O Anjo da Liberdade escrita por AnniePotter


Capítulo 6
Capítulo 6




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Assustei-me ao som de seu sobrenome. Beauchtrov, a famosa família de comerciantes que viviam nos limites entre a muralha Rose e Sina. Então... o que ele fazia ali? Se os pais não morreram, se ele tinha um lugar para voltar...

Não podia ser verdade.

— Ah - falei. - Ah-ha-ha. Muito engraçado. Até parece que vou acreditar que você faz parte de uma família que não foi atingida pela tragédia. Uma família nobre que nunca passou dificuldades, que deve ter tudo o que é necessário e muito mais. Desculpa, Eliah, mas me poupe.

Seu rosto ficou sem expressão por alguns instantes. Logo, franziu as sobrancelhas e fixou seus olhos nos meus.

— Não está acreditando em mim, Julie? Pois eu digo que não é necessário mentir, já que não tenho motivos para tal coisa.

Pensei bastante sobre acreditar nele. Por fim, decidi que aquela não era uma situação adequada para desperdiçar tempo com falsas alegações, que decerto demandariam muita criatividade.

— Está bem, Eliah Beauchtrov. Vá em frente. Você sabe que estou curiosa - forcei um sorriso.

— Hum, vamos ver... - murmurou ele. - Por onde posso começar? Ah, sim, os motivos. Os motivos de eu ter fugido da mansão Beauchtrov.

“Minha vida era muito monótona. Como o mercado consumidor de meu pai havia tido uma baixa por causa da invasão dos titãs, ele andava extremamente irritado. Seus nervos estavam à flor da pele. Resumindo: era uma situação perfeita para que ele descontasse em mim e minha mãe. E, assim, ele resolveu me mandar para o Exército.”

— Uau – murmurei. – Assim, sem motivo algum?

— Acho que ele queria se livrar de pelo menos um peso – Eliah riu, o que me surpreendeu. Sua risada era um dos sons mais belos que eu já havia ouvido. – Mas, enfim, continuando...

“Eu queria me livrar daquela vida, sim, mas não indo para a Polícia Militar. Para ele, eu teria que proteger a nobreza, ou então seria um inútil. ‘Você tem a obrigação de proteger a sua família’, ele dizia. Ridículo. Eu queria acabar com as verdadeiras ameaças ao povo, não ser o guarda de um bando de preguiçosos que vivem nadando no dinheiro dos outros. Então fugi. Eu não iria fazer algo tão estúpido.”

Tudo bem, admito que ficasse atônita com o que ele falava sobre o próprio pai. Eu nunca tive uma oportunidade sequer de conhecer uma família problemática, graças aos céus, mas era terrível impor algo que a pessoa não quisesse fazer. Parecia uma... ditadura.

— E a sua? – ele perguntou. – Como é a sua família?

Era — eu o corrigi. Tive vontade de chorar, mas a reprimi. Agora eu tinha de ser forte. – Minha família era incrível. A gente nunca teve problemas entre nós.

— Que sorte.

— Minha má sorte aconteceu quando os perdi.

— Às vezes eu pensava que poderia ter essa mesma má sorte. Mas minha mãe era boa. Meu pai que era o problema.

— Dá pra gente mudar de assunto? Isso tá me deprimindo, senhor Beauchtrov.

Ele sorriu.

— Agora vai começar a implicar com isso?

Retribuí o sorriso.

— Você não deveria ter deixado vazar uma informação tão restrita, senhor.

— Que droga, hein?

Eliah aproximou sua boca da minha aos poucos, olhando para meus lábios. Então me levantei em um salto.

— Escuta aqui: ninguém me beijou na boca ainda, em toda minha vida. Não me acho digna de ter meu primeiro beijo com um nobre.

Então ele também se levantou e franziu as sobrancelhas, ainda sorrindo.

— Você está brincando, não é?

— Claro, Eliah! Só que ainda é muito cedo para isso. Não vamos adiantar as coisas.

— Como você pode ser tão certinha? – ele exclamou.

— Como você pode ter duas personalidades? – imitei seu tom de voz.

— A gente vai mesmo brigar em nossa primeira conversa de verdade?

— Eu não me importo de brigar com você.

— Se eu estiver ao seu lado, eu também não ligo.

— Vai bancar mesmo o romântico agora?

— Cala a boca!

— Qual é a sua verdadeira face, hein, Eliah? – rugi. – Não dá para ver com tantas máscaras por cima.

Dei as costas para ele e andei rapidamente em direção ao dormitório feminino. Era uma cabana simples de madeira, como todas as outras, mas tinha um pequeno jardim crescendo à sua volta. Tentei entrar de fininho, discretamente, mas acabei batendo a porta um pouco forte. Rezando para que ninguém tivesse despertado com o barulho, andei pelo escuro nas pontas dos pés até chegar à minha cama.

Joguei-me sobre o colchão. Não conseguia parar de pensar naquelas ações de Eliah. Eu realmente não conseguia entendê-lo. Será que apenas eu sabia de seu segredo? Ainda havia muitos segredos por trás de suas duas caras. Mas agora eu já não tinha mais certeza se queria descobrir.

Que droga! Além de todo aquele treinamento para sair e acabar com aqueles malditos titãs, eu ainda tinha que me preocupar com as pessoas ao meu redor. Minha cabeça estava sendo atacada por um tornado de pensamentos. Como será que ficou a expressão de Eliah depois que saí? Aposto que deve ter ficado engraçada. Será que ele havia voltado logo para o dormitório masculino? Seria hilário se no dia seguinte eu soubesse que ele tinha sido pego antes de chegar lá. ESQUEÇA-O, POR FAVOR. Qual seria o treinamento exaustivo do próximo dia? Seria tão legal se o Eliah caísse de uma árvore...

— Ei, Julie! – um sussurro vindo da cama de cima me assustou, fazendo com que eu me arrepiasse inteiramente. Olhei para a lateral da cama de cima e me deparei com os olhos semicerrados de Elisa. – Como foi seu encontro com o Eliah, hein?

— Vai dormir – murmurei. – A gente tem treinamento amanhã.

— Você nem pensou nisso quando foi com ele, não é?

— Vai dormir – repeti, mantendo a voz baixa.

— Tudo bem. Mas depois você vai me contar.

Elisa ajeitou-se na cama. Nunca me passara pela cabeça tê-la como confidente, mas quem sabe fosse bom para aliviar minha mente? Resolvi deixar para o próximo dia. Tendo em mente que aquilo tudo tinha sido o bastante para apenas um dia, me virei e adormeci, desejando do fundo de meu coração que não viesse a sonhar com Eliah.


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