus olhos, mais machucado que naquele dia.

Não era como daquela vez. Naquele dia, eu não queria vê-lo, não queria admitir que tinha errado e muito menos pedir desculpas. Ainda assim, olhando naqueles olhos azuis, em completo contraste com seu corpo laranja, eu não pude evitar de dizer o que eu sentia. Por mais que sendo apenas uma frase curta, eu pedira desculpas, com todos os meus sentimentos expressados naquilo. Todo o meu arrependimento do que fiz, decepção comigo mesmo e dor de vê-lo triste por minha causa. Charmander despertara em mim naquele dia algo que superava meu orgulho, fazendo-me ser sincero com um Pokémon.

Quando nós caímos no chão naquele ginásio, ele enroscado nos meus braços, ambos olhando nos olhos um do outro, o momento não pareceu diferente. Eu sorri, ainda o abraçando.

— Estou orgulhoso, amigo.

Olhei para o painel do ginásio, que estava inclinado quase caindo no chão, até perceber a mesma coisa no mesmo momento que Aiden.

Charmander ainda tinha 9% de vida.

Olhei para frente a tempo de ver ele ordenar algo imediatamente ao Poliwhirl. Rajada de Bolhas. Aquilo mais que desmaiaria meu Pokémon.

Em vez de simplesmente retorná-lo, simplesmente solta-lo para a batalha, ignorar o fato de que ele poderia se ferir gravemente, considerando o tanto de saúde que aquele movimento tiraria, eu rapidamente me movo pelo instinto e me coloquei na frente dele e voltei a abraçá-lo. Charmander ficou confuso. Eu senti o impacto do movimento contra minhas costas e me encolhi com ele ainda ali, soltando um gemido.

Nunca achei que simples bolhas fossem tão duras quando batendo contra meu corpo.

Sentia cada vez mais fraqueza. Depois de toda aquela complexa batalha, eu já estava exausto e quase não aguentava mais aquilo. Meu Pokémon percebia aquilo. Olhava no meu rosto, nos meus olhos, com toda a preocupação possível. Quando senti que as bolhas cessaram, deixei meu corpo cair ao lado de Charmander. Fiz o possível para manter-me de olhos abertos.

O Pokémon Lagarto se aproximou de mim e colocou a pata no meu rosto, seu olhar com toda a preocupação possível.

Talvez Pokémon pudessem sim ter emoção.

— Chaaar... — murmurou, mas eu nada entendi. Ele olhou para trás, para nossos adversários. Poliwhirl ficara tanto tempo me atacando que agora tentava se recuperar novamente.

Charmander voltou a olhar para mim. Vendo seus olhos encarando os meus, eu não via mais tanta preocupação quanto um instante atrás. Eu via algo diferente. Eu via o fogo do orgulho, a labareda da ambição, a chama da vingança, nos olhos de Charmander. Ele fechou a pata com determinação.

— Charmander! Chaaar-mander! — pronunciou determinado e tocou meu peito, na direção do coração.

Era impressão minha ou ele queria dizer que me orgulharia mais?

Levantei devagar enquanto observava meu Pokémon avançar com toda sua velocidade e força restantes contra nosso adversário. Poliwhirl conseguiu se recuperar e começou a atacar com outro Jato D'água. Mas Charmander conseguiu evadir, pulando e fazendo fintas conforme chegava perto.

Até que, quando faltavam pouquíssimos metros, Poliwhirl finalmente o acertou de maneira direta. Charmander arriscou um Brasas. Houve uma fumaça, porém eu sabia que o Brasas perderia contra aquele movimento. O vapor logo se dissipou não só com a chuva que caía, como também com um brilho que surgiu daquilo. Era um brilho estranho, alaranjado e parecia vim do corpo de Charmander. Quando finalmente com uma boa visibilidade daquela parte do campo, pude ver que o brilho realmente vinha do meu Pokémon. Poliwhirl recuou, hesitante, enquanto meu Charmander mudava de forma. Seu corpo se alongou. Antes, Poliwhirl era ao menos uns trinta centímetros maior que Charmander, mas agora, quando a forma do meu Pokémon de Fogo mudou, ele tinha uns dez centímetros a mais que nosso adversário, que parecia ainda menor tendo um corpo achatado como aquele.

Seu corpo se alongou, seus músculos se tornaram mais visíveis, suas patas agora continham verdadeiras garras. Sua cabeça se alongou numa espécie de chifre para trás, ele abriu a boca e, mesmo em meio aquele fulgor, pude ver dentes e mais dentes surgirem na sua mandíbula. Ele chicoteou o rabo, que assumiu uma chama maior, e bateu as patas inferiores contra o chão, que também conseguiram novas garras. O brilho sumiu, a cor de Charmander tinha mudado para um vermelho no lugar do laranja. Seu rosto, antes inocente, agora tinha uma expressão mais ameaçadora.

Após a evolução, Charmeleon soltou algo semelhante a um rosnar, ou rugir, para o alto, soltando fogo que agora era mais poderoso. A chuva estava diminuindo, e Poliwhirl recuava amedrontado. Ele mostrou os dentes numa espécie de sorriso ameaçador, e ao ver as novas presas do meu Pokémon, o Aquático caiu sentado no chão e recuou ainda mais. Murmurava em sua língua repetitiva algo inaudível. Tinha nos olhos algo que eu só vira em uma pessoa.

Meiko.

Eu olhei para ela, com uma pergunta silenciosa para ela quanto ao que ele dizia, ou sentia. Não que eu tivesse certeza se ela entenderia meu olhar, porém, assim que fizemos contato visual, ela entendeu imediatamente.

E assentiu. Sombriamente.

Poliwhirl estava amedrontado... Traumatizado.

Olhei para nosso inimigo e respirei fundo. Prosseguir com aquilo seria como fazer o oposto que fiz com Mei na caverna. Seria como trancá-la naquela caverna e abandoná-la ali. Eu deveria continuar?

Balancei minha cabeça. Eu precisava daquela insígnia. Precisava lutar. Charmeleon conseguira se esforçar ao máximo para conseguir continuar na batalha. Eu precisava fazer o mesmo.

Olhei para meu Pokémon e sorri, um sorriso determinado. Eu tinha quase certeza que meus olhos brilhavam com minha empolgação. Charmeleon sorriu também e assentimos um para o outro. Eu cerrei minhas mãos, ele bateu uma das patas inferiores contra o chão e encaramos Poliwhirl ao mesmo tempo.

Vamos acabar com isso.


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Notas finais do capítulo

Konnichiwa, minna-san! Tudo bem com vocês?
Primeiramente, perdão a demora, infelizmente isso tem sido comum. Segundo, obrigada por lerem ♥
Terceiro, devo pedir desculpas também por esse final. Na realidade, esse capítulo completou 9.000 palavras e eu não podia postá-lo como estava, então separei em um outro que talvez mude algumas coisas para não ficar pequeno.
Podem comentar, prometo não morder (Talvez o Croconaw sim, se não comentarem u.u)
Responderei todos, até mesmo aquele simples "Gostei" ♥
Até mais!



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