O Sobradão encantado escrita por Belle17


Capítulo 4
André




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— Vai, sim, senhor - gritava uma voz feminina, carregada de ódio e grosseria.

— Não! Me tirem daqui! Me tirem daqui - clamava um homem de aproximadamente quarenta e cinco anos, que tentava à todo custo não atravessar a terrível porta do corredor assombrado, como era conhecida uma área que levava à uma grande sala cheia de enfermeiros dispostos a aplicarem injeções nos loucos.

— VOCÊ NÃO SABE O QUE FAZ! VAI ENTRAR, SIM! - Berrou a mesma mulher, uma senhora acima do peso, que trajava uma bata branca e uma máscara da mesma cor.

— EU NÃO QUERO!!! - chorava o homem, com os olhos arregalados e cheios de pavor.

— VOCÊ NÃO É NINGUÉM! É SÓ UM LOUCO - disse a médica, chamando a atenção de alguns enfermeiros que se encontravam na sala do corredor assombrado. Ali, a maioria dos doutores olhava a situação do homem de forma normal, admitindo que os loucos não possuíam sentimentos e que não eram ninguém.

Atrás de um vaso de plantas, estava agachado um garoto de aproximadamente dez anos. Seu corpo tremia e seus olhos lacrimejavam. 

— É melhor saí dai - sussurrou Fred, seu amigo imaginário - se a médica te encontrar, vai ficar encrencado.

— Não posso! Não quero levar mais injeções - disse o menino ao seu amigo, com as pernas dobradas e a cabeça abaixada.

— Mas precisa sair daí, André - disse Fred, baixinho - você sabe o que acontece com aqueles que se escondem. Aquele homem vai morrer.

André tremeu mais ainda. 

— M-morrer? - disse ele, gaguejando.

— É. Ele chegou ainda hoje ao hospício, mas se escondeu atrás de uma porta lá no jardim. As enfermeiras vão aplicar nele uma injeção letal.

— C-como você sabe disso? COMO VOCÊ SABE DISSO? AAAAAAARRRGHHH - Berrou o garoto, esperneando-se pelo chão, ainda atrás do vaso - ME DEIXE EM PAAAAAAAAAAAAAAAAAAZ, FREEEEED!!! 

Fred sempre fora uma companhia para André, que, por sua vez, desejava ser invisível como ele. Porém, em alguns momentos, sua loucura o fazia odiar tanto quanto o amava.

— Ahá. Aí está você, seu animal - berrou a mesma médica, que acabava de jogar o homem dentro da sala de injeções. Era possível ouvir seus berros do outro lado da parede. André parecia entender muito bem o significado de cada grito de angústia, medo e loucura liberados por aquele senhor.

O menino de dez anos foi arrastado por um dos pés pela bruta mulher. Entretanto, André não fora enviado para a temível sala de injeções. Foi parar, na verdade, dentro de um minúsculo quarto, onde as crianças más eram trancadas sem direito a comida e bebida.

Chorando e berrando de forma incrivelmente inexplicável, André foi submetido a um pequeno "tratamento" antes de entrar no quarto, que só cabiam no máximo umas três pessoas. Um médico negro, que trajava um jaleco com manchas de sangue, saiu de uma sala vizinha, e enfiou-lhe um seis comprimidos na boca, que fizeram a criança cair no sono. Minutos depois, já estava adormecido, abandonado no quartinho dos castigos.

 


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