Meiko "H". Ketchum

Quando eu levantei do chão depois de Leaf me derrubar e percebi que não tinha plano algum, a minha ficha caiu: talvez aquela batalha fosse ainda mais difícil do que eu tinha imaginado.

Ela piorou ainda mais quando eu tentei uma nova estratégia e a habilidade de Seaking me impediu de dar qualquer tipo de dano com Spyke. Enquanto Dan e eu estávamos perdidos em como continuar, nossos adversários aproveitavam a situação.

— Anel de Água, Seaking!

— Prepare outra Cauda do Dragão, Tyrunt!

Tyrunt estava novamente armazenando poder em sua cauda, e um anel de água começou a recuperar Seaking. Não seria o suficiente para anular o veneno, mas o deixaria por mais tempo na batalha. Precisávamos fazer alguma coisa. Mas lá estava eu, presa a pensamentos inquietos em busca de uma resposta que não surgia. Dan murmurou "Sawk e Magi", mas eu neguei. Eu ainda não sabia o porquê, mas havia uma parte de mim insistindo que eu mantivesse não só Magi como também Sawk guardados. Como um pressentimento que poderia piorar. Quase como uma voz me avisando para deixá-los para depois.

— Eu tenho uma ideia. — murmurei. — Ocupe Seaking.

Dan pareceu se zangar, e eu não o julgava. Aquilo era difícil de se fazer com um Pokémon quase em desvantagem. Mas ele estava com sorte. Eu dei uma ordem breve:

— Spyke, cuide do Bulbasaur. Mordidas e empurrões.

Meu Shinx avançou para morder Seaking, o que ele estranhou, pois havia mandado Bulbasaur atacar aquele Pokémon também. Uma luta começou. Seaking se esforçava para escapar dos golpes, pulando e se debatendo no chão. Bulbasaur atacava com Chicote de Cipó.

— Agora, Tyrunt!

Bulbasaur estava ocupado lutando com Seaking ao lado do Elétrico, o que me fez hesitar em ordenar, mas eu precisava fazê-lo.

— Spyke!

Entendendo, Spyke se jogou com toda a força contra meu Bulbasaur de repente. Dan já ia gritando com ele, reclamando que estava atacando o Pokémon errado, quando Tyrunt surgiu na nossa visão, vindo por trás de todo aquele aglomerado de Pokémon. Spyke havia se jogado e jogado Bulbasaur pouco antes de Tyrunt atingir Seaking com seu Cauda do Dragão acidentalmente. Seaking foi jogado para fora do campo, aos pés do treinador, que tropeçou e deixou uma Ball escapar até o campo.

Ela se abriu e revelou um Elekid. Dan e eu nos entreolhamos. Sabíamos que Spyke não se daria bem contra Elekid. Ele lançou um olhar para os adversários e eu peguei uma Poké-Ball enquanto ele mantinha eles ocupados.

Eu estava prestes a enviar Magi, queria acabar aquela batalha logo, quando aquela sensação estranha se apossou de mim de novo. Era a mesma que eu havia sentido quando vi os robôs levarem Dan, a mesma que havia me dito para tomar cuidado com Tyrunt. Não era apenas uma intuição, estava mais para uma voz que me guiava. Guardei novamente a Ball de Magi.

— Bulbasaur, jogue o máximo de Folhas Navalhas na sua frente que você conseguir!

Retornei Spyke e liberei Leaf atrás de Bulbasaur para que ela não fosse atingida.

— Leaf, guarde energia.

Dan pareceu entender que movimento era.

— Você vai…?

Assenti.

— Ao meu sinal, mande Bulbasaur se afastar para a esquerda.

— Mei, é muito arriscado, eu não acho que você pode simplesmente controlar isso. Vai acabar errando ou acertando meu Bulbasaur.

— Eu não controlo. — respondi de maneira ríspida. Como Dan podia duvidar daquilo? Só porque os movimentos que exigiam certa energia estavam se tornando imprevisíveis para o resto dos humanos, só porque os ataques mais letais estavam até mesmo sendo proibidos por aí, ele não deveria duvidar das capacidades da minha Bayleef. Eu confiava nela, mesmo quando nem mesmo ela o fazia. — Leaf é quem controla.

— Elekid, Soco de Fogo, mire em Bayleef!

— Tyrunt, vamos tentar outra vez, mas no Bulbasaur!

O punho de Elekid se incendiou do nada e ele avançou contra nossos Pokémon. Leaf não podia se mover, então Bulbasaur foi de frente sem sequer ter ordens de Dan. Um embate de alguma forma equilibrado se fez entre aqueles dois. Elekid atacava com seu Soco de Fogo toda hora, mas Bulbasaur estava se defendendo como conseguia. Cruzava suas vinhas na frente de si de maneira a impedir a continuidade do movimento do elétrico. Sempre que seus cipós ficavam queimados, ele simplesmente saltava para trás e fazia novos com o tempo que tinha. Eu não pude deixar de me impressionar. Aquilo exigia uma experiência grandiosa de um Pokémon, lutar de igual para igual de maneira injusta não só pelos tipos de movimentos, como também por Elekid ter mais habilidades de luta próxima, usando o fato de ser bípede.

Ainda assim, estava claro que Bulbasaur não aguentaria aquilo por muito tempo. Elekid já estava ganhando e seu reforço, Tyrunt, já estava quase pronto. Achei que meu plano daria errado, quando me surgiu a sensação. Algo me dizia que Leaf estava pronta. Olhei para ela, que acenou para mim, indicando que eu estava certa. Observei Tyrunt. Quando ele deu o primeiro passo para avançar, eu soube que era a hora certa.

— Agora!

Mesmo temeroso quanto a seguir meu plano de confiar no Raio Solar, Dan não hesitou quando eu alertei. Ele gritou “Esquerda!” para seu Bulbasaur, e eu percebi que o plano não tinha ido tão bem assim. Bulbasaur não entendeu e acabou levando um forte Soco de Fogo, que o jogou para trás. O Raio Solar cruzou o campo em uma velocidade enorme, mas de alguma forma não o atingiu. Bulbasaur havia sido inteligente novamente e usou suas vinhas no chão, o jogando para cima, enquanto o enorme raio de luz passava por baixo dele. O movimento de Leaf acertou os dois Pokémon em cheio. Tyrunt ainda tentou se defender ficando de costas e usando sua Cauda, mas o único resultado foi Elekid ser atingido pela golpe tipo Dragão. Quando a luz desapareceu e nossa visão voltou ao normal, Tyrunt estava desmaiado no chão, na borda da arena, enquanto Elekid estava levantando, mas havia sido jogado para fora da arena.

 — Tyrunt está fora de combate! Elekid deve ser substituído por ter saído da zona de batalha!

Olhei para Dan, que deu um sorriso para mim. Eu estava prestes a comentar que éramos uma dupla e tanto quando ouvi um som abafado. Bulbasaur, que havia aguentado como conseguia, caiu ao chão, desmaiado. Mas eu tinha certeza, não era pela queda em si, mas por todo o esforço que havia feito até então.

— Bulbasaur está fora de combate!

Dan o retornou e olhou para mim. Tivemos uma conversa silenciosa por meio de gesticulação de nossos lábios enquanto nossos adversários escolhiam os Pokémon, que foram Seaking e Turtwig.

“Vou mandar Sawk!”

Balancei a cabeça:

“Ainda não.”

Ele estava inconformado:

“Por que não?”

“Confie em mim.”

“Quem eu mando então?”

“Charmeleon.”

“Não! O Seaking...”

“Confie em mim!”

Dan bufou frustrado e liberou Charmeleon. Nossos adversários pareceram satisfeitos. Para eles, pelo menos um dos Pokémon seria fácil de derrotar. Mas eu confiava em meus instintos, aquela voz dentro de mim... Ela ainda não havia falhado.

Todos ordenamos quase ao mesmo tempo, o que foi um tanto quanto caótico, pois as ordens quase se perderam umas entre as outras. A impressão que aquilo passava era de que ou os Treinadores estavam muito empolgados... ou em desespero.

— Seaking, Cachoeira no Charmeleon!

— Não deixe que isso aconteça, Leaf, Folha Mágica nele!

— Turtwig, impeça Bayleef, Arremesso de Corpo!

— Charmeleon, intercepte Turtwig com Lança-Chamas!

Seaking se concentrou e começou a produzir água de sua boca, formando uma enorme coluna de água, que lentamente se curvava na direção de Charmeleon. O Pokémon Aquático começou a subir por essa correnteza com facilidade, e eu sabia que assim que chegasse ao topo, se jogaria com todo aquele poder em Charmander. As Folhas Mágicas de Leaf cortaram o ar com enorme velocidade, e começaram a perseguir Seaking, que fazia de tudo para se esconder na água.

Enquanto isso. Turtwig avançava contra Leaf com intuito de tirar sua concentração, afinal, ela ainda estava controlando aquelas folhas. Ele chegou até perto, mas uma grande rajada de fogo o pegou no meio do caminho. Foi perfeito, Turtwig foi empurrado para longe, além de ficar em um estado crítico. O problema foi que a coluna de fogo assustou Leaf, que se desconcentrou por um momento, e Seaking aproveitou que as folhas se perderam para atacar Charmeleon.

É claro que aquele golpe seria o fim da batalha para o lagarto de fogo, mesmo que ele estivesse saudável. Dan e eu ficamos parados, assustados com a chance dele desmaiar naquele exato momento, enquanto a enorme coluna de água seguia em sua direção. O impacto foi forte. Não pudemos ver nada, pois a água também nos atingiu. Eu até mesmo me virei, protegendo minha mochila, temendo pelo ovo. Ele escapou são e salvo, o que me deixou aliviada o suficiente para ignorar meu corpo molhado.

Quando eu me virei, Dan parecia estagnado. Seu boné havia caído, seu cabelo castanho caía na frente dos olhos. Ele nem parecia se dar conta disso. Olhei na direção que ele tanto encarava, para me deparar com Charmeleon de pé. É claro que aquilo era impossível, o que me fez tentar entender o que havia acontecido. Charmeleon também parecia bastante estupefato. Não muito diferente de Dan, ele estava bastante molhado, a chama em sua cauda havia diminuído significativamente. Seaking fez uma careta, sofrendo com o veneno que ainda corria em suas veias. Ambos os Pokémon encarava Leaf, que lentamente levantava à sua frente, parecendo dolorida e ofegante. Ela engasgava com água, mas como? O golpe não havia sido contra ela.

A expressão de Charmeleon lentamente se tornou a de gratidão, e eu finalmente entendi. Vendo que não conseguiria controlar mais folha alguma, ela havia corrido de encontro a Seaking. O golpe havia feito um grande dano a ela, e até empurrado para trás, além de pelo visto atingir Charmeleon com menos de 40% da força original, de acordo com minha Poké-Dex. Minha Bayleef nem havia hesitado em salvar Charmeleon. Eu não pude evitar um sorriso. Eu sabia que nem Rex, Spyke, ou mesmo Magi, se preocupariam daquela forma, se esforçariam assim por um Pokémon que mal conheciam. Esta era minha Bayleef, bondosa e empática desde o primeiro momento em que nos conhecemos.

— Leaf! Você foi incrível!

Nossos adversários não estavam vibrando comigo. Eles pareciam bem irritados, principalmente o Treinador do Seaking, que imediatamente recorreu ao seu ataque mais forte contra minha Bayleef.

— BICADA EM BAYLEEF!

— Acompanhe, Turtwig, ataque com Superpoder!

Antes que eu ou Dan pudéssemos fazer algo, Charmeleon correu para a frente de Leaf. Ele também parecia bravo. Seaking não hesitou, continuou avançando, e Charmeleon o recebeu com um grande Lança-Chamas. Mesmo não sendo efetivo, Seaking caiu desmaiado. Estava em suas últimas forças depois de tanto batalhar e pelo veneno. O problema era Turtwig, que ainda avançava, mas ele foi interceptado por Leaf, que o segurou com Chicote de Vinhas e o jogou para trás. Aproveitando a deixa, Charmeleon jogou outro Lança-Chamas, dessa vez em Turtwig. Aquilo foi forte o suficiente para derrotá-lo em um só golpe.

 — Turtwig e Seaking estão fora de combate! — declarou o juiz.

Dan e eu sorrimos, nossos Pokémon estavam sendo uma ótima dupla agora. Nossos adversários substituíram Seaking por Elekid novamente e Turtwig por Trapinch. Dan olhou para mim.

 — Vai manter a Bayleef, certo? — sussurrou.

Olhei para nossos adversários. Rex não seria bom contra Trapinch, Elekid também teria vantagem contra Pidy… Só me restaria Magi, que eu ainda me recusava a usar naquela batalha. Assenti para Dan.

— Substituir é arriscado. 

— Eu vou. — Declarou ele, retornando Charmander. Eu segurei seu braço.

— Sawk não.

Dan soltou o que poderia ser um rosnado ou uma reclamação baixa, eu não sabia bem, mas fosse o que fosse, de alguma forma me lembrou Rex em momentos raros onde eu não seguia o que ele me pedia. Dan soltou uma Poké-Ball, que poderia ser a de Sawk, e liberou outro Pokémon. Ralts surgiu no campo olhando em volta, assimilando o ambiente. O juiz ordenou que continuássemos. Eu estava prestes a ordenar quando Dan segurou meu braço.

— Como essa batalha acaba?

Eu estranhei o que ele disse, então ele repetiu a pergunta.

— Como podemos ganhar? O que tem que acontecer?

— Um deles precisa perder todos os Pokémon.

— Trapinch é o último Pokémon daquela garota. Vamos tentar focar nele.

Pensei no assunto, e ele tinha razão. A maioria dos Pokémon dela eram poderosos, mas todos fracos contra nossos Pokémon até então, o que nos deu a oportunidade de enfrentar todos.

— Ralts, Confusão no Trapinch, agora!

— Cave, Trapinch!

— Elekid, Soco de Fogo!

— Folha Mágica, Leaf!

A confusão continuou. Enquanto Ralts errava seu ataque com Trapinch se escondendo em um buraco que cavou com facilidade, Elekid fez fogo envolver suas mãos e correu na direção de Leaf, que atacou o máximo que conseguiu. Ela não errou nenhuma das folhas, que eram magicamente direcionadas ao alvo, mas ele se defendeu da maioria, socando algumas e até protegendo o corpo com o fogo das mãos. Ele conseguiu atingi-la duas vezes, ela não estava conseguindo reagir.

— Ralts, proteja-a!

Dan falou na hora certa, pois Ralts usou Confusão e jogou o Elekid para longe. Mas antes que pudéssemos prosseguir com os ataques, Trapinch surgiu do chão, acertando Ralts e o jogando para trás. Ralts levantou com dificuldades. 

— Vamos mudar os alvos. — sugeriu Dan, observando a batalha com bastante atenção. — Ralts, Confusão no Elekid!

— Trovoada de Choques! — ordenou o Treinador do Elekid.

— Ataque Ralts por baixo outra vez, Trapinch!

— Não permita, Leaf. Folha Mágica para proteger Ralts!

Elekid se movimentou primeiro, concentrando seu poder em um choque elétrico, que rapidamente atingiu Ralts. Este, por sua vez, teve de aguentar firme para revidar com seu Confusão. Enquanto tudo isso acontecia. Leaf mostrou sua grande velocidade em comparação ao Trapinch, e conseguiu acertá-lo em cheio, deixando quase desmaiado devido à sua força, vantagem de nível e tipos de ambos. Trapinch, depois de um longo momento, voltou a cavar, sumindo de nossa visão.

Olhei para Dan. Eu tinha minhas dúvidas se Ralts aguentaria outro golpe, ele precisava desviar, não podia ser atingido outra vez, mas Trapinch tinha toda a mobilidade do solo abaixo de nós, poderia atacar qualquer um que estivesse pisando ali.

Que esteja pisando...

— Trapinch, ataque! — ordenou o Treinador.

— Dan, mande Ralts subir em Leaf. — murmurei e olhei para frente.

— Elekid, Soco de Fogo!

Dan quase questionou meu pedido, mas percebeu o que eu queria dizer, sorriu e assim mandou que seu Pokémon fizesse o que eu dissera. Ralts pulou nas costas da minha Bayleef e no segundo seguinte Trapinch apareceu, atingindo Leaf por baixo. Elekid também avançava com seu Soco de Fogo e estava prestes a atingir outro quando Dan teve uma boa ideia.
— Ralts, Teleporte-se com ela! — Elekid socou o ar quando Ralts e Leaf desapareceram de sua frente, aparecendo logo atrás — Em seguida, Confusão no Trapinch, jogue-o contra o Elekid! — ordenou Dan, e eu percebi o quanto aquilo facilitava meu ataque.

Sabendo da capacidade de Leaf de controlar suas folhas, eu ordenei sem hesitar.

— Leaf, Folha Mágica em ambos!

As Folhas Mágicas atingiram os dois. Elekid lutava para levantar com grande dificuldade, enquanto Trapinch desmaiou, mesmo com o ataque de Leaf reduzido. 

— Trapinch e Elekid estão fora de combate, todos os Pokémon da Treinadora Britney foram derrotados, a vitória é do lado de Dan e Meiko!

— ISSO! — exclamou Dan, levantando a mão aberta em minha direção. Eu dei um sorriso pequeno e bati na mão dele. — Ganhamos! Bate aí! Somos uma dupla imbatível!

— Não exagere. — resmunguei, mas estava sorrindo.

Era bom ver o quão bem íamos juntos. Parecia que cobríamos a fraqueza um do outro. Ele não conhecia muito bem os Pokémon que não fossem das regiões de Kanto e Johto, além de ser inexperiente em batalhas no geral. Enquanto eu já tinha uma experiência maior e um conhecimento muito amplo das espécies, mas não me dava tão bem com fraquezas de habilidades e questões de status como ele.

Retornamos nossos Pokémon. Ralts estava sem fôlego, e Leaf cansada, ambos estavam até que consideravelmente feridos. Definitivamente precisavam de um descanso. Conferimos todas as nossas coisas e fomos em direção às portas.

Eu teria comemorado tanto quanto Dan, mas um arrepio percorreu minha espinha quando cruzamos as duas portas de A. Havia algo errado. Aquele instinto, aquela voz no fundo da minha mente, ela me dizia que o pior viria agora. Dizia que eu deveria ter cuidado. A voz estava cada vez mais nítida. Cada vez mais eu parecia ouvir ela em minha mente, como se misturada à minha própria voz, mesmo que eu soubesse que não era.

Seja forte, Meiko...