Chapter 7 - Quando a escuridão se vai...

Passaram-se alguns desde a primeira prova dos jogos e as pessoas começavam a se sentir adaptadas. As pessoas de Aina se hospedaram em algumas casas, outras ficaram em casas que haviam sido construídas apenas para os jogos, outras trouxeram uma espécie de “casa portátil” (uma das invenções de Aina que Soluço gostara e os outros também) e etc.. Em pouco tempo as malas estavam desfeitas, as pessoas se entrosaram e as obrigações foram divididas para todos e, embora a mudança de um lugar tropical para a friolândia, Berk começara a ser vista com um sorriso no rosto.

A única exceção era Soluço e Sarah. Um dia, ele a culpou por derramar comida nele, Sarah explicou que foi um acidente, mas ele não  acreditou e desde então os dois se provocavam eou culpavam um ao outro por tudo de errado que acontecia.

Certo dia as pessoas cansaram das birras de Soluço e dos comentários provocadores de Sarah...

De manhã, Sarah foi até o Salão Principal para comer. A garota apenas pegou um pedaço de frango e uma caneca de hidromel, pois não havia outra coisa para beber além de água. Então se sentou à mesa junto onde estavam outros habitantes de sua ilha. Ela só queria almoçar em paz:

— Tá legal, devolva. – Disse a voz mais irritante que Sarah já havia ouvido em toda a sua vida. Ultimamente, ele vinha a irritando demais.

— O que você quer desta vez, Haddock? – Perguntou tentando manter a calma, sem se virar para Soluço.

— Devolva logo. – Disse ele cruzando os braços.

Sarah suspirou e olhou-o com pena.

— Não sei do que você está falando. – Respondeu com um toque de irritação, mas sem expressão ao mesmo tempo.

— Apenas devolva! – Insistiu irritado.

Thornado deu um gole de seu hidromel.

— Devolver o que? – Perguntou pondo a atenção em sua comida. Soluço empurrou seu prato longe dela.

— Você sabe exatamente do que eu estou falando! – Acusou apontado para ela.

— Na verdade eu não sei! – Exclamou indignada, voltando seu olhar a ele.

— A minha espada! – Explicou ele.

Sarah o olhou confusa.

— Não sei onde ela está! Não sabia nem que você tem uma espada! – Respondeu dando uma mordida no frango.

— Pare de gracinha e me dê ela! – Mandou Soluço batendo o punho na mesa chamando a atenção de todos no salão.

— You’re being a baby – Insinuou a garota em sua língua.

— O que você disse? – Perguntou Soluço não conhecendo sua língua:

— Você está sendo um bebe. –Traduziu.

Ele agarrou seu braço esquerdo fazendo-a levantar e olhar em seus olhos.

— Se você quiser ficar nessa ilha até o fim dos jogos, você tem que se comportar. – Rosnou ele.

Sarah o ignorou e com a mão livre pegou a caneca e jogou o hidromel no rosto dele.

— Sua idiota! – Gritou soltando o braço dela e limpando a bebida de seus olhos:

— You deserved it. (Você mereceu) – Disse ela esfregando o braço pouco dolorido.

— Pare de falar assim! – Gritou irritado. – Já me irritou faz tempo!Eu estou de olho em você.

Sarah Thornado cruzou os braços e sorriu:

— What a coincidence... (mas que coincidência) – Haddock rosnou;

— Pelo menos devolva a minha espada! – Exclamou sem paciência.

— Eu já disse que não está comigo! - Também exclamou indignada e de repente sorriu - Your deaf (Seu surdo).

Soluço bufou:

— Dá pra parar?!

— JÁ CHEGA! – Gritou Bocão separando os dois. – Ninguém mais agüenta isso!

— A culpa é dela! Ela que roubou a minha espada! – Gritou o rapaz.

— Eu não roubei nada! – Protestou a garota.

— PAREM! – Gritou Bocão de novo. – Tenho uma tarefa para os dois se acertarem!

— Não dá para ser amiga dele!

— Eu nunca vou ser seu amigo!

— Stupid.

— Você não se cansa disso?!

— EU DISSE PRA PARAREM! – Gritou sem paciência. Os dois se calaram e Bocão suspirou. – Vocês iram para a ilha que descobrimos a pouco tempo e irão atualizar o Livro dos Dragões. Deve demorar uns dois dias...

— O QUE?! – Gritou Soluço e Sarah ao mesmo tempo:

— E sem o Banguela! – Acrescentou Bocão – Ponha a cauda que você fez para ele no snouggletog, à automática que o deixa voar sem piloto.

— Mas Bocão...

— É isso ou vocês querem uma semana? – Ameaçou ele. Bocão era o único que Soluço ouvia e obedecia.

— Tá bom... – Concordaram os dois:

— Quando vamos? – Perguntou Soluço:

— Agora. – Bocão os deu uma bolsa para cada – Aí tem tudo do que precisarão e, quando desembarcarem na ilha, mandem o Banguela de volta ou irei pessoalmente buscá-lo. – Sarah e Soluço permaneceram em silencio – Entendido?!

— Sim... – Responderam os dois.

— Agora vão! – Declarou Bocão empurrando os dois para a saída. – E tentem não se matar!

— Certo. – Disse Soluço montando no Banguela. – Vamos logo. –

Sarah se aproximou do dragãohesitante, ela nunca estivera tão perto de um.

— E então? – Grita o rapaz impaciente.

 Ela subiu nele e segurou contragosto os ombros de Soluço que respirou fundo. Sarah estava assustada por dentro, mas não adimitiria isso por nada.

— Vai, Banguela – O dragão decolou e partiram em direção a nova ilha e durante toda a viagem os três ficaram em silêncio. Na cabeça de Sarah se passara uma eternidade, mas se passaram apenas quarenta minutos além do arquipélago.

— Tchau, Banguela – Disse Soluço acariciando a cabeça de Banguela que ronronou. –Daqui a dois dias você volta...

Sarah observou como Soluço tratava Banguela, ainda era meio frio, mas não tanto quanto ele tratava outras pessoas. Com “outras pessoas”, meus amigos... A garota queria dizer ela, desde que ela o conheceu como princesa, ela notara bondade nele e tentava encontrar essa bondade como Sarah, porém nada do que ela fazia adiantava.

Eu não vejo Sarah como má por provocar Soluço, ela estava tentando encontrar bondade nele e tudo o que ele fazia era desprezá-la e nenhuma pessoa agüentaria isso todos os dias sem parar.

—Tchau amigão. – Ele arrumou a cauda do Banguela de modo que ele podia voar sozinho, e o dragão decolou. Soluço pegou sua mochila do chão e se virou para Sarah

 – E agora?

Sarah fitou nada por um segundo pensando e respondeu:

— Em busca de um abrigo

Ele suspirou e a seguiu. Pouco tempo depois encontraram uma caverna e se “instalaram” nela. Cada um estava de um lado da caverna sentado:

— O que você tem? – Perguntou Soluço.

Sarah contragosto olhou em sua bolsa, ela estava meio entre “irritada” e “tentando se acalmar”.

— Um cobertor, uma adaga, água e um pedaço de pão. – Respondeu ela. – E você?

Ele abriu sua mochila.

— Cobertor, água, pão, adaga e... – Ele encarou o fundo da bolsa – A minha espada... – Completou em voz baixa.

Sarah revirou os olhos.

— E você me culpando... – Disse emburrada. – Acho que me deve desculpas.

—Muito obrigado Bocão... – Sussurrou Soluço pra si mesmo. – Desculpe... – Murmurou ele.

Sarah levantou sua sobrancelha.

— O que?

— Desculpe... – Disse um pouco mais alto.

—Não escutei – Ela estava curtindo muito isso.

— Oh Thor, Me esculpe tá legal?! – Exclamou irritado só aumentando o sorriso sínico de Sarah.

— Desculpas aceitas, mas agora... – Disse se levantando. – Vamos fazer as anotações antes que escureça.

E os dois passaram o resto do dia anotando tudo o que precisavam. Para a surpresa de Soluço, Sarah sabia mais sobre dragões do que ele pensava.

No final do dia eles se encontravam na caverna em volta do fogo que haviam criado e assando seu jantar que eram alguns peixes que eles haviam pescado em um rio ali perto. Sarah apenas encarava as chamas em profundos pensamentos e Soluço também.

Às vezes ele se pegava dando uma espiada na loira a sua frente. Acabou pensando como ela era bonita com a iluminação do lugar e se batia mentalmente por isso. Depois de um tempo ele pigarreou:

— Você, hum... você sabe muito sobre os dragões pra quem nunca tinha visto um. – Comentou tirando Sarah de seus pensamentos:

— Obrigada...

— Como aprendeu tanto sobre eles? – Perguntou ele curioso.

— Eu li o Livro dos Dragões antes de vir pra cá. – Respondeu voltando seu olhar para o fogo – Imaginei que precisaria saber alguma coisa quando estou vindo para uma ilha cheia deles.

Soluço assentiu com a cabeça mesmo que ela não visse e a observou:

— Você é bonita... – Murmurou ele inconscientemente, Sarah o olhou sem entender

— Huh? – Perguntou indicando não ter ouvido.

—N-nada... – Gaguejou ele corando levemente. Sarah ignorou e voltou novamente seu olhar ao fogo.

“Estúpido!” Gritou a mente de Soluço, mas foi cortada quando um Terror Terrível roxo entrou na caverna fazendo barulho. Ele e Sarah olharam em direção ao pequeno dragão que se aproximou deles.

Sarah olhou para o peixe que estava assando e para o Terror, então ela jogou o peixe para o dragãozinho que engoliu de uma vez só. Ele olhou para Sarah e vinha lentamente se aproximando dela. A garota se afastava até que ficou de pé e ele notou que ela REALMENTE não sabia como era um dragão pessoalmente.

Soluço sorriu e jogou mais um peixe para o terror terrível que, após devorá-lo, foi em sua direção deitar-se em seu colo.

— Hum... obrigada – Agradeceu a garota sentando-se e abraçando as pernas.

— Ele apenas gostou de você. – Comentou Soluço – Não precisa ter medo.

Ela ficou em silêncio por um segundo.

— Não é medo, depois do vôo de hoje, eu já ultrapassei minha cota.

Então ele se tocou.

— Aquele foi seu primeiro vôo, não foi?

— O que você esperava? – Ela respondeu desviando o olhar – Foi meio assustador... M-mas nada que não vão exigir de mim na arena em breve... – Sarah se corrigiu rapidamente.

Soluço se sentiu mal por aquele ter sido o primeiro vôo dela, tem uma grande chance de ela não querer chegar perto de um dragão novamente devido aquele vôo tão desagradável. Quero dizer, o primeiro vôo sempre é legal para todo mundo e para ela não foi por culpa dele. Sarah estava assustada e ele apenas ficou bancando o rabugento.

—O que foi? – Perguntou ela o tirando de seus pensamentos.

—Nada. – Respondeu desviando o olhar para o fogo.

Soluço levantou-se e sentou-se no lado de Sarah aproximando o dragão de seu colo.

— W-what are you...

— Calma, ele não vai machucar você, eu prometo.

Ele olhou para ela como se dissesse “me deixa fazer isso para você”.

— Tudo bem

O dragãozinho se apoiou nas pernas de Sarah, se enrolou e dormiu. Nesse tempo, a garota ficara totalmente imóvel até Soluço vê-la tentar acariciá-lo. Ela sorri, mas, desta vez, não era um sorriso sínico ou maldoso. Soluço a vira sorrir de verdade.

— Eu queria entender porque você não é assim, Haddock – Comentou chamando a atenção dele.

— Assim como?

— Eu consigo ver bondade em você, mas parece que prefere ser frio e rabugento... – Thornado morde o lábio inferior – Por acaso foi o que aconteceu na arena? Você não seria tão orgulhoso assim a ponto de ficar de mau humor só por aquilo...

Soluço suspira.

— Foi um pouco sim, mas faz tempo que minha vida anda sempre uma barra pesada e com a morte do meu pai só piora.

— Eu sinto muito pelo seu pai, Haddock.

Eles ficaram em silêncio por um momento.

— Sarah. – Chamou ele.

— Sim?

—Por que? – Perguntou encarando-a:

—Por que o que? – Perguntou de volta confusa:

—Por que você não me chama pelo meu nome, mas de Haddock? – Thornado corou levemente.

— Quer saber a verdade?

Soluço assentiu apreensivo.

— Bem... eu não sei o seu primeiro nome... – Assumiu envergonhada.

—Sério?! – Perguntou Soluço incrédulo:

—Sim... – Respondeu desviando o olhar.

Soluço começou a rir.

— Hey! Não ria de mim! – Exclamou Sarah corando mais, porém ela ficou meio feliz em vê-lo sorrir.

— Desculpe. – Soluço se acalmou. – Eu acho que nós sempre começamos com o pé esquerdo.

—Você quer dizer só eu, né? – Brincou Sarah se referindo a perna de metal de Soluço.

— Ria da cara do aleijado! – Disse Soluço revirando os olhos.

— Desculpe. – Ela se desfez do sorriso.

Soluço balançou a cabeça sorrindo.

— Vamos começar direito então. – Ele se levantou e agachou na frente dela estendendo a mão.

 – Prazer, o meu nome é Soluço Haddock.

— Soluço? – Sarah sorriu com um olhar divertido.

— Unhum, nossos pais acham que nomes assim afastam gnomos e trolls.

— Gnomos e trolls? – Sarah riu mais ainda. – Vocês vikings são estranhos.

— Por que será que eu concordo com isso? – Perguntou Soluço rindo junto.

O riso morreu e Sarah encarou Soluço.

— O que? – Ele pergunta.

— É estranho como hoje de manhã nós dois estávamos tentando matar um ao outro e agora estamos aqui rindo – Comentou a garota.

Soluço deu de ombros:

— Sou um viking, é um risco ocupacional. – Disse sorrindo.

— Então eu sou um risco? – Perguntou Sarah divertida.

— Um risco pra a minha vida. – Explicou se apontando, fazendo Sarah rir, mas foi interrompida por um bocejo.

—Vou dormir – Anunciou ela esticando o braço, pegando seu cobertor e colocando o Terror Terrível ao seu lado com cuidado para não acordá-lo.

—Eu também. – Soluço se levantou e foi ao outro lado da fogueira.       – Boa noite Sarah. – Disse ele já deitado.

—Good night... Haddock. – Brincou Sarah.

Soluço sorriu e deixou o sono levá-lo pensando que devia seguir o conselho de Sarah, tentar ser melhor... Mas ao mesmo tempo tentar lidar com todos aqueles sentimentos de dor.

Quando ele acordou, o Sol avia nascido poucas horas antes. Soluço bocejou se sentando e pensou no dia anterior em que ocorreu a primeira conversa civilizada entre ele e Sarah. Foi bom não brigar mais, pois não era só os outros que estavam de saco cheio deles brigarem, ele mesmo estava cansado de suas brigas sem intervalos.

Foi então que ele percebeu que estava sozinho na caverna. Franziu a testa e se levantou andando em direção a saída e o que viu lhe fez sorrir:

—Vamos! Atire!

Sarah apontava para um pequeno toco de madeira que estava em cima de uma grande pedra. O Terror Terrível ao seu lado a encarou com a cabeça inclinada fazendo Sarah suspirar:

—Certo. Vamos com um mais fácil. – Ela se sentou a frente do dragão. – Sente. - O dragão se sentou. – Isso! Agora posição de ataque! – Ele fez o que pediu. – Agora atire ali! – Ela voltou a apontar para o toco. O Terror se virou para o toco e atirou, fazendo-o pegar fogo. – Finalmente! Bom garoto! – Exclamou Sarah sorrindo.

O Dragãozinho pulou em cima dela e lambeu seu rosto fazendo-a rir. O sorriso de Soluço cresceu ao ver essa cena rara:

—Estão se divertindo? –Perguntou ele cruzando os braços. Sarah pegou o dragão de seu rosto, encarou Soluço e se sentou arrumando a postura:

— Oh, hi... – Disse acariciando o Terror timidamente.

— Você não consegue falar a minha língua pelo menos por um dia? – Perguntou sorrindo e se aproximando dela:

—Tente falar uma língua que não seja a que você aprendeu desde pequena. – Reclamou ela emburrada. Ela pensava que tudo voltaria como era desde que ela chegou a Berk.

— Não quis ser rude. – Se defendeu Soluço sentando-se ao seu lado. O pequeno dragão saiu do colo de Sarah para ir atrás de uma borboleta. – Você treinou bem ele.

 O dragão pulou em direção ao inseto que voou mais alto saindo do caminho, fazendo o dragãozinho dar de cara em uma árvore.

Os humanos riram.

— Pelo menos tentou.

Sarah sorriu olhando Soluço pelo canto do olho disfarçadamente:

— Obrigada e não se preocupe com o que disse, é que está sendo difícil me adaptar a língua.

Eles sorriram um para o outro.

Ao final da tarde, Soluço e Sarah já haviam anotado tudo o que deviam e Banguela havia acabado de chegar.

—Hi, amigo! – Exclamou Soluço abraçando seu dragão que o olhou confuso.

Sarah cruzou os braços rindo.

— Você percebe o que acabou de falar? – Perguntou ela.

Soluço sorriu.

— Acho que passei muito tempo só com você para conversar. – Disse montando no Banguela.

 – Vamos? – Perguntou olhando-a.

— Como quiser, Haddock. – Respondeu montando no dragão negro, e logo sentiu as mãos dela sobre seus ombros.

—Parece que seu amigo quer se despedir. – Disse Soluço apontando para o Terror Terrível no ombro da garota:

— See you, little friend (Vejo você por aí, amiguinho). – Despediu-se Sarah acariciando a cabeça do dragão que ronronou e lambeu a bochecha dela antes de ir embora.

        - Vamos lá, amigão – Então Banguela partiu em vôo e Soluço prometeu-se que esse vôo seria o melhor possível para Sarah.