Arborescente escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 6
Capítulo seis




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― O treinamento será dividido em 5 fases, por assim dizer ― Trudie andava de um lado para o outro, batendo palmas periodicamente para acordar algum de nós ― Primeira fase: expressões e reações. Em nossos interrogatórios criminais, usamos uma substância chamada de soro da verdade, que impede a pessoa de mentir, ela dirá a primeira verdade que lhe vier à cabeça.

“Isso facilita tudo” pensei.

Todos estávamos de pé, divididos em duas filas indianas, uma diante da outra. À minha frente, estava Karen. Trudie não caminhava no meio, caminhava ao redor da estranha formação. Tive a impressão de que estávamos assim para nos encarar, e a finalidade da primeira fase meio que confirmou este meu pensamento.

― Contudo ― Trudie parou atrás de Mischa ―, o uso do soro só é permitido durante os interrogatórios. E, quando houver uma falta da reserva, a nossa melhor arma será o conhecimento. O seu corpo reage quando você mente. Cada um tem uma reação diferente... Por isso, estamos aqui agora, organizados dessa forma. Considerem isso como um exercício. Você vai identificar se a pessoa está dizendo a verdade ou mentindo. Se estiver mentindo e a pessoa pensar que é verdade, você levará o ponto. Se a mentira for descoberta, o outro levará o ponto. Comecem!

― Senhora ― Mischa virou-se ― E as outras fases?

― Paciência, Mischa ― disse Trudie, sorrindo de lado. Percebi que ela não nos chamava pelo sobrenome, sempre pelo primeiro nome. Qual o objetivo daquilo? ― Por ora, se concentre no exercício.

Dei um passo em direção à Karen, fixando meus olhos nos dela, o coração batendo forte pela mentira ainda não dita. Mantivemo-nos quietas e paradas, nos observando, o som dos saltos de Trudie ecoando pelo chão da sala, junto dos murmúrios de nossos colegas.

― Eu nunca minto ― disse Karen, com segurança.

Desviei o olhar dos seus olhos para me concentrar em suas mãos.

― Mentira ― deixei um sorriso de canto escapar, levantando meu olhar novamente, antes que ela percebesse o seu ponto fraco.

Ela me olhou chocada, olhando para baixo, sem encontrar o que procurava.

― Talvez diga a verdade na maioria das vezes, mas já mentiu alguma vez na vida ― eu disse, segura.

― Um a zero, Karen ― ouvimos a voz de Trudie, fazendo-a bufar.

― Sua vez ― disse Karen, cruzando os braços e levantando uma de suas sobrancelhas.

Eu olhei ao redor, entendia que aquilo servia para que não fossemos enganados, mas estávamos na sede da Franqueza, a facção da verdade. Pelo que eu sabia, não se podia mentir, não importando a situação. Ser educada era somente uma forma de suavizar a verdade, ou seja, uma enganação. A lista de formas de mentira era tão grande quanto deveria ser as formas de autocomplacência da Abnegação.

“Eu não vou mentir” pensei, decidida.

― Eu nasci em Agosto ― disse, procurando algo mais interessante para dizer.

Karen me observou de cima a baixo, em silêncio.

― Verdade ― decidiu, embora não parecesse segura.

― Um a um ― disse Trudie.

Era incrível como a nossa instrutora conseguia se concentrar em cinco pares ao mesmo tempo.

― Você não parece leonina ― disse Karen, surpresa.

― E você não parece geminiana ― pontuei. Certamente, essa foi a coisa que mais lhe surpreendeu.

Trudie me lançou um olhar analítico, supus que tinha feito algo certo. Afinal, tinha que ser observadora para estar naquela facção.

― O meu teste deu Erudição ― disse Karen.

― Verdade ― disse.

“Dois a um”.

― Eu me sinto livre aqui ― eu disse.

― Verdade.

“Dois a dois”. Não planejava dizer uma mentira, então ficaríamos empatadas por um tempo, até que eu não encontrasse uma mentira nela.

― Eu tive uma queda pelo Todd quando tinha 10 anos ― disse Karen, me fazendo dar uma gargalhada e os outros pararem seus exercícios.

― Continuando! ― Trudie pôs os grupos em ordem, exceto Todd, que olhava fixamente para Karen, que mantinha o olhar em mim.

― Mentira ― disse e, logo depois, murmurei ― Meia verdade não conta!

― Boa sorte para descobrir o que é verdade e o que é mentira ― ela retrucou.

― Tática perfeita, Aeryn ― Trudie pousou ao meu lado, colocando uma de suas mãos em meu ombro ― Mas diga ao menos uma mentira. Tem minha permissão, é um exercício para isso.

― Não me sinto confortável mentindo ― disse.

― Sim, mas Karen precisa observar como reage à isso. E não conseguirá se você sempre disser a verdade.

Frustrei-me levemente por minha tática ter sido descoberta, mas ela estava certa.

― Eu... ― hesitei, tentando pensar em algo ― Gosto de usar calças.

Não entendi o objetivo daquilo, já que era óbvio que eu ia mentir. Trudie lançou um olhar objetivo para Karen, que prestou atenção em mim. Talvez fosse os meus olhos, que piscavam demais, ou a minha expressão, mas ela identificou como eu mentia, assim como eu fiz com ela.

― Mentira ― ela disse, retornando o olhar de Trudie, antes de voltar-se novamente para mim ― Não gosta de mostrar as pernas, mas as calças te fazem se sentir presa.

Eu sempre fui um livro aberto, mas agora estava livre para ser lida, praticamente. Rapidamente, dirigi meus olhos para a saia preta, pouco acima do joelho, que me deram para colocar.

― Providenciarei uma meia calça para você mais tarde ― prometeu Trudie ― Não será o mesmo que usar uma saia longa, mas não usamos esse tipo de roupa aqui. Usamos algo mais... Formal.

Assenti com a cabeça, concordando e agradecendo, silenciosamente. Não estava retendo uma ação, estava com preguiça de falar.

Ela afastou-se, indo para as outras duplas e continuamos em nosso jogo. Eu sempre dizendo a verdade, embora Karen estivesse com pé atrás sobre mim, e ela jogando mentiras de vez em quando.

Trudie fez com que trocássemos de par e, com isso, eu descobri o nome dos outros.

Nolan e Jesse foram transferidos da Audácia, dava para perceber pelas tatuagens, enquanto que Pacey tinha cara de ser da Erudição. A garota loira se chamava Reilly, e tinha uma morena chamada Petal. Eu não tinha ideia de qual facção elas tinham vindo, ou se já eram de lá, mas da Audácia que não era.

Depois de uma longa tarde, tentando descobrir formas de enganar o outro e frases a se dizer (os garotos diziam coisas nojentas e inapropriadas, fazendo com que Trudie intervisse volta e meia).

― Muito bem! ― Trudie bateu as palmas uma vez ― A primeira fase não acabou exatamente, sempre voltaremos um pouco para ela. Entretanto, começamos uma parte mais... Didática do nosso treinamento.

Evitei soltar um gemido de frustração. Teríamos que estudar as leis.

Meus temores foram confirmados quando Trudie pegou apostilas em cima de uma mesa e distribuiu para nós.

― São até que pequenas... ― disse Karen, casualmente.

Lancei um olhar fuzilante para ela, enquanto virava a capa.

― Existe diversas leis, mas vamos com calma ― disse Trudie, como resposta a Karen ― Essas são as principais, e será importante saber sobre cada lacuna delas. A terceira fase irá testar o quanto vocês sabem das leis. Preparem-se, pois não planejo pegar leve e, muito menos, esperar a terceira fase para lhes testar.

― Ou seja, ela vai perguntar a qualquer hora do dia ― disse Mischa, com a apostila fechada. Pacey, ao seu lado, já começava a ler, o que confirmava minhas suspeitas.

― Estão liberados. Vão ao seu dormitório e leiam a apostila ― disse Trudie, com um sorriso, virando-se para a mesa novamente.

Karen me puxou rapidamente pelo braço, e eu não entendi sua ansiedade.

― Ela nos deixou sair sem acompanhamento ou é impressão minha? ― perguntou Reilly.

― Você só percebeu isso agora? ― perguntou Karen, incrédula.

― Temos que ir para o quarto estudar ― disse Pacey.

― Vão se quiserem, eu quero tomar um ar ― ela retrucou.

― Vão se meter em problemas ― disse Petal.

― Divirtam-se olhando para as paredes ― Todd apoiou a Karen.

Algo neles me fazia desconfiar de qual era a mentira na frase que ela disse antes.

― Vamos! ― Nolan apressou-se a nos acompanhar.


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