I Never Learn escrita por Laurent


Capítulo 2
In a sea of guilt


Notas iniciais do capítulo

Capítulo baseado na canção I Never Learn, da cantora Lykke Li. Links da música na descrição :)

*In a sea of guilt = no oceano da culpa



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2 meses depois

— Sim, amor, eu sei — eu disse, andando pelo meu quarto e segurando o telefone celular no ouvido. — Eu sei que já era pra eu estar me mudando pra aí. Mas precisamos conversar antes. Não tem a ver com dinheiro... Não é isso.

— Sobre o quê deveríamos conversar, eu posso saber? — disse a voz de Carol, do outro lado da linha. — Você não pode simplesmente falar agora?

Fiquei sem saber o que responder.

— Kevin — começou ela, fazendo uma pequena pausa. — Se você estiver fazendo o que estou achando que você quer fazer comigo...

— Não estou — respondi prontamente, mais por instinto do que pela verdade. — Só precisamos marcar uma hora pra conversar. Pode ser aí no seu apartamento?

— Por que não no seu?

— É... — novamente perdi a fala por um momento. — Tudo bem. Às oito está bom?

— Sim. Passo aí. — Carol não se despediu antes de desligar.

Joguei o celular em cima da cômoda. Passei as mãos pelo rosto, esfregando os olhos, e fui até a janela. Eu morava no terceiro andar, e de lá só conseguia observar os carros que passavam nas ruas perto do prédio. Encarei-os enquanto faziam seu caminho pelo asfalto úmido.

— Você vai mesmo fazer isso? — disse uma voz atrás de mim.

Deitado na cama, coberto apenas por um lençol, Rafael repousava as mãos atrás da cabeça. Seus olhos castanhos me percorriam, desconfiados.

— Vou — falei, sem mesmo acreditar em minhas próprias palavras. — De algum jeito, eu vou.

— Sinto... muito — ele disse, olhando para baixo timidamente.

— Não é culpa sua.

Ele não respondeu, apenas ficou mexendo o pé na borda da cama.

— Você vai contar pra ela? — disse, depois de alguns instantes. — O motivo verdadeiro pelo qual está fazendo isso?

Encarei-o. De repente, o rosto sério de Carol veio à minha mente, e imaginei seus olhos ardendo enquanto eu dizia que não a amava mais. Porém, não pude nem imaginar o que ela pensaria quando soubesse que eu não apenas me sentia assim, como também já estava com outra pessoa.

Rafael esperou minha resposta, mas eu não pude dá-la. Ele voltou a encarar o chão, como se a solução para suas perguntas estivesse lá. Caminhei até a cama e deitei-me ao seu lado, passando a minha mão por trás de sua cabeça e acariciando seu ombro. Ele virou a cabeça para mim e se aproximou, beijando-me levemente e segurando meu pescoço. Frio e lento, aquele beijo expressava meu estado de espírito.

Eram 9 horas da manhã de um domingo e o céu estava um pouco cinza, porém deixando um resquício de sol atravessar as nuvens. As janelas estavam só um pouco abertas, pois a luz do dia piorava minha dor de cabeça. Na noite passada, eu e Rafa havíamos passado no Christian's para beber um pouco, mas acabamos exagerando na dose. Eu ia beber cerveja, mas parti para a vodka logo que me lembrei de que no dia seguinte teria que terminar com Carol. Influenciado por mim, Rafa também começou a beber, e terminamos a noite aqui, transando. Não me lembrava muito bem de como tudo tinha sido, só sabia que eu tinha gostado pra caramba.

— Cara, preciso de um banho frio — disse Rafa, afastando-se e sentando na cama lentamente. — Tô me sentindo um lixo.

Tomamos banho juntos e logo depois estávamos vestidos novamente, Rafa com a mesma roupa do dia anterior.

— Você não quer que eu te empreste uma camiseta? — perguntei, examinando-o enquanto ele penteava os cabelos escuros na frente do espelho. — A sua tá toda amassada.

Ele sorriu.

— Não precisa — respondeu, alisando o tecido com as mãos. — Chego no meu apartamento em 10 minutinhos.

— Poxa, você vai correndo? — falei, sorrindo.

— Vou sim. — ele sorriu também. — Preciso terminar um trabalho da faculdade, era pra eu ter feito  na sexta mas fiquei procrastinando ao invés disso.

Acompanhei Rafael até a porta e nos demos um beijo de despedida. Abri a porta e ele já ia saindo quando me lembrei de uma coisa.

— Espera — falei, e ele, que já estava no corredor, voltou.

— Que foi?

— Ontem... a gente usou preservativo? — sussurrei, não querendo que nenhum vizinho ouvisse.

Rafa abriu um sorriso irônico.

— Eu sou um cara responsável — falou. — Acho que deve ter ficado debaixo dos lençóis logo depois que usamos. Dá uma procurada lá.

Olhei para os dois lados do corredor e não vi ninguém. Inclinei-me e dei outro beijo de despedida em Rafael, e logo depois ele foi embora, seus passos rápidos ecoando pelo corredor das escadas.

Fechei a porta. Sozinho, voltei a pensar em Carol. Eu tinha que terminar com ela, tinha a obrigação de fazer isso. Sabia que era a coisa mais sensata a se fazer naquele momento. Mas não conseguia deixar de pensar no que aconteceria depois disso. O que ela falaria para os pais, que já tinham inclusive conversado comigo sobre nós dois morarmos juntos no apartamento dela. O que eles pensariam quando sua filha dissesse que o namoro de um ano e meio havia dado errado porque o cara com quem ela estava a traía. Eu sentia medo de tudo isso. Imaginava o que os nossos amigos iriam falar. O que iriam pensar se me vissem andando com um homem. O que ela iria pensar. Eu me sentia culpado por tudo isso.

Eu já havia gostado muito de Carol. Já havia me apaixonado por ela. Mas em outros tempos, quando eu tinha outra cabeça e outros planos. Já havíamos passado por muitas coisas, boas e ruins. Mas eu nunca a amei de verdade. Eu sabia que o fato de nós morarmos juntos seria um novo passo para nossa relação, e eu não estava disposto a dá-lo se eu mesmo não sentia as coisas que ela sentia por mim. Não podia ficar preso à minha própria namorada. Isso não era certo, não era justo, não era coerente.

Quando reencontrei Rafael no Christian's, há dois meses atrás, eu já me sentia inseguro sobre isso. Depois que começamos a transar é que tive certeza de que eu estava cometendo um erro com Carol. Nada daquilo era culpa dela ou de Rafa. Ele tinha sido a primeira pessoa do mundo a saber que eu era bissexual. Mas ela deveria ter sido a primeira pessoa a saber. Se eu realmente a amasse. O que não era o caso.

Restava terminar com tudo aquilo e ver no que dava.


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Notas finais do capítulo

Música no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=bJW4F5rh9q4
Letra: https://www.letras.mus.br/lykke-li/i-never-learn/traducao.html



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