A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente


Capítulo 7
6 - Palavras Poderosas


Notas iniciais do capítulo

Feliz Páscoa, pessoal!! Como não posso lhes dar chocolate, venho lhes presentear com capítulo!! Gostaria de agradecer a todos que comentaram no capítulo passado: fico imensamente feliz que tenham gostado!!
Nesse capítulo não teremos apenas a profecia como algumas revelações importantes.
Prestem atenção e espero que gostem!!



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P. O. V Catarina:

Um dia após chegar ao Acampamento, eu saí em minha primeira missão! Não era grande coisa, apenas ir ao Upper East Side com Annabeth e Percy ― e, em parte, tentar não segurar vela para os dois ―, mas eu acabei sendo de mais ajuda do que imaginava ser possível: uma amiga do casal estava sendo atacada por um bando Harpias ― do tipo mau, e não do tipo de limpeza ―, e o único modo de detê-las seriam lançando flechas em sua direção; a única arqueira disponível era eu, e dei meu melhor para atingi-las sem ferir a garota.

A boa notícia foi que não a atingi, a má foi que atingi o monstro que a carregava pelo tornozelo e causei uma queda brusca. Entrei em pânico com isso, mas os mais velhos mantiveram a calma e nos levaram de volta ao Acampamento, onde acabei ficando completamente sem ter o que fazer: todos que estavam por ali ― que eram poucos ― pareciam estar ocupados... Exceto por uma pessoa.

Seu nome era Alexia, tinha 18 anos e estava profundamente irritada e preocupada.

― A namorada de um amigo meu desapareceu! Meu namorado, que é amigo desse cara há anos, foi ajudar a procurar por ela, mas nenhum deles me deixa ajudar: “não venha ao Norte, Alexia! É muito inóspito para filhos de Apolo” ― ela resmunga, deitada sobre a mesa 7 do pavilhão refeitório ― Eles só se esquecem de dizer que a garota também é filha de Apolo, e viveu a vida toda lá!

― Espera aí: uma irmã nossa sumiu, e nós não estamos fazendo nada? ― pergunto abismada.

― Nós que estamos aqui? Não. Os que estão lá fora? Sim! ― ela se senta sobre a mesa, encarando-me de cima com seus profundos olhos castanhos ― Meus irmãos gêmeos estão lá fora ajudando nas buscas... Andamos um tanto afastados desde que uma tragédia matou a namorada de um deles, e desde que o outro fez besteira e terminou com a namorada! ― ela suspira, acenando para uma garota de cabelos roxos que passou por nós ― Mas e você, maninha: o que a preocupa tanto?

― Além do fato de estar em uma profecia nada amigável? Ah, nada, exceto não saber a extensão de meus poderes! ― dei de ombros, fingindo falso desdém.

Um milhão de coisas me preocupavam, mas eu não as despejaria sobre Alexia: seu semblante parecia preocupado enquanto ela analisava um anel em seu anelar direito.

― Você está noiva? ― pergunto distraída.

― Bizarro, não é? Dezoito anos e noiva... ― ela ri ― Mas eu amo Toby, e aquele estúpido filho de Ares também me ama: eu tentei dizer não, e ainda tenho medo de tudo isso, mas eu não consigo pensar em passar minha vida com mais ninguém... Acho que é isso que dizem sobre “achar seu muso/sua musa”: Apolo tem nove musas para inspirá-lo, e alguns acham que isso se deve ao fato de ele não conseguir se apegar a alguém; quando um filho de Apolo sossega, o que é raro, os outros chalés costumam dizer que encontramos nossa fonte de inspiração... ― ela explica. ― Mas não mude de assunto, Catarina: o que quer saber sobre os poderes que tem ou pode ter?

Seu sorriso era tão convincente que eu me vi respondendo a pergunta sem pestanejar, recebendo dela orientações que eu jamais esqueceria: “Em alguns casos, raríssimos, nos momentos de desesperos, podemos desenvolver asas de luz”; “Cobras? Podemos falar com elas, mas não dê muita trela: elas são traiçoeiras em qualquer lugar! Na dúvida, lembre-se: não seja Eva”; “Somos um detector de mentiras divino: luz da verdade é um poder bastante útil depois de aperfeiçoado”; “Somos a própria cura, Catarina: uma gota de nosso sangue, misturado a uma poção simples, e podemos curar uma infinidade de coisas”; entre muitas outras...

― Mas nem todos desenvolvem todos os poderes: nosso pai é deus de tantas coisas, que cada um de seus filhos pode puxar a um dos “talentos” dele! Nathan certamente puxou o lado da solteirice e farra!

Continuamos mais um tempo conversando, até que a corneta do jantar tocou e Alexia desceu da mesa para se sentar no banco ao meu lado. Nossa mesa, como algumas outras, logo se encheu e eu vi Alexia respirar aliviada ao ver um loiro alto se sentar a mesa 5. Eles têm uma conversa rápida através dos olhos, e eu resolvo desviar antes que acabe segurando vela de novo.

Vejo ao longe Quíron e a tal garota, amiga de Annabeth, sentados a mesa “0”, onde apenas os diretores do Acampamento, alguns sátiros e Rachel costumavam se sentar. Rachel estava lá, mas nenhum sátiro fora avistado.

No calor do resgate, eu não reparara muito na garota, mas agora eu tinha uma sensação estranha de Déjá Vú, como se já tivesse a conhecido antes.

― Will, quem é aquela menina? ― pergunto, apontando discretamente para a garota ao lado de Quíron.

― Pelo que entendi, ela não é semideusa! É uma maga egípcia, que já ajudou Percy e Annabeth em alguma missão aí... Mas não sei muito a respeito! ― ele sussurrou perto de meu ouvido ― Não conte nada aos outros e finja que não sabe de nada: não deveria ter contado nada!

Ele estava ao meu lado ― embora fosse o conselheiro chefe, jamais ocuparia a cabeceira da mesa: Apolo costumava aparecer do nada, então reservavam os acentos de cabeceira para o nosso patrono ―, o que me impedia de encará-lo com desconfiança, já que isso despertaria a atenção dos outros, então me contentei em assentir e continuar meu jantar até o momento em que todos tivessem terminado e Quíron nos mandasse para a fogueira.

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Apesar de ser noite de quarta-feira, todos puderam ficar para a fogueira ― incluindo os mais novos ―, que foi presidida pelo meu chalé: todos cantavam, dançavam e se divertiam com as disputas de poemas, porém o clima tenso podia ser sentido apesar de tudo.

Senhor D reapareceu durante o caminho para a fogueira, trocando olhares urgentes com Quíron. Os dois mantiveram-se afastados, juntos da tal maga e de Rachel, como se temessem que ambas fugissem.

― Você não vai cantar, Cathy? ― Lua, uma de minhas mais novas irmãs, me pergunta.

Se era irônico ela ser filha de Apolo e se chamar Lua? Sim. Se alguém ligava? Não exatamente.

Estava prestes a negar, ou a me juntar a ela, quando um arquejo coletivo nos chama a atenção. Os mais jovens se afastavam da fumaça verde que encobria o chão, se alastrando como uma serpente. Procurei a fonte da “cobra etérea” e quase desmaiei ao perceber que vinha de Rachel.

― O que... O que está acontecendo com ela? ― pergunto, sem saber se alguém me ouvia.

― O espírito do Oráculo está se manifestando: Rachel vai declamar uma profecia! ― sou respondida, e logo vejo que a pessoa está certa.

― Eu sou o espírito de Delfos, portador das profecias de Febo Apolo, assassino da poderosa Píton ― vejo a boca de Rachel se mexer, mas a voz que saia não lhe pertencia. Parecia velha demais, antiga, para ser a de uma garota com no máximo dezoito anos. ―: ouçam atentamente, ou seus dias ao fim chegarão!

E, numa sucessão de rimas sombrias, o futuro se mostrou diante de nós.

P. O. V Autora:

O fuso horário da Itália tem seis horas a mais que o de Nova York ― para que se situem melhor, era 20h54min quando a profecia começou a ser dita no acampamento, enquanto na Itália já era 02h54min do dia 24/01/2013 ―, e a confortável cama do jovem D’Anibale não parecia mais tão confortável agora que despertara de um pesadelo.

Ele tinha o mesmo bizarro sonho desde o ano anterior, quando visitou Nova York com a família. O problema era que ele mal conseguia se lembrar do que acontecia no sonho, apenas da sensação: o ar nunca parecia suficiente para o seu eu dos sonhos, como se tivessem lhe perfurado os pulmões e o ato de inspirar fosse completamente inútil, já que não haveria uma troca do carbono pelo oxigênio; suas pernas não se moviam, e ele tentava balbuciar algo... E era nesse momento que seu eu relaxava.

Era nesse momento que ele encarava perfeitos olhos azuis, que o fitavam em completo desespero. Ele queria dizer a dona dos olhos que estava tudo bem, mas não estava, e se tornava pior: ele a perdia para a completa luz, e ninguém parecia notar que ele precisava de ajuda. E então, no desespero, ele acordava, como naquela noite.

― O que foi? ― sua mãe pergunta, surgindo na porta de seu quarto.

― Pesadelo! ― ele ofega a palavra. ― De novo! Nada com que se preocupar!

― Falar para uma mãe não se preocupar quando seu filho tem um pesadelo é a coisa mais inútil do mundo! ― a mãe revira os olhos antes de ser abraçada por trás ― O que foi, querida?

― Os gritos desse idiota me acordaram! ― a garota murmura grogue de sono.

― Desculpe-me, So! Da próxima vez ponho uma mordaça na boca antes de dormir! ― o rapaz revira os olhos, pondo uma almofada sobre o rosto ― Apenas me deixem em paz.

― Tem certeza de que vai ficar bem? ― sua mãe lhe pergunta, mas não recebe uma resposta imediata ― Lorenzzo?

― Vou mãe! Pode ficar tranqüila! ― responde, mentindo.

Só queria ser deixado em paz com seus pensamentos.  Lorenzzo esforçava-se para lembrar onde já vira o rosto que o perseguia em seus sonhos, e também para guardá-lo bem na memória: não importava onde aquela garota poderia estar, Lorenzzo D’Anibale tinha uma única certeza!

Ele a encontraria.

—-------------------Ω--------------------

De volta à Nova York, imerso em seus pensamentos, Apolo observava a lua no céu, muito embora a deusa encontrasse-se sentada ao seu lado, em uma das muitas sacadas do palácio do deus no vale do Parnaso.

― O que tanto lhe aflige? ― Ártemis pergunta, já incomodada com o silêncio do irmão.

― Me pergunto se fizemos o certo em esconder tudo de Catarina. Em envolver inocentes nisso tudo! ― ele a encara, e ela pode ver a perturbação nas íris multicoloridas do irmão ― Você sabe que as coisas vão ficar complicadas para o seu lado, Ártemis: você quebrou suas próprias regras.

Isso era verdade, ela sabia. Mas, em tempos de guerra, a única regra é sobreviver.

― Eu não sei o que o futuro me guarda, Apolo! Apenas sei que minhas ações agora irão influenciar no que vier pela frente. ― ela murmura ― O que vai acontecer a partir do momento que ouvirem a profecia é ainda maior do que nossos poderes podem ser quando combinados. É algo que ultrapassa a vontade de Zeus. O que acontecerá somente as Parcas podem dizer.

Ártemis estava certa, e Apolo sabia. No entanto ele também tinha em mente que, no futuro ― talvez próximo, talvez não ―, sua irmã teria de abrir mão de coisas que muito prezava. Algo mais importante para ela do que toda sua família super poderosa e imortal.

 Porque, quando resolveram envolver a caçada, envolveram também as mais profundas emoções da deusa, e Apolo jamais se perdoaria se a irmã saísse machucada dessa peripécia.

P. O. V Sadie:

Palavras têm poder: essa foi uma das primeiras lições que aprendi quando descobri que era uma maga. Ao ouvir as palavras sussurradas pela estranha ruiva, uma parte de mim imaginava o quão furiosa Zia ficaria ao ouvi-las sendo proferidas. Annabeth me explicara, no entanto, que seriam aquelas palavras que me ajudariam a vencer o que estava por vir.

Pelo que ouvi, e vi no meu sonho, estava tudo certo para um desastre iminente se abater sobre nós.

A amaldiçoada, a guia e a hospedeira

Das águas de Polo devem ao guerreiro resgatar

À proibida são sussurradas palavras traiçoeiras

E antes de à terra mista chegarem, duas hão de partir

Trunfos mortais às almas irão ajudar

Pois quando a decisão tomada for, muito mais estará por vir

Após a pronúncia das palavras, a garota que as pronunciava desmaiou ― o que não pareceu surpreender ninguém ―, e o total silêncio nos cercou. Os cantores pareciam não ter mais ânimo, os campistas se encaravam, tentando decifrar o que fora dito.

O único que parecia preparado para tudo era o velho centauro, que marchou até o outro lado do círculo, parando para falar com uma garota especialmente chocada. Quando Quíron voltou, trazia a menina consigo.

― Sadie Kane, você veio aqui em busca de respostas, e está prestes a obtê-las. Mas primeiro, permita-me lhe apresentar Catarina de Lyra, sua companheira nessa missão. ― ele diz, apontando para a dona de olhos azuis.

― Companheira? ― pergunto confusa.

― Sim, Sadie Kane: pode me considerar como a amaldiçoada citada! ― ela disse, oferecendo-me sua mão e um sorriso irônico ― E quanto a você? É a guia, ou a hospedeira?

― Ela é a hospedeira, minha cara Catarina! ― uma voz feminina se faz ouvir, e Catarina se vira em choque ― Eu serei sua guia nesse estupendo tour suicida!

E pela expressão que a estranha exibia, eu sabia que aquela seria uma missão bem mais complicada do que eu esperava. Mas eu já deveria saber: era do possível fim do mundo que estávamos tratando!

― Agora vamos: precisamos discutir e nos preparar para amanhã! ― e antes que eu pudesse contestar, ou Catarina xingar mais, a garota já nos levava para a casa grande.

Nossa última parada antes de nos atirarmos de boa vontade no inferno!


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Notas finais do capítulo

Lorenzzo is back! O que será que a caçada tem a ver com tudo isso? Alguém já começou a teorizar sobre a profecia? Me contem tudo, inclusive o que acharam do capítulo!!
Beijoos, amores!