Life, Shit Life. escrita por Athens Princess


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Estou escrevendo essa história como uma brincadeira. Não vou prometer capítulos semanalmente, assim como não vou exigir comentários de vocês. Em capítulos futuros, pretendo deixar a aparência dos personagens para vocês verem, dos desenhos que eu faço. Algo como "artes oficiais", se tiver um bom feedback. Enfim, divirtam-se.



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Arcordei às 8h da manhã no meu último dia em Londres. Meu último dia em casa. Por um bom tempo, permaneci fitando o teto branco. Me sentei na cama e olhei em volta, o quarto grande com luxo excessivo e desnecessário que minha tia insistia em oferecer parecia agora muito mais vazio, com tantas das minhas coisas enfiadas em malas. Me levantei, e andei até o banheiro, para tomar um banho. Me despi e entrei na banheira. Não demorou muito para ouvir minha tia entrando no meu quarto, para checar se não teria de refazer o trabalho de meu despertador. Obviamente, ela não se decepcionou. 

O banho foi rápido, como sempre. Em pouco tempo, já estava me secando, e fazendo o habitual: sequei meu cabelo, preto e liso, até a altura da cintura. Me vesti com roupas comuns como sempre, o que deixava minha tia indignada: Calça jeans preta, regata branca bem larga, ambas peças que deixavam ainda mais evidente o quão magra eu era. Uma bota preta de canho baixo, camisa verde escura, e um colar com um pingente simples de coração. Ao me olhar no espelho, antes de prender meu cabelo em uma trança, fitei meus olhos, como sempre fazia. O direito, atravessado por uma longa cicatriz causada por um acidente de infância fora substituído por uma prótese que imitava o tom de castanho avermelhado de meus olhos, embora, para mim, sempre parecesse errada e imperfeita.

Desci para o café da manhã. Minha irmã, estava sonolenta, mas aparentemente insistiu em acordar mais cedo do que estava acostumada, para aproveitar o máximo de tempo que pudesse passar comigo nesse dia. 

— Bom dia... 

Ela disse entre as garfadas de panquecas. Acenei com a cabeça e sorri, antes de me sentar para comer. Aos seus 13 anos de idade, minha irmã estava mais parecida com nossa mãe do que nunca. Os mesmos olhos azuis grandes e brilhantes, cabelo preto e liso até a altura dos ombros com a franja cortada reta, e a pele branca como a neve. Eu também tinha herdado alguns desses aspectos, mas não era tão parecida com ela quanto Alyssa. 

Na personalidade, ela também era igual à nossa mãe. Sempre calma, gentil e prestativa com todos, e também muito animada e disposta a fazer as pessoas sorrirem. A voz de ambas era calma e aveludada, do tipo que poderia acalmar até a mais perturbada das mentes. 

— Já tem tudo preparado, Lucy? 

Minha tia perguntou, entre o som de pratos e talhares se chocando na sala de jantar. Como sempre, o tom de sua voz era severo, embora mostrasse um pouco de preocupação. Aparentemente, queria que minha viagem fosse perfeita, e esse era seu jeito de mostrar preocupação, algo que vinha da família do meu pai. É trite dizer que eu acabei herdando esse jeito sério e contido de se expressar, ao invés de toda a gentileza da minha mãe. Assenti em resposta, então ambas voltamos a focar em nosso café da manhã. 

O restante do dia se arrastou. Verificando malas, fazendo compras habituais... Também conversei bastante com Charlotte, a garota com quem iria morar em Manhattan. Estudaríamos na mesma escola, então tínhamos bastante coisa para acertar. Também passei um bom tempo apenas conversando com a minha irmã. Fazia um bom tempo que não cozinhávamos juntas ou algo assim. Talvez pela diferença de idade, ou pela mudança em minhas prioridades. Ela já estava começando a amadurecer também, mas ainda existia uma drástica diferença entre as nossas preocupações. 

Meu voo sairia às 17:00. Sendo assim, às 16:50 eu estava no aeroporto. Minha irmã chorava bastante, como era de se esperar. Minha tia parecia mais indiferente, embora me bombardeasse com perguntas, apenas para ter certeza de que estava tudo certo. Já eu, fazia meu melhor em passar uma postura calma e responsável, para conseguir tranquilizar ambas de que tudo ocorreria do jeito certo. Ou, apenas, do jeito planejado... Como for melhor. 

Em pouco tempo, já estava acomodada no avião. Como esperado, a viagem foi tranquila. Sempre com os fones no ouvido, eu variava entre ler, fazer palavras cruzadas, sudoku ou apenas dormir. Por algum motivo, o senhor sentado ao meu lado insistia em olhar o que eu estava fazendo a cada cinco segundos. Não me incomodava. Eu também não poderia culpá-lo, já que estar em um avião por horas causava certo tédio. Da última vez que dormi, acordei com o avião pousando no aeroporto. 

Ao sair, não demorou muito para encontrar minhas malas. Sabia que Charlotte estaria lá para me encontrar e me guiar até sua casa, então, depois de pegar minha bagagem fiquei andando pelo aeroporto, procurando por ela. Observando as pessoas por ali, vi tantos tipos de rostos que mal poderia descrever eles. Expressões de preocupação, pressa, cansaço... Essa última era a que eu mais via. Mas que tipo de pessoa repara nesse tipo de coisa? Apenas um fracassado sem o que fazer. Com um longo suspiro, voltei a focar em meu objetivo. 

Em meio a tanta gente irritada e preocupada, não foi difícil distinguir o grande sorriso que Charlotte exibia em seu rosto. Ao me ver, ergueu sua mão alto e começou a acenar. Eu poderia considerar essa atitude muito idiota. Na verdade, considerava. Mas não iria reclamar sobre isso. Apenas me aproximei com um riso fraco. 

— Yo, Lucy! 

Ela pegou uma de minhas malas, mesmo eu dizendo que não precisava, e carregou até o estacionamento, onde estava o carro dela. No trajeto, que durou cerca de quinze minutos, ela falou mais do que eu falaria em um dia inteiro. Aquilo me deixou com uma leve dor de cabeça, mas não me importava muito. 

Charlotte é fácil de se lembrar. Com os cabelos castanhos volumosos, pele morena, grandes olhos azuis e aquele sorriso torto, eu poderia confundi-la com a protagonista de um desenho animado que minha irmã gostava de assistir. 

Seu jeito era bastante animado, simples e descontraído. Gosta de fazer piada com quase tudo. De certa forma é divertido lidar com ela. Geralmente, é muito fiel e sincera, capacidade que eu admiro nela. 

Nós nos conhecemos quando eu tinha apenas dez anos. Fiz uma viagem com minha tia ao interior dos Estados Unidos, e passamos as férias lá. Na época, Charlotte morava com sua mãe e sua irmã. Por ser fácil de falar  com ela, não demorou muito para nos tornarmos boas amigas. Depois que voltei para casa, passamos a nos comunicar por redes sociais. 

No trajeto até a casa dela, conversamos bastante sobre nosso futuro. Sobre as faculdades que faríamos, sobre esse último ano letivo, e mesmo sobre o nosso passado.

— Mesmo depois de sete anos, você não mudou nada, Charlotte. 

Fui obrigada a comentar, com um sorriso.

— Já você, envelheceu muito mais do que seu corpo. E me chame de Lottie. 

Ela riu, e socou meu ombro amigavelmente. Doeu um pouco, já que ela era muito maior que eu, e aparentemente não tinha muita noção de força. Me perguntei se ficaria chateada por eu não rir também, mas imaginei que forçar seria pior.

O trajeto até a casa dela foi curto. Lottie morava em um apartamento pequeno, que ficava bem perto da escola onde eu ia estudar, a partir da próxima semana. Quando chegamos, ela me mostrou o quarto onde ficaria. Aparentemente, ela usava ele para guardar bugigangas aleatórias, já que tinham muitas caixas por ali. 

— Pois é... Foi mal pela bagunça. Sei que está acostumada com todo aquele luxo da casa da sua tia e tal...

Ela disse um tanto quanto sem graça. Antes que pudesse continuar, ergui a mão direita, indicando para que parasse. 

— Não é necessário se desculpar. Está ótimo aqui. 

A verdade é que eu ficava muito desconfortável com a mania que todos tinham de achar que eu era algum tipo de princesinha mimada. Na verdade, o desconforto poderia se tornar raiva em algumas situações. E digamos que é raro eu me irritar. 

O apartamento de Lottie era um ambiente agradável, apesar de toda a bagunça. Provavelmente, a simplicidade causava uma atmosfera muito melhor... O luxo da casa da minha tia criava uma ideia de perfeição, que tinha que ser seguida por cada um que entrava lá, como se todos estivessem posando. Se tivesse que começar uma vida nova em um lugar assim com uma amiga... Bem, seria bom. 


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Notas finais do capítulo

Como puderam ver, esse capítulo foi mais apresentação da personagem, e da situação em que se encontra. Pode ter sido um pouco tedioso, mas provavelmente irá melhorar. Enfim, é isso. ^^