A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente


Capítulo 6
5 - Preparativos Permitidos


Notas iniciais do capítulo

speedy, daughter of the sun e MaryDiÂngelo, muito obrigada pelos reviews no capítulo passado. Não tenho muito o que falar aqui hoje: Lollapalooza, eu esperando o show da Marina, depois de ter sido derrubada pela Halsey... Enfim, né, minha gente? Espero que gostem desse capítulo!!



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P. O. V Autora:

Oráculo, oráculo meu, existe alguém mais atarefada do que eu? Certamente, se o oráculo não estivesse ocupado, ele responderia que sim: a pessoa mais atarefada que eu, uma escriba ― do tipo grega, não me confunda com os escribas egípcios que possam ser citados ao longo da história ―, era Rachel Elizabeth Dare, porta voz do espírito do Oráculo de Delfos.

Rachel era uma garota aparentemente comum, embora se destacasse por seus cabelos ruivos e cacheados; porém, apesar de não ter uma gotinha sequer de ícor em seu sangue, ou seja: não ter nenhum cromossomo divino, estava tão envolvida no mundo dos deuses quanto um semideus desde que aceitara o cargo há três anos. Estava acostumada com visões em momentos inoportunos, visões estranhas demais, porém jamais como a que teve.

Parecia que uma sequência de cenas estava rodando rápido demais na frente de seus olhos, impedindo-a de ver com clareza, porém conseguiu distinguir asas enormes cercando uma desconhecida, além de uma sombra enorme tomar conta de várias cidades. O que mais a assustou, no entanto, foi ver, em meio a tanta confusão, uma garotinha; daria no máximo 13 anos para a garota, que sorria perversamente diante das tragédias que a cercava: pessoas enlouqueciam, outras esculpiam rochas gigantes, e muitos simplesmente se viam obrigados a fazer coisas ridículas.

― Isso! Isso! ― ela exclamava, mas nem de longe sua voz soava como a de uma menininha. ― Enfim a minha vingança!

O sorriso da garota vacilou e ela cambaleou. Sua expressão logo se transformou em verdadeiro horror.

― Não... Não era isso que eu queria! ― ela soluçou ― Eu só queria vingar meu pai, não escravizar o mundo!

― Você pensa pequeno demais para alguém com um nome tão sábio, queridinha! ― a primeira voz disse, articulando a mandíbula da menina. ― Por essas e outras que não precisa continuar entre nós, Proibida!

Antes que algo pior acontecesse, Rachel voltou a si, dando de cara com Annabeth e Catarina, a recém chegada filha de Apolo. As duas a encaravam com total preocupação ― e curiosidade da parte da novata.

― Algo terrível está para acontecer, Annie! ― Rachel se apressou a dizer.

― O que você... ― antes que a filha de Atena pudesse perguntar o que acontecera, seu celular começou a tocar; rapidamente, Annabeth o atendeu: celulares são proibidos dentro do Acampamento... Na verdade, são proibidos a semideuses, pois atraem monstros, então, quanto mais rápido falasse, menos chamaria a atenção.

― Sadie Kane? A que devo a honra? ― Annabeth murmura brincalhona, tentando ao máximo fingir que falava com uma colega qualquer e não uma maga.

― Esqueça a honra, Annabeth Chase: acho que temos um problema... ― e enquanto Sadie lhe explicava seu complicado sonho, Annabeth deixou de prestar atenção no que acontecia ao redor.

― Como funciona isso? ― Catarina pergunta a Rachel. ― Suas visões são completas, ou apenas vislumbres como os meus?

― É uma mistura, para ser sincera: algumas vezes vejo vislumbres, outras cenas completas, e há também os dias em que apenas a profecia sai de meus lábios. ― Rachel responde tremendo como se sentisse o frio das ruas de Nova York, o que era impossível: o Acampamento era encantado e quase sempre tinha um clima agradável, nem tão quente, nem tão frio... O único que poderia fazê-lo ser frio era Dionísio, diretor do lugar.

― Então... Você sabe a profecia sobre mim? ― e agora havia urgência na voz da filha de Apolo.

Sim, de certa forma, no âmago de seu ser, Rachel sabia a profecia, porém, por mais que quisesse contá-la, ainda não podia:

― As profecias só se revelam quando querem e, por mais que eu saiba, jamais conseguiria dizê-las: as palavras certas não sairiam, e ninguém entenderia coisa alguma... Não que entendam quando são correta e finalmente ditas, mas... ― tentou um sorriso relaxado, mas a tensão em si era nítida.

― O que você viu realmente a abalou, né?

― Tanto ao ponto de me perguntar como seu pai suporta ser o deus das profecias, Catarina! ― a ruiva suspira, observando Annabeth desligar o telefone.

― Por que está tão tensa? ― a filha de Atena e a porta-voz do Oráculo perguntam ao mesmo tempo. ― Ordem alfabética? ― tornam a repetir o mesmo ato, e concordam que uma ordem de falar seria melhor.

― Muito bem... Uma amiga minha está com problemas... Problemas que, talvez, tenham a ver com a gente! ― e Annabeth faz um gesto englobando todo o Acampamento. ― E você?

― Bom, eu tive uma visão que... ― e Rachel se pôs a contar da melhor forma que pôde o que vira através do oráculo, parando para ouvir as opiniões de suas ouvintes. ― Sinceramente: a aura de trevas que rondava a visão era tão poderosa, que eu senti mesmo não estando lá... Imaginem se isso acontece...

― Não tem como saber se isso vai acontecer ou não? ― poderia parecer óbvio, ou talvez ela estivesse deixando algo passar, porém Catarina preferia perguntar de uma vez: saber era sempre a melhor opção por ali.

― O futuro é subjuntivo, minha jovem: são suas ações presentes que determinarão o que acontecerá mais a frente! ― a voz masculina se faz ouvir, e as três erguem a cabeça para se depararem com um centauro enorme.

A parte de baixo dele era um corcel branco, de pelo lustroso e cauda sedosa; já a parte superior/humana era a de um senhor na meia idade, com cabelos, barba e olhos castanhos.

― Oi, Quíron! ― o cumprimentam com leves sorrisos.

― Oi! ― ele sorri carinhoso. ― Senhoritas, por que não estão almoçando? ― a pergunta preocupada as faz parar.

― Almoçar? ― Annabeth pergunta, checando um relógio de pulseira de couro preto ― Di immortales, passamos a manhã conversando...  Estou...

― Atrasada para encontrar sua amiga? Sim, e também está enganada se pensa que sairá sozinha!

― Quíron, eu sei que se preocupa comigo, mas eu não tenho mais 6 anos... ― a loira murmura, soando carinhosa e irritada ao mesmo tempo.

― Sei que não, mas não se trata de duvidar de suas habilidades, mas sim em testar as de Catarina: não sabemos quando ela sairá em missão, mas sabemos que treiná-la aqui, nessa época do ano, será inútil. Precisamos prepará-la da melhor maneira possível, e nada melhor do que levá-la a uma missão de verdade! ― o centauro discursa.

― Mas... É apenas uma conversa entre amigas, não uma missão! ― Annabeth tenta disfarçar: apenas Percy e ela sabiam da existência dos Kane, e havia prometido não contar a ninguém sobre eles e seus segredos.

― Eu não teria tanta certeza... ― o centauro aconselha.

E, como bem sabemos, ele estava certo.

P. O. V Sadie:

Eu entendia muito bem como uma gelatina se sentia quando enfim abri os olhos e me deparei com um ambiente com pouca iluminação ― talvez fosse noite, mas eu não estava virada para janela alguma para ter certeza ―; Annabeth estava sentada ao meu lado, e seus olhos cinzentos brilharam de alívio a me ver acordada.

― Graças aos Deuses! ― ela suspira.

― On-onde estou? ― pergunto um pouco grogue, tentando me sentar na cama.

― Na enfermaria do Acampamento Meio-Sangue... O lugar de onde Percy e eu falamos! ― ela prontamente responde, passando-me um pote pequeno ― Ambrosia... Você já sabe como é!

Em nossa aventura para deter Serápis, o deus híbrido, Annabeth me ofereceu ambrosia, a comida dos deuses gregos, para me ajudar a recuperar forças. Ela me dissera que a ambrosia costumava ter o sabor do alimento que mais gostávamos, e eu me surpreendi ao saber que meu alimento favorito eram os biscoitos queimados da vovó Faust... Talvez fossem apenas saudades de Londres, mas quando dei uma mordida na ambrosia, desejei estar lá de novo.

 ― O que exatamente aconteceu? ― questiono, tentando esquecer a sensação que me tomou.

― Bom, você estava indo me encontrar quando um bando de Harpias te atacou. Elas estavam te levando sei lá para onde, mas graças a Catarina e sua mira impecável, e graças à impulsividade de Percy, você está apenas aqui! ― Annabeth resume a história. ― Aliás, o que estava indo me contar?

E então é minha vez de resumir minha história, contando sobre meu sonho e o de Zia, sobre as vozes frias e, é claro, sobre Setne!

― Mas... Pensei que ele estivesse preso dentro do globo de neve... ― ela argumenta, e antes que eu possa contra-atacar, a enfermaria é triplamente invadida.

Liderando a comitiva, um rapaz loiro, com pinta de surfista, vinha reclamando, gritando que “não importava se era um deus ou não, tinha gente se recuperando e aquilo era muita audácia e que seu pai saberia disso”; seguindo, vinha um centauro ― e sim, eles podiam ser gregos, mas eu tinha aulas de história na escola, além de um irmão que era a personificação do Wikipédia: lógico que eu saberia o que era um ser metade homem, metade cavalo ―, porém, o que mais me impressionou foi a figura vestindo camiseta havaiana com estampa de leopardo, bermuda cáqui e chinelos: o olhar de raiva que ele me dirigia parecia ser capaz de queimar minha alma... O que talvez tivesse a ver com as chamas reais em seus olhos.

― Têm idéia de quantas leis divinas quebraram ao trazerem essa egípcia para cá? ― ele grita, e vejo Annabeth se assustar ― Annie Bell, eu esperava mais de você, filha de Atena! Onde está sua sabedoria?

― Sr. D, eu posso...

― Não há explicação que possa perdoar o que fez aqui, criança! Você trouxe o perigo para o nosso lar! ― o sujeitinho a acusa, e tanto o loiro quanto o centauro o encaram pasmos.

― Opa, espera um minutinho aí! ― digo ao notar que o perigo em questão era a pessoa maravilhosa que sou. ― Eu não sou perigo algum, e ser egípcia também não é ofensa: ofensa e perigo é errar o nome dos outros! E quem você pensa que é para falar com Annabeth desse jeito? 

― Além de prepotente é ignorante! Eu sou Dionísio, deus do vinho, do teatro e das insanidades: não se atreva a se opor a mim!

― Ah é? E você vai fazer o quê? Me jogar num espetáculo da Broadway? Ou me transformar em uva? ― debocho. ― Eu não vim aqui destruir seu lar, eu vim alertá-los!

― Como assim, minha jovem? ― o centauro pergunta, demonstrando um tom muito mais brando.

― Bom, é o seguinte... ― e uma vez mais eu conto sobre Setne, os sonhos e acabo contando também tudo o que enfrentei desde que conheci o mundo dos deuses. ― Setne já tentou se tornar imortal uma vez, mas nós o impedimos... Parece que ele quer tentar de novo!

― Annabeth Chase, filha de Atena, como ousa fazer tal coisa sem contar a nós? ― e para a surpresa geral dos que conheciam Dionísio, ele acerta o nome de minha amiga.

― Uau, preciso registrar isso! ― o loiro murmura, anotando algo em um prontuário perdido.

― Era um caso de urgência, Senhor D: eu não podia pedir que Setne interrompesse uma tempestade mágica para poder mandar uma Mensagem de Íris para o senhor!

― Realmente, imaginem a cena: Oi, Setne, dá uma pausa aí rapidinho que eu tenho que avisar meus superiores! Quer que eu mande um beijo? ― tento ajudar Annabeth, mas pelo olhar que recebi, acho que deveria ter ficado de bico fechado.

Não tenho culpa se eles não consideram o sarcasmo como uma defesa!

― Ora, isso sequer é possível! ― o cara do vinho resmunga ― Há barreiras mágicas que nos separam e...

― Senhor D, isso é muito mais que possível! Lembre-se de Alexandre O Grande, e de Ptolomeu... Alexandria é a prova de que nossos mundos podem coexistir e, logo, nossas magias também! ― o simpático centauro o repreende. ― Além disso, temos a profecia!

Toda e qualquer guarda que Dionísio estivesse mantendo logo caiu por terra ao ouvir a última frase do centauro. Foi como se tivessem o lembrado de algo extremamente importante, pois assim que o choque passou, o deus desapareceu, deixando para trás apenas um leve aroma de uvas.

― O que deu nele? ― Annabeth e o loiro perguntam.

― Provavelmente está tendo um conselho emergencial no Olimpo! ― o centauro murmura e se vira para mim. ― Quanto a você jovem maga, creio que não fomos apresentados: sou Quíron, o diretor de atividades do Acampamento Meio-Sangue! ― ele me oferece um meio sorriso e estende uma das mãos.

― Sadie Kane! ― digo mais por educação: ao apertar sua mão, tenho quase certeza de que ele já sabia quem eu era, e que estava por chegar.

― Temos coisas a discutir, senhorita Kane! E, dado aos seus sonhos, acredito que quanto mais cedo o fizermos, melhor será! Acompanhe-me, por favor? ― e, por mais educado que tenha soado, eu sabia que ele não aceitaria um não como resposta, por tanto simplesmente acenei para Annabeth e o estranho antes de seguir Quíron.

P. O. V Autora:

Noite do dia 23 de janeiro de 2013, em algum lugar sobre o edifício Empire State Building:

Um clima tenso tomava conta da sala dos tronos no Olimpo. Todos os doze tronos, cada qual com uma característica única de seu senhor, encontravam-se ocupados pelas divindades; e alguns outros que ali não viviam, também se encontravam presentes: todos em seus seis metros de onipotência!

Para Apolo, era como estar novamente no Conselho que deliberou se sua filha nasceria e permaneceria viva, ou se seria morta muito antes, em prol dos deuses. Dessa vez, porém, estavam para decidir se a profecia deveria ser liberada, ou sabe-se lá o quê: a única certeza que o deus tinha era que se tratava de sua filha amaldiçoada, pois não conseguia saber o que aconteceria.

Porém, na sua frente, sua irmã gêmea conseguia ver muito bem o nervoso lhe corroendo a alma imortal. Ela tentava lhe transmitir, pelo olhar, um sinal de apoio, mas a ansiedade estava distraindo Apolo.

― Podemos começar? ― e foi Atena, a deusa da sabedoria, quem perguntou, parecendo um pouco impaciente ― Tenho uma biblioteca divina para arrumar: desde que os guardiões foram mortos, aquele lugar está uma bagunça.

Todos ignoraram o que a deusa disse ― quem se importava com aqueles corredores mutáveis? ―, e viraram para Dionísio, que chegara a pouco do Acampamento.

― Muito bem: o que aconteceu lá embaixo? ― Zeus, o senhor dos deuses, perguntou, impostando sua potente voz.

― Há uma maga entre nós! Maga como nos tempos antigos, muito antes de nós! ― o deus disse tão sério quanto estivera na enfermaria ainda há pouco. ― Ela contou sobre um sonho que tivera, onde duas forças do caos conversavam; afirmou que reconheceu uma das vozes como sendo a de Apófis, sua divindade do Caos, e a outra não sabia a quem pertencia. Contou também que sua cunhada teve um sonho semelhante, porém tendo algo a ver com um tal de Setne, um mago que vem enganando a morte há séculos que deseja tornar-se imortal unindo a magia egípcia com a magia grega!

― O quê? Isso é possível? ― alguns perguntam totalmente incomodados.

― Totalmente! ― Atena suspira ― Vocês sempre se esquecem de Ptolomeu... ― a deusa então refresca a memória dos deuses ―... E então, unindo as coroas do baixo e alto Egito, e recorrendo a magia existente na terra híbrida de Alexandria, tentou tornar-se imortal, um deus híbrido.

― E agora Setne está tentando isso também! Pela segunda vez! ― conclui Apolo, o único que se lembrava da história em detalhes: perdera a conta de quantas vezes ouvira Atena lhe contar, ou quantas vezes a lera em algum livro na Biblioteca Divina.

― Chegou a hora, senhores! ― Zeus murmurou a contragosto ― Apolo, libere a profecia: se o perigo está por vir, que estejamos preparados para tal.

Ao contrário do que o Rei Divino poderia acreditar, profecia alguma jamais os prepararia para o que estava por vir!


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Notas finais do capítulo

Estão prontos para a profecia que vem por aí? Chocados com o que está por vir?
Comentem aí!! Aceito todas as teorias que vierem!
Beijoos e até!!