O sol da tarde ainda brilhava no céu, a chuva repentina naquela manhã havia deixado uma leve brisa fria no ar. O outono se aproximava. 
Rose sentiu um calafrio quando uma das clientes deixou a loja, o clima naquele dia reflete os sentimentos confusos que povoam os pensamentos da garota. 
A imagem da Karen e o Alex se beijando no estúdio naquela manhã deixa a garota com uma dor dilacerante no peito. O que ela estava sentindo?  O que era aquela raiva incontrolável que se instalava no seu ser? Então Ela se deu conta pela primeira vez na vida sentia ciúmes de alguém. Nem as traições e decepções com Will a perturbou tanto. 

Ela balança a cabeça tentando expulsar aqueles pensamentos e descobertas. Ela não tinha tempo para aquilo. Ela tinha tarefas a serem cumpridas, tinha que checar o depósito. havia uma infiltração que vinha perturbando a sua chefa e ainda havia a vitrine a ser limpa.  

Ela decide limpar a vitrine e quando estava passando pelo depósito repara na sua imagem no grande espelho. Seu cabelo está um desastre, ela tenta o escovar com os dedos, na correria não deu tempo de seca–los.  A maquiagem era a mesma de quando ela acordou naquela manhã e  quando tentou disfarçar as olheiras resultada da noite mal dormida. A mesma maquilagem que foi lavada pela chuva, quando ela saiu corendo do café como se o diabo a perseguisse.

Ela se apoia na pia e passa um lenço umedecido no rosto, mas não dá resultado. Então ela abre a torneira de água fria e esfrega as lembranças físicas do que aconteceu naquela manhã. Ela torce para que o sino da porta não soe e nem tenha que lidar com clientes agora.  
Depois de ver que sua aparência da uma melhorada, ela respira fundo e se prepara para o que há de vim.  
Naquele instante soa a campainha e ela se apressa, mas para surpresa no centro da loja. 
O rosto de Karen retribui o olhar e ela quase solta um gemido de frustração. Oh...  Mais que diabos! 
O cabelo curto na altura dos ombros da loira reflete o brilho do sol a suas costas. 
As palavras,  brilho e glamour estão escritos em letras finas na sacola que ela carrega.  Victoria secret's.

Rose da à volta no balcão e tira o balde com os produtos de limpeza.

— Oi Rose. – Karen examina atentamente tudo ao redor.  – então é assim que você vive?  – ela solta uma risadinha, Rose a ignora e começa a limpar uma prateleira de joias. Karen chega mais perto, uma das alças de sua bolsa de grife escorregar do seu ombro bronzeado. 
— Algo cheira a estragado aqui! – diz ela depois de fazer uma pausa para torcer o nariz para uma arara de roupas a sua frente, Ela joga a sacola para um lado do balcão e se recosta nele.

Os dez centímetros extras do salto de Rose a deixa quase a estatura da outra. 
— Posso te ajudar com algo? – Rose pergunta, esperando que ela vá embora logo. 
— Acho que não, aqui não tem nada do meu interesse e já comprei o que precisava. Na verdade é meio que um presente pro Alex. Ou melhor dizendo, eu sou o presente vestido nele. – Ela ri fingindo uma timidez, agindo como se elas compartilhassem uma conversa íntima.

Rose reprimiu a vontade de vomitar.  Só faltava isso para minha vida miserável,  ouvir os detalhes íntimos dos dois. – Que bom!  – Rose se força a responder. 

— Se nada te interessa aqui, o que você quer? se não percebeu estou ocupada. 
A expressão da loira endurece, ela odeia ser ignorada. – Precisamos conversar e esclarecer algumas coisas. – Ela dispara. 

— E o que estamos fazendo?  Rose reage sarcasticamente, adrenalina faz sua língua queimar, ela queria falar tudo o que sentia daquela garota, mas ela segura as bordas do balcão tentando se segurar e prossegue.  – Porque não fala logo o que você quer e me deixa em paz!

Karen fica surpresa, não achava que ela seria petulante. Afinal aquela Rose não era a mosca morta que ela havia imaginado.

Rose sorri vendo-a surpresa. 
A loira demora uns segundos organizando seus pensamentos e pensa numa resposta.

— Já vi que você tem senso de humor. Deve ser por isso que o Alex te suporta, porque pelos deuses não consigo achar outra coisa. – diz ela irônica olhando Rose de cima a baixo. – Acho que ficará muito só quando ele finalmente considerar a ideia morar comigo em New Orleans.

— O que? – Rose quase grita. Ela sente que está caindo sem paraquedas.

— Ele ainda não te contou? – Karen ri exultante. – Não me surpreende, ele está muito ocupado pensando no próprio futuro. Seus pais amaram a ideia. O pai do Alex principalmente, o filho seguirá os passos do pai, até a mesma Universidade. 
Ela coloca o rosto a poucos centímetros do de Rose, o perfume caro dela faz Rose sentir enjoo, ela se afasta da Karen. 
— Vou conseguir convencê-lo a vim comigo para Louisiana, você deve concordar que aqui não há futuro para ele. E meu pai vai nos dar um apartamento perto do campus, vai ser perfeito.

Rose ainda a olha em silêncio, um aperto no peito, ela abre a boca, mas é incapaz de articular nenhum som. 

— Nossa vendo como você ficou...  Você realmente achou que tinha alguma chance com ele? – diz ela um pouco insegura. – Não se engane,  ele só a vê como uma irmãzinha, igual à Lily. Então sugiro que pare de ficar rondando, acha que não percebi mais cedo? O Alex é meu agora. Se afaste dele!  – Ela pega suas sacolas e se afasta.

— E se eu não quiser? –Rose reprimiu a vontade de voar em cima dela e arranca seus cabelos perfeitos com as próprias mãos.
— Eu colocarei você no seu lugar...  Garotinha. – Diz Karen antes de fechar a porta.

No estante que ela sai, Rose fala para a nevoa de perfume que ficou no ar. Um dia você vai se descuidar e deixar a máscara cair!

Os olhos dela se enchem de lagrimas. Como ele não havia contado sobre aquilo naquela manhã? A raiva e a tristeza que ela segurou o dia todo se transformam em várias facas pontudas que perfuram seu coração. Mas ela não chora, ela não choraria mais.  
— vamos lá. – aquela voz interior a anima. – se alguém pode fazê-lo ver quem é a falsiane, é você. Conte para ele. Conte sua idiota. Conte o que você sente de verdade. 

Mas ela não vai contar.  Porque afinal de contas,  Ele escolheu a Karen.  E ela não queria mais se importar.