Na margem úmida do lago negro era possível identificar dois seres excêntricos, tão diferentes um do outro, e tão iguais. A pele pálida que sugeria uma doença, cabelos e sobrancelhas beirando o transparente, grandes olheiras e roupas amassadas. Draco Malfoy e Luna Lovegood eram certamente um par estranho, opostos, e insolitamente inseparáveis.

A incógnita não aconteceu depressa, foi paulatinamente, aos poucos, de conversa em conversa. Ele passou a admirar os olhos sonhadores de Lovegood, e ela seu olhar indecifrável, com seu tom de azul cinzento tão penetrante, até mesmo para uma avoada como a Luna. Ela costumava dizer que ele era muito vampirizado, preocupado e estressado demais, o que geralmente o deixaria irritado, mas não com a loira. Ele sempre refletia em consequência de suas palavras, embora ela parecesse completamente alienada, era a pessoa mais inteligente que Draco já havia conhecido. Estranhamente, não era tão estranho admiti-lo.

O primeiro encontro deles fora por acaso, no meio da madrugada fria de um outono chuvoso. Os dois vagavam por Hogwarts, era noite de patrulha do monitor da Sonserina e a loira era sonâmbula. Quando ele a viu perambulando em ziguezague pelos corredores, não pensou duas vezes para apontar sua varinha em sua direção e gritar com ela.

– Loony, por que diabos você está fora da cama? Menos 30 pontos para a Corvinal! Ei, você está fugindo? Estou falando com você, sua aluada imprestável! – a essa hora o rosto do garoto se rubescia de nervoso – Está desrespeitando um monitor, menos 50 pontos para sua casa idiota!

Foi quando ele a alcançou e virou seu corpo bruscamente, pronto para gritar ainda mais, se não fosse pelos olhos fechados de Luna. “Mas que diabos..?”

– Você está fingindo dormir, sério? Menos 10 pontos pra você.

Ela não se mexia. Uma onda de medo passou por Malfoy. Estaria ela enfeitiçada?

– Hum, Luna? LUNA LOVEGOOD, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO??!! Olha ali, rápido, um zonzóbulo!

Silêncio.

Sim, o grande e inatingível Draco Malfoy estava desesperado. Até que pensou no que Hermione Granger faria, e apanhou sua varinha do meio de suas vestes e apontou para a loira.

– Finite Encantatem! – nada.

Luna começou a andar de novo e Draco teve que segurá-la com as mãos. Ela se debatia exageradamente e caiu no chão gelado.

– Aquamenti – sussurrou o menino, molhando os pulsos da corvina, esperando algum milagre. Ela deu um espasmo, o que o assustou, fazendo perder o controle de sua varinha e atingir o corpo todo de Luna com água fria. E então ela acordou.

– Olá, Draco. Que surpresa encontrá-lo – disse com uma voz tranquila – o que faz no dormitório da Corvinal? Olha, minha roupa está molhada. Sabe algo sobre isso?

– Er, er... – ele gaguejava – você não está no dormitório da Corvinal, e sim nos corredores. E já passou da hora de andar por aí. Me diga, Lovegood, por que está aqui? – ainda estava apático, mas falava com seriedade.

– Sou sonâmbula. Vou voltar para meu dormitório agora.

Luna deu um meio sorriso ao garoto, virou de costas e seguiu o caminho contrário. Enquanto andava, fez uma pausa para tirar seus tênis amarelos e sua capa molhada, e voltou a saltitar ao sair das masmorras.

“Essa garota é louca” Draco pensou. E deu um riso raro, beirando o gentil e agradável, palavras que não combinavam com Draco Malfoy.