Por que ele fez isso?

Então queridos leitores, me desculpe por ter parado em um momento angustiante, mas foi necessário. Na verdade, não foi... enfim.

—MÃE! – Soluço gritou desesperado.

Soluço correu em direção a sua casa. Passou pelo meio da multidão que rodeava sua casa e parou a alguns metros da entrada, pois as chamas estavam altas e o calor insuportável.

—SOCORRO! – Gritou Valka de algum lugar dentro da casa em chamas.

Pula-Nuvem rodeava a casa desesperadamente em busca de uma entrada que fosse grande o suficiente para ele entrar. O tamanho do Pula-Nuvem era maior que o Banguela, para se ter ideia, nem sua cabeça conseguia passar pela porta.

Soluço olhou horrorizado para a cena diante dele e seus olhos se aguaram. Ele não havia superado a morte de seu pai ainda, e só a possibilidade de também perder sua mãe era devastadora.

Bocão, Baldão, Estrume e alguns dos jogadores correram trazendo baldes de água e jogando no fogo, numa tentativa de apagar as chamas. Como Valka continuou gritando por ajuda.

—GET OUT OF MY WAY! (Saí da frente!)

Soluço se virou em direção ao grito e viu Sarah correndo em sua direção. Algumas pessoas saíram de seu caminho, lhe dando passagem. Sarah passou meio mancando por Soluço, por causa dos ferimentos da luta com Brisa, e pulou numa parede da casa que não estava com fogo. Ela escalou a parede o mais rápido como pode e entrou pela janela que havia menos fogo.

Soluço arregalou os olhos com a atitude da garota e, mesmo que ele não admitisse, sentiu certo desespero.   

Então os gritos de Valka pararam e apenas o som do fogo queimando a madeira foi ouvido. Milhares de pensamentos passaram pela cabeça de Soluço, o que havia acontecido? Valka havia desmaiado? Ou...

Antes de Soluço completar seus pensamentos, Sarah apareceu na mesma janela que havia entrado, ela estava segurando Valka que parecia acordada, porém meio mole.

—Help! (Ajuda!) — Gritou Sarah.

Marshall Lee e Flecha (outro participante dos jogos) correram até embaixo da janela, como Sarah ajudou Valka a pular da janela. Os dois pegaram Valka antes dela atingir o chão, Soluço correu até sua mãe e a abraçou.

—Você está bem? – Perguntou quando se afastou. Valka tentou falar, mas apenas assentiu com a cabeça. Então todos voltaram o olhar para Sarah que ainda estava na janela. A garota se pendurou do lado de fora da casa e então saltou. Caiu no chão dando cambalhotas para amortecer a queda e se levantou tossindo um pouco.

Soluço se pegou suspirando de alívio ao ver que Sarah estava bem, esse fato de estar um pouco preocupado com a Thornado o deixou surpreso e um pouco incomodado, mas eles estavam se tornando amigos rapidamente, eles conversaram muito durante a viagem e descobriram coisas em comum, além de boas histórias.

Logo depois que Sarah pousou no chão, a casa tremeu e uma parte dela desmoronou formando uma pilha de madeira flamejante. E só então dragões carregando baldes de água apareceram e ajudaram a apagar as chamas. E em alguns minutos o fogo havia sido todo apagado. Sarah acabou tropeçando com o impacto.

A multidão que cercava a casa desapareceu aos poucos. As pessoas haviam ido descansar depois desse dia mais que agitado. Valka e Soluço encararam tristes o monte de madeira e cinzas que antes já foi a casa onde viveram. Onde Soluço nasceu e cresceu com a presença de seu pai.

Pula-Nuvem se aproximou junto com o Banguela e os dois cumprimentaram Valka, felizes por ela estar bem.

Soluço encarou sua mãe e percebeu sua expressão cansada em seu rosto. Qualquer um estaria nesse estado depois de ficar numa situação de quase morte. Ele se virou para Bocão, que era um dos poucos que ainda se encontravam ali.

—Há alguma casa sobrando Bocão? – Perguntou Soluço.

—Infelizmente não garoto, todas elas estão ocupadas com habitantes de Aina e os jogadores e suas famílias. – Respondeu Bocão.

Soluço suspirou cansando, pensando que ele e sua mãe teriam que passar as noites no Grande Salão até reconstruírem sua casa.

—Vocês podem ficar na minha casa.- Ofereceu Sarah.

—O que? – Perguntou Soluço surpreso.

—Vocês podem ficar na minha casa, eu estou sozinha lá. – Disse Sarah cruzando os braços. – Algum problema Haddock? Acho que somos amigos agora, não é?

Soluço confirmou com a cabeça meio surpreso por Sarah fazer tanto por ele e sua mãe.

—Então vamos.

Valka disse boa noite para Bocão e Soluço apenas acenou com a cabeça, então os dois seguiram Thornado até sua casa. Não antes de, infelizmente, deixarem seus dragões nos estábulos.

A casa da garota era a última da fileira de casas construídas para os visitantes. Todas as casas construídas eram simples. Dois quartos, uma sala com lareira, cozinha e banheiro, o que foi suficiente para os Aianos se sentirem confortáveis.

Assim que chegaram, Sarah abriu a porta e os deixou entrarem. Os dois Haddocks se deram de cara com a sala onde a lareira estava acesa e um monte de almofadas empilhadas no chão, onde Thornado dormia.

—Bem, eu costumo dormir aqui mesmo, vocês podem ficar cada um em um quarto. – Disse Sarah os mostrando a direção dos quartos. De repente, Sarah foi abordada em um abraço de Valka.

—Muito obrigada, Sarah. Você me salvou. – Agradeceu Valka.

Sarah ficou um momento paralisada pela inesperada demonstração de afeto, mas logo devolveu o gesto educadamente.

—You are welcome. (Você é bem vindo *é como se diz “de nada” em inglês*)

Assim que as duas se separaram, Valka disse boa noite aos dois e se dirigiu a um dos quartos, sorrindo quando percebeu uma pequena troca de olhares entre seu filho e a Thornado antes de sair da sala.

Sarah se sentou nas almofadas perto da lareira e sinalizou para Soluço também se senta. Ele se sentou ao seu lado a uma distancia razoável e a encarou. Ela olhava atentamente para as chamas e não percebeu seu olhar.

Soluço pode ver as manchas de fuligem em seu rosto iluminado pelas chamas, e num movimento sem pensar, ele ergueu a mão com a intenção de limpar aquela mancha. Sarah percebeu seu movimento e virou o rosto para encara-lo, Soluço recuou a mão e a abaixou envergonhado criando um silencio ensurdecedor.

—Hãm... Obrigado por salvar a minha mãe. – Soluço agradeceu quebrando o silencio.

—De nada...  – Respondeu Sarah. – Parece que agora você me deve uma, Haddock. – Brincou ela fazendo Soluço rir.

—É, parece que sim. – Concordou ele. E o silencio voltou. -Eu, hãm... acho que vou dormir agora. – Disse desajeitado.

—Ah, claro. – Concordou Sarah. – Goo-Boa noite.

Soluço sorriu de leve, estava prestes a levantar quando um pensamento tanto arriscado passou por sua mente. Antes que pudesse evitar, ele já havia beijado a bochecha da Thornado que corou.

—Hum, boa noite.

Soluço se levantou e se dirigiu apressado para o quarto que ficaria. Fechou a porta e se deitou na cama que lá havia. Ele não conseguiu esconder um sorrisinho em seu rosto.

Mal ele sabia que a Thornado estava na mesma situação...

“Why did he do that?”

Os dois nem desconfiam que esse seria o máximo de contato físico que eles terão em dias, as coisas estavam prestes a piorar... E ninguém escaparia do destino... Ninguém escapa do destino ou das circunstâncias.