Uma Noite e Tudo Muda escrita por Dama da Morte


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Vocês achavam que eu iria desistir de UNTM no capítulo 27? SHAUSHAUSHA Ok, eu tinha que usar esse meme. Antigos leitores de IGMAN vão entender!
Aquí estoy de vuelta muchachas com mais um capítulo de UNTM pra vocês!
Primeiramente eu queria agradecer a todas que comentaram ♥ Obrigada, Kaya, Tia Ally Valdez, Aluada, UmaAmanteDoDiAngelo,Dama das Águas e princesa de Jade! ♥
E hoje temos mais agradecimentos especiais, pois eu sou esquecida e esqueci-me de agradecer a Dama das Águas minha marida linda que me ajudou muito obrigada por sua ajuda e incentivo, e obrigada por me suportar, pois isso não é fácil pra ninguém!
Obrigada também a LeslyValdezTreynor231, uma das pessoas mais amorzinho que já conheci ♥
E mais uma vez a Tia Ally Valdez ♥
E também quero pedir desculpas às pessoas que cometeram os capítulos 22 e 24, pois infelizmente eu me esqueci de responder alguns de seus comentários, não foi querendo eu juro. Eu estava vendo os comentários da fic e me deparei com alguns não respondidos, então sério mesmo me desculpem. Foi um descuido e acho que na correia de escrever, postar e responder acabei esquecendo-me de alguns. Eu iria respondê-los, mas fiquei com vergonha só agora :(
Bom, depois dessa nota gigante e desses agradecimentos e desculpas, se ainda houver alguém aqui, lhes desejo uma boa leitura :)



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Annabeth

Eu passava os olhos calmamente pelo teto do meu quarto. Tudo estava tão silencioso justamente quando eu precisava da euforia em minha volta. Talvez pela primeira vez na vida meus pais não estavam brigando, eles estavam até mais próximos um do outro e até mesmo de mim que estava me afastando de ambos cada vez mais, porém naquele momento resolveram me esquecer. Eu sei que eles estavam em casa, pois ouvia seus passos no corredor.

Eu ainda estava tentando entender tudo aquilo. O distanciamento repentino de Nico e Thalia, a morte de Ares e a carta de Percy. Eu ainda estava processando tudo aquilo. Eu não conseguia chorar ou ao menos consolar alguém que estava mal por causa dos ocorridos.

Já faziam algumas semanas desde que tudo aconteceu e eu me sentia dopada. Não estava sentindo vontade de fazer algo com alguém, eu estava agindo friamente com todos ao meu redor.

Eu não podia ficar daquele jeito, pois havia pessoas que precisavam de mim, eu precisava visitar Clarisse e faziam alguns dias que não falava com Thalia. Juntei um pouco de coragem para sair da cama.

Fui em direção ao banheiro e entrei, fechando a porta e me despindo lentamente. Ao prender os cabelos loiros entrei no Box e liguei o chuveiro sentindo a água gelada deslizar pelo meu corpo deixando-me ligeiramente arrepiada.

Passei longos minutos ali dentro tentando pensar, mas nada parecia querer entrar em minha cabeça.  Eu estava em modo automático, eu não sentia nada, estava imune a qualquer imprevisto.  

Ao sair do banho busquei a toalha e fui atrás de algumas peças de roupas para fugir do vento frio que corria pelo meu quarto por causa da janela aberta, que eu não havia me importado em fechar mais cedo.

Eu usaria jeans como na maioria das vezes, escolhi uma camisa grossa de mangas compridas, casaco e tênis.  Não me preocupei em cobrir algumas olheiras com produtos de beleza, apenas peguei uma bolsa pondo todos os meus pertences dentro para sair.

E ao descer lentamente as escadas vi a cena que me fez sorrir de canto: Meus pais estavam juntos novamente.  Eles estavam tentando cozinhar juntos. Mamãe lia uma receita em seu celular e ajudava meu pai a limpar a bagunça que ele estava fazendo enquanto ela ditava o que precisava ser feito.

Aquilo parecia estar dando mais errado do que certo, mas eles pareciam felizes juntos, mesmo em meio ao completo caos em que aquela cozinha se encontrava eles sorriam.

Aproximei-me sorrateiramente, tentando não assustá-los fazendo com que todos aqueles sorrisos e risadas desapareçam.

Quando mamãe me viu sorriu para mim, pedindo minha aproximação.

Seu sorriso me fez voltar no tempo, me fez lembrar da última vez que os vi sorrir daquela forma despreocupada.

Foi no verão, aquela seria minha a  primeira vez na Califórnia, eu tinha apenas seis anos de idade. Aqueles foram os dias mais ensolarados de toda minha vida. Lembro-me deles me cobrindo de protetor solar, da sensação da areia quente em meus pés gorduchos e pequenos. Dos meus gritos eufóricos de quando eles corriam atrás de mim em um jogo.

Lembro-me do tombo que eles levaram, ambos ficaram no chão, havia apenas um braço os distanciando. Frederick estendeu a mão e mamãe aceitou sendo puxadas para perto e também lembro de um beijo calmo que foi atrapalhado por mim que pulei em cima deles.

Nós precisávamos voltar a Califórnia urgentemente.

Senti braços me envolverem interrompendo meus devaneios. Era Atena, envolvendo-me em seus braços, deixando um beijo em minha testa.

— No que está pensando minha filha? - Perguntou curiosamente sem se afastar.

Balancei a cabeça e sorri para ela.

— Nada. - Falei guardando aquela lembrança para mim.

— Pode ser um abraço triplo? - Perguntou papai desligando o fogão e enxugando as mãos em um pano de prato.

— Vem meu amor. - Mamãe disse sorrindo fazendo um gesto para que ele se aproximasse.

Frederick se juntou a nós num abraço quente, ficando ali por alguns minutos.

— Amo vocês! - Falei para eles.

— Nós te amamos mais. - Eles disseram em uníssono.

— Vamos comer? – Perguntou papai se afastando um pouco. – Achamos aquela receita que você adorava, Annie. Você tá de saída?

— Eu posso ficar mais um pouco. – Falei tirando minha bolsa do ombro adiando o que pretendia.

— Vamos colocar a mesa. – Disse Frederick e eu fiz que sim com a cabeça deixando minha bolsa no balcão.

Nós dois fomos ao armário pegar a quantidade certa de louças que precisaríamos, quando mamãe disse:

— Por que não comemos na sala?

Atena simplesmente odiava quando eu fazia isso, então ela sugeriu que fizéssemos aquilo, foi surpreendente para mim e papai.

Levamos tudo para sala e em questão de instantes estávamos sentados no chão ao redor da mesa de centro assistindo um programa de televisão qualquer.

— O que acham da Califórnia? – Perguntei como quem não quer nada.

— Você quer fazer arquitetura lá? – Mamãe perguntou parecendo estar surpresa.

— Não.  – Disse para eles balançando negativamente a cabeça para eles. – O que acham de irmos de férias para lá?

Imediatamente eles se entreolharam e sorriram um para o outro.

— Ou só vocês dois. – Falei me excluindo do programa, pensando mais nele do que em mim. – Faz um bom tempo que vocês não tiram férias de tudo, inclusive de mim.

Eles não responderam, apenas continuaram a segurar o olhar fixo um no outro, como se estivessem presos em um flashback dos dias quentes da Califórnia.

Depois daquele pacato e repentino almoço de última hora em família eu sai os deixando sós.

Quando entrei no meu carro, ainda um pouco distraída com as lembranças daquelas férias, dirigi sem rumo por alguns minutos até decidir que iria à casa de Clarisse. E no perturbador trânsito de New York, dirigir por alguns minutos até chegar onde queria.

Deixei meu carro em um das vagas vazias da garagem da casa dela e depois sai do carro. Enquanto caminhava em direção à porta dela procurei um assunto para conversar com Clarisse que não fosse a morte de seu pai. Eu teria que ser cautelosa quanto ao que falaria ali.

Toquei a campainha da casa duas vezes, e o silêncio da casa e da vizinhança continuou apenas com os pássaros sobrevoando a área sem emitir canto algum. Apertei a campainha uma terceira vez e nada, então acabei desistindo.

Prontamente decido voltar para o meu carro, mas antes que eu já estivesse longe, a porta da casa foi aberta por uma velhinha franzina de olhos minúsculos e puxados.

Eu me lembro de tê-la visto no funeral de Ares ao lado de Emily.

Logo em seguida Chris apareceu, com algumas olheiras e os cabelos bagunçados.

— Tudo bem vovó, não são assaltantes. – Ele diz com a voz calma e baixa, aparentando querer acalmá-la. – É apenas Annabeth, amiga de Clarisse e minha amiga também. Você já pode voltar a conversar com Emily.

A senhora resmungou algo em outra língua e foi embora me deixando com Chris.

Tentei sorrir e ele tentou retribuir-me o sorriso da melhor forma. Mas não consegui, ele parecia cansado e aparentava precisar de algumas horas de sono.

— Como você está Chris? – Perguntei quando ele fez um gesto para que eu entrasse.

— Com sono e precisando de comida e um longo banho quente. – Falou ele ainda com a voz baixa fechando a porta de entrada. – Mas ela precisa de mim.

— Como eles estão? – Perguntei no mesmo tom de voz que o seu.

— Na maioria das vezes sem fome e boa parte do tempo estão chorando ou tristes em um canto. – Ele parecia aflito com a situação deles. – Mas estamos dando o máximo de espaço para eles e respeitando seu luto.

Eu assenti.

— Onde Clarisse está? – Perguntei para ele mexendo na alça da minha bolsa. – Posso vê-la?

Chris fez que sim com a cabeça e fez um gesto para que eu o acompanhasse até o andar de cima. Nós dois passamos pela sala vazia e organizada, subimos as escadas e passamos pelos corredores silenciosos da casa.

Chris entrou no quarto de Clarisse acompanhado de mim. Ela não estava na cama, ouvimos o chuveiro do seu banheiro ligado. Ela estava lá.

Chris pediu para que eu esperasse um minuto e entrou no banheiro dela sem bater a porta. Clarisse odeia isso.

O quarto estava ligeiramente bagunçado. A cama ainda não havia sido feita e havia uma caixa de tamanho médio ali em cima. O cobertor pendia da cama, e também havia algumas xícaras espalhadas pelo quarto.

Larguei minha bolsa no chão e sentei na cama um pouco bagunçada esperando Chris voltar. Quando ele voltou, com um pouco de água no cabelo, se sentou ao meu lado na cama.

— Ela já está saindo. - Disse ele sorrindo já fungando um pouco. - Quando eu disse que você está aqui ela se alegrou. Clarisse sorriu um pouco.

— Você quer um abraço? – Perguntei com meus braços abertos para ele, que aceitou dando-me um abraço forte.

— Venha aqui mais vezes. – Pediu ele enquanto eu acariciava suas costas fazendo que sim com a cabeça. – Eu mataria para vê-la sorrir como antes. Estou tentando de tudo para ela voltar a ser como antes, estou tentando de tudo para fazê-la feliz novamente.

Suas palavras me surpreenderam e me fizeram perguntar-me: Por quem eu tentaria de tudo? Quem é a maldita pessoa por quem eu faria de tudo para fazer feliz?

Senti uma série de sentimentos se remexerem dentro de mim. Uma série de tristezas, mágoas passadas e uma amor oculto, inexplorado e totalmente desconhecido e esquecido que deixou meu coração apertado e trouxeram águas aos meus olhos.

Ele se afastou e eu sorri, como se nada daquilo estivesse se passando dentro de mim.

— A pessoa não pode nem tentar suicídio durante o banho e a traição já começa? – Brincou Clarisse com seu evidente humor negro e zombeteiro.

— Não é uma traição. – Falei vendo que ela estava melhor do que no dia do velório de Ares. – Podemos viver uma relação a três.

— Não. – Ela sorriu se aproximando dentro de seu pijama com os cabelos molhados, sentando-se ao meu lado enquanto Chris se levantava e ia em direção ao banheiro. – Estava com saudades.

Ela disse antes de ir em direção ao travesseiro e se deitar na cama. Fiz o mesmo deitando-me ao seu lado e puxando a coberta que pendia da cama até nossos queixos.  Clarisse me abraçou.

— Prometo que venho te visitar mais vezes. – Eu disse para ela, me afastando.

— Você falou com Percy por e-mail? – Questionou ela olhando-me nos olhos.

— Ainda não. – Falei. – Esqueci-me de pegar o endereço do e-mail dele.

Essa foi a única desculpa que encontrei, Clarisse apenas semicerrou os olhos sabendo que eu estava mentindo. Eu tinha seu e-mail, até cheguei a escrever algumas palavras para ele, mas não tive coragem o bastante de apertar o Enter e enviar aquilo.

— Por quê? – Questionei um pouco curiosa.

— Eu e Chris falamos há alguns dias atrás com ele, – Ela disse.  - Percy quer falar com todos nós por vídeo chat. Nico pediu que nós fossemos a casa dele no domingo a noite.

Eu apenas assenti, lembrando-me que também teria que ver Nico naquela tarde. Vi Chris se juntar a nós com uma toalha e uma escova de cabelos.

— Docinho, você pode sentar-se um pouco? - Perguntou ele.

Vi Clarisse revirar os olhos.

— Por que você insiste em me chamar de docinho? - Perguntou ela fazendo o que ele pediu. – Saiba que meus punhos ainda estão firmes e fortes para...

Antes que ela terminasse de falar Chris beijou sua bochecha e disse:

— O que você estava dizendo mesmo docinho? – Perguntou ele sorrindo. – Agora eu preciso arrumar seus cabelos então preciso da sua colaboração...

— Isso é ridículo.

— Nós somos ridículos. – Ele disse deixando outro beijo na bochecha de Clarisse e logo em seguida começando a secar seus cabelos com a toalha.

Chris brincou fazendo penteados estranhos no cabelo de Clarisse. O que nos fez rir de sua brincadeira. No final acho que o propósito era apenas fazer Clarisse rir um pouco, pois, quando ele se cansou, a deixou com os cabelos bagunçados e desceu dizendo:

— Vou trazer algo para vocês comerem.

— Me deixa fazer uma trança nos seus cabelos? – Perguntei.

Clarisse aceitou virando-se de costas para mim entregando-me a escova de cabelo.

— Annabeth. – Ela chama antes mesmo que eu toque em seus cabelos.

— Oi. – Respondi agora passando os dedos em seus cabelos castanhos.

— Eu fiz uma coisa. – Ela disse baixo. – Uma coisa muito egoísta.

Antes que ela começar a contar tudo me pediu segredo e eu disse que guardaria segredo. Ela contou tudo rapidamente e sim, talvez o que ela fez ou iria fazer fosse um tanto egoísta, mas nada que eu dissesse iria mudar sua opinião. Eu apenas aceitei sua decisão sem protestas.

Passei mais algumas horas com Chris e Clarisse até decidir que era hora de deixá-los sozinhos, já que eles pareciam próximos de uma forma diferente, e ir ver mais alguém.

Quando já estava no carro decide que veria Nico primeiro já que Thalia me convenceria a sair com ela. Eu tinha o endereço que havia pedido Chris já que o irmão dele, Luke Castellan minha primeira paixão na infância, é casado com a irmã de Nico.

Assim que achei o prédio em que Nico morava procurei um estacionamento qualquer ali perto, voltei ao prédio falei com a recepcionista e ela ligou para o apartamento dele.

Depois da ligação ela disse que eu poderia subir me indicando os elevadores. Agradeci e fui para o elevador onde um ascensorista perguntou para qual andar eu estava indo. Depois de responder que iria para a cobertura ele apertou um dos botões e o elevador obviamente começou a subir.

Assim que pisei no apartamento alguém apareceu do nada dizendo:

— Annabeth, certo? – Ela se aproximava com um sorriso simpático no rosto e os cabelos crespos esvoaçantes soltos.

— Certo. – Disse fazendo que sim com a cabeça tentando lembrar-me o nome da figura de estatura baixa.

— Hazel. – Ela disse. – Já nos conhecemos.

— Eu me lembro de você. – Falei. –Amiga do Frank.

— Bom, agora... Namoramos. – ela disse timidamente.

— Onde está Nico? – Perguntei mudando de assunto.

— Está lá em cima. – Ela apontou para as escadas de onde vinha música um pouco alta. – Você pode falar com ele, mas se ele ficar um pouco agressivo ou alto do tipo pode correr, gritar ou qualquer coisa do tipo.

Assenti. Nico não ofende nem uma mosca por que agrediria alguém?

— Você pode me levar lá? – Perguntei, pois nunca havia ido ali.

— Claro. – Ela disse fazendo um gesto de cabeça para que eu a acompanhasse.

Passamos pela sala subindo as escadas que levavam aos quartos. Hazel contou-me rapidamente como Nico estava nas últimas semanas. Pelo jeito que ela falou parecia realmente muito preocupada com o irmão mais velho.

— Não sabemos mais o que fazer para que ele pare com isso e volte a ser como antes. – Falou baixinho em frente ao quarto do irmão que estava com a porta fechada.

— Vou tentar fazer algo. – Falei vendo-a olhar-me com uma esperança sobre-humana.

Hazel assentiu.

— Eu vou indo. – Disse ela, já começando a retomar o caminho que fizemos. – Ah, e a porta dele não estava trancada.

Assenti mais uma vez e esperei que ela descesse as escadas para que pudesse entrar no quarto. Se é que aquele lugar poderia ser chamado de quarto.

Havia roupas espalhadas pelo quarto, garrafas de vinho vazias, algumas até mesmo quebradas,  e até livros espalhados pelo chão.  A música saía de um aparelho de som, ele escutava The Neighbourhood. Apenas a cama dele estava intacta aquela bagunça.

Nico quase se misturava aquela bagunça em sua mesa. Ele estava ainda mais magro do que da ultima vez que eu o vi. Ele digitava algo apressadamente no computador com uma garrafa de vinho ao seu lado.

— Seja lá quem estiver ai, eu não quero comer ou conversar. – Falou alto o bastante para que eu escutasse sem ao menos olhar para trás. – Agora já pode ir e fechar a porta do meu quarto.

Fiz o que ele pediu. Fechei a porta do quarto, mas ficando na parte de dentro do quarto. Deixei minha bolsa num canto do quarto e fui até o aparelho de som mudando a música e baixando um pouco o volume.

— Sério que eu vim te ver pra nada? – Perguntei vendo-o virar-se para mim.

Vi decepção e até mesmo um pouco de raiva em seus olhos totalmente negros. A decepção eu entendia mais que perfeitamente, mas por que a raiva? Será que eu passei sua música favorita? Desculpe cara, mas Sweater Weather não é a minha música preferida.

Ele coçou a barba que agora crescia em seus rosto antes liso.

 - Se veio tentar fazer-me concordar com alguma coisa, vou avisando logo que está perdendo seu tempo. – Ele disse logo voltando a digitar em seu computador de costas para mim. – Nada nem ninguém vai me fazer mudar de ideia até que algo concreto prove que eu sou o pai dessa criança.

Criança?

— Do que você está fazendo? – Questionei confusa. Eu não estava entendendo nada.

Nico virou-se para mim novamente e encarou meu rosto.

— Então você não sabe? – Perguntou ele e eu fiz que não com a cabeça, não sabia de nada do que tinha acontecido. Nico se levantou de sua cadeira, pegando sua garrafa de vinho veio devagar em minha direção e disse: - Acho melhor sentar-se, tenho uma estória pra te contar.

Sentei-me na cama dele. Por algum motivo eu tinha a impressão de que aquela estória seria longa.

Ele me contou de sua “amizade” com Silena, de sua falsa morte, agora de sua gravidez na qual ela insistia em dizer que Nico era o pai da criança e da briga com Thalia.

— O pai dela quer que vocês se casem? – Perguntei aceitando mais uma vez sua garrafa de vinho, que agora dividimos, quase vazia.

— Exatamente. – Ele diz parando ao meu lado na cama. – Mas eu tenho certeza de que não aconteceu nada naquela noite.

— E Thalia não acredita em você, sendo que vocês nem estão juntos para que ela cobre algo de você ou virse e versa? – Questionei lhe devolvi a garrafa o vendo dar o último gole na bebida.

— Ela não quer nem me ouvir. – Nico encarou o chão. – Semana passada eu saí de casa um pouco tonto e acabei indo parar no prédio de Thalia, Piper me viu vomitar numa lixeira pública ela me levou até o apartamento e me deu água. Antes que eu fosse embora Thalia apareceu na cozinha, mas não ficou nem dois segundos direito. Ela falou: “Desculpe-me Piper eu não sabia que estava com um dos seus amigos”. Tenho quase certeza que ela me viu e me reconheceu, só não quis falar comigo. Piper pediu para que eu não voltasse lá. E mesmo assim, mesmo que eu e Thalia não estivéssemos juntos, eu não seria capaz de fazer nada para deixá-la daquele jeito. Eu não faria isso com ninguém.

Se ele estivesse chorando não era só impressão minha. Apenas o abracei.

— Vai ficar tudo bem, Nico. - Falei para ele tentando lhe passar confiança, mas eu não era boa em acalmar pessoas chorando por amor.

— Não vai ficar, Annabeth, - Ele se afastou de mim. Não consegui ver seu rosto, pois ele abaixou a cabeça e cobriu o rosto com ambas as mãos. - sabe por quê? Por que eu consegui o número do celular de Piper através de Percy. Por pura teimosia, liguei para ela e perguntei como Thalia estava. Ela me contou tudo, até os mínimos detalhes do que ela havia feito naquele dia.

— O que Thalia fez no dia que  te deixa assim? - Perguntei curiosa. Ou Thalia tinha arranjado um substituto para esquecer Nico ou… podia ser bem pior. Eu conseguia pensar em coisas piores. Fiquei preocupado com ela.

— Thalia arrumou todo o quarto dela. - Falou Nico e eu quis rir, mas respeitei sua dor.

Finalmente Thalia tinha arrumado aquele chiqueiro.

— E isso não é bom? - Questionei sabendo que sua resposta não seria algo do que eu estava imaginando.

— Não. É péssimo. Você… você lembra da primeira vez que fui a casa dela logo quando nos conhecemos? - Perguntou ele fazendo-me voltar a meses e mesmas atrás. Eu lembrava muito bem daquela noite. - Quando eu fui ao quarto de Thalia e reclamei de sua bagunça ela… ela me disse que aquilo representava sua mente, que na época estava totalmente bagunçada…, mas agora está tudo no lugar certo, Annabeth. - Ele fungou limpando o rosto com as mãos. - Ela está melhor sem mim. Para ela está tudo em perfeita ordem.

— Ela deve ter achado aquilo tudo uma grande besteira.- Falei. - Isso que Thalia lhe disse deve ser apenas um dos seus muitos pretextos para não arrumar seu quarto. Ela não está melhor sem você.  

Nico levantou a cabeça e virou-se para mim. Ele bateu os olhos. Suas olheiras estavam vermelhas, sua boca avermelhada por causa do excesso de vinho, os cabelos bagunçados e a babar que crescia lhe dava um ar desleixado meio fora do comum. Se ele colocasse  uma uma roupa velha e rasgada, pegasse uma caneca e sentasse na calçada pedindo dinheiro seria facilmente confundido com um mendigo. Eu o daria dinheiro por tanta pena que iria sentir, e estava sentindo, da figura em minha frente.

— Então... você a viu? - Questionou ele curiosamente.

Fiz que não com a cabeça.

— Em breve. - Falei. - Tenho certeza de que ela não está nada bem. Thalia é cabeça dura, ela não te deixou falar, mas com certeza ela vai se arrepender por isso mais tarde.

— Eu não tenho tanta certeza!

— Você realmente gosta dela? - Perguntei.

Nico suspirou encarando o chão.

— Gostar não é a palavra certa. - Ele disse brincando com os nós dos dedos. - Eu já deixei de gostar dela faz um bom tempo.

Eu não sabia o que ele queria dizer exatamente com isso.

— Eu acredito totalmente em você Nico. Acho que pelo jeito que você fala de Thalia não faria nada para deixa-la mal. – Falei. – E além do mais Percy antes de ir embora falou que você estava ajudando a lambisgoia ruiva com a amiguinha bebada dela. Vocês a levaram para o andar de cima não foi?

Nico fez que sim com a cabeça.

— Se pelo menos eu pudesse me explicar para Thalia e provar que eu não dormi com Silena. – Ele disse baixinho.

Me levantei de sua cama, me agachando em sua frente.

— Vou tentar te ajudar. – Disse para ele. – Isso tudo vai acabar, ok?

— Eu quero muito acreditar em você. – Ele diz baixinha para mim.

Comecei a limpar seu rosto ainda molhado pelas lágrimas.

— Você vai acreditar em mim a partir de agora, nem que eu tenha que arrastar sua cara no asfalto para isso, Di Angelo. – Eu o ameacei. Nico apenas riu. – Eu não estou brincando.

— Desculpe-me. – Ele escondeu o pequeno sorriso que havia aparecido em seu rosto. – Acho que agora eu acredito em você!  Obrigado.

Sorri para ele.

— Não me agradeça, me faça um favor.

— Qual?

— Acho que essa é minha deixa, então se cuida. – Falei voltando a postural normal. – De verdade, não quero ver você mais magro e com barba outra vez. E como um pouco também. Estamos entendidos?

— Tá. – Ele disse sem me encarar.

— Eu estou falando sério! – Disse para ele indo atrás da minha bolsa, a final de contas, tenho muitas coisas para conversar com Thalia. - Ainda tenho bastante força para te arrastar pelo asfalto, ao contrário de você...

— Eu já entendi Annabeth, - Nico disse levantando-se. – vou me cuidar até você voltar.

— Apenas guarde um pouco de vinho para mim, ok? – Perguntei indo em direção à porta com ele em meu encalço.

Nico abriu a porta

— Irei tentar. – Falou ele.



Depois que Nico me levou até o elevador fiquei presa por quase duas horas no trânsito. Eu havia marcado de ir a um restaurante com Thalia assim que saí da casa de Nico, ela escolheu o lugar e já deveria estar me esperando.

Quando cheguei ao local encontrei Thalia mexendo entediadamente em seu celular. Ela fez cara feia pra quando sentei-me de frente para ela e sorri.

— Por que a demora? - Questionou deixando o celular de lado. - Por acaso você arrumou alguma amiguinha pra me substituir e ela ficou te prendendo na casa dela pra você não vir pra cá me encontrar?

— O quê? - Perguntei confusa. - Você está bem paranóica ou é só impressão minha?

— É impressão sua. - Disse ela.

— Eu apenas fiquei presa no trânsito, Thalia. - Disse para ela que ainda não estava acreditando em minha. Sua cara de desconfiança não havia mudado. - Desculpe-me pela demora! Infelizmente eu não sou a rainha do tempo e meu carro não é igual a do Pairulito. O andar de cima deveria estar menos congestionado.

— O que você quer?  - Perguntou impaciente como na maioria das vezes.

Foi minha vez de fazer cara feia.

— Eu não posso mais encontrar com uma das minhas amigas pra conversar? - Perguntei tentando encontrar um jeito de falar de Nico com ela sem que ela batesse em minha cara ou causasse uma guerra. Acho que os dois seriam inevitáveis. - Poxa eu estava com saudades.

— E onde está Clarisse? - Perguntou ela com os olhos levemente arregalados.

— Você já a visitou? - A questiono arqueando a sobrancelha.

Thalia demorou a responder. Apenas contraiu os lábios, olhou para os lados e parou nas próprias mãos juntas na mesa.

— Não tive tempo, - Ela fungou. - estive um pouco ocupado.

Tentei mirar seus olhos, mas Thalia insistia em continuar com a cabeça baixa.

— Com o quê? - Perguntei tentando lhe arrancar respostas e não mais perguntas.

— Algumas coisas, Annabeth. - Disse ela e logo em seguida sorriu pra mim. - Vamos pedir? Estou morta de forme.

Quando eu estava prestes a fazer outra pergunta ela já havia chamado uma garçonete, por isso me calei guardando minha pergunta e esperando minha vez de pedir.

— Você voltou a fazer aquilo, não é? – Perguntei depois de alguns minutos de silêncio.

Não precisei que ela falasse algo para dizer que eu estava certa, seu olhar havia me dito tudo.

Engoli o seco. Como ela pode estar vivendo dessa maneira?,  Me perguntei.

Thalia suspirou.

— Eles são demais. – ela tinha um sorriso no canto dos lábios.

Sorri agora realmente ciente do que ela estava fazendo.  Ou aquela foi apenas uma maneira de enganar-me mais uma vez. Thalia era ótima com mentiras conseguia fazer qualquer um acreditar no que ela quisesse com sua lábia, não era por nada que seu contato estava como: Filha de Loki.

— Então, Annie, o que você andou fazendo? – Perguntou ela.

— Ah, eu passei algumas semanas em casa. – Falei.

— Você em casa?

— Não há nada de fascinante nisso, Thalia. – Disse para ela. – Hoje fui à casa de Clarisse.

— Como ela está? – Thalia perguntou começando a brincar com um guardanapo.

— Chris está cuidando dela por enquanto. – contei lembrando-me da minha conversa com Clarisse mais cedo. – E... Fui à casa de Nico.

Thalia apenas continuou a brincar com seu guardanapo, como se eu não tivesse tocado no nome de Nico. Vi suas mãos ficando trêmulas e seus ombros tensos. Ela estava totalmente desconfortável.

— A gente pode falar sobre outra coisa? – Perguntou ela ainda sem me olhar.

—Claro, hã... O que aconteceu depois da festa? – Questionei.

— Como ele está? – Ela perguntou assim que a garçonete voltou com nossos pedidos os deixando em seus devidos lugares e indo embora novamente desejando um bom apetite. – Aliás, deixa pra lá.

Thalia arrancou um pedaço do seu hambúrguer enquanto eu fiquei calada saboreando minhas batatas.

— Você já o viu com barba por fazer? – Perguntei, ignorando totalmente seu pedido. Thalia me olhou por um instante prestando atenção em mim. Continuei: - Ele fica uma graça. As roupas folgadas, o olhar entediado e todo aquele vinho o deixando melancólico.

Parei de falar esperando alguma reação da parte dela. Thalia apenas tomou um pouco do seu refrigerante, não mostrava interesse quanto ao que eu falava.

— Tem certeza que não quer que eu fale dele? – Perguntei.

Thalia me olhou novamente e me encarou, os olhos marejados pareciam uma tempestade de azul. Por um instante ela hesitou contraindo novamente os lábios um pouco trêmulos e num tom baixo, quase inaudível, disse:

— Como ele está?

—Num estado decadente. - Fui direto ao ponto, sem dó algum dela. – É impossível não perceber seus ossos cada vez mais visíveis por ele não estar se alimentando da forma correta, mas ele tenta esconder isso debaixo das roupas largas. O quarto dele está uma bagunça cheia de garrafas de vinho. Pelas olheiras dá pra perceber que ele não dorme há dias. Hazel me contou que ele está um pouco agressivo, não ouve ninguém e passa a madrugada toda acordado escutando música alta e semana passada ele teve que ir ao hospital.  Hazel me disse que nunca o viu chegar a esse ponto.

Eu olhava para Thalia, ela mirava fixamente um canto no restaurante enquanto em seu rosto algumas lágrimas já faziam caminho por seu rosto até caírem na mesa.

— Nem quando Silena fingiu estar morta? – Foi a primeira coisa que ela perguntou.

Eu balancei a cabeça negativamente. Thalia já havia contando a mim e a Clarisse tudo o que aconteceu entre os dois.

— Nem quando ela fez isso. – Falei ainda olhando-a, a procura de mais reações. Continuei a falar: - Você deveria tê-lo escutado...

— Eu não precisava ouvi-lo, Annabeth, eu vi com meus próprios olhos! – Argumentou ela.

— E eu vi nos olhos dele que ele não seria capaz de fazer uma coisa dessas com você nem com ninguém, Thalia. – Retruquei um pouco impaciente. – Mesmo vocês não estando namorando ele não faria isso com você. E acredite se quiser pra ele você é muito mais do que só sexo e distração.

Vi Thalia afundar o rosto nas duas mãos. Eu já estava escutando seus soluços. Era exatamente isso que eu queria.  Eu não iria passar a mão na cabeça dela nem tão cedo.

— Eu deveria ter feito meu tratamento e voltado para Londres como o combinado. – Ela dizia baixinho. – Eu não deveria ter seguido ele até aquela livraria. Burra, burra, burra.

— Destino, acaso, sina, sorte fado, você pode chamar como quiser,...

— Idiotice, teimosia, insistência, burrice. – Ela me interrompeu

— Mas era pra vocês se conhecerem, Thalia, talvez ele seja seu recomeço. – Continuo não dando muita atenção para o que ela falou. – Se é que você já não apostou todas as suas fichas nele. Você vai perder essa chance? Você vai perder ele?

Eu esperava a resposta de Thalia que havia afastado seu prato e agora estava chorando com a cabeça deitada na mesma, mas apenas escutei um:

— Oi.

Olhei rapidamente para o lado encontrando Giovanini com um molho de chaves nas mãos.

— Oi, Giovanni. – Falei.

— Annabeth. - Ele sorriu para mim, mas ao desviar seu olhar para Thalia seu sorriso desapareceu. – O que aconteceu? Onde está Percy, Clarisse, Chris e meu primo?

— Senta aí. – Falei para ele.

Ele fez o que eu pedi. Eu teria que cantar tudo pra ele, pois Thalia não conseguia nem dizer um mísero “oi” sem soluçar. Giovanni tentou consolar Thalia, ele havia sentado ao seu lado e estava a abraçando e limpando suas lágrimas, enquanto eu lhe contava tudo.

Era estranho estar falando de Nico para uma pessoa que era quase idêntica a ele, que eu já fiquei e que está consolando sua quase namorada e minha melhor amiga.

— Espera um pouco, – Ele pediu assim que comecei a falar da gravidez de Silena. – Como Silena pode estar grávida do meu primo se eu que transei com ela naquela festa?


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Notas finais do capítulo

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