Dragões Dourados escrita por Gwen Sweetlux


Capítulo 6
Capítulo 6 – Os frutos do treinamento




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No dia seguinte, todos estavam alvoroçados e mal tocaram em suas refeições matinais. O soldado que recebera Órion, a Armadura do Caçador chamava-se Hayato, um dos que havia se destacado no combate com espadas de Boreas. O garoto não deveria ter mais do que dezessete anos, pouco menos do que Selene. Estava tão feliz e honrado que não retirava a Armadura desde que ela viera ao seu encontro. Era uma Armadura de Bronze, assim como a do Mestre Shiryu. Porém, Hayato não tinha aspirações à grandeza. Sabia da grande responsabilidade que recebera junto com o presente de Órion.

            A armadura era branca, com ametistas posiocionadas na máscara e no cinturão assim como sua constelação protetora. Os demais não perderam tempo e foram euforicos para o campo de treinamento. Quem sabe mais deles poderiam ser escolhidos?

             Selene agradeceu poder tomar seu desjejum sozinha. Enquanto mordiscava um pãozinho de aveia e olhava para alguns pássaros cantando em uma árvore próxima, não notou que sua solidão era ilusória. Alguém estava ali e a observava de perto.

            - Queria lhe agradecer pessoalmente pelo belo presente. – disse Shiryu, espalhando as pétalas já ressequidas que tinha ganhado sobre a mesa.

            - Oh, quanto a isso, espero não ter sido incoveniente. Agi impulsionada pelo... Cosmo? – falou, sem muita sem convicção e com as faces enrubescendo.

            - Inconveniente? – ele riu, um riso contido, mas si próprio que para ela. – Selene, você é a criatura mais poderosa a habitar os Cincos Picos Antigos. Pare de concentrar-se no que os demais dizem, em seus olhares ou seja lá o que fizerem. Hayato é um homem honrado. Mereceu sua Armadura, mas você, Selene... Não sei se uma Armadura conteria a quantidade de poder que emana de seu Cosmo. Sei disso, pois o sinto e tem sido dificil não sucumbir completamente a tamanha força. – os olhos dele estavam num tom ávido que misturava o verde com a cor das águas plácidas dos lagos que cercavam o Vale de Rozan. Estava ansioso, esperava algo dela, alguma reação.

            - Ontem, a água da Cachoeira seguiu meus movimentos. O que isso pode significar, Shiryu? Estou sob o controle de alguma entidade e não me dei conta? Ou seria a ligação de nossos Cosmos que possibilitou aquilo? – ela perguntou, baixando a voz e aproximando-se do Cavaleiro.

            - Sim, lembro-me de um pensamento sobre o fato de que demorei seis anos para conseguir. – Shiryu recostou-se em sua cadeira, encarando Selene e sorrindo da maneira mais relaxada que alguém já teve a oportunidade de presenciar.

            - Não foram seis? Talvez nem todas as lendas sejam reais... – Selene sorriu, sentindo a leveza dele tomar conta de seu corpo, antes tão tenso e apreensivo.

            - Vou leva-la até a Grande Cachoeira hoje. Já designei alguém para ficar em meu lugar nos combates. Teremos o dia todo voltado aos seus avanços, criança prodígio. – ele se levantou e foi até Selene para ajuda-la a se erguer do lugar.

            - Ora, pensei que tivéssemos idades próximas, Cavaleiro de Dragão. Não me subestime, pode se arrepender. – ela gracejou, aceitando a mão dele para conduzi-la.

            Com o refeitório vazio e os homens dando tudo de si buscando a honra de serem ordenados Cavaleiros de Atena, ninguém reparou em duas pessoas de braços dados sorrindo e conversando amenidades atravessando os caminhos de pedra até a Grande Cachoeira.

            Quando chegaram, Selene largou o braço de Shiryu e seu olhar parecia vidrado, focado e chamado pelas águas. Eles estavam no lago formado pela água que descia de Rozan. Não eram águas profundas, era possível flutuar com facilidade e, Shiryu conseguia até mesmo tocar o fundo com os pés e caminhar. Selene seguiu se debatendo contra as águas, sem se importar com pedras ou buracos em seu caminho. Tinha que chegar até onde a Cachoeira chocava-se com o lago e espalhava uma chuva de prata avalassadora, tão forte que até para um guerreiro experiente seria árduo manter-se em pé. Shiryu chamava seu nome, alertando e pedindo para que o esperasse, mas seus apelos pareciam não surtir qualquer efeito.

            Com uma rapidez impressionante, Selene chegou ao pé da Cachoeira. Ela equilibrou-se como uma bailarina, postura ereta e impecável, estendendo os braços para receber o banho da verdadeira dona daquele vale. Shiryu estacou a alguma distância e observou extasiado para a espontaneidade e bondade que Selene exalava. Ele fora criado ali, mas sempre estava buscando mais força, mais foco, mais disciplina, jamais havia se banhado em Rozan daquela maneira.

            Uma aura esverdeada e forte começou a ser formar envolta dos dois. A tatuagem de Dragão de Shiryu estava mais nítida do que jamais esteve e marcava sua veste encharçada com o Dragão em seu poder máximo. A volta de Selene, a mesma figura do Dragão se formou, enlaçando-a, dançante e com seu rugido característico.

            Os olhos de Selene deixaram seu tom cinzento e tornaram-se verdes como esmeraldas. Seus pés deixaram o chão, elevando-a acima das pedras. Ela posicionou os punhos como se fosse atacar. A água recuava conforme Selene subia no ar.

            - Rozan Ryuu Hishou! (Dragão Voador) – ela disse, sem erguer a voz, sorrindo em concordância com Shiryu.

            Toda a água de Rozan ascendeu aos céus, voando metros e metros acima deles, para cair em uma chuva que recobriu todo o Vale.

            Depois de usar uma quantidade imensa de Cosmo, ela não conseguiu voltar ao chão levitando serenamente como fizera ao subir. Mas, não temeu. Shiryu a segurou e foi como se aquilo, um nos braços do outro, estivesse tão correto. Como se já tivesse sido assim desde a eternidade e como se sempre fosse para sempre.

            Shiryu a carregou até a beira do lago. Selene arfava, o corpo sentindo os efeitos de executar um golpe tão poderoso sem a proteção de uma armadura. O que ela não havia reparado era que a fronte de Shiryu também estava molhada, não pela chuva que ela provocara, mas por seu próprio suor. Ele a sentou sob uma pedra rodeada por lírios d’água. Repousou em frente de à sua pupila, estupefato, satisfeito e curioso.

            - Não foram nem seis meses. – ele disse, o peito subindo e descendo com a respiração pesada, tentando sorrir, apesar do ar que lhe faltava.

            Selene não tinha uma resposta para lhe dar. Estava surpresa, tanto quanto Shiryu, mas tão grata por poder partilhar aquele momento com ele. A ligação que sentiu foi a emoção mais intensa que já lhe arrebatara durante toda a vida. Mesmo suas tristezas não pareciam nada agora.

            A garota começou a torcer a barra do vestido cinza que vestia, ensopado pelo que acabara de acontecer. Suas mãos tremiam. Apesar do júbilo, algo na presença de Shiryu a fazia sentir-se estranha. Não era a ligação dos Cosmos, era algo... diferente.

            Quando Selene ergueu os olhos, pensando que era inútil tentar se secar num ambiente tão úmido e quando os resquícios da explosão aquática ainda caíam sobre eles, Shiryu estava perto de seu ombro.

            Ela não recuou, apenas esquadrinhou seu rosto. Sua pele bronzeada das horas que passava ao sol, buscando a perfeição e o equilíbrio de um guerreiro perfeito, seus olhos de uma cor quase fluorescente acesos para ela, seus cabelos colados pela umidade emoldurando o rosto fino, o ar de sua respiração que percorria sua pele provocando arrepios.

            Shiryu não sabia ao certo o que fazia. Àquela altura, tinha abandonado qualquer traço de racionalidade. Era todo instinto e sentimento. O perfume que vinha da pele alva de Selene o embriagava, seus cabelos claros molhados tinham um tom singular de mel, os cílios grandes batiam como borboletas revelando o cinza chuvoso de seus belos olhos. Sua boca era pequena e rosada, e mesmo quando ela apertava os lábios, ainda era adorável.

            Os rostos foram movendo-se, sem qualquer controle, sem que qualquer regra ou compromisso lhes passasse pelo pensamento. As mãos de Shiryu transpassaram sua cintura, enquanto as dela tocaram seus ombros fortes. Cada um inspirou o ar que vinha do outro, apreciando como se nunca tivessem respirado antes. Lentamente, seus lábios se encontraram. Quando aconteceu, nada mais existia no mundo, no Universo. Não haviam Cosmos. Apenas Selene e Shiryu.


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