Capítulo um

Fiz um pacto com o diabo

“Quem põe ponto final numa paixão com o ódio, ou ainda ama, ou não consegue deixar de sofrer.”

(Ovídio)

A mochila cinza do colégio estava em uma das minhas mãos, sentia-me muito cansada e quase sem fôlego por tanto correr. James Cooper segurava meu outro braço, ansioso para ver a competição de natação.

Já eu estava querendo morrer.

— Vai mais rápido Alex. Eu apostei R$50,00 que o Aidan ia perder! — Declarou meu amigo enquanto me arrastava até o ginásio mais afastado do colégio.

— Não está vendo que é você que está me carregando? — Respondi entre pausas.

Viu o que dá ficar comendo salgadinho quase todo o dia?

— Então se mexe. Ou tenho de repetir que preciso ver esse mauricinho ser passado para trás? — Bem, meu melhor amigo de anos o odeia.

— Não tenho culpa se meu cabelo pesa. — Murmurei em desculpa.

As mechas chegavam um pouco depois da bunda, de cor preta e com alguns cachos nada definidos. E minha pele era branca, destacando-se mais por estar usando delineador e um batom escuro.

— Já que apenas reclama dele, mude o estilo. Corte-o. — Declarou em alto e bom som.

— Se falar mais uma vez sobre isso usarei a tesoura para outra coisa. — Ameacei.

Ele ergueu os braços para cima em rendição, até porque sabia que eu poderia estar falando sério. Sabia que, se a minha paciência se esgotasse, poderia muito bem machucá-lo. Assim como na vez em que ficou me importunando por ter pintado umas mechas do meu cabelo de roxo quando estávamos na sétima série.

— Obrigada por me soltar. — Pronunciei ao saltitar em direção ao local.

Sentei na arquibancada mais alta, sendo acompanhado pelo meu futuro namorado, só que ele não sabia ainda. Corri meus olhos em direção a piscina e vi Aidan tirar a camisa. Era possível ouvir os irritantes gritos vindos da plateia.

— Tem que admitir que não gosta dele tanto quanto eu. — Cochichou meu amigo de tempos, em meu ouvido.

Em suas palavras só continham a verdade.

— Por que acha isso? — Brinquei.

— Não surta apenas por ter a chance de vê-lo sem camisa. — Respondeu rapidamente.

— Deve ser porque estou apaixonada. — Segredei sem pensar.

Depois disso tapei minha boca, desejando que um buraco aparecesse em meus pés para que eu sumisse.

Ou colocar a cabeça nele como um avestruz faria.

— Por quem? — Em seu tom de voz havia apenas a curiosidade.

            Nada de amor ou ciúme.

— Você já foi mais esperto. — Comentei.

            Suspirei.

— Você não compreende uma ironia. — Completei ao notar seu silêncio.

— Falou a pessoa que tirou três em interpretação de texto. — Revidou enquanto ria.

Fitei-o sem desviar um segundo, o meu rosto ficando vermelho.

— Cala a boca.

Depois disso o que se seguiu foi a chamada para que todos os competidores comparecessem para realizar a prova municipal. Nosso colégio foi o escolhido do ano para receber os alunos que estudavam na cidade.

“Meu namorado e eu temos a fantasia de transar na escola, mas atrás dela tem câmeras. Recomenda algum lugar para irmos? — B.P”

Foi o que recebi em minha caixa de e-mail nessa manhã.

“Por que não tentem o banheiro feminino do terceiro bloco? Ele está interditado e quase ninguém usa. É só você entrar primeiro e uns minutos depois ele, já que filmadora que fica na frente não capta o som. Se o diretor os chamar, é só dizer que passou mal. — C.A”

Detalhe: A sigla é de conselheira amorosa.

Fiquei visualizando mais alguns quando começou uma gritaria, tanto que doía o meu ouvido. Quando notei era o meu amigo que estava pulando. Aidan tinha sido derrotado e um mais gostoso que ele estava no pódio. E pelo o que murmuravam era um tal de Dylan.

— Eu sabia! — O sorriso de James estava tão iluminado que eu tive de me segurar nele para não me desequilibrar.

Isso fez com que nossas bocas quase se colidissem e nossos olhos se encontrassem.

Não me importava se a nossa instituição não ia para a estadual. O que eu desejava era que ele sempre me mirasse dessa maneira, como se eu fosse a garota mais linda do mundo.

— Quinn. — Sussurrou de maneira admirada.

Então eu notei que não era para mim que ele olhava daquela maneira.

— Preciso falar contigo Jam. — Berrou.

Vagabunda, usando o meu apelido que antes exclusivo.

Suas palavras borbulhavam em minha mente, ao ponto de me fazer virar e ver que estava um pouco longe de nós. Seus dentes eram tão brancos que dava para vê-los daqui.

— Vou beber água. — Inventei uma desculpa.

Não queria ver ou ter que fingir ser simpática para a ladrona de namorados. Fui eu que o vi e me apaixonei por ele primeiro.

— Não vai escapar dessa vez, preciso apresenta-la a você. — Pediu.

Fale outra coisa. Incentivei-me.

Não tinha dado tempo, pois quando vi estava na frente dela, possivelmente porque ele me arrastou até a garota. Depois disso ela o abraçou e deu um beijo nele rapidamente.

Vendo-os, tinha de admitir que combinavam. Melinda tinha um cabelo loiro, sendo que na parte de baixo o tom era mais claro. Era alta e tinha um corpo certinho, fazendo-me querer descobrir se tinha celulite ou não. Cooper tinha a mesma cor de mecha que ela, mas nada pintado, sendo que tinha altura o suficiente para a companheira usar salto e não ficar maior que ele.

— Eu estou aqui sabiam? — Pronunciei-me.

Com o susto ela deu um gritinho, porém foi em minha direção e deu um beijo fraco em meu rosto. Já eu fiquei inerte, esperando para que esse momento acabasse e eu pudesse ir para a casa.

— Então essa é a famosa Alexis? — Quis saber.

Um ano fugindo dela para nada.

— Sim. — Respondeu, ainda com aquela expressão boba e com a voz de apaixonado.

Eu mereço?

Não respondam!

— Pelo jeito nos desencontramos muitas vezes, não é? — Comentou bem-humorada.

Vadia, além de linda tem que ficar esbanjando alegria por aí?

— Sou muito ocupada. Falando nisso, tenho de ir para a casa. — Menti.

Nem sequer esperei-os falar e fui tomar água, só que antes mesmo de dar alguns passos para fora da quadra vi Aidan e Emma discutindo.

— Temos de terminar.  Eu não quero ficar com alguém que nem ganhar uma disputa consegue. — Ela comentou. Era uma enjoada de carteirinha.

— Então vai atrás de outro, como a puta que é! — Aidan esbravejou.

O que eram simples palavras se tornou algo indiscreto, pois logo a guria deu um tapa forte nele e saiu correndo. Deixando-o largado, sem reação, enquanto colocava a mão em seu rosto.

Esse ato rendeu umas palmas de alguns.

Não deu tempo de sair do lugar, não quando um troglodita me pegou pelo braço e me empurrou para o lado do ginásio. Praticamente prensou-me entre ele e a parede, deixando-me quase sem folego de tanto que me apertava.

— Como é uma boa garota não irá dizer nada do que aconteceu, não é? — Começou.

— Se não percebeu, todos viram a ceninha do casal. — Revidei, fulminando-o sem nem sequer revidar.

Eu não ia obedecê-lo como um cachorro domesticado.

— Pare de tentar me fazer de idiota! Eu sei que você ouviu muito bem. — Disse ao aproximar seu rosto do meu e franzir a face de maneira sombria.

— Mas para que ia contar? Vocês em nada me importam. Ficam se agarrando no meio dos corredores, infligindo as regras. Quero mais é que se ferrem. — Fui sincera.

— Queria era estar no nosso lugar. Ser igual nós. — Devolveu com escarnio.

— Não, pois sou muito melhor que vocês. — Declarei.

Em seus olhos eu via a determinação, assim como ao chegar a poucos centímetros da minha face e dar aquele sorriso de lado.

— Acabou de declarar guerra, sabia lindinha? — Pronunciou.

Depois disso encostou sua boca na minha de maneira ágil, tanto que eu nem tive tempo de ficar surpresa. Mas foi o bastante para me deixar confusa e embasbacada.

— O-o que significa isso? — Gaguejei.

— Que fez um pacto com o diabo. E pode ter certeza que irei fazer da sua vida um inferno. — Esclareceu, sorrindo de lado.

Para depois dar meia a volta e sair andando. Não podendo mais ver seus olhos verdes fitando os meus, sua boca encostando na minha, seus braços musculosos me rodeando ou sentir os seus cabelos pretos macios.

Só que eu tinha a infeliz certeza de que trombaria muito com ele ainda.