As crônicas de Runa escrita por Jonathas Eugenio, Headache


Capítulo 4
A chuva




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A chuva caia molhando o grupo de três meninas que estavam atualmente na descida da montanha, o caminho se tornava escorregadio pela lama, chuva e neve conforme avançavam.

Os relâmpagos riscavam o céu, fazendo com que refletisse nos olhos de Saphira que ganhavam um tom prateado fraco. Os olhos azuis cobalto estavam abertos e em alerta, os dedos formigavam com uma coceira na ponta dos dedos, ela queria ter uma magia um pouco mais útil do que a de cura que possuía, mas estava cansada demais, estavam andando pelo que pareciam horas e estavam sem proteção nenhuma da chuva, Haruna seguia na frente do grupo com espada e armadura na mão, até teria pegado uma para a menor, mas ela não aguentaria o peso e isso até mesmo a atrasaria, enquanto isso Luma parecia muito feliz na chuva, apesar de estar cansada fazia o final da fila prestando atenção atrás de si, alguma coisa a alertava no fundo da mente sobre o que poderia acontecer, a mente fervilhava sobre possíveis problemas.

Haruna seguia com cautela e ritmo constante, qualquer coisa poderia acontecer naquele terreno escorregadio e odiaria se acontecesse algo a uma das duas amigas. Outro passo e logo estariam em segurança, elas iriam para Boklyfe em segurança, sem nenhum perigo.

Só mais um passo.

Mais um passo.

Mais um passo...

Estavam perto...

Um som ensurdecedor rugiu pelos céus enquanto o clarão rasgava o céu com brutalidade, Luma olhou para o céu em alerta e depois para trás quando escutou um som diferente de uma arvore sendo derrubada, e então novamente para o céu, ela viu uma luz vindo rápido em direção a Saphira, ela apenas gritou e empurrou a menina para longe enquanto Haruna se virava vendo das arvores serem arrancadas pelas raízes conforme um Javali selvagem saia dentre elas. Ela se postou em posição de luta e avançou, Saphira foi empurrada para fora do caminho, conforme Luma e Haruna iam para o mesmo ponto e de encontro, a luz e o javali acertaram as duas ao mesmo tempo.

A descarga elétrica junto com o impacto fez as duas pararem um pouco, e tudo foi em câmera lenta, o grito de dor de uma delas, o javali sendo queimado pelo raio, e então para compensar tudo se acelerou Luma gritou conforme a armadura quente da outra encostou nela e  as duas foram jogadas encosta abaixo conforme o javali apenas caiu morto, Saphira gritou em desespero e foi até a borda, viu o corpo das duas rolando pela encosta e parando depois de um tempo. Ela não pensou em mais nada, apenas correu, pisou na encosta e passou a correr, não caiu em nenhum momento, mas escorregou em vários outros, a lama entrava e sujava os pés os refrescando também, as roupas estavam sujas pelas várias escorregadas e os cabelos estavam sujos e embolados, a lama afundava nas unhas e surgia entre os dedos de modo grudento. Assim que conseguiu chegar perto dos corpos viu os estragos ao redor, arvores destruídas e algumas arrancadas ou quebradas, chão completamente revirado e uma nuvem de fumaça surgia do corpo, um jogado no chão caído de qualquer jeito e o outro desaparecido.

Esticou o pescoço tentando ver se a encosta abaixo estava danificada, mas a chuva grossa e a escuridão não deixaram.

A roxeada estava desmaiada, queimaduras estavam no corpo dela quase todo junto com um furo, a armadura soltava fumaça conforme chiava um cheiro de carne cozida subia, um buraco estava aberto como se a armadura de titânio não fosse nada mais que papel. Ela se aproximou e encostou na armadura, os olhos azuis dela se encheram de água conforme a mão foi queimada e um grito surgiu do fundo da garganta, mas se esforçou e usou a magia de cura, neutralizando a dor e o calor, logo conseguiu retirar a armadura completamente e se pôs a curar a menina, cada queimadura ia sumindo rápido conforme os esforços dela eram dobrados, o suor e tremor a atingiam assim como as gotas da chuva. Os olhos dela escureceram brevemente para então brilharem em um roxo completamente escuro indicando máxima utilização de poder, as pupilas dilataram e ela sentiu a tontura de seus atos, mas não parou.

Quando a ultima queimadura desapareceu, a visão escureceu nas bordas e somente então olhou para o lado quando um som de algo pisando no solo macio e lamacento fazendo um som de sucção.

Era Luma, mas a visão que teve fez seu estomago revirar antes de quase vomitar, mas se aproximou dela lentamente enquanto o mundo parecia dar uma virada violenta e tombar, se endireitou enquanto esticava as mãos para usar um pouco da magia que restava, mas seu corpo estava fraco, ela viu a outra abrir a boca e escutou a chamar, e então sentiu a punhalada nas costas, a ruiva correu e logo foi chutando o monstro, o espancando até o matar enfiando a mão no coração do mesmo e o lançando bem longe, posteriormente ela foi correndo em direção a Saphira, que estava ajoelhada no chão como se parecesse que estava chorando, Luma então segurou ela, a faca que estava encravada na costa de Saphira caiu ensanguentada e fez um som mudo no chão, Saphira estava com a garganta seca e seu corpo pesava, Luma sentiu o frio se alojando no corpo dela e então Saphira viu um olho azul e outro verde, completamente diferente do que estava acostumada, olhou e sorriu.

—"Seja forte, por favor." – Disse Luma, ela tentou usar a magia que tinha, mas não conseguiu afinal estava esgotada.

—"Sabe, sempre tive um sonho... pode parecer estranho para você, mas eu sempre quis voar, ser livre. Passei a metade da minha vida em um orfanato não foi nada interessante, já até te contei sobre as várias constante a ameaças no qual eu passava, ameaças até de morte, por conta da coloração do meu cabelo, nunca tive uma família ou alguém que cuidasse de mim "– Saphira deu uma olhada em Haruna que estava desmaiada e parecia ter febre em seguida ao voltar a encarar os olhos de Luma, que agora estavam repletos de lágrimas, ela tosse e tal tosse havia se intensificado chegando a sair sangue.

—"Pare Saphira, não se preocupe, vamos dar um jeito, para tudo tem um jeito!" –Luma começou a ficar apreensiva, o sangramento nas costas de Saphira, não parava, pelo ao contrário ele havia se intensificado.

—"Não Luma não tem como, não precisa mentir para mim, eu sei que vou morrer! essa faca que me furou não é qualquer faca, é uma faca de magia negra!" –Saphira colocou as mãos sobre os olhos, enquanto suas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto até pingar no chão lamacento. –"Sempre tive medo de passar a minha vida inteira sozinha, mas quando encontrei você e haru, tudo mudou por completo, meus dias posteriores não foram mais os mesmos, vocês fizeram eu sentir acolhida, como parte de uma família..." –Saphira começava a soluçar.

Luma abraça a garota, a prendendo contra o seu corpo.

—"Você é e sempre será nossa irmã!" –Luma começava a soluçar enquanto sua mão já estava ensanguentada com o sangue da outra.

—"Cuide de Haru! Irmã! Ah farei o mesmo por vocês lá de cima!" –Nesse momento Saphira havia parado de chorar, ela se afasta do abraço de Luma e olha nos olhos da outra, até que tudo começa a ficar embaçado, a respiração mais forçada, até que tudo se perdeu na escuridão.

—"Saphira! NÃO!" –Gritou Luma com a força que tinha em seu peito, como aquilo doía, como aquilo a machucava, era como se uma parte sua tivesse morrido juntamente com Saphira.

No fim, nada foi o mesmo, aquela cena havia ficado gravado no coração de Haruna e Luma, principalmente Luma que havia presenciado toda a cena, após a morte da garota ela simplesmente não foi enterrada, o seu corpo simplesmente se desintegrou sem deixar nada, o que é estranho.

—"Está tudo ok Haruna." - Nem ela mesma tinha certeza quando falou

—"Você sabe se ela usou a cura em você? Você parece bem, ela usou?"- A ruiva negou, o corpo dela estava como antes e sem nenhuma cicatriz, diferentemente de Haruna que havia sido curado pela garota, Luma sentiu uma avalanche dentro de si assim como a outra menina, os dias se tornaram cinza e reduzidos a uma chuva que não parava.

Quando conseguiram chegar ao porto da ilha, a chuva cessou, Haruna tentava se animar junto da outra.

Mas para todos os efeitos se provou tão inútil quanto os cuidados que elas tiveram em tentar salvar Saphira da faca enfeitiçada.

Os anéis de fumaça subiam preguiçosamente no ar, flutuaram brevemente antes de se desfazerem pelo vento. Era calmo e tranquilo, e era observado com muito interesse pelas duas meninas, era algo comum, ver aqueles anéis de fumaça subirem e se desfazerem, metodicamente, as vozes ao redor até poderiam ter um sentido mais amplo, mas apenas eram um vozerio que causava sonolência ao redor.  Procurou um assunto, mas sem a amiga ali, naquele ambiente, tinha tomado a falta de uma presença extremamente importante.

Assim que o navio com todo o gingado e sacudida atracou no porto, o cheiro de peixe e especiarias além de puro sal invadiu a embarcação. Assim que os marinheiros tinham amarrado a embarcação junto com gritos e alvoroço de quase todo o barco, as duas meninas saíram. Um silêncio meio desigual a ela, Haruna sorriu de leve para a ilha, respirou fundo tentando identificar rapidamente tudo o que poderia a esperar naquela ilha que passaria a ser a nova casa dela.

De longe parecia extremamente selvagem, sem vida humana e muitas arvores, tinha até se perguntado se por algum acaso teria errado ou o capitão estaria a enganando assim como todos os passageiros.

Agora mais perto conseguia ver as construções organizadas e em muita harmonia com a natureza, conseguia ver as pessoas se movendo pelo pequeno comercio que parecia funcionar suficientemente bem, as vozes altas vendendo produtos, mas depois desse porto, as poucas (dez) casas eram guiadas por trilha natural e após isso somente umas floresta.

Do mar se erguiam várias torres de pedra, com uma esfera cinza opaca, pareciam circular toda a ilha, olhou mais atentamente a estrutura robusta e firme enquanto o barco passava calmamente próximo a uma, que parecia bem mais resistente agora quando olhava perto, o mar jogava ondas as vezes sobre a torre, mas causava apenas um beijo de sal. O  cais se aproximava pelo balançar das ondas.

 Por fim pisou nas tábuas de madeira que rangeram, o oceano fazia um som atrás dela, calmo. A água espirrava entre as tabuas e molhava vez ou outra as botas que tinha escolhido. Era a melhor peça de roupa naval que possuía: uma bota preta de couro. Estava pensando em trocar, mas estava suficientemente confortável para se incomodar com pequenas coisas que poderia com toda a certeza fazer mais tarde.

A outra menina não parecia ter tido a mesma sorte, estava com botas simples e levava a mala sem nenhuma expressão na face. Elas se encararam, algo pareceu clicar na mente de ambas, que concordaram, parecia que algo chamava elas ali, mesmo acabando de chegar e meio exaustas pela viagem, elas não pararam.

Elas seguiram para a floresta, onde conseguiram ver uma multidão completamente sem rumo, uns gritavam, outras choravam, outras apenas observavam. Não entenderam a principio e parecia então que o que as levou até ali desapareceu e se sentiram perdidas, como chegaram ali mesmo?


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