Diuna Trunk - Chronicles escrita por Cahxx


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A história foi toda tirada de um sonho, por isso, não espere haver muito sentido nela.

De qualquer forma, espero que alguém goste.



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O ano é 2035. A terceira guerra mundial acaba de ser encerrada deixando tristeza e morte aos que ficaram. A quinta revolução industrial começa a se impor e se antes fora utilizado carvão, eletricidade, petróleo e robótica, hoje utilizamos o Fluído Cósmico Universal, mais conhecido como Matéria – cuja existência foi aceita recentemente.

Após a extração máxima de recursos naturais, após tantos conflitos, protestos, disputas, choques entre gerações e religiões, o Planeta explodiu. A saturação chegou a seu nível máximo e a Terra passou por um novo Big Bang, que se não fez tudo desaparecer e começar de novo, ao menos está nos obrigando a reerguer o planeta.

Casas, prédios, parques e monumentos foram reduzidos a carcaças e tudo o que se vê hoje são esqueletos metálicos do que já foram cidades, avenidas e jardins. Hoje as ruas são empoeiradas, o céu nunca sorri – é sempre esse cinza triste e apagado – e a civilização humana encontra-se doente.

Depois de tantos ataques nucleares, experimentos científicos e descobertas de novos elementos químicos, alguns seres vivos (humanos, animais, plantas e demais) tiveram sua genética modificada e a seleção natural de espécies começou a trabalhar com as futuras gerações: um tipo novo de humano foi “criado”. Eles são chamados de vampiros pelas pessoas “normais” por viverem mais do que o normal, por passarem a maior parte do tempo no escuro (como se fosse difícil encontrar sombra nos dias de hoje) e por terem seus corpos mais resistentes a danos físicos. Mas esses “seres” convivem normalmente com as demais pessoas e podem ser vistos em lares de família, em mercados e até escolas.

As pessoas vivem com medo em suas casas, o crime corre solto e mais forte do que nunca. Organizações criminosas e máfias clandestinas governam cada beco escuro e deserto do continente e observando bem esta situação, todos acreditavam que nada se modificaria em pelo menos quinhentos anos. No entanto, pensando em acabar com essas “organizações”, um grupo de Agências privadas começou a se erguer em cada esquina do asfalto sujo, agências essas com o objetivo de combater os criminosos ou ao menos diminuir sua área de atuação.

Mas não pense que essas Agências são politicamente corretas, planejadas por políticos sábios e solidários, cujos funcionários baseiam-se em heróis movidos a honra e carisma. Não mesmo. Estamos falando de Agências que contratam seus funcionários baseados em suas habilidades de infiltração, homicídio e roubo. Agentes cujos corpos também são modificados. Agentes cujas famílias precisam de qualquer esperança para continuarem a viver neste mundo caótico.

Meu nome é Diuna Trunk. Aos doze anos comecei a estudar na escola militar Jenova, onde me formei como policial e agente civil do governo. Aos dezenove anos obtive a proposta de trabalhar para a Agência 27, comandada por Simon Clark e seu fiel escudeiro, Howard Snake. E hoje, aos vinte e seis anos, estou indo para minha primeira missão na Agência 27.

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Corria a 180 quilômetros por hora na Rodovia Schumacher, atravessando a ponte estiada que separa o Centro do subúrbio da região metropolitana conhecia como Midgard. Minha moto – uma Dullahan que apelidei de Celty, presente de meu pai – zunia pelo asfalto empoeirado ultrapassando carros e outros veículos como uma vespa negra e gigante. Era cedo, o dia estava bem claro apesar da cor cinzenta. Se não fosse pelo visor escuro do capacete, talvez eu não conseguisse enxergar nada com aquela luz fina e ofuscante.

— Crrr... Howard para Diuna— chiou o comunicador preso ao meu ouvido.

— Pode falar.

Só estou repassando os detalhes da missão. Consegue lembrar-se de tudo?

— É óbvio. Vou entrar no Instituto Min’Ihen me passando por uma caloura, encontrar o traficante de vacinas e mata-lo. Tem mais pra lembrar?

Eh... Não. É só que todos os outros agentes que tivemos tinham problemas para se lembrar exatamente o que fazer. Não estamos acostumados a alguém de boa memória.

— Não é só nisso que sou boa, Howard. Fique tranquilo e reserve meu pagamento. Estou voltando às seis da tarde para minha primeira promoção.

Ainda ouvi o que parecia ser uma risada abafada de Howard e então desliguei, voltando a acelerar ainda mais a Celty que já gritava revoltada pela insistência sobre sua potência. Queria resolver aquilo o mais rápido possível, batendo qualquer recorde que a 27 possuía. Precisava mostrar ao Simon que havia feito a escolha certa; precisava do pagamento para a cirurgia de revascularização miocárdica da qual meu pai necessitava para continuar vivo.

Celty começou a rosnar enquanto íamos parando em frente ao colégio, um prédio antigo e destruído que mais parecia o estacionamento de um shopping center do que qualquer outra coisa.

— Desculpe, Celty – eu dei tapinhas em sua lateral – Mas sabe que seremos muito bem recompensadas pelos nossos esforços. Não me espere, querida.

Tirei o capacete e me dirigi à entrada; era terrivelmente agradável sentir o vento no rosto após tanto tempo enfiada num capacete abafado e apertado. Sentia-me grata por ter cortado o cabelo tão curto a ponto de não mais enroscar no protetor.

— Pois não? – questionou uma senhora obesa de semblante mal-humorado, mascando chiclete e maquiagem horrivelmente mal acabada.

— Er... Ah... – levei um tempo até conseguir parar de prestar atenção na situação horrenda da mulher e lembrar-me do que estava fazendo ali – Ah, sim! Sou aluna nova.

— Qual seu nome?

— Amanda Selph.

— Atrasada, garota. Sala 15 no segundo andar.

— Tá. Eh... Valeu – dei um aceno com a mão e fui em busca de uma forma de subir. Encontrei um elevador vazio que subia tossindo e gemendo de tão velho que já estava. O prédio inteiro era silencioso demais, talvez porque todos estivessem em aula. Assim que a porta metálica se abriu, dei de cara com um corredor sujo e logo a frente uma porta com a placa 15. Entrei na sala que já estava aberta e fui dando uma olhada no lugar, sem notar que o professor parara de falar para me encarar curioso.

— E você é...?

— Ah! – me assustei só então notando sua presença – Diun... Amanda! É. Amanda Selph.

— Sente-se então.

A sala era meio estranha. As paredes estavam sujas e cheias de bolor. Havia muitas colunas pelo meio, tapando minha visão do professor. Este tinha que ficar andando por entre as mesas para todos conseguirem lhe avistar. E por falar em mesas, nunca tinha entrado numa sala de aula onde a disposição de carteiras era desta forma; pelo menos não depois do primário. Eram mesas grandes e quadradas para quatro pessoas sentarem em “roda” de forma que você escolhia entre encarar a cara do professor ou a do colega a sua frente.

Me sentei na única cadeira vazia, ao lado da janela. Ignorei os trinta olhares sobre mim e pigarreei alto para demonstrar que estava desconfortável. Encarei meus “colegas” de mesa: um garoto cheio de piercings, rosto pálido como calcário, cabelos longos que lhe cobriam o rosto como uma cortina preta, oleosa e mal cuidada. Uma menina tão séria quanto um detento que espera a morte: os cabelos caramelo lhe tapando a testa e olhos de puro tédio.

Remexi no assento: ficariam me encarando por quanto tempo? Avistei do outro lado da sala, uma turma que se encolhia na sombra da sala. Vampiros, pensei. Pressionei o indicador ao lado da têmpora e um visor fumê cobriu meus olhos. Numa tela vedada eu pude ler detalhes sobre o perfil de cada aluno ali presente.

— Eh-hem... – o professor chamou minha atenção – Não são permitidos óculos escuros em sala de aula.

— Foi mal – eu disse fechando o visor – achei que não fizesse diferença usar óculos escuros ou me esconder no cantinho da sala – soltei a piada, rindo amarelo e percebendo que ninguém mais ria.

— Concentre-se, garota.

— Pó deixar, pro. – tentava me lembrar de gírias adolescentes, mas acho que as minhas só delatavam minha idade. Silenciei minha risada sem graça e encarei o grupinho do escuro. Só podiam ser eles! Teria que segui-los no intervalo.

Uma imagem em movimento me tirou a atenção. Ergui a cabeça para uma diagonal e dei de cara com uma tela em holograma exibindo o jornal da manhã. Não lembro de ter “televisões” na minha escola, em plena sala de aula. Estranhamente ninguém assistia.

— Ei, menina – chamei a garota morta-viva – Que é essa tv? Tipo: isso não atrapalha a aula de vocês?

— Não. – ela respondeu secamente.

— Como assim...? Por que ela fica aí? Não tira a atenção de vocês?

— Não. Ninguém precisa disso.

Encarei a morta-viva ao meu lado e desta passei a observar os demais alunos. Assustador. Todos prestavam atenção na aula como se suas almas dependessem disso. Uma mesa de asiáticos copiava a tudo com velocidade e praticidade. Até os vampiros rabiscavam seus cadernos. O que há com a adolescência desse século?!

Quando nos liberaram da aula, não perdi tempo. Joguei minha mochila de estudante nas costas e segui a turminha do escuro. Todos com cabelos negros, compridos, escorridos: uma turma de góticos de 2035. Nada de anormal.

Desceram escadas de concreto, cobertas por lixo e manchas de hemácias. Esgueirei-me pela parede enquanto avançavam para o estacionamento subsolo. O lugar estava escuro: mais do que os lugares normais. Conversavam sobre séries, filmes e então... tocaram no assunto. Um deles abriu uma maleta prateada e avistei, ainda que de longe, um conjunto de seringas rosadas dispostas em sequência.

— Qual é cara? Vai querer hoje?

— É novo?

— Fresco.

— Manda agora?

— Quando quiser.

Abri a mochila e tirei uma M92 de níquel prateado, engatilhando-a e encaixando na cintura. Desembrulhei um tubo enegrecido, montei uma Bianchi FA-6, engatilhando-a também, e desci as escadas.

— De onde é essa demanda?

— Jack Nicholson. O cara tá produzindo o soro como água em 2015. Aproveita enquanto tá barato.

— Bom saber – comento enquanto me aproximo, a sniper apontando de um em um, minhas botas pisoteando poças de água suja.

— Quem é você?! – um deles exclama apavorado.

— Depende de você: posso ser uma mãe, um pai ou um carrasco. Vocês decidem.

— O que quer? – um dos vampiros se levanta do chão, fechando a maleta e me encara sem qualquer expressão. Ele acende um cigarro e assopra a fumaça, zero pudor.

— Estou aqui pra confiscar o conteúdo de vocês. Isso que carregam é mercadoria ilegal. Sendo passivos de prisão por JC, peço que me entreguem a maleta e sumam daqui.

— JC? – o quase comprador me perguntou, um misto de medo e preocupação em sua voz.

— Justa causa – explico e torno a engatilhar a sniper. – Agora passem a maleta.

O vampiro do cigarro termina de tragar seu papel carbonizado e me encara, os olhos cobertos por lápis preto me fitando sem qualquer sentimento.

— Não vamos fazer isso – ele simplesmente diz. O tempo que levo para sorver a informação, ele ergue a perna e chuta minha sniper com o coturno de couro. Observo a arma voar de minhas mãos e me sentindo realmente surpresa, me viro para encará-lo.

Bloqueio um golpe a tempo de proteger meu tórax. Uma sequência de dois socos e um gancho me acertam, mas bloqueio todos os golpes, revidando um chute no umbigo do agressor. Este se desequilibra para trás, e seus parceiros entram na briga.

Observo um golpe vindo pela direita e um logo em seguida pela esquerda. Me abaixo desviando da direita e seguro a perna do garoto da esquerda. Giro sua perna e com uma cotovelada quebro seu joelho. Ouço-o gritar de dor e o vampiro do cigarro voltar à ativa. Bloqueio novos socos e sinto uma forte dor no braço, percebendo logo em seguida que ele me atingira com um bastão de metal.

Sinto-me ofendida pelo golpe sujo, mas então avisto uma coluna acima de nossas cabeças e me penduro nela, chutando o menino cigarro na altura do rosto. Me solto da coluna e assim que minhas botas atingem o chão alagado, puxo o revólver da cintura e atiro na perna de um garoto que corria em minha direção, preparando um ataque. Vejo-o se curvar sobre a perna, a dor atingindo seu cérebro e dou mais dois disparos em sua direção, seu corpo caindo inerte sobre a água podre.

Aproximo-me do garoto cigarro que se contorcia no chão, cobrindo o rosto com as mãos. Assim que ele as tira do rosto e tenta me enxergar, decido poupar seu sofrimento e uma bala em sua testa é o suficiente para seu corpo, ainda que mais forte do que o de um humano normal, dormir para sempre. Recarrego a arma tentando me lembrar quando foi que me tornei tão fria.

Me agacho sobre a maleta e abro sua tampa, observando o grupo de seringas brilhar sob o conteúdo magenta de seus frascos. O que tem de tão especial nessas vacinas eu não sei, mas Simon as quer e as terá. Fecho e tranco a maleta, envolvendo sua alça com os dedos e guardando a pistola na cintura. Chuto a sniper para um canto escuro e subo as escadas cobertas por lixo.

A luz clara perfura meus olhos e levo um tempo para me acostumar com o dia. Agora sei como um vampiro se sente. Passo pela secretária da escola e a ouço questionar:

— Aonde vai, mocinha? Ainda não terminou a aula.

— Fui expulsa por mal comportamento.

Fecho a porta atrás de mim e subo na Celty:

— Saudade, garota. Fizemos um ótimo trabalho hoje, não é? Será que dá tempo de comprar dunuts na padaria?

Acelero a moto e em apenas quatro segundos já estamos a 120 km/h em busca de uma padaria aberta à ex-estudantes.

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