Lealdade sem Fronteiras #1 escrita por Nath Schnee


Capítulo 21
Capítulo 21 – Versus Equipe Fermata


Notas iniciais do capítulo

"Eu tenho todos os motivos para ficar furiosa com os Pokémon, como qualquer outro humano já ficou. Eu poderia ter ódio de Mewtwo pelo que ele fez comigo, poderia ter ódio daquele Pokémon, poderia guardar rancor de tudo e todos... Mas esta não era eu. Eu nunca consegui encarar de outra forma que não fosse culpa dos próprios humanos. Foram eles que criaram Mewtwo, que me desprezaram quando pedi ajuda, que quiseram me executar ou prender, mesmo que em boa parte eu também fosse uma vítima. Foram os humanos quem obrigaram aquele pobre Pokémon a agir comigo daquela forma.
Eu sempre perdoaria os Pokémon... Mas perdoar minha própria espécie? Era o mesmo que me perdoar. E isso nunca aconteceria."



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Meiko "H." Ketchum

Dan e eu seguimos juntos de novo. Ele parecia agitado, comentava muito sobre a batalha, perguntava como eu conseguia pensar em tantas técnicas e golpes sem o uso dos próprios movimentos dos Pokémon, mas eu estava divagando, então não respondia nem o suficiente. Não conseguia manter o foco no presente, minha mente repetidas vezes variava entre o presente e o passado. Em alguns momentos eu estava ali com Dan, escutando poucas das coisas que ele me falava, e no outro estava na batalha em dupla, ou até na minha batalha contra Mayra. Na maioria das vezes eu ia até mais longe, voltava à presença de Mewtwo, ouvia ele me dizendo o que fazer e como agir em uma batalha. Sua voz ecoava na minha mente como se ele estivesse ali na minha frente.

“Não é apenas de movimentos e habilidades que se faz uma luta. Você, como humana, nunca lutará com toda a força se usar somente os punhos. Esse Rattata tem pernas, mesmo não tendo movimentos de chutes. Ele não precisa saber Chute Duplo para saber golpear. Use-as também. Dê ordens usando todo o corpo, ou não conseguirá os melhores resultados, mesmo que ganhe."

— Certo, Mei?

A voz de Dan me despertou por um segundo, mas minha mente ainda estava longe. Eu não conseguia focar direito. Apenas assenti, torcendo para ser o suficiente, e novamente fiquei presa às memórias. Lembrei de como eu havia mandado Spyke atacar mordendo e chutando. Ele havia me entendido, eu havia treinado ele para isso, mas eu não me lembrava que quem me ensinara fora Mewtwo até aquele momento. Eu só o treinava por saber a técnica, e não fazia ideia de que meu sequestrador fora quem me instruiu.

Mais flashes de memória surgiram, memórias que eu também não me lembrava ter. Elas pareciam misturadas à batalha contra Mayra, como se Mewtwo estivesse me guiando naquele momento. Eu queria acreditar que não, uma pequenina parte de mim sabia que eram apenas flashbacks distorcidos, mas o restante não conseguia levar aquela informação como algo importante. Eu não conseguia afastar as memórias e os pensamentos, nem distingui-los.

“Levante mais os punhos. Mantenha a guarda.”

A voz dele estava clara.

Eu não quero lutar.

Eu não queria aprender a lutar. Eu não queria ter de usar minhas mãos para machucar um humano. Nem um Pokémon.

“Faça. Precisa aprender a lutar sozinha, não apenas depender de Pokémon. Vocês humanos são covardes colocando-os em seus lugares, em suas guerras. Aqui, é você quem luta. VAMOS!”

Eu fiquei parada no lugar, sem entender o que ele queria dizer. Por que ele queria me obrigar a fazer isso?

Mewtwo me segurou pelos ombros, me impedindo de desviar o olhar. Aquilo era real demais, eu não conseguia pensar que aquela pressão nos meus ombros era apenas uma memória.

"Você tem de aprender a lutar. Este mundo está podre, os humanos são podres e tornaram o mundo como eles. Aprenda a lutar e colabore comigo, ou morra como qualquer outro humano que estiver no meu caminho!"

”Colabore comigo ou morra como qualquer outro humano”… Por que tudo tinha de acabar assim? Eu não queria lutar. Por que tinha de ser eu?

— Meiko. — Mewtwo me chamou, o que eu estranhei. Ele nunca me chamava pelo nome. Eu era apenas “Humana”. E nem ficaria tanto tempo me segurando pelos ombros assim. Sua voz ia e voltava, firme e próxima, assim como distante e inaudível. Continuei confusa até que a face de Mewtwo lentamente se transformou na de um humano, um garoto, que realmente apertava meus ombros, mas sua expressão era de uma grande preocupação. —… ko? — Ouvi a voz de Dan através dos meus ouvidos, como se ecoando e abafada enquanto eu lutava contra as memórias. — Meiko!

Pisquei com força, afastando as imagens, que se agarravam na minha visão, e olhei brevemente para ele, para então abaixar a cabeça e escapar de seu toque lentamente me afastando.

— Estava distraída. — Foi tudo o que consegui dizer.

— Distraído eu que estou. Você estava era longe pra caramba. Você está bem?

— O que você estava dizendo? — questionei, desviando do assunto.

— Você não me respondeu.

Vendo que ele não mudaria de assunto, abaixei novamente o olhar, puxei meu capuz e segui andando na frente, em busca da próxima prova.

— Tudo bem. Mais tarde então? — questionou. Continuei em silêncio. Se ele havia entendido como um sim ou como um não, eu não queria saber naquele momento. Ele apenas também ficou em silêncio, e tentei considerar que respeitava minha necessidade de espaço.

Quando chegamos às portas seguintes, nosso caminhos seguiam na mesma direção, sem qualquer mudança, mas como duas trilhas paralelas distintas, quase indicavam que logo estaríamos fazendo coisas diferentes. Era como uma floresta como antes, bem longe de parecer uma floresta, era artificial como todo o resto. Nossos caminhos se separavam, e nós paramos por um momento.

"Libere-os."

A voz estava lá de novo, me mandando liberar minha Alakazam. Mas por que? Não havia nada por perto. Não havia ameaças, por que liberaríamos os Pokémon?

— Dan?

— Olha só! Aprendeu a falar novamente?

Por um longo momento fiquei em silêncio de novo, pensativa. Por que eu queria tanto falar aquilo? Por que aquela voz era tão importante assim? Eu não deveria dar tanta atenção a ela, mas eu não conseguia não ouvi-la. Queria saber sua origem, e isso me fazia acreditar que obedecê-la seria um caminho.

— Sawk. — Enfim pedi a Dan, enquanto pegava a Poké-Ball de Magi, torcendo para ele entender.

E ele entendeu… mas ficou extremamente irritado.

— Agora que não tem ameaças você quer me mandar liberar o Sawk?!

Olhei para ele, mas não sabia bem o que deveria responder. Dan mal acreditava quando eu falava sobre tudo o que passei, mal conseguia lidar com minha distração nas minhas próprias memórias,  como poderia acreditar que eu seguia uma voz de origem desconhecida dizendo o que fazer na minha cabeça? Sem forças para argumentar, liberei Magi e tentei seguir andando. Ele se recusou e também seguiu o próprio caminho. Árvores nos separaram, e eu o perdi de vista.

Andei pouquíssimos metros antes de outra voz surgir. Magi.

"Talvez seja melhor que vá devagar."

Olhei para ela, sem entender. Ela percebeu minha pergunta silenciosa.

"… Temos de ser cautelosas."

Eu estranhei. Magi raramente hesitava, mas se ela dizia… Eu aceitei. Não havia motivo para questionar. Se o momento posterior não se tratasse de um estado à beira de um surto, eu teria realmente perguntado o motivo de sua hesitação.

A floresta se abriu em uma clareira em frente a uma caverna estranhamente familiar, mas que ainda assim eu desconhecia. Magi recuou até tocar meu ombro, um gesto que não entendi inicialmente, ela não costumava fazê-lo, assim como a frase que ela disse em seguida também não fez sentido.

"Ele está vindo. Meiko, lembre-se de se concentrar em mim!"

Antes que eu pudesse perguntar de quem ela estava falando, uma silhueta surgiu da escuridão da caverna. Inicialmente pensei ser um humano, mas estava muito longe disso. Uma criatura humanóide bípede com algumas características felinas surgiu do arco de pedra, uma silhueta que quanto mais se aproximava da saída, mais trazia minha memória de volta, e era um dos raros momentos que eu não a queria. Seu corpo lilás acinzentado foi iluminado com a luz do sol artificial, a longa cauda violeta chicoteou o ar momentaneamente. Sua cabeça girou de Magi a mim, orelhas curtas e pontiagudas parecendo detectar até mesmo minha respiração. Enquanto seu olho esquerdo como ametista me encarava com ódio, seu olho direito era vazio, branco como leite. Ainda que aquilo lhe conferisse uma fraqueza, esta relacionada à cicatriz que o atravessava, desde seu supercílio até o alto da maçã do rosto, eu ainda o temia de todas as formas. Mesmo tendo apenas metade da visão, ele sempre me dava a sensação de que na verdade nem precisaria daquele sentido para ter total poder. Suas mãos, compostas de três dedos com pontas redondas, lentamente se fecharam à minha vista. Simultaneamente, meu coração se tornou pedra: pesado como chumbo, parado como uma parede.

Não sei bem quais foram exatamente os primeiros sinais que apresentei. Mesmo atualmente, anos depois, minha memória permanece quase nula em relação ao evento. Meu senso de tempo daquela época é distorcido, minhas lembranças limitadas a flashes e trechos duvidosos, que até hoje não sei bem como haviam sido na realidade. Não sei por quanto tempo encarei sua aparência — que tanto me remetiam a outra época confinada — e quanto tempo tive para tentar me livrar das memórias que me afligiam, que pouco me davam espaço em mente para fazer qualquer coisa no próprio mundo externo.

Apesar de pouquíssimo me lembrar do que houve, acredito que houveram gritos. Gritos meus, provavelmente. Tenho a impressão de ter pedido para ele me deixar em paz, pedido por socorro, ou qualquer coisa do tipo. Pelo flash de memória que tenho posterior ao primeiro instante naquela clareira, acredito que eu tenha corrido, pois eu já estava em outro lugar, encolhida entre as raízes de uma árvore, provavelmente suja ao chão, com as mãos na cabeça. Acho que meu rosto estava molhado. Eu também não conseguia respirar corretamente, meu peito estava doendo de forma descomunal, não conseguia pensar também. Não havia nada além de uma crença forte na minha própria morte. Havia uma barreira rosada ao meu redor, que variava um pouco com outras cores do arco-íris. Havia uma silhueta na minha frente. Magi. Era ela. Ela estava me protegendo, ainda que no próprio flash eu não soubesse do que.

A próxima lembrança consiste também de sons e dores, outros sentidos do meu corpo funcionando. Minha cabeça doía, minha pele estava arranhada, meus olhos ardiam, meu peito estava com um aperto descomunal, dor esta que até hoje me faz acreditar que poderia estar tendo um infarto. E havia vozes. Não sei se minhas, mas eram irreconhecíveis e inteligíveis. Depois de um tempo, elas se tornaram mais distintas. Era Magi. Ela falava, não sei se na minha mente ou em voz alta. Tenho a impressão de ser em voz alta, mas não faria sentido Magi usando a própria voz. Ela sempre usou sua Telepatia. Mas lá estava, a voz dela, e seu rosto bem na minha frente, seus olhos brilhando azulados. Sua voz era frenética — outra coisa que não fazia sentido. Ela deveria estar falando comigo há algum tempo, pois eu não pude ouvir toda a primeira frase.

... com você! Concentre-se! Eu estou aqui, com você, agora! Está me ouvindo?

Hoje eu sei que deveria ter assentido e concordado, embora eu duvide que tenha acontecido. Atualmente, tenho comigo apenas uma sensação estranha de uma ocasião extracorpórea, pois sinto hoje uma frieza em relação a estas lembranças. Como uma alma presa a um corpo que não tem controle, que só assiste trechos sem sentido de uma série de imagens, que quer ter poder sobre elas, mas não tem. Eu teria aceitado o que Magi me dizia, mas pouco faz diferença. Eu sei que devo ter gritado para Magi se afastar e tenho a impressão de que tive o impulso de empurrá-la. Não tenho certeza, pois novamente a memória se esvai no vácuo.

Depois da lacuna, outro momento de lucidez, mais longo que os outros. Eu lutava contra algo que achei me aprisionar, que não me permitia movimento quase algum. Eu me debatia. Embora talvez fizesse algum efeito se eu lutasse por mais tempo, eu estava sem forças. Chorava, chorava em um misto de raiva, angústia e desespero. E medo. Um inimaginável medo. Um horror como nenhum outro. Minhas forças se foram, e eu abri os olhos. Vozes novamente, duas delas, uma muito próxima aos meus ouvidos para ser ignorada, ainda que por muito tempo eu não pudesse entendê-las. O idioma era humano, a voz era humana. Quando finalmente voltei à realidade de maneira definitiva, a voz já tinha um tom de desespero.

—… machucar! Meiko, pare AGORA! ELE NÃO ESTÁ MAIS AQUI! SOU EU! SOU O DAN! OLHE PARA MIM! 

O humano estava me abraçando, ou me imobilizando. Era difícil definir. Ainda que sua voz fosse firme, ele não estava gritando de verdade, mas parecia prestes a fazê-lo. Dan. Ele não me soltava, mas eu tinha a sensação de que já estava exausto também. Eu lentamente deixei meus ombros e braços caírem, meus músculos relaxarem, e eu olhei para ele ofegante. Quando se afastou, o humano tinha expressão de dor, levando a própria mão à costela que há pouco tempo havia ferido. Ainda assim, ele enfrentou o desconforto e me encarou. 

— Mei? — Seus olhos suplicantes e desesperados percorriam os meus em busca de resposta. Eu só não sabia qual era a pergunta. — Mei, sou eu, Dan! Por favor, não precisa mais lutar!

Não fiz muito mais que respirar ofegante, as lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto. Young olhou para trás e então para mim, se afastou e eu vi o motivo de tê-lo feito. Magi lentamente se aproximou, seus pés de alguma forma silenciosos na grama. Seus olhos brilharam momentaneamente, e eu senti como sempre a sentia quando estava em minha mente, estabelecendo o costumeiro elo para nossa Telepatia. Ao mesmo tempo que aquela conexão foi estabelecida, eu me senti estranha. Todas as emoções, que eram um turbilhão dentro de mim, desapareceram. A visão e a presença de Magi me traziam uma calma inexplicável, e naquele momento eu senti isso novamente, uma energia tranquilizante percorrendo meu corpo. Eu sabia que minhas emoções ainda estavam lá em algum lugar, mas também sabia que Magi estava me ajudando a focar na realidade e não me perder em memórias novamente. Ainda assim, eu não sabia o que tinha acontecido. Por que eu estava ali, abaixada, em tamanho desespero? Por que Dan estava tão preocupado? Por que Magi precisou intervir para que eu me controlasse? Eu normalmente conseguia conter minhas emoções, o que havia de errado?

Minha Alakazam percebeu o que eu queria perguntar antes que eu me recuperasse o suficiente para falar. 

"O teste da Equipe Fermata foi longe demais."

Eu não entendi o que ela queria dizer. Magi olhou para Dan, que me encarou ainda com sua expressão de preocupado. Aquele mínimo gesto me deu uma sensação estranha. Deveriam ter tido um longo momentos juntos para Magi quase agir como se ele fosse eu, criando um elo telepático com eles. Ou, senão, sendo capazes de tomar decisões por meio de olhares. Sawk surgiu entre os dois. Eu ainda não havia me recuperado o suficiente, pelo visto. Nem havia notado ele ali.

— Nós fomos atacados. Mas está tudo bem agora. — garantiu ele. Sawk assentiu, confirmando a informação.

Tentei levantar do chão me apoiando na árvore, mas o mínimo movimento do meu corpo me trouxe uma dor estranha. Olhei para minhas mãos e percebi que havia marcas vermelhas, quase sangrando, no dorso. Os nós do meu dedo estavam machucados e envoltos no líquido, completamente doloridos. O resto do meu corpo também estava dolorido em diversos lugares. Embora não parecesse um machucado comum, não para os meus padrões, pelo menos, eu sabia o que aquilo podia indicar.

Olhei à minha volta. Magi me observava com expressão de preocupação, ao mesmo tempo que demonstrava calma. Dan estava bem diferente. Confuso, nervoso, e com uma expressão de dor. Seu rosto estava vermelho em um dos lados e ele olhou na direção de Magi, talvez para tentar entender o motivo de eu estar olhando em volta. 

Meu olhar parou quando eu vi o que havia atrás deles. O Pokémon estava caído no chão, mas eu poderia reconhecê-lo em qualquer lugar — ou pelo menos era o que uma parte de mim me dizia sempre que eu via algum Pokémon. Ainda que deitado, eu sabia que era bípede. Seu corpo era de um cinza bem escuro, com garras, nariz e feições do rosto e focinho avermelhadas. Sua juba, enorme, me lembrava até um cabelo bem grande, também era vermelha e cobria boa parte do corpo caído de bruços. Tinha bastante pelagem, e parte dela preenchia o peito como em um peitoral escuro, preto. Eu não conseguia ver suas pernas de onde estava, toda a sua juba cobria, mas sabia que eram como os braços esguios e ameaçadores. Era um Pokémon lindo e fascinante… Eu teria admirado suas capacidades e aparência se minha mente não estivesse juntando os fatos.

Eu me aproximei dele e me abaixei, tocando seu pescoço. Estava vivo, mas bem machucado. Não só a cor como a pelagem em si escondia os machucados, que tingiam ainda mais seu corpo com vermelho. Não eram graves, só deveriam estar doendo bastante, e havia sinais de luta também. Uma batalha Pokémon com ataques à distância… e algo além disso.

Respirei fundo, tentando controlar tudo que crescia dentro de mim conforme a verdade chegava à minha mente.

— Zoroark. — Olhei de Magi a Dan. — Qual foi a ilusão?

Dan abriu a boca para me responder, mas Magi fez um leve aceno com a mão.

”Você sabe qual foi, Mei.”

É claro que eu sabia. Só havia uma ilusão possível que poderia me tirar o controle. Meu olhar se dirigiu aos dois. Dan parecia em um misto de preocupação e dor, mas havia algo além disso eu seu olhar, como se ele soubesse exatamente no que eu estava pensando. Magi não estava diferente, Na verdade, seu olhar respondeu a tudo. Mewtwo. 

Abri e fechei minhas mãos, vendo os machucados no dorso, e novamente vendo como o Pokémon estava machucado. Fiquei algum tempo em silêncio, avaliando seus ferimentos de novo. Embora eu simplesmente não conseguisse me lembrar o que havia acontecido, havia algo que não havia como negar.

— Eu fiz isso…?

Dan olhou para Magi, sem entender o que eu estava falando. Pouco mais de um segundo, Telepatia, definitivamente, e ele discordou de minha frase.

— Não, Mei! — exclamou Dan, apreensivo. — Não, Sawk e Magi foram quem batalharam contra ele.

Eu lutei. Alakazam também lutou. — confirmou Sawk, se posicionando ao lado de Magi. — Protegemo-te como deve ser feito.

Aquela frase só me lembrou da primeira vez que encontrei com Sawk, antes mesmo de conhecer Dan. Quando ele havia roubado minha lanterna, eu consegui segui-lo pela floresta com ajuda do faro de Rex e Spyke, e quando pedi que devolvesse, ele havia dito que só devolveria se partisse comigo em jornada, pois desejava usar de sua força para algo mais útil do que permanecer na floresta espantando humanos. Ele desejava sair em jornada como alguns Pokémon saíam. Sawk demorou a entender quando lhe contei que eu talvez não fosse a melhor escolha para o que ele desejava, não entendia que uma jornada me escondendo das pessoas talvez não fosse o melhor para ele, mas tentaria encontrar algo que o satisfizesse. Dan surgiu, e os dois, pelo visto, estavam se dando muito bem.

Afastei os pensamentos, não era sobre Sawk que eu queria saber. Aquilo não fazia sentido ainda, nada daquilo explicava minhas mãos feridas de ter socado algo. Qual era a explicação então? Magi novamente ouviu minha pergunta silenciosa e olhou para os outros dois. Para hesitar tanto em me revelar a verdade, havia algo errado.

— Contem-me.

"Eu usei Proteção, mas você lutou contra a barreira tentando fugir."

— Há algo além. — contrapus em resposta. Ela não hesitaria por algo tão simples.

Dan suspirou e indicou algo atrás de mim, a saída.

— Vamos contar, mas precisamos continuar.

Olhei dele para a saída, e então para o Pokémon Sombrio desmaiado. Assenti, mas não sem antes me abaixar e pegar Zoroark no colo, apoiando nos meus joelhos dobrados. Fitei Magi, que logo entendeu o que eu queria e usou seus poderes para trazer minha mochila até mim. Eu peguei um Reviver Máximo que havia dentro da mochila e despedacei até ficar em pedaços pequenos, dando a Zoroark e tentando fazê-lo engolir sem que ele engasgasse. Eu fazia isso com certa frequência com Pokémon Selvagem, então fazê-lo com aquele Zoroark, que eu tinha impressão de não ter um Treinador, foi apenas por costume. Um costume que eu não conseguia largar.

— Ei, não deveria fazer isso! Ele deve ter um Treinador, o Treinador dele deve curá-lo, não desperdice isso! — Dan, como sempre, estava inconformado.

Eu apenas o ignorei e continuei com o que fazia. As feridas do Pokémon lentamente fecharam, e eu vi seus olhos tremerem. Zoroark acordou assustado e se afastou de mim, mas então viu o resto do Reviver em minhas mãos e hesitou. Eu apenas guardei o que restou na mochila, já que ele havia acordado antes do esperado com só metade da medicação, e levantei para ir embora. Dan me encarava com incredulidade. Eu não me importei, não era a primeira vez que ele criticava meus hábitos. Apenas segui andando, com o olhar irritado de Dan me seguindo e deixando para trás o de Zoroark, melancólico como o de muitos Pokémon Selvagem usados pelos humanos.

Enquanto a luz artificial desaparecia atrás de nós, eu, que havia ficado por último na nossa estranha fila única de Pokémon e humanos, ouvi um uivo alto, vindo direto do Zoroark. Dan reclamou, dizendo para nos apressarmos, mas diferente dele, eu sabia exatamente o que aquilo significava.

Eu olhei para o Pokémon Noturno uma última vez. Seus olhos estavam angustiados, buscavam no meu o perdão que seu som havia implorado. Eu consegui controlar minha expressão e focar nos sentimentos que queria transmitir o suficiente para conseguir dar um sorriso pequeno e assentir com a cabeça. Zoroark sorriu, aliviado. Minha mensagem, “Está tudo bem, sei que a culpa não é sua.”, foi recebida por ele, e eu segui caverna adentro, mergulhada nos meus próprios pensamentos novamente. A voz, que não era de Magi, estava lá comigo novamente, e ela me trazia uma segurança que eu não estava esperando… Mas era bem vinda. Tão bem vinda quanto a própria Telepatia da minha Alakazam, e ainda mais nítida do que era antes.

"Você foi forte."

Eu suspirei silenciosamente enquanto caminhávamos. Magi olhou para mim. Eu tinha plena certeza de que ela ouvia o diálogo, mas se recusava a comentar sobre. Eu a observei de volta, mas a mensagem era para ambos.

Eu não conseguiria sem você.


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Notas finais do capítulo

É, pessoal, depois de alguns séculos... Estou de volta!
Gostaram do capítulo? Não se esqueçam de deixar sua opinião nos comentários, ela é muito importante, principalmente em capítulos como este.
Até mais!



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