O Anjo da Liberdade escrita por AnniePotter


Capítulo 5
Capítulo 5




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O treinamento começou cedo. Muito cedo mesmo. Da casa velha até o local em que treinavam as tropas, fomos transportados em uma carroça, enquanto o sol ainda nascia. Já entramos trocando os pijamas de pano por uniformes confortáveis e sofisticados, para depois partir para levantar pesos. Já tinha se passado horas de treinamento quando finalmente fomos finalizar com uma corridinha básica em volta de todo o acampamento que, só para acrescentar, era enorme.
— Vocês aí! - gritou o treinador Keith, apontando para um grupo de garotas que estavam em último lugar. - Correndo! Correndo!
Elas arquejaram, tentando correr, mas só conseguiam manter a velocidade de uma caminhada normal.
Eu estava respirando forte, cansada de tanto me esforçar, mas lá estávamos eu, Elisa e Eliah, em primeiro lugar. Eliah tinha um ar sério, daquele tipo "eu vou ser o melhor daqui, ninguém vai me impedir". Já eu e Elisa corríamos sorrindo uma para a outra levando aquilo como uma brincadeira, uma competição particular, apenas o começo de uma longa história juntas.
— Atenção! - urrou Keith Shadis, em posição de sentido.
Todos nós paramos de correr e o imitamos, com a cabeça erguida.
— Olhem aqui, seus vermes, se vocês não aguentarem o tranco aqui, quem vai rir de vocês não serão seus colegas, mas sim os titãs! - atirou o treinador, rígido, com os braços agora firmes ao lado do corpo. - E não tem nada de engraçado em ser morto, estou certo? - Ele olhou friamente para Elisa, que engoliu a risadinha.
— Ótimo. - Ele concluiu, franzindo o cenho. - Dispensados!
Direcionamo-nos ao refeitório, aliviados. Era ótima aquela sensação de estarmos finalmente saindo de um ponto neutro e partindo para a batalha, sendo finalmente úteis para a humanidade. Finalmente faríamos algo para acabar com todo aquele desperdício de vida inocente.
A comida era uma sopa de batatas com carne de boi. Carboidratos e proteínas. A questão é que estava difícil comer carnes nesses tempos, então aproveitamos bastante. Ali no refeitório acabei descobrindo que muitos ali estavam mais pela comida do que para realmente levar a sério, já que estávamos passando por uma crise tremenda.
Muitos habitantes dos três distritos estavam se matando por comida, como se não bastasse a ameaça extrema dos titãs. Apenas os nobres e o exército, composto por três tropas além da que estava em treinamento, tinham alimento suficiente. E isso formava duas guerras em um só lugar: por comida e por vida.
— Eliah, está tudo bem? - perguntei preocupada, olhando para os olhos perdidos do garoto.
Ele estava calado desde que acordamos, o que era normal, mas tinha algo de estranho nisso. Eu tinha algum pressentimento sobre os motivos de ele estar assim, mas não era nada bom.
Elisa colocou a mão em meu ombro.
— Se ele tiver algo para falar, ele vai falar - garantiu.
Senti algo tocar meu joelho e percebi que Eliah olhava discretamente para mim. Quando toquei, senti que era a mão dele. Ele me entregou um papel, que abri debaixo da mesa, tomando cuidado para que Elisa, que estava concentradíssima em sua sopa, não notasse.

"Atrás do refeitório. Sozinha. Depois do jantar."


Ergui os olhos para Eliah, surpresa, mas ele não estava mais olhando para mim. Continuava comendo, como se nada tivesse acontecido. Então me apressei e enfiei o papel no bolso do short do uniforme marrom.
— Como será que está Bryan? - suspirou Elisa, brincando com o garfo enfiado na batata. - Será que essa senhora que o Irvin falou é mesmo confiável? - Ela se arrepiou, enfiando a batata na boca.
Eu entendia perfeitamente o que ela queria dizer. Imaginava que as verdadeiras perguntas que não se calavam em sua mente seriam: "Será que ela não é como Laysa, que tinha cara de boazinha, mas no fundo era absurdamente cruel?" ou "Será que ele chegou bem em casa?". E Elisa estava absolutamente certa em pensar tal coisa. Nós quatro éramos uma família agora. Só podíamos contar com nós mesmos, e isso começou a partir do momento em que saímos da casa dos Ernmont.
Um sino acima do refeitório bateu, anunciando que era a hora do toque de recolher. Tínhamos que descansar bem para treinar ainda mais no próximo dia. Mas eu ainda tinha uma coisa para fazer.
Depois que nós três saímos do refeitório, Eliah deu um breve "tchau, até amanhã" para nós e foi para trás da casa de madeira, pelo caminho que coincidia com o do para o dormitório dos homens.
— Bom, Elisa, acho que vou dar uma caminhada por aí. Tenho que dar uma respirada.
Ela me encarou, cética e preocupada.
— Tem certeza? Você precisa dormir, descansar. Amanhã vai ser carga pesada de novo.
— Tenho certeza absoluta. Sei me cuidar. Pelo menos, sou mais responsável do que você, Elisa - brinquei.
Ela fingiu uma expressão de raiva, sorriu e partiu, me deixando sozinha no ar livre da noite. Apressei-me, pois, e fui para trás da cabana que usávamos como refeitório, onde Eliah me recebeu com os olhos da cor do céu da noite, em pé, olhando sério para mim.
— Por que está me olhando desse jeito?
— Acha que eu mordo? - ele rebateu, sorrindo abertamente pela primeira vez. - Venha cá.
Eliah sentou-se em cima de um barril deitado e indicou o espaço ao lado dele.
— Você gosta de conversar, estou errado? - zombou ele, ainda com aquele sorriso brilhante no rosto.
Eu sorri, me sentindo um pouco estranha, e respondi:
— Isso é bem raro. Você falar e sorrir. O que está acontecendo?
Então me aproximei com cautela e sentei ao lado dele. Eliah segurou meu queixo e olhou no fundo dos meus olhos.
— Você quer saber sobre mim, não é? Eu sei disso. Então se prepare. - Ele apertou minha bochecha com o polegar de leve e tirou a mão de meu rosto. - Vamos iniciar a viagem pelo incrível mundo de Eliah Beauchtrov.


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