Meu tio, minha vida escrita por MariadoCarmo


Capítulo 5
A Tempestade




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Havia dormindo escorada no meu tio. Quando acordei, já estava amanhecendo. Porém o céu estava escuro. Chovia muito. Estava no meu colchão, na sala. Nem percebi meu tio me colocando pra dormir ali. E dessa vez, estava de roupa. Também não tinha necessidade de ter tirado meu short, este era bem confortável, ao contrário do jeans que usara na noite anterior.
Levantei com muita fome e muito apertada. Fui no banheiro. Fiz xixi, e escovei os dentes. Saí, e fui na cozinha. Achei biscoitos, leite e achocolatado. Foi meu café da manhã. Enquanto comia, pensava no que havia acontecido ontem. Sentia felicidade, mas surpresa comigo mesmo. E também remorso, ao pensar o que minha mãe sentiria se tivesse me visto fazendo aquilo. Minha mãe! Lembrei dela. Não falei com ela desde a viagem. Queria lugar pra ela, mas meu tio não tinha telefone fixo. Tinha que esperar ele acordar.
Assisti TV até ele levantar. Pedi pra ele me emprestar o celular pra ligar pra ela. Ele me emprestou. Porém, o telefone dela estava desligado.

— Ontem também tentei ligar, mas estava desligado. A bateria deve ter acabado e ela não teve como carregar - disse meu tio.

— Está bem. - respondi.

— Querida, hoje vou trabalhar. Na hora do almoço eu passo aqui pra ver como você está.

Meu tio era eletricista. Trabalhava por conta própria. Mas a maioria dos seus serviços era contratado por um empresário que construía apartamentos para vender. Meu tio tinha liberdade pra fazer seus próprios horários, desde que terminasse o serviço nos prazos. Geralmente trabalhava de segunda a quinta. Mas quando a demanda de serviço era alta, trabalhava até aos sábados, porém isso era mais raro de acontecer. Mas ele acumulou muito serviço agora, por não ter ido trabalhar nesses dias que ficou comigo.

— Querida, tem biscoito e leite na cozinha. Na hora do almoço eu faço comida para nós. Não saia enquanto eu estiver fora.

— Sim, tio.

Quando meu tio saiu. Me senti um pouco frustrada, me senti sozinha de novo. Igual era em São Paulo. Mas entendi a situação. Meu tio disse que essa semana iria me matricular na escola. Fiquei ansiosa pra isso acontecer. Sem muitas opções, fui ver TV.

Mas logo meu tio chegou. Assustei com o horário, não havia passado duas horas desde quando saiu.

— Querida, preciso conversar com você - disse meu tio, com a cara muito abatida.

— O que foi tio, você está me assustando! Aconteceu alguma coisa?

Meu tio sentou se ao meu lado, me deu as mãos e disse:

— Ônibus que sua mãe pegou pra ir ao aeroporto, sofreu um acidente. Capotou. E ela veio a falecer.

A notícia me atingiu como um saco. Senti meu peito doer. Queria perguntar muitas coisas, mas não consegui pronunciar nenhuma palavra, chorei desesperadamente. Meu tio me abraçou, e vendo meu sofrimento, começou a chorar também. Ele me abraçou mais forte e disse algumas palavras. Mas chorava tanto, que nem conseguia entender. Meu tio me pos em seu colo e continuou me abraçando.

— Eu sinto muito, Michele. Sei que é difícil. Que vai sentir muito a falta dela. Mas vou cuidar de você. Nunca vou te abandonar. - dizia meu tio, segurando o choro e tentando me consolar.

Aos poucos fui acalmando. Mas a tristeza chegava a doer. Abracei meu tio, ainda em seu colo. E fiquei pensando na minha mãe. As lágrimas escorriam sem parar. Era o dia mais triste da minha vida. Estava inconsolável. Só sabia chorar, e só queria ficar deitada. Meu tio ficou ao meu lado o tempo todo. Dizia que essa dor ia passar, que cuidaria de mim. Ele preparou alguns lanches pra mim ao longo do dia, mas eu recusava. Já a noite, ele pediu pra eu tomar banho pra eu relaxar um pouco. Mas eu não quis. Eu pedi pra me deixar dormir com ele. Ele disse que sim, mas em troca eu tinha que comer alguma coisa. Ele fez uma vitamina pra mim, e eu bebi. Deitei na cama dele. Ele deitou comigo e me abraçou até eu dormir.

A noite eu acordei gritando. Tive um pesadelo horrível com o acidente da minha mãe. Ele me. Abraçou e disse que era só um sonho. Eu abracei ele também, e fui me acalmando até voltar a dormir. Ele conseguia me fazer sentir protegida.

No dia seguinte, acordei, e vi que ele já havia levantado. Saí do quarto e o vi em uma ligação. Ao desligar, ele disse:

— Querida, estão trazendo sua mãe. Ela será enterrada hoje à tarde.

Novamente comecei a chorar. Ele veio e me abraçou. E em seguida me pegou no colo. Eu o abracei pelo pescoço.

— Querida você está molhada.

Me afastei para ver. Eu tinha feito xixi na cama.

— Desculpa tio, acho que fiz xixi enquanto dormia - disse começando a chorar.

— Tudo bem queria. Isso aconteceu porque você está sofrendo muito. Venha, vou te ajudar a tomar banho.

Ele me deu a mão e me levou pro banheiro. Eu não fazia nada. Apenas ficava parada e chorava.

— Eu sei que é muito triste, mas você vai melhorar. Vou cuidar muito bem de você, como se fosse minha filha - disse enquanto tirava minha roupa e me colocava embaixo do chuveiro. Ele me ensaboou toda, exceto minhas partes íntimas.

— Lave a pererequinha querida, pra não ficar com cheiro de xixi.

Mas eu não processa mais nenhuma informação, além da morte da minha mãe. Aí meu tio fez o serviço. Passou sabão nas mãos e passou os dedos lavando minha vagina. Depois fez o mesmo na minha bunda. Dessa vez eu não sentia nada. Nem vergonha, nem excitação, nada. Apenas queria minha mãe se volta.
Meu tio me enxaguou, secou, me enrolou na toalha e me carregou no colo até a sala. Procurou uma calcinha e vestiu em mim. E depois me colocou um vestido. Por fim me sentou no sofá. Foi na cozinha e preparou um copo de leite com achocolatado pra mim. Depois de muita insistência, eu tomei.

À tarde, fomos ao funeral. Foi muito triste. Chorei bastante. Estava vazio, minha família agora era só o meu tio.

Os próximos dias foram bem tristes. Mas meu tio me acolheu e cuidou de mim o tempo todo. Sempre insistia pra eu comer. Me dava banho. Dormia comigo. Me chamava pra ver filmes, ir na praia, passear pela cidade. Tudo pra me distrair. Mas de todos as suas tentativas, a única que dava certo era quando contava histórias pra mim. As vezes lia em um livro e as vezes contava da cabeça mesmo.

Eu ainda estava triste. Ainda chorava. Mas cada dia, isso acontecia com menos frequência. Meu tio tinha tanto carinho por mim, que não me sentia sozinha, nem insegura e nem sentia mais medo.

Quatro dias haviam se passado. Meu tio conversou comigo e decidimos continuar a viver. Ele me matriculou na escola.

— Michele, hoje é sexta feira. Segunda, você vai pra escola. E eu vou trabalhar. Tudo bem?

Não respondi. Só abracei meu tio, demonstrando meu agradecimento por tudo o que ele fez por mim.

A noite, ele tinha pedido pizza. Eu adorava. Comi naquele momento tudo o que havia deixado de comer naquela semana.

— Que bom querida, posso ver que você está melhor.

— Sim. Graças ao melhor tio do mundo.

Pela primeira vez, depois do acidente, tomei banho sozinha. Sequei e sai pelada do banheiro.

Meu tio estava vendo TV. E olhou muito contente e aliviado por me ver bem.

Ele me via nua. E eu não sentia mais nada. Nem vergonha, e nem prazer.
Pedi pra pentear meu cabelo e ele atendeu. Quando acabou, terminou de me enxugar. Pegou uma calcinha e vestiu em mim. Ele gostava de cuidar de mim. E eu gostava de ser cuidada assim. Meu tio pegou uma blusa, mas eu disse que não queria vestir. Estava calor, e eu ia dormir em breve. Sentei no seu colo, e fiquei vendo TV abraçada com ele.

— Onde você vai querer dormir hoje, querida?

— Pode ser com você de novo, tio?

— Claro querida, enquanto você sentir vontade.

— Então me leva no colo? - disse sorrindo.

Ele também sorriu, e me me levou na cama. Deitou comigo. Me abraçou e começou a contar uma história até eu dormir.
Estávamos felizes. A tempestade havia passado.


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