DISTRITO 6

Evee estava inquieta. A mulher da capital estava usando um vestido amarelo fluorescente, cabelos verde fluorescentes e meias laranjas fluorescentes. Era tanta fluorescência que os olhos da ruiva doíam só de olhar para ela.

Estava nervosa, tinha que admitir. A Colheita era um dia péssimo para todos os adolescentes entre 12 e 18 anos. Naquele dia, qualquer poderia ser sentenciado à morte.

O calor também não estava ajudando. O sol escaldante batia diretamente na praça do distrito. E tinha pessoas quase passando mal. Por sorte, Evee usava um vestido cor de rosa claro e leve, de alças e saia rodada, que pertencera à sua mãe quando mais nova.

Pensou em sua mãe, em algum lugar daquela praça, provavelmente olhando para o horizonte, sem muita vontade de estar ali e sem prestar atenção ao vídeo da capital. A depressão a levara, mas ela ainda tinha esperanças, de que ela voltasse. Mento estava no colo dela, impaciente.

Mento era uma raposa que Evee achou em seu jardim ainda filhote. Cuidou dele, e agora os dois eram inseparáveis. Mas ele não gostava muita da mãe da garota, ainda que suportasse sua melhor amiga Harper, que esperava o sorteio a seu lado.

Harper tinha 17 anos, um ano a menos que Evee. No ano seguinte, Evee já estaria fora do sorteio.

E esse maldito sorteio estava demorando. O vídeo da Capital nunca parecera tão longo. A tensão rodava todo a praça. Finalmente a moça da capital se aproximou da urna, pegou um papelzinho e gritou um nome.

Evee não viu ninguém se mexer. Quem será que tinha sido? Sua barriga doía de tanto nervosismo. Mais do que borboletas, tinha morcegos carnívoros devorando seu estomago, e ela achou que iria vomitar a qualquer hora. A moça continuou a gritar o nome.

Evee ficou com pena da moça. Provavelmente uma menina de 12 anos, assustada e despreparada. Tremulamente foi andando até ao palco.

—E-eu me voluntario!

—E qual seu nome?

— Evee Hopper.

A moça da Capital se controlou para não rir. O mentor, por outro lado, desceu do palco e foi até ela, lhe oferecendo a mão e sussurrando baixinho.

— Você foi a sorteada, querida… Venha.

Evee subiu ao palco, com o mentor. A Capitalista ainda estava se controlando para não rir, assim como o rosto de vários pacificadores na praça. A garota franziu a sobrancelha e se adiantou, pegando o microfone na mão da mulher de roupas fluorescentes, plantando com enorme sorriso na cara e gritando o mais alto possível:

—EU VOU PARA A DROGA DA CAPITAL, SEUS IDIOTAS!

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DISTRITO 8

Aurora chegou à Praça acompanhada de seu irmão e sua tia, e logo avistou Simon. Em seus 23 anos, ele já não tinha que se preocupar tanto com a Colheita, mas o fazia, pois a garota, que estava em seu último ano de Colheita mas ainda podia ser sorteada, era sua melhor amiga, e Simon não estava nem um pouco afim de perde-la.

— Hey… tudo bem? – ele falou. A garota assentiu. – Não se preocupe… é seu último ano, logo estará livre.

 - E depois Igor poderá ser sorteado. – ela disse, referindo-se ao irmão de 10 anos.

— Ainda falta dois anos para o nome dele aparecer no meio daquelas centenas de papéis. Não se preocupe com isso agora…

Aurora afastou a mão dele do seu ombro.

— Como não vou me preocupar, Simon? É a única coisa que fazemos nossa vida inteira! Nos preocupamos com a Colheita, nos preocupamos com nossos amigos e familiares na Arena, nos preocupamos em como seguir nossas vidas depois que eles morrem…!

— Tá! Já entendi! – Ele parecia frustrado. – Vá, está quase na hora.

Aurora ainda o encarou por uns segundos, depois sussurrou um desculpe, mas ele já parecia distante e desconcertado.

Foi até a moça que picou seu dedo e dirigiu-se até ao lugar indicado.

Um homem da Capital de longos cabelos verdes e maquiagem azul escura, usando um terno azul profundo com glitter, deu as boas vindas a todos, e elogiou o maravilhoso dia ensolarado no distrito 8.

O vídeo foi passado, e o homem se aproximou da urna.

Ela olhou em volta. Várias das crianças ali eram seus alunos, na escola onde ela lecionava desde os 15 anos.

— Aurora Rodriguez!

Ela voltou seu olhar para o palco, onde o homem sorridente olhava e procurava pelo escolhido, e entrou em desespero. Era seu último ano! Seu maldito último ano! E justamente esse ano ela fora sorteada?!

Do palco, ela viu Simon fazendo sinal para ela se acalmar.

O homem se aproximou da urna e tirou um papelzinho.

— Robert Craftheart!

O rapaz, também de 18 anos, caminhou até ao palco, sem expressar nenhuma emoção ao ser sorteado para os Jogos. Aurora o conhecia de vista. Era um rapaz extremamente forte, mas não muito inteligente. Um problema, mas talvez não uma ameaça. Era músculo, não cérebro.

Robert por sua vez também a analisava. Tinha uma estratégia em mente – talvez a única em que ele tinha pensado que parecia ser boa. Ele descartou Aurora automaticamente do plano. Não, ele a conhecia e sabia que não era ela que ele precisava.

Mostrou seus dentes de caninos pontudos em um sorriso cruel, e apertou a mão da garota antes mesmo que o homem da Capital falasse algo. Em seus olhos castanhos, um brilho estranho.

O único pensamento de Aurora, ao encara-lo de volta, foi que ele era um cara que, se precisasse matar uma menina de 12, o faria sem pestanejar ou pensar muito.

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