Era para ser você escrita por Sah Gatsby


Capítulo 50
Capítulo 47




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Naquele exato momento, eu senti o chão debaixo de meus pés se abrirem e lava ardente acabar comigo, a dor dessa vez foi ainda pior do que a da primeira, quando supostamente eu o ouvi falar com ela no telefone, agora já nem sei mais se acredito na versão que ele me contou, e eu, tola acreditei.

A primeira coisa que fiz assim que entrei no meu quarto foi tirar aquele vestido estúpido, lágrimas ainda teimavem em sair dos meus olhos, mesmo eu forçando para segura-las, coloquei um moletom velho e me encolhi ao lado do guarda roupa liberando todo líquido do meu corpo pelos meus olhos. Por mais que eu tentasse, não conseguia parar de chorar, e por mais que eu quisesse, não conseguia tirar da minha mente aquela cena deplorável. 
Fiquei ali pelo o que pareceu horas intermináveis, ouvi alguns burburios vindo do andar de baixo, esperava que não fosse meus pais, que aliás nem me viram sair. Mas no segundo em que a batida na porta se seguiu daquela voz rouca, eu desejava desesperadamente que fosse meus pais.

—Pietra. Por favor, me ouça. Não é o que você viu.

O que vi foi você agarrando ela, e ainda não foi o que vi?

Quis gritar, mas permaneci imóvel no mesmo lugar, sem fazer barulho nenhum.

—Por favor. Abra a porta. Por favor Pietra. Nós precisamos conversar. Você pode me escutar, por favor?

Implorar não vai adiantar em mais nada, agora a única coisa que consigo pensar é o quanto eu odeio você.

Novamente quis dizer palavras que não saíam.

—Eu amo você, jamais faria algo que pudesse te machucar. Eu preciso de você desesperadamente. Eu não beijei a Ashley, ela veio pra cima de mim e eu a afastei, e nessa hora você chegou. Pietra por favor abra a porta.

Sempre a mesma coisa. "Não é o que você está pensando", "A culpa não é minha", "Eu a afastei", e o melhor de todos "Não aconteceu o que você viu".

Eu vi, e estava acontecendo, por que com certeza minha mente não criaria coisa tão lúcida e nítida diante dos meus olhos.

Permaneci em silêncio, enquanto ele continuava falando, agora já não adiantava de mais nada, tudo que saia da boca dele era mentira para mim. Dói, e dói muito, e eu não aceito e nem vou aceitar uma traição. Depois de longos minutos ele finalmente ficou em silêncio, eu quis levantar e me certificar de que ele já havia ido embora, mas no momento em que eu encostei na maçaneta ouvi alguém falar do outro lado da porta.

—Ela não vai abrir. -era minha irmã.

—Ela precisa me ouvir Ennye.

—Eu sei, mas eu a conheço tão bem quanto você, e sei que ela não vai falar com você agora.

—Eu não fiz Ennye.

—Eu sei.

—Eu nunca faria. Eu não preciso de mais ninguém além dela. Quem precisa de outra pessoa tento a Pietra ao lado? Ela é única.

—Ela é sim Christoph.

—Eu preciso que ela saiba. Eu não vou deixar ela.

Ele dizia em um tom baixo em meio aos soluços. Cínico. Era isso que o Christoph está se fazendo passar, por um completo cínico traidor.

—Deixe ela se acalmar. Amanhã vocês conversam. Eu mesma vou falar com ela.

—E se ela não quiser me ouvir, assim como está fazendo?

—Você sabe como ela é. A Pietra é teimosa e cabeça dura, mas uma hora ela vai ter que acabar te ouvindo.

Como é que diz aquele ditado? Uma imagem fala mais que mil palavras? Pois é, nem mil palavras de perdão vai justificar o que eu vi, nada pode mudar o que vi.

—Ela não vai.

—Eu vou conversar com ela, vá para casa Christoph. Amanhã eu te ligo, ta bem?

—Só vai ficar bem depois que eu conseguir falar com ela.

—Acho melhor você deixar ela quieta um pouco, você precisa deixar as coisas em ordem primeiro. Amanhã vocês dois já vão estar com a mente mais clara, e poderão conversar sobre isso. Não dá pra agir por impulso e deixar que o nervosismo tome conta.

—Okay.

Foi o que ouvi. Achei que ele insistiria ainda mais, ainda bem que não. Eu preciso agradecer minha irmã por isso, recostei na porta e levei as duas mãos ao rosto, as lágrimas estavam voltando impulsivamente.

*~*~*~*~*~*~*~*

Acordei com uma dor de cabeça horrível, sentia meus olhos inchados de tanto chorar, o que foi a causa de eu ter dormido repentinamente. Assim que recordei do motivo de eu ter passado a noite inteira chorando, uma fisgada de dor perpassou meu peito, atingindo em cheio meu coração, minha vontade era de gritar aos sete ventos o quanto eu o odiava, mas isso não faria a dor passar.

Permanci imóvel olhando pro teto com a mente vagando, eu estava me esforçando para não lembrar da cena, mas ela impregnou na minha mente como um chiclete grudento. Eu queria passar o resto do dia ali, mas o barulho estrondoso do meu estômago roncando de fome me fez acordar para a realidade, olhei no relógio de cabeceira e vi que já se passava das onze, levantei e caminhei a passos lentos até meu guarda roupa, o vestido roxo ainda estava jogado de mal jeito no canto, peguei minha roupa e fui tomar um banho.

Depois de longos minutos debaixo da água morna desci para comer alguma coisa, consegui dar um jeito no inchaço dos meus olhos.

—Como você está? -minha irmã me encontrou no último degrau.

—Bem.

—Pietra...

—Já disse que estou bem Ennye.

—É claro que você não está bem. Ninguém fica bem depois de ver... -Ela ficou em silêncio.

—Depois de ver a galhada sendo colocada na sua cabeça bem diante dos seus olhos? Pois é.

—Você ao menos ouviu o que ele tinha pra falar? -disse me seguindo até a cozinha.

—Nem quero. Nada do que ele tenha a dizer vai mudar o fato dele ter agarrado aquela... réplica falsa da Britney Spears.

—E se ela quem foi que agarrou ele? E se ele não a beijou só estava tentando afasta-la como disse?

—Vai ficar defendendo ele agora? -disse já ficando brava.

—Não. Eu só quero...

—Não tem o que querer Ennye. E se fosse o Ian? E se você tivesse visto ele se atacando com a ex namorada dele bem na sua frente, iria querer o quê?

—Desculpe, só estou tentando ajudar.

—Ajudar ele é claro, porque a mim você não está ajudando em nada. 
—Também não precisa responder assim.

Fui até a geladeira e dei as costas pra ela. Era só o que restava, minha irmã defendendo aquele cretino. De repente o tilintar soa alto, ela vai até o telefone e atende.

—Alô? ... É está ... Não, sim falei... Não vai adiantar... Eu sei ... Agora não .... Você precisa ficar calmo, assim não vai adiantar nada, ta bem? Tchau.

Permaneci imóvel no meu lugar, eu sabia muito bem quem era.

—Cadê meus pais? -perguntei assim que ela se aproximou da bancada.

—Papai foi até a construção do hotel, e mamãe foi junto.

—Eles...?

—Sim. Eles não te viram sair ontem, mas viram o Christoph sair desesperado daqui, e ele contou o que aconteceu.

—Ah.

—Eu não quero que você pense que estou defendendo ele, mas da pra ver o quanto o Christoph é louco por você Pietra, o modo como ele te olha quando estão juntos, e quando você estava doente e estavam sem se falar. Ele ficou realmente preocupado com você, me perguntava sobre você todos os dias, quase toda hora, era irritante até, mas dava para ver o quanto ele estava preocupado. Por que é isso que as pessoas que nos amam fazem, se preocupam com nós.

As lágrimas que eu não queria deixar espacar já estavam dançando na curva das minhas bochechas.

—Então porque ele fez isso?

Minha irmã se aproximou de mim e me abraçou.

—As vezes as pessoas acabam fazendo coisas sem pensar. Mas eu tenho certeza de que ele está falando a verdade. Eu sei que você viu, e não estou defendendo ele. Mas uma coisa é certa, ele te ama, e tenho certeza de que ele jamais trairia você. Foi uma armação.

Eu queria acreditar no que ela estava dizendo, queria desesperadamente que essa dor passasse, mas o que meus olhos viram atingiram em cheio meu coração, e a mágoa falava mais alto nesse momento, o perdão estava fora de cogitação.

*~*~*~*~*~*~*~*~*

Passei o resto do meu dia trancada no quarto, não queria ver e nem falar com ninguém, fiquei sentada na cadeira de balanço em frente a janela que dava vista para o jardim, os pássaros cantavam, o vento soprava, o sol se punha e a lua brilhava sendo a única luz a clarear a noite.

Ignorei as ligações, visitas inoportunas, aparições, mensagens e recados do Christoph. Eu não queria vê-lo, nem muito menos falar com ele.

—Acho que estamos passando dos limites aqui.

Meu pai começou a falar, enquanto estávamos todos na mesa do jantar, eu tentava colocar um garfo de comida na boca mas parei no meio do caminho quando seus olhos se dirigiram a mim.

—Você não pode ficar mais desse jeito, e eu não vou aceitar você ficar desse jeito.

Ele falava e eu não entendia nada.

—Já que você não quer sair do seu quarto, não quer falar com ele nem ao menos ouvir o que o rapaz tem a dizer...

—Está fora de cogitação. -entervi.

—Docinho, seu pai e eu estamos preocupados com você. Você nunca ficou assim.

—Isso porque eu nunca havia sido traída antes, e bem diante dos meus olhos.

—Você está sendo dramática demais Pietra.

—Peter. -minha mãe o repreendeu.

—É verdade. Você precisa sair de casa, precisa conhecer pessoas  novas.

—E quem eu vou conhecer nesse lugar?

—Vá passar uns dias com sua tia em São Francisco.

—Eu não queria, mas acho que vai ser bom pra você minha querida. -minha mãe olhou atenciosa para mim.

Até que não era uma má ideia, eu poderia sair desse lugar, onde tudo me lembrava a mera existência daquele ser, poderia respirar ar fresco, e com certeza tia Amber seria a melhor companhia de que preciso.

—Tudo bem. -concordei sem relutância.

—Só por alguns dias minha filha. Pra você esfriar a cabeça, e até lá vocês se resolverem.

—Pai, não tem nada para ser resolvido  eu o vi com ela. Porque é que todos vocês estão a favor dele? Eu sou sua filha, vocês deveriam ficar do meu lado! -disse ja me levantando.

—Pietra.  -meu pai quis me repreender.

—Perdi a fome. -dei as costas e subi para o meu quarto.

             *~*~*~*~*~*~*~*

Uma semana se passou desde a conversa sobre a viagem, estava terminando de arrumar minha mala quando alguém bateu na porta a abrindo logo em seguida, não precisei me virar para ver com quem, só estávamos eu e minha mãe em casa.

—Como você está?

—Já tive dias piores. -respondi com um sorriso.

—Amber estará te esperando no aeroporto. Vai ser bom pra você passear um pouco, você adora São Francisco, não é?

—Sim.

—Amanhã eu e seu pai vamos te deixar logo cedo na rodoviária da cidade.

—Eu vou de balsa mãe, vai ser bom fazer algo diferente. Já tenho idade suficiente para começar a ser independente.

—Tem certeza?

—Claro. Eu sei que você e o papai só querem meu bem. E eu os amo ainda mais por isso. Mas eu já tenho dezoito anos, e daqui a pouco vou ter que trabalhar e ganhar meu próprio sustento, não posso depender de vocês pra sempre.

—É tão dificil ver que minhas meninas já cresceram. Eu amo vocês demais Pietra.

—Eu também te amo muito mãe.

No jantar conversamos sobre minha viagem, estava certo de que eu iria de balsa até a cidade, e de lá meu vôo já estava programado para as dez da manhã. Eu estava ansiosa para sair dessa Ilha, a simples menção do nome desse lugar me trazia lembranças, a maior parte delas eram ótimas. 
Era inacreditável como o melhor lugar onde já ficamos, se transformou no pior deles em pouco tempo, eu queria admitir para mim mesma que estava com ódio do Christoph, mas no fundo eu não estava, eu estava magoada, me sentindo desprezível, mas não conseguia sentir ódio por mais que eu tentasse. Eu o amo, isso é um fato indiscutível, mas se ele me ama já não tenho mais certeza disso, não depois de pensar que ele me trocaria fácil assim, eu estava me sentindo como um objeto usado e quebrado.

Na manhã seguinte acordei antes do despertador tocar, já estava pronta quando meus pais se levantaram, tomamos um café b reforçado e então eles me levaram até a balsa, ela sairia as sete e quinze da manhã, chegaria por volta das oito e meia na cidade, daria tempo suficiente.

—Não esqueceu nada? -meu pai perguntou pegando a chave do carro.

—Não, acho que não.

—Ótimo, então vamos.

Assim que chegamos na cais, a balsa já estava aguardando, enquanto meu pai foi pegar minhas coisas no porta malas, minha mãe veio me abraçar.

—Eu te amo tanto docinho, assim que chegar me avise, não deixe  de me avisar okay? Vai ser só por alguns dias, estarei morrendo de saudades.

—Eu também mãe. -disse sorrindo.

—Eu queria tanto ir com você. -minha irmã resmungou ao lado. -Mas vou com o Ian e a família dele no casamento da irmã dele. Não quer adiar a viagem e ir junto?

—Não Ennye, o namorado é seu, e eu não vou me intrometer no casamento da irmã dele.

—Tudo bem. -ela revirou os olhos.

—Já deixei suas coisas lá dentro, vou ligar e mandar um táxi te aguardar assim que você chegar lá, para te levar pro aeroporto.

—Obrigada pai. Ah Ennye, cuide bem da minha picape.

—Com certeza. -ela piscou.

O homem que conduzia a balsa soou o sinal de que já iria sair. Todos me abraçaram, era como se eu estivesse indo embora para sempre , e não por alguns dias.

—Não se preocupem, eu vou ficar bem. Preciso ir.

Me despedi de todos então entrei, não demorou muito e a balsa já estava saindo, estavam ali acenando, vi de longe um veículo parar perto de onde estava o carro do meu pai, alguém saiu correndo deixando a porta aberta, ele parou um pouco mais adiante de onde meus pais estavam, levou as duas mãos à cabeça e deu pra ouvir ele gritar meu nome.

Eu quis pedir pro homem parar e dar meia volta, quis pular na água e voltar nadando, quis correr pros braços do Christoph. Mas então aquela cena voltou a minha mente, ele segurando a cintura dela, enquanto ela estava com os braços jogados em seu pescoço, o olhar cínico dela quando me viu parada a porta. De repente a lembrança daquele sonho que tive, aquele ao qual ela tirava ele de mim, tudo aquilo estava me machucando por dentro, e então a vontade de voltar correndo pra ele se descipou, e a melhor coisa que eu poderia fazer agora, era ir embora. 

                        FIM.

             *~*~*~*~*~*~*~*


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Notas finais do capítulo

Chegamos finalmente com o fim da estória amoras, o que me dizem?
Please não me odeiem pelo fim, lembrem-se (a males que em para o bem).

Mil perdões pela demora da postagem, mil e uma coisas me aconteceram nesses últimos tempos, mas enfim aqui está.

Eu não esperava chegar no fim agora, porém não tenho mais o que escrever nesse livro, mas já está sendo providenciado o livro II.

O que acharam do fim?

Ficou brega?

O que querem que aconteça em "Destinado à Você"?

Novos personagens e novos rumos irão se seguir no próximo livro.

Deixem seus comentários e curtam, please.

Postarei curiosidades, e a trilha sonora ainda, só vou terminar de organizar a lista.

E por favor. Não me abandonem!!!!!

Muito obrigada a todas(os) vocês que leram até aqui, sou grata pela paciência e carinho de vocês. Espero lhes encontrar em breve ;)

Continuem acompanhando que logo, logo postarei notícias.

Beijosssss amoras e até em breve.

Nosso objetivo é satisfazer ^-^



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